Como prometido, Samantha realmente passou o dia todo cuidando de Helena. Limpou os cacos de porcelana do vaso e do olho grego, passou uma pomada em seu machucado e fez uma comprinha básica no mercadinho da esquina, para preparar um almoço simples, mas bem gostoso para elas.
Também fez questão de comprar algumas guloseimas, como chocolates e sorvete. Encontrou uma edição limitada sabor baunilha com calda de goiaba e quis levar para experimentarem.
Nada como um docinho para adoçar um coração amargurado.
Também ligou para o seu escritório, para explicar que ela não estava se sentindo muito bem, mas amanhã estaria melhor. A secretária parecia que já estava ciente do caso do F******k, foi muito grosseira e desligou na sua cara.
— Credo, que grossa! Vai desligar na cara da sua vó! — Esbravejou. De lá do seu quarto, Helena ouvia a amiga reclamar, só imaginando quem foi que a atendeu.
Como era de se esperar, a família de Helena ligou para saber como ela estava. Sophia fez um verdadeiro escândalo ao saber o que Luiz fez com sua filha e queria porque queria a cabeça dele numa bandeja. Constantino foi pior, convocou toda a comunidade grega para um linchamento.
Samantha precisou usar todo o conhecimento que adquirira nas seções com a psicóloga, para conter a fúria dos Petropoulos. Chegou a ser ameaçada pelos irmãos da amiga, para revelar o paradeiro de Luiz. Discutiu com eles, dizendo que não sabia e também se soubesse, não diria. Está certo que Luiz merecia levar uma bela surra, depois do que ele fez... até ela mesma queria dar essa surra nele e na tal da Núbia, mas violência nunca foi solução para nada. E Helena não ia querer ver o pai e os irmãos presos.
Naquela hora, teve um pouco de inveja da sua amiga. Na verdade, sentiu muita inveja. Não queria sentir, mas sentiu. Helena era amada incondicionalmente por sua família, e se fosse preciso, travariam uma guerra olimpiana para defendê-la. Bom, ela também faria o mesmo.
Lembrou de quando se separou do marido. Sim, ela já fora casada e seus pais só perguntaram se a sua separação afetaria os negócios da construtora. Não só desta ocasião, mas também de outras, onde eles se preocupavam mais com a imagem da empresa do que com a única filha... e quando finalmente se preocupavam, era pelo mesmo motivo.
A família de Helena queria visitá-la, mas ela não queria ver ninguém. Queria ficar sozinha... na verdade, o que ela queria mesmo era saber o que levou Luiz a fazer o que fez. O que "não deu certo" segundo ele.
*
Já passava do meio-dia quando Samantha bateu na porta de seu quarto. Ela se encontrava sentada na cama, olhando para o celular, com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar. Ficou sem graça quando viu que a amiga a observava:
— Acredita que eu liguei lá no seu trabalho e a imbecil que me atendeu, além de ter sido muito da estúpida, desligou na minha cara? Meu, que tipo de secretária é essa que a sua empresa contrata? Se fosse na construtora de meus pais, a mandariam embora por justa causa! — Disfarçou, numa tentativa de fazê-la se animar.
Porém a realidade foi totalmente diferente. Helena nem se manifestou. Continuou com o olhar perdido no horizonte. Sentou-se na beirada da cama e perguntou se ela se sentia melhor. Helena respirou bem fundo, enxugou as lágrimas e ajeitou a sua postura, para mostrar que apesar de tudo, estava bem:
— Estou ótima. É só um namorado, eu não vou morrer por causa disso...
— É sério mesmo o que você acabou de dizer? — Samantha perguntou não levando muito a sério a sua resposta. Sabia muito bem que Helena não conseguia mentir sobre os seus sentimentos, principalmente quando estava triste.
— Não... — respondeu olhando para baixo, tendo mais uma crise de choro: — E acho que nunca mais eu vou ficar...
