No dia seguinte, Helena foi trabalhar, tentando fingir que nada aconteceu. Vestiu o seu melhor conjunto social para provar, pelo menos a si mesma, que era melhor do que aqueles dois. E também porque precisa acertar alguns detalhes da viagem.
Chegando lá, muitos a olhavam de forma muito estranha: uns davam risada, outros ficavam com pena e alguns com curiosidade. A profissional bem-sucedida e admirada por sua garra e competência, agora não passa de uma pobre coitada que levou um chifre pelo F******k. Chegou a ouvir os comentários:
"Se uma moça como ela não conseguiu segurar um namorado, então não há esperança para nenhuma de nós..."
“Coitada, ela não merece isso. Saber da traição do namorado pelo F******k não deve ter sido nada fácil para ela...”
“Sinceramente, aquele cara nunca me enganou...”
"Ela sempre se achou perfeita demais! Achou que nunca seria traída! Bem-feito para ela!"
"Agora que está solteira, podemos ter alguma chance! Vamos apostar quem é que consegue sair com ela primeiro!"
Como as pessoas eram egoístas!
Foi direto para sua sala, tentando ignorar aquele monte de comentários sem noção. Fechou a porta, sentou-se em sua mesa e abaixou a cabeça para tentar conter o choro, o que não adiantou. E para piorar, deu de cara com uma foto do Luiz em um porta-retrato. Ficou olhando para aquela foto que ela tirou em um torneio de artes marciais, quando bateram na porta.
— Dona Helena, a senhorita está bem? — Era Sr. José, o faxineiro.
— Entra Sr. José. — Não importa quem fosse, ela tratava todos bem.
— Está tudo bem com a senhorita?
— Sim, e com o senhor?
— Sim. Só queria saber se precisa de algo.
— Não obrigada... na verdade, preciso que jogue esse lixo fora. — Entregou a foto do Luiz. Por sua vez, o bondoso faxineiro encarou com ódio para o objeto nas mãos e despejou:
— Se a senhorita me permite, esse sujeito, filho de uma égua, nunca lhe mereceu! E a senhorita pode muito bem arrumar um bom partido, alguém do seu nível.
Até mesmo o porteiro sabia da postagem. Repetiu a mesma frase que seus pais e amigos sempre diziam a ela. Por mais triste que esteja, Helena apenas sorriu.
— Obrigada pelo apoio Sr. José, mas realmente eu preciso que jogue isto fora e que me deixe sozinha. Preciso me concentrar no trabalho.
— Estou sempre à sua disposição, Dona Helena.
Mal o porteiro deixou a sua sala, veio Roberto Barroso, chefe do departamento jurídico da Shingen S/A. Ele sempre deu em cima dela desde a seleção de emprego na empresa e agora que está solteira, quer se aproveitar da situação. Assim que ele entrou, já imaginou o que ele queria, mesmo assim, o tratou educadamente:
— Bom dia Roberto, em que posso ajudá-lo?
— Helena querida, quero que saiba que estou do seu lado!
— Valeu, mas se você não veio falar de trabalho, prefiro que me deixe sozinha e ...
— Você merece alguém do seu nível, como eu. Eu sou advogado. Minha mãe é juíza. Meu pai é desembargador. E meu avô já foi um importante procurador da República e ...
Ela já ouviu aquela história da família dele umas centenas de vezes, sabia de cor e salteado. E ela sempre contava a sua, na brincadeira:
"Puxa que legal! Eu sou contadora. Meu pai já foi operário, ou peão de obras como dizem. Minha mãe já foi faxineira, mas os dois já fizeram de tudo um pouco na vida. E a minha avó é refugiada de guerra."
Mas naquele momento, ela não estava com disposição para ouvir, ainda mais ele. Precisou respirar bem fundo para não ser grosseira. Enquanto isso, ele continuava agarrado às mãos dela.
— Obrigada pela atenção, mas tenho que organizar o meu serviço antes de ir viajar. A propósito, você já preparou os contratos com as clausuras que tenho de levar?
— Sabia que pode colocar seu ex-namorado na justiça por danos morais e ainda exigir uma indenização? Posso cuidar de tudo para você! — A informou sem prestar a menor atenção na sua pergunta sobre os contratos, a deixando incrédula com o que acabara de ouvir. Ele estava se aproveitando da situação para conquistá-la.
Contudo, não pôde deixar de ouvir o conselho dele.
— Eu posso mesmo fazer isso?
— Deve. E você não precisa fazer nada, eu cuido de tudo para você.
— Eu não vou poder te pagar...
— Não precisa. Não vou te cobrar nada, é pela nossa amizade. Somos amigos de trabalho, não somos?
Até que Helena ficou muito tentada em se vingar de Luiz e daquela vaca da Núbia. Não seria exatamente vingança, mas sim justiça. Mas ela não era dada a vinganças e além do mais, sabia muito bem quais eram as verdadeiras intenções do "amigo de trabalho".
— Olha Roberto, eu realmente agradeço o seu apoio, de coração, mas eu preciso mesmo trabalhar e acertar algumas coisas antes da viagem. E também preciso de um tempo para processar tudo isso e ...
— Você bem que podia me dar chance. Sempre fui apaixonado por você desde o dia em que começamos a trabalhar aqui. Agora que o lutador te deu um chute, pensei que agora poderia ser a minha vez e ...
— SAIA JÁ DA MINHA SALA, AGORA!
— Mas eu ...
