Mais alguns dias se passaram e nenhum sinal de Luiz. Helena ligava, mandava mensagens, olhava no F******k e nada. Chegou a perguntar para Samantha se o viu na academia, mas ela também não soube lhe dizer nada. O que por um lado foi inútil, uma vez que os seus horários não se coincidem. Ela já pensava no pior.
"Notícia ruim sempre vem primeiro!" Disse para si mesma.
*
Em uma manhã quente de janeiro, Helena se arrumava para ir trabalhar, quando ouviu um barulho de algo se quebrando. Era o seu olho grego, feito especialmente para ela, por sua vó, que estava pendurado na parede da sala.
Na cultura grega, este artefato simboliza o Olho dos Deuses, protegendo a pessoa da inveja e do mal olhado. Quando se quebra, é porque a protegeu de algum mal...
... ou é porque algo muito ruim está para acontecer com ela.
Mas seu olho grego quebrou de um jeito tão estranho, que a deixou assustada. O objeto se partiu em mil pedaços, que se espalharam por toda a sala. Foi como se alguém tivesse o atirado no chão ou arrebentado com o martelo.
Ainda analisava o olho grego quebrado, quando o seu celular tocou. Era Samantha ligando desesperadamente.
— Alô?
— Você já viu o F******k do seu namorado?
— Não... por quê? — Sentiu um aperto no coração com aquela pergunta.
— Então veja agora com seus próprios olhos, já tem mais de cem curtidas!
Com o celular ainda na mão, foi até o seu notebook, entrou no F******k, buscou o perfil de Luiz... e se segurou para não surtar com a seguinte frase:
"Luiz Santos está em um relacionamento sério com ... Núbia Alves!"
— O QUE? COMO? POR QUÊ? — Lia e relia a frase, mas não acreditava no que via ou não queria acreditar. Luiz, o seu namorado, postou no F******k que estava com outra. E com foto e tudo. Foi olhar no perfil da tal Núbia e ficou horrorizada quando a viu, posando com a caneca que ela havia dado a ele na véspera de Ano Novo, com o seguinte comentário:
"Olhem que meu tigrão me deu! Miau, tenho que ser uma gata para ele..."
— AI QUE NOJO! AI QUE HORROR! — Gritou a plenos pulmões em frente ao notebook. Isso porque ainda não viu os comentários sobre ela no perfil dele:
"Ei Luiz e a garota que lê?"
Perguntou um de seus amigos. Sua resposta:"Não deu certo."— "NÃO DEU CERTO?" — Repetia incrédula: — como assim "não deu certo”?
A pior parte mesmo foi ler o comentário da Núbia:
"Ela é carta fora do baralho! Meu tigrão só estava fazendo um favor a ela! Quem vai quer uma nerd feiosa metida à besta feito ela? Pensa que é linda! Meu tigrão só comprava livros para te conquistar..."
Helena chorou um mar de lágrimas com aquela atitude horrível da parte dele. Depois de tudo que ela fez por ele e para eles, é assim que a retribui? Na hora, se sentiu um lixo. Ficou tão mal que esqueceu de Samantha na linha.
— Lena, tá tudo bem? Alô? Não faça nada, tô indo aí! — Desligou e foi correndo até a casa dela para evitar um desastre. Ela sabia que a amiga jamais cometeria tal loucura, mas foi assim mesmo por precaução. Sempre tem a primeira vez para tudo.
Enquanto isso, ela começou a ligar desesperadamente para Luiz, querendo uma explicação sobre toda aquela palhaçada, mas só caía na caixa postal. Aquele cretino nem teve a coragem de chegar para ela e dizer o que estava acontecendo. Em um acesso de fúria, atirou um vaso contra a parede. O impacto foi tão forte, que assim como o seu olho grego, o vaso também se partiu em mil pedaços, fazendo com que deles voasse em direção ao seu rosto, lhe causando um baita arranhão. A dor foi tão grande, que gritou vários palavrões, tanto em português como em grego.
Sozinha e abandonada, ela mais uma vez caiu no choro no chão da sala.
