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9 - O Reencontro

Finalmente chegou o grande dia!

Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. 

E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque.

— Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)!

— Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo.

"Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena.

— Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma de suas criações, calça jeans, botas de cano alto e uma bela echarpe.

— Claro que ela está linda, agora é uma importante estilista, deve representar a sua imagem. Na verdade, ela sempre foi... e eu amei o seu corte de cabelo! — Elogiou Helena ao ver a amiga parisiense de cabelo curtíssimo, do tipo Joãozinho. Quando era mais jovem, Dayane ostentava uma longa cabeleira loira, que combinava com os seus belos olhos cinzentos.

E pendurado em seu pescoço, havia um colar com um amuleto de olho grego, dado por Helena anos atras, quando a amiga voltou para Paris. Passou os dedos no objeto, como se quisesse a proteção mística dele.

— Merci, e vocês também estão ótimas. Olhem só para nós, juntas mais uma vez!

As três melhores amigas ficaram ali paradas no meio da multidão, rindo e chorando ao mesmo tempo. A emoção de estarem juntas, mesmo que por pouco tempo era tão grande que não estava cabendo naquele aeroporto.

— Vamos para casa meninas. Há um trem que sai daqui a pouco, a não ser que queiram ir de táxi.

— Ah não, vamos de trem sim. Quando que teremos essa oportunidade de andar de trem. — Pediu Helena, mesmo estando acostumada a andar todos os dias de metrô.

— Sim, será mais divertido. — Concluiu Samantha.

E lá foram as melhores amigas passear de trem.

*

Dayane morava num prédio antigo, localizado no centro de Paris, com vista linda para a Torre Eiffel, herança de família. Quando voltou para a sua cidade natal, foi morar com uma tia solteirona, que se encontrava em um estado terminal de câncer. Foi ela que lhe arranjou a bolsa na universidade, assim teria uma companhia para os seus últimos anos de vida. E quando faleceu, deixou o seu luxuoso apartamento para a sobrinha, uma vez que ela não tinha herdeiros.

— Você não tem outros parentes? — Suas amigas perguntaram curiosas.

— Ter eu até tenho, estão espalhados por toda a França. Mas é muito difícil da gente se encontrar. Se eu os vejo três vezes no ano é muito...

O apartamento ficava no último andar e não tinha elevador, o que as fizeram ficar com a língua de fora de tão cansadas, menos a dona da casa. Mesmo com o seu porte atlético, Samantha tinha de reclamar:

— Poxa Day, você tinha que morar num prédio sem elevador? Podia pelo menos morar no primeiro andar...

— Velhos hábitos não morrem. — A parisiense criticou com o seu sotaque francês.

— Tudo bem, a gente realmente precisava fazer um pouco de exercício... — tentou consolar Helena. O que foi muito hipócrita da sua parte, já que ela mesma não se aguentou e se encostou na parede para recuperar o fôlego.

Samantha e Dayane não aguentaram aquela cena e se acabaram de rir.

Helena olhou assustada para as duas. Depois, também não se aguentou e caiu na risada. Era exatamente isto que ela queria e o que precisava, voltar a sorrir. E lá estava ela, rindo com suas melhores amigas na escada.

*

Depois da sessão de gargalhada, as três finalmente chegaram ao apartamento de Dayane. Elas ficaram encantadas ao entrarem na sala, onde uma das paredes era revestida com um elegante papel de parede e a maioria dos moveis eram em estilo provençal, de cores claras. Samantha cochichou no ouvido de Helena, que se sentia dentro de uma casinha de bonecas. Ela riu discretamente com comentário, porque também pensou a mesma coisa.

Mas a melhor parte foi quando foram conhecer os seus quartos. A anfitriã havia os decorado com flores e lençóis novos. Pareciam até quartos de princesas, pois tudo ali soava feminilidade e graça. Também preparou um banho relaxante com sais de banho e pétalas de rosas no único banheiro da casa, numa banheira antiga e muito charmosa.

Depois de bem instaladas, as três amigas resolveram fazer uma festa do pijama, como na época da escola. Sempre realizavam essas reuniões desde meninas, onde praticamente passavam a noite inteira falando sobre seus sonhos, medos, dúvidas e amores. E mesmo depois de anos, ainda conversavam sobre os mesmos assuntos.

Dayane preparou o seu melhor banquete francês, com uma tabua de queijos dos mais variados tipos e vinho tinto, mas também fez questão de preparar uma bela travessa de brigadeiro para elas comerem de colher. Na França, é muito comum os jantares serem servidos na sala de jantar em sua melhor porcelana e com música ambiente, as refeições eram feitas em etapas, preparadas em casa mesmo e não importa se eram no meio da semana ou não. Para os franceses, o importante era comer bem e apreciar a boa comida. Nada de contar calorias.

No meio do b**e-papo, Helena e Samantha descobriram que a cidade de Paris é dividida vamos dizer assim, em duas tribos, os aristocratas que vivem de modo tradicional e os boêmios que levam a vida de forma mais descontraída, mas todos vivem em total harmonia.

E sim, a amiga delas pertence ao grupo dos aristocratas. Segundo a sua árvore genealógica, ela tem um parentesco distante com Rose Bertin, a modista de Maria Antonieta. Talvez seja por isso que a alta-costura francesa esteja na sua família a gerações.

