Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia.
— Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz...
— Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não sabia quando se veriam de novo.
— Verdade.
— Contou a ela o porquê que o Luiz não vai mais?
Helena respirou fundo e respondeu meio que de má vontade:
— Bom, eu tive que contar... ela começou a me perguntar e na hora, não consegui pensar em nenhuma resposta.
— Entendi... eu ainda não acredito que aquela piranha fez a putada de te ligar, para dizer que estava com aquele embuste! Meu, é muita putice para uma pessoa só. — Comentou indignada, depois de saber que a Núbia fez.
— Pior que teve. Está gravado no meu celular. Só ouve. — E ela mostrou a gravação da sua discussão para a amiga:
— Tem é muita coisa errada nesta história, começando pela ligação na madrugada. Será que foi ela mesma que te ligou ou foi ele? E outra, se ela sabia que ele tinha outras, por que ainda ficou com ele?
Realmente Samantha era muito observadora. Na hora, Helena não pensou neste detalhe, se Nubia viu a ligação dele para o seu celular ou se foi tudo armação dela desde o início. Quanto a segunda questão... ela preferiu não pensar.
— Boa pergunta. Já no caso da ligação, não faço a menor ideia... e também agora não importa mais.
Vendo que a amiga ficou triste, Samantha tentou dizer que aquela “revelação” da Núbia não passava de uma mentira da parte dela, que era apenas provocação, falta do que fazer etc. Até falou algo engraçado para descontraí-la:
— Mas você mandou muito bem Le. Como você mesma disse, ela agora é a chifruda da vez.
— Pois é, agora ela vai sentir a dor de ser traída, embora eu não desejo essa dor para ninguém, nem mesmo para ela ou para ele, apesar do dois merecerem. — Helena até queria rir, mas não a sua tristeza não deixava. Imaginar que além da Núbia, Luiz a traía com mais “outras”, como a própria mesma disse, a deixara de coração partido.
— Amiga, eu sei que isto não é da minha conta, mas você ainda o ama? _ Quis saber Samantha, após o seu desabafo. Sabia que o problema de Helena não era com a traição em si, mas da forma escrota como ele a fez. Ela, por sua vez, olhou para a amiga, para o chão, para o teto, para todas as direções possíveis e despejou um "sim", cheio de amargura.
— É eu sei, eu sou uma imbecil...
— Não, você não é por ainda gostar dele. Leva-se muito tempo para esquecer um amor, então não se preocupe. Enquanto isso, continue a arrumar a sua mala.
— E isso vai me ajudar a esquecer o Luiz?
— Isso eu já não sei, mas pelo menos te ajuda a manter focada no mais importante.
*
No meio da organização da viagem, Helena aproveitou o embalo para se livrar dos pertences de Luiz. Samantha somente a viu aparecer no quarto, com duas caixas de papelão e colocando-as em cima da cama.
— Para que essas caixas?
— Vou guardar as coisas do Luiz. Tudo bem Sam, pode perguntar.
— Perguntar o quê?
— O que eu vou fazer com as coisas dele.
— Bom eu ia, mas achei que você não queria mais tocar no assunto...
— Vou deixar na calçada do prédio, caso ele queira as tralhas dele de volta. Mas também se não quiser, vai fazer algum morador de rua muito feliz, pois está cheia de coisa nova que comprei para a viagem.
Samantha olhou assustada quando ela disse que deixaria as coisas de Luiz na rua:
— Você vai mesmo fazer isso?
— Vou.
— Mas não tem a documentação dele numa das caixas?
— Sim.
— E mesmo assim você ainda vai fazer isso?
Helena só deu uma olhada de banda:
— A documentação dele não é mais problema meu. Na verdade, nunca foi. Eu ainda estou fazendo muito em deixar tudo encaixotado, porque a minha vontade mesmo era de tacar fogo em tudo!
— Não é melhor deixar para fazer isso quando voltar?
— De jeito nenhum! A pior coisa depois de voltar de qualquer viagem é ter que limpar a casa. E quando eu voltar, quero encontrar a minha casa limpa da presença dele.