— AGORA, SENÃO CHAMAREI O SEGURANÇA!
Ela teve que empurrá-lo porta a fora. Em tempos de Redes Sociais, as notícias corriam rápido. Havia passado apenas 24 horas após a postagem e parece que o mundo inteiro sabia que ela levou um chifre. Ela queria morrer logo de uma vez, porque aquilo estava a matando aos poucos.
— Helena!
"Ah não!" Sabia e muito bem de quem era aquela voz. É a Olga, a velha secretária do presidente e dono da empresa, com quem se não simpatizava. As duas eram sempre muito profissionais uma com a outra, mas não disfarçavam a hostilidade.
— Pois não dona Olga? — Tentou ser o mais gentil possível, o que estava difícil. Parece até que todo mundo resolveu testar a paciência justamente naquele dia.
— Sr. Shingen quer te ver agora! — O tom de voz daquela mulher já era irritante, ainda mais falando daquele jeito, ficava ainda pior. Assim como todos, já estava ciente do ocorrido e claro, vai se aproveitar da situação para lhe tirar do sério. Mais uma vez precisou respirar bem fundo para não dar uma resposta àquela bruxa.
— Sim claro, já estou indo e...
— É bom mesmo. Sr. Shingen está muito irritado com a sua falta de profissionalismo
Aquele insulto foi a gota d'água. Já não bastou ter sido humilhada no F******k, agora ser acusada de não ser profissional, aí já foi demais.
— Escuta aqui sua vaca velha, se você tem algum problema comigo, diz logo! — Aproveitou a ocasião para descontar a sua ira e nem se importou com a multidão que se formou à sua volta.
— Só acho que depois do que o seu namorado fez, você não deveria mais trabalhar aqui, pois somos uma empresa séria!
— Ah que graça, tenho que sair do emprego porque o meu ex postou no F******k que está com outra! E se a empresa é séria, que porra você está fazendo aqui, hein sua velha malcomida?
Helena já não gostava de Olga. Depois daqueles desaforos, passou a gostar menos ainda. Não conhecia a tal da Núbia, mas sentia um profundo ódio por ela. E por Luiz então, mais ainda.
— O que está havendo aqui? — Uma voz grave perguntou, ecoando pelo ar.
As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia. — Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal. — Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar. — O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas... O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental: — Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho. — Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pel
Dias depois, Helena recebeu uma ligação e ficou aliviada ao ver na tela no celular que era a Samantha. Porém quando foi atender, percebeu que no lugar da voz da amiga, era outra pessoa. — Helena Petropoulos? Por acaso é amiga de Samantha Ferreira e Duarte? Era a voz de uma mulher. Naquele exato momento, sentiu um aperto no coração. Aliás, era só o que tem sentido ultimamente. — Sim, sou eu. — Aqui é do Pronto Socorro, sua amiga foi agredida e precisou ser socorrida. — O que? Como ela está? Por favor me passe o endereço que eu vou buscá-la! Após anotar o endereço do local, saiu correndo já pedindo um Uber escadaria a abaixo. Durante a corrida, ficou imaginando o que poderia ter acontecido a sua amiga... Chegando lá, perguntou por ela na recepção e a encaminharam até a sala de repouso, onde a encontrou com arranhões, hematomas, a mão enfaixada e um corte na testa. — Pelos Deuses amiga, o que houve? — Se eu te contar, você não vai acreditar... e eu não sei por onde começ
Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia. — Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz... — Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre
No dia seguinte, Helena se levantou cedo para visitar a empresa francesa de moda, junto com Dayane. Fazia muito frio em Paris nesta época do ano, mas faça sol ou chuva ou até mesmo acontecendo o apocalipse, ela fazia questão de se vestir bem para trabalhar, mesmo sendo apenas uma visita para conhecer a empresa. Afinal de contas está representando a empresa onde trabalha e quer (e deve) causar uma boa impressão. "Aparência não é tudo, mas ajuda!"Era o seu lema. Enquanto se arrumava, ela deu uma espiadinha pela porta da varanda, para ver se seu vizinho estava lá. Porém estava tudo fechado. Ou ele não est
No dia seguinte, Helena foi se encontrar com Pierre, o CEO da empresa com quem estava fechando contrato. Até que ele era um rapaz bem-apanhado, bonito e muito simpático. Se encontraram no Café Angelina, um dos mais antigos salões de chá de Paris e também é o lar de algumas das sobremesas mais incríveis da cidade. O Café Angelina leva a fama de ter o melhor chocolate quente de Paris. Sem falar no lugar, que é um espetáculo. A arquitetura em Belle Époque é um charme. Helena sentiu que foi transportada para uma outra Paris de uma outra época. A conversa entre eles foi muito animada, sem deixar de ser produtiva. Durante o b**e-papo, descobriu que P
Alguns dias depois, as três melhores amigas ficaram sabendo de uma balada que aconteceria na Torre Eiffel. Não se sabe o porquê da festa, mas a população local e turistas adoraram a ideia. É claro que não podiam perder essa. Todas elas foram de boinas e lenços amarrados no pescoço, como se fossem francesas... com exceção de Dayane, que realmente era. E ela combinou com o namorado de se encontrarem na festa. Chegando lá, a maioria das pessoas também estavam de boina e lenço no pescoço. A festa estava lotada e animada, DJ tocando vários tipos de música, muita bebida e é claro, muita pegação! Assim que chegaram, Helena notou que alguém cantava para a mu