— Nunca é muito tempo. E o que pretende fazer durante este tempo? Vai ficar aí olhando para o celular? Acha que ele vai te ligar para explicar o que houve ou para te pedi desculpas? E se ele fizer isso, por acaso vai voltar para ele, depois da vergonha que você passou por causa daquela m*****a postagem no F******k?
Helena a encarou com uma imensa vontade de dar uma resposta atravessada, mas não encontrou forças:
— Deve estar me achando uma tremenda vaca por te perguntar essas coisas, né? _ Perguntou ao ver o seu silêncio.
— Não...
— Tem certeza?
— Talvez um pouquinho. Mas amizade é para isso mesmo né, ser uma vaca para alertar as amigas...
As duas deram risada.
— Pelo menos, eu sou uma vaca que fez você rir.
— Não Sam, você tem razão. Se o Luiz não me procurou até agora, não me procura mais. Ainda que ele me procure, não tem mais sentido. Mesmo assim, eu queria saber o porquê ele fez isso comigo. Será que fiz algo errado?
— Ainda que tivesse feito, não é desculpa para ele te trair, te expor ao ridículo e pior, com aquela ridícula! Você pode até ficar com raiva de mim, mas a única explicação nesse rolo é que o Luiz não passa de um canalha. Vai saber por quanto tempo ele deve estar te chifrando com essa vagabunda e quem não garante que também não tem outras no meio?
Helena abaixou a cabeça e mais uma vez caiu no choro. Ela sempre soube que ninguém está livre de uma traição, muito menos ela, mas ainda assim aquilo doía até a alma.
— Como tudo isso dói...
— Eu sei, já passei por isso.
— Como superou?
— Chorei tudo o que tinha para chorar. Depois enxuguei as lágrimas e segui em frente. Mas confesso que às vezes, eu me pego pensando nele... não exatamente nele, mas no que aconteceu, no que vivemos... quero dizer, no que eu vivi com ele.
Helena lembrou de quando Samantha se separou do marido, um megaempresário do ramo de aparelhos de ginastica e artigos esportivos. Tinha a maior franquia de academias nos Estados Unidos. Ela era modelo na época e foi em uma campanha publicitária de um de seus produtos que se conheceram. Namoraram, casaram-se e separaram, porque segundo ele, o amor simplesmente acabou.
Com o dinheiro do divórcio (ela foi muito bem paga para se separar dele), resolveu voltar para o Brasil, fez a faculdade de Educação Física e somente conseguiu emprego na academia devido à fama de garota propaganda de aparelhos e produtos de ginastica.
— A culpa é minha...
— Ah Lena para com isso, a culpa não é sua e sim da falta de caráter dele!
— Não é isso... é claro que é minha, por amar demais um cara que eu sempre soube quem era. É como diz a minha avó, você pode até amar alguém, mas nunca a mais do que a si própria. — desabafou. O conselho da vovó Tina, Samantha concordou. Agora, a parte da culpa, ela não engolia nem mesmo tomando galões de água.
— E agora, o que eu faço? — Helena se perguntava após mais uma crise de choro.
— Simples né Lena, seguirá com a sua vida e de preferência com a cabeça erguida.
— Eu não sei se terei animo para enfrentar tudo isso... as pessoas vão falar...
— Que se dane o que os outros pensam ou falam, você é muito mais do que esse monte de asneiras que aquela lá falou de você! E você minha amiga, é a Rainha Helena de Tróia, é infinitamente melhor do que aqueles dois cretinos, eles se merecem! E também não deve nada a ninguém, não fez nada de errado, eles que fizeram, então quem tem que ter vergonha aqui é eles!
— Eu... acho que vou precisar de um tempo.
— Claro que sim. Leve o tempo que precisar amiga. Enquanto isso, se prepare para a sua viagem à Paris.
— Ah tá, a viagem que eu faria com Luiz...
— Você não faria, você vai fazer. Não vai negociar com a empresa francesa?
— Sim eu vou, mas...