*
Assim que chegou ao apartamento de Helena, Samantha a viu deitada no chão da sala, em meio aos cacos de porcelana do vaso, ainda chorando:
— Lena... eu sinto muito por te contar, mas uma hora você ia acabar vendo.
— Tudo bem..., mas eu ainda preferia que o Luiz tivesse me procurado para terminar tudo e não postar no F******k, dizendo que estava com outra e que a gente "não deu certo".
— Você não desconfiou de nada?
— Não... quero dizer, depois do ano novo, ele me enviou uma mensagem, dizendo para não o procurar por enquanto, devido a um imprevisto ou contra tempo sei lá... mandei outra mensagem perguntando o que houve, mas não me respondeu, liguei para a república, mas ninguém lá soube me informar nada, liguei para casa da mãe e ela disse que ele passou para pegar algumas coisas dele que ainda estavam lá... só não sabia me dizer se era para trazer aqui para casa... e pelo jeito, não era. — relatou aos prantos.
— Ou eles não sabiam ou então não queriam mesmo era te contar a verdade! — Rebateu Samantha, sempre desconfiada de tudo e de todos. Não queria falar nada, mas naquele momento Helena precisava enfrentar os fatos.
— Você acredita que o Luiz deu para a tal da Núbia, a caneca de Heavy Metal que eu havia comprado para ele no Natal?
— Sério? Mas que filho da puta! Ele realmente fez isso?
— E tem mais... ela postou tanto no perfil dele quanto no dela, que tinha ganhado a caneca dele, que eu era carta fora do baralho, que eu era feia, que ele estava era me fazendo o favor de ficar comigo...
— Como é que é? — Perguntou Samantha, muito indignada com a situação: — Ela não fez uma quenguice dessas... ou fez?
— Veja você mesma com seus próprios olhos. — Helena apontou para o notebook com amargura. Samantha foi olhar no F******k do Luiz e da Núbia e não acreditou no que viu. Aqueles dois difamaram a sua amiga na rede social para todo mundo ver.
— Garota idiota! Como ela pôde falar esse monte de desaforos de você, se nem te conhece? E o Luiz então, é mais idiota ainda, como ele pôde fazer uma putada dessa, depois de tudo o que fez por ele?
Quando olhou para trás, viu Helena chorando mais uma vez. Realmente ela deveria ser muito apaixonada por ele, a ponto de ficar abalada daquele modo. E vê-la sofrer por aquele cafajeste era de partir o coração.
— Calma amiga... eu tô aqui. — Ajoelhou-se entre os cacos de porcelana com muito cuidado para não se cortar, para poder abraçá-la.
— Você não tem que ir trabalhar?
— Mandei um áudio para o pessoal no meu grupo no W******p e para a diretoria, cancelando as aulas de hoje e repor outro dia. Passarei o dia com você.
— Acho que eu também não vou trabalhar hoje... a essa hora, todos já devem estar sabendo.
— Ah, mas não vai mesmo. Não vai conseguir trabalhar abalada desse jeito. Ligarei para o seu escritório e dizer que está indisposta. Não se preocupe, eu cuidarei de tudo.
— Valeu Sam, obrigada mesmo.
— Imagina. Sempre esteve do meu lado quando mais precisei e quando eu menos merecia. E nunca que eu te deixaria ficar nessa deprê por causa daquele bosta. Agora é minha vez de cuidar de você.
Samantha se lembrou de quantas vezes Helena esteve com ela, principalmente nos momentos mais difíceis da vida. Desde pequena, tem uma família complicada. Era filha de pais separados, mas ainda casados no papel, pois eram sócios e donos de uma das mais importantes construtoras do país, a Ferreira & Duarte S/A. Seu pai, um engenheiro renomado e sua mãe, uma arquiteta importante e socialite, viviam um casamento de aparências. Era testemunha da farsa e das traições deles.
Aliás pequena é somente um jeito de falar, pois ela sempre foi muito alta para sua idade. Na verdade, era gigantesca. A morena encorpada de cabelos castanhos médios, lábios carnudos e de belos olhos verdes chamava muita atenção por onde passava por conta de sua grande estatura.