Elas sentiram-se um pouco deslocadas no meio da aristocracia parisiense. Porém com a visita das amigas, Dayane permitiu que o seu lado boêmio falasse mais alto, servindo o seu tradicional jantar francês no chão da sala mesmo, bem em frente à imponente janela, bem em frente a Torre Eiffel. Quem liga para etiqueta quando se está com as melhores amigas?

— Precisam ver quando é na festa da Revolução Francesa ou Ano Novo. — disse ao apontar na direção da janela.

— Tudo bem, um dia a gente vem de novo em uma dessas duas datas..., mas e aí, o que manda? — Perguntaram por curiosidade, para saber o que ela tem feito durante o tempo em que ficaram separadas.

— Eu... arranjei um namorado. — Disse meio sem graça e alegre ao mesmo tempo.

Samantha mostrou-se interessada com a novidade. Já Helena nem tanto. Falar sobre homens era a última coisa que ela queria. Mas como também ficou curiosa, assentiu que a amiga falasse sobre o assunto.

A primeira coisa que ela falou sobre o seu namorado foi como o conheceu... foi de uma forma bem inusitada, durante o outono a alguns meses atrás, quando a cidade de Paris foi alvo de ataques terroristas, notícia que praticamente apavorou o mundo. Temendo pela segurança da amiga, elas ligavam direto para saber se estava tudo bem. Helena e sua mãe Sophia não saíam da igreja, sempre rezando por ela. Foram dias de tensão.

— Eu caminhava distraída pelas ruas de Paris, quando notei um grande movimento no centro da cidade. A polícia e o exército francês evacuavam as ruas, como se algo de ruim fosse acontecer... e quando menos se espera, sofremos o atentado.

— Ela Christé Ké Panagiá Day! — Helena exclamou a sua expressão grega ao ouvir o depoimento da amiga: — Eu imagino o medo que você passou na hora.

— Oh sim, e por incrível que pareça, na hora de toda aquela confusão, vi um rapaz correndo e atras dele, vinha um outro cara com um turbante na cabeça. Eu não sei o que deu mim, mas na hora dei uma bolsada no sujeito que o perseguia. Enquanto ficou caído no chão, nós fugimos juntos. Segundo ele, era um dos terroristas.

— Não vai nos dizer que esse cara que você “salvou” é ele? — Samantha questionou sobre o rapaz que Dayane conheceu. Helena só ouvia, achando muita graça.

— Sim, é um jornalista investigativo, enviado para investigar sobre um grupo de terroristas aqui em Paris, mas foi descoberto por eles. E quando foi me agradecer, notei que ele era brasileiro. Na hora do nervoso, esqueceu de falar francês. Só se acalmou quando conversei com ele em português.

— Que é isso, a história das Remy se repete? — As duas se lembraram que os pais de Dayane viveram a mesma história. Seu pai, Fernando Ribeiro, brasileiro, viajava como mochileiro pela Europa e ao passar por Paris, conheceu uma bela francesa... era a sua mãe, Charlotte Remy. O que era para ser apenas um romance de viagem, acabou em casamento e com o nascimento da única filha do casal. Agora é a sua vez de viver este romance.

— Deixa-me adivinhar... depois deste dia, vocês não se separaram mais. — Concluiu Samantha meio que sarcástica... na verdade muito sarcástica. Dayane só balançou a cabeça, confirmando que sim e com um sorriso estampado no rosto.

— No dia seguinte, voltei ao local onde ocorreram os ataques e ele estava lá. Mais uma vez agradeceu por “salvar a sua vida” e queria recompensar com um café. Foi o nosso primeiro encontro. Ficamos juntos quase todo o outono, nossa estação favorita, até agora.

Helena até chorou ao ouvir a história romântica da amiga. Samantha até gostou, embora tenha achado meio estranho o modo como eles se conheceram. Realmente foi bem inusitado. Ainda assim, ficaram muito felizes por ela ter arranjado alguém.

Pelo menos alguém ali entre o trio está feliz.

— Até este momento, estou bem com ele. E... — deu uma pausa para contar algo de extrema importância, pelo menos para ela: — eu quero dar o “próximo passo” nesse relacionamento. Mas não posso fazê-lo sem antes consultar as minhas melhores amigas. E aproveitando que estamos aqui reunidas, quero ter a “conversa” com vocês.

Já sabiam qual passo que a amiga queria dar. Apesar de se sentirem honradas pela confiança, não se achavam o suficiente boas para lhe dar conselhos, especialmente Helena. Suas amigas sabiam no que ela pensava naquele momento. Podiam até ler o seu pensamento.

— Sinto muito pelo que te aconteceu chéri. — Disse Dayane ao abraçá-la.

— Eu também... — mais uma vez ela caiu no choro.

A pedido de Samantha, ela vestiu a camisola vermelha. A roupa lhe caiu muito bem, o vermelho escarlate deu um belo contraste à sua pele morena. Porém o vermelho em seus olhos era de dar pena.

— Não se preocupem comigo, eu vou ficar bem.

— Tem certeza? — Perguntam as duas ao mesmo tempo.

— Não..., mas eu preciso acreditar que vou ficar.

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