Na hora, Samantha sentiu pena de Helena. O que ela fez por Luiz, talvez nenhuma mulher faria. Cuidava das suas coisas pessoais, como a sua conta bancária e da sua dieta. Sempre lavava e passava a sua roupa. Agendava seus compromissos, consultas médicas e viagens com a equipe. Quando comprou os móveis para seu apartamento, fez questão de comprar um super guarda-roupa, grande demais para o quarto e para seu orçamento, pensando nele.
— E depois, Le?
— Depois o quê?
— Depois que você voltar da viagem.
— Pretendo procurar outro local para morar. Depois do que ele me fez, não quero mais nada que me faça lembrar dele.
*
Durante a organização das malas, Samantha viu Helena analisar uma certa peça de roupa: uma camisola de seda vermelha, onde a parte de cima imitava um espartilho forrado de rendas e com bojo. Na parte de trás, fitilhos de cetim entrelaçavam-se entre si. E a parte de baixo era de seda, solta e com pequenas fendas nas laterais.
— Uau que linda!
— Eu sei, comprei para viajar...
— Não vai levar?
— Acho que não. Não tenho mais para quem usar...
— Use para você, sua tola! É sua. Não deixe de ser quem você é por causa de um babaca, que não soube te valorizar. E quem sabe, você acaba conhecendo algum francês gostoso durante a viagem.
— Eu vou para trabalhar, não para namorar. E eu não quero me envolver com mais ninguém. — Continuou a arrumar a mala, evitando o olhar reprovador da amiga. Não aguentou aquele olhar e perguntou: — que é agora?
— Tem certeza de que é isso que você quer?
— Ah, eu não sei... é complicado! Eu acho melhor ficar sozinha por um tempo.
Para não deixar a amiga mais aborrecida com a situação, usou a própria história como exemplo:
— Eu te entendo... quando um homem marca a nossa vida, é difícil seguir em frente. Eu falo por mim.
— Depois que você se separou, nunca mais se interessou por alguém?
Samantha precisou respirar bem fundo para responder:
— Não... bom, eu já saí com alguém ali, fiquei aqui, tive um amigo com benefícios acolá..., mas um relacionamento sério, mais uma vez? Não tenho mais interesse. E acho que não quero ter. Aquele casamento sei lá, não foi uma experiencia muito legal. Não sei se foi porque eu casei muito nova ou criei expectativas demais..., mas eu não ia manter um casamento de aparências só para fazer bonito para os outros. Já basta os meus pais.
Helena sabia o quanto a sua amiga ficara magoada com o fim do casamento. Ela também sentia a mesma coisa com o fim do seu namoro.
— Nossa, somos duas ferradas em questão de amor. Bom eu não sei se isso ajuda, mas nós temos uma à outra. — Disse estendendo a mão para a amiga para fazerem um hi-five.
— Pelo menos isso! — Samantha deu risada, também estendendo a sua para bater na palma da mão de Helena: — mas mudando de assunto, leve a camisola assim mesmo. Ainda que não queira, terá lindos homens, tantos franceses quanto turistas querendo sair com você. E saia mesmo viu? Faça como naqueles romances que você costuma ler, arranje um “amor de viagem” nem que seja só para se divertir.
— Você tem razão Sam, como sempre. Aquele imbecil não pensou em mim quando se envolveu com aquela Maria-Tatame.
Samantha não se conteve e soltou uma tremenda gargalhada. Helena pulou para trás com o susto que levou:
— O que foi?
— Acabou de usar o mesmo apelido que colocaram em você!
Ela se indignou com aquilo: — Ai que horror, não acredito que me chamavam disso! O único lutador que namorei foi o Luiz e também para nunca mais.
— Eu sei, já briguei com muita gente lá na academia por causa disso.
— Valeu. Agora, aquela piriguete da Núbia é que tem jeito de ser Maria-Tatame.
— Dou a minha cara a tapa que ela só está com Luiz por pirraça, não porque gosta. Assim que enjoar dele, ela arruma outro.
— Ou ao contrário... ah por mim, eles podem se acabar juntos ou não! Não vai influenciar em nada na minha vida.
— Verdade. E lembre-se, você é linda, gostosa, inteligente, pode ter o homem que quiser, quantos quiser e quando quiser. Você merece ser feliz. E que Paris esteja preparada para receber Helena Petropoulos e Samantha Ferreira e Duarte!
— Sim e um viva para nós que somos lindas, poderosas e guerreiras, enfrentamos tudo e todos sem perder a pose, de cabelo escovado e salto alto.