E foi com a família Petropoulos que ela aprendeu o que realmente significa amor incondicional de pai e mãe. Eles eram empregados de sua família e Helena era a sua "irmãzinha" mais velha, uma vez que Samantha era mais alta, porém era a mais nova. E por várias vezes, ela chamou sem querer os pais da amiga de mãe e pai.
Agora cabia a ela ser a irmã mais velha de Helena neste momento.
Como prometido, Samantha realmente passou o dia todo cuidando de Helena. Limpou os cacos de porcelana do vaso e do olho grego, passou uma pomada em seu machucado e fez uma comprinha básica no mercadinho da esquina, para preparar um almoço simples, mas bem gostoso para elas. Também fez questão de comprar algumas guloseimas, como chocolates e sorvete. Encontrou uma edição limitada sabor baunilha com calda de goiaba e quis levar para experimentarem. Nada como um docinho para adoçar um coração amargurado. Também ligou para o seu escritório, para explicar que ela não estava se sentindo muito bem, mas amanhã estaria melhor. A secretária parecia que já estava ciente do caso do F******k, foi muito grosseira e desligou na sua cara. — Credo, que grossa! Vai desligar na cara da sua vó! — Esbravejou. De lá do seu quarto, Helena ouvia a amiga reclamar, só imaginando quem foi que a atendeu. Como era de se esperar, a família de Helena ligou para saber como ela estava. Sophia fez um verdad
No dia seguinte, Helena foi trabalhar, tentando fingir que nada aconteceu. Vestiu o seu melhor conjunto social para provar, pelo menos a si mesma, que era melhor do que aqueles dois. E também porque precisa acertar alguns detalhes da viagem. Chegando lá, muitos a olhavam de forma muito estranha: uns davam risada, outros ficavam com pena e alguns com curiosidade. A profissional bem-sucedida e admirada por sua garra e competência, agora não passa de uma pobre coitada que levou um chifre pelo F******k. Chegou a ouvir os comentários: "Se uma moça como ela não conseguiu segurar um namorado, então não há esperança para nenhuma de nós..." “Coitada, ela não merece isso. Saber da traição do namorado pelo F******k não deve ter sido nada fácil para ela...” “Sinceramente, aquele cara nunca me enganou...” "Ela sempre se achou perfeita demais! Achou que nunca seria traída! Bem-feito para ela!" "Agora que está solteira, podemos ter alguma chance! Vamos apostar quem é que consegue sair com
As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia. — Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal. — Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar. — O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas... O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental: — Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho. — Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pel
Dias depois, Helena recebeu uma ligação e ficou aliviada ao ver na tela no celular que era a Samantha. Porém quando foi atender, percebeu que no lugar da voz da amiga, era outra pessoa. — Helena Petropoulos? Por acaso é amiga de Samantha Ferreira e Duarte? Era a voz de uma mulher. Naquele exato momento, sentiu um aperto no coração. Aliás, era só o que tem sentido ultimamente. — Sim, sou eu. — Aqui é do Pronto Socorro, sua amiga foi agredida e precisou ser socorrida. — O que? Como ela está? Por favor me passe o endereço que eu vou buscá-la! Após anotar o endereço do local, saiu correndo já pedindo um Uber escadaria a abaixo. Durante a corrida, ficou imaginando o que poderia ter acontecido a sua amiga... Chegando lá, perguntou por ela na recepção e a encaminharam até a sala de repouso, onde a encontrou com arranhões, hematomas, a mão enfaixada e um corte na testa. — Pelos Deuses amiga, o que houve? — Se eu te contar, você não vai acreditar... e eu não sei por onde começ
Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia. — Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz... — Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre
No dia seguinte, Helena se levantou cedo para visitar a empresa francesa de moda, junto com Dayane. Fazia muito frio em Paris nesta época do ano, mas faça sol ou chuva ou até mesmo acontecendo o apocalipse, ela fazia questão de se vestir bem para trabalhar, mesmo sendo apenas uma visita para conhecer a empresa. Afinal de contas está representando a empresa onde trabalha e quer (e deve) causar uma boa impressão. "Aparência não é tudo, mas ajuda!"Era o seu lema. Enquanto se arrumava, ela deu uma espiadinha pela porta da varanda, para ver se seu vizinho estava lá. Porém estava tudo fechado. Ou ele não est