— Não tem “mas” Lena, você vai sim, vai fechar o contrato e trazer muito dinheiro à sua empresa.
— A empresa onde eu trabalho, você quer dizer...
— Não importa, você vai viajar e ponto final.
Talvez Samantha estivesse certa. Melhor dizendo, ela está certa. Até porque, o mal já estava feito.
No dia seguinte, Helena foi trabalhar, tentando fingir que nada aconteceu. Vestiu o seu melhor conjunto social para provar, pelo menos a si mesma, que era melhor do que aqueles dois. E também porque precisa acertar alguns detalhes da viagem. Chegando lá, muitos a olhavam de forma muito estranha: uns davam risada, outros ficavam com pena e alguns com curiosidade. A profissional bem-sucedida e admirada por sua garra e competência, agora não passa de uma pobre coitada que levou um chifre pelo F******k. Chegou a ouvir os comentários: "Se uma moça como ela não conseguiu segurar um namorado, então não há esperança para nenhuma de nós..." “Coitada, ela não merece isso. Saber da traição do namorado pelo F******k não deve ter sido nada fácil para ela...” “Sinceramente, aquele cara nunca me enganou...” "Ela sempre se achou perfeita demais! Achou que nunca seria traída! Bem-feito para ela!" "Agora que está solteira, podemos ter alguma chance! Vamos apostar quem é que consegue sair com
As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia. — Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal. — Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar. — O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas... O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental: — Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho. — Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pel
Dias depois, Helena recebeu uma ligação e ficou aliviada ao ver na tela no celular que era a Samantha. Porém quando foi atender, percebeu que no lugar da voz da amiga, era outra pessoa. — Helena Petropoulos? Por acaso é amiga de Samantha Ferreira e Duarte? Era a voz de uma mulher. Naquele exato momento, sentiu um aperto no coração. Aliás, era só o que tem sentido ultimamente. — Sim, sou eu. — Aqui é do Pronto Socorro, sua amiga foi agredida e precisou ser socorrida. — O que? Como ela está? Por favor me passe o endereço que eu vou buscá-la! Após anotar o endereço do local, saiu correndo já pedindo um Uber escadaria a abaixo. Durante a corrida, ficou imaginando o que poderia ter acontecido a sua amiga... Chegando lá, perguntou por ela na recepção e a encaminharam até a sala de repouso, onde a encontrou com arranhões, hematomas, a mão enfaixada e um corte na testa. — Pelos Deuses amiga, o que houve? — Se eu te contar, você não vai acreditar... e eu não sei por onde começ
Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia. — Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz... — Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre
No dia seguinte, Helena se levantou cedo para visitar a empresa francesa de moda, junto com Dayane. Fazia muito frio em Paris nesta época do ano, mas faça sol ou chuva ou até mesmo acontecendo o apocalipse, ela fazia questão de se vestir bem para trabalhar, mesmo sendo apenas uma visita para conhecer a empresa. Afinal de contas está representando a empresa onde trabalha e quer (e deve) causar uma boa impressão. "Aparência não é tudo, mas ajuda!"Era o seu lema. Enquanto se arrumava, ela deu uma espiadinha pela porta da varanda, para ver se seu vizinho estava lá. Porém estava tudo fechado. Ou ele não est
No dia seguinte, Helena foi se encontrar com Pierre, o CEO da empresa com quem estava fechando contrato. Até que ele era um rapaz bem-apanhado, bonito e muito simpático. Se encontraram no Café Angelina, um dos mais antigos salões de chá de Paris e também é o lar de algumas das sobremesas mais incríveis da cidade. O Café Angelina leva a fama de ter o melhor chocolate quente de Paris. Sem falar no lugar, que é um espetáculo. A arquitetura em Belle Époque é um charme. Helena sentiu que foi transportada para uma outra Paris de uma outra época. A conversa entre eles foi muito animada, sem deixar de ser produtiva. Durante o b**e-papo, descobriu que P