— No meu caso vou de tênis. Já sou muito alta, não preciso de saltos!
E as duas caíram na risada.
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre
No dia seguinte, Helena se levantou cedo para visitar a empresa francesa de moda, junto com Dayane. Fazia muito frio em Paris nesta época do ano, mas faça sol ou chuva ou até mesmo acontecendo o apocalipse, ela fazia questão de se vestir bem para trabalhar, mesmo sendo apenas uma visita para conhecer a empresa. Afinal de contas está representando a empresa onde trabalha e quer (e deve) causar uma boa impressão. "Aparência não é tudo, mas ajuda!"Era o seu lema. Enquanto se arrumava, ela deu uma espiadinha pela porta da varanda, para ver se seu vizinho estava lá. Porém estava tudo fechado. Ou ele não est
No dia seguinte, Helena foi se encontrar com Pierre, o CEO da empresa com quem estava fechando contrato. Até que ele era um rapaz bem-apanhado, bonito e muito simpático. Se encontraram no Café Angelina, um dos mais antigos salões de chá de Paris e também é o lar de algumas das sobremesas mais incríveis da cidade. O Café Angelina leva a fama de ter o melhor chocolate quente de Paris. Sem falar no lugar, que é um espetáculo. A arquitetura em Belle Époque é um charme. Helena sentiu que foi transportada para uma outra Paris de uma outra época. A conversa entre eles foi muito animada, sem deixar de ser produtiva. Durante o b**e-papo, descobriu que P
Alguns dias depois, as três melhores amigas ficaram sabendo de uma balada que aconteceria na Torre Eiffel. Não se sabe o porquê da festa, mas a população local e turistas adoraram a ideia. É claro que não podiam perder essa. Todas elas foram de boinas e lenços amarrados no pescoço, como se fossem francesas... com exceção de Dayane, que realmente era. E ela combinou com o namorado de se encontrarem na festa. Chegando lá, a maioria das pessoas também estavam de boina e lenço no pescoço. A festa estava lotada e animada, DJ tocando vários tipos de música, muita bebida e é claro, muita pegação! Assim que chegaram, Helena notou que alguém cantava para a mu
O namorado de Dayane era homem bonito e ao mesmo tempo, estranho. Um dos lados de seu rosto era marcado por uma imensa cicatriz de origem cirúrgica. Um dos seus belos olhos castanhos era vermelho. E quando ele estendeu a mão para cumprimentar Helena, ela logo notou que sua mão também tinha uma outra cicatriz, como se tivesse sido perfurada. _Monprince(meu príncipe), esta é a minha amiga de infância, HelenaPetropoulosque junto com Samantha, vieram do Brasil para passar um tempo comigo. _ disse Dayane ao apresentá-la. Ela só olhou para o casal, reparando o quanto eles eram diferentes. Enquanto a sua amiga era elegância pura, ele tinha um visual um pouco mais despojado, mas ainda estava bem-vestido. Uma valsa repentina começou a tocar. E a ficha de Helena demorou e muito para cair. O bonitão do prédio ao lado do seu estava ali bem na sua frente, em carne e osso... mais carne do que osso, é claro. Quando ela tentou dizer algo, ele somente levou um de seus dedos até os seus lábios, como se estivesse pedindo silêncio e lhe estendeu a mão. Queria dançar com ela. Deu-lhe a mão como se estivesse em transe. Ele a encostou junto ao seu corpo e abraçou a sua cintura. Começaram a dançar. Ela não conseguia tirar os olhos dele. Era muito mais bonito de perto, com aqueles olhos azuis da cor do mar caribenho. Era alto e forte, mas sabia segurá-la com gentilez15 - Encontro Inesperado
Elas chegaram na casa de Dayane quase de manhã. Quando entraram, deram de cara com um casaco preto, próprio para inverno, no sofá. Se a memória de Helena não falha, era o mesmo casaco deMitchel. _ É do namorado dela. _ Cochichou para Samantha. Estavam cansadas demais para questionar qualquer coisa e cada uma foi para seu quarto. Deixariam as perguntas para quando amanhecesse. Porém antes de dormir, Helena foi dar mais uma espiada pela janela para ver se ele estava lá. Isto já virou um hábito, mas se deparou com as janelas fechadas mais uma vez.Último capítulo