As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia.
— Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal.
— Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar.
— O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas...
O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental:
— Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho.
— Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pelo pior.
— Já que estamos aqui, podemos conversar na sua sala?
— Sim senhor. "Era só o que me faltava! Além da humilhação nas redes sociais, perder o emprego!"
— Sobre a viagem...
— Por favor senhor não me mande embora! — o interrompeu, mais uma vez caindo no choro. Sabia o quanto ele não gostava ser interrompido, mas ela já não se aguentava mais: — eu sei que o senhor não alguém como eu representando a sua empresa, mas eu preciso do emprego...
— Mas eu não ia te despedir... — tentou explicar meio que assustado com a sua reação: — Só queria avisar que está tudo pronto para a viagem. E quero mesmo que você vá, pois é a única aqui que fala francês fluente e tem onde ficar.
Ao ouvir aquilo, Helena sentiu que havia tirado um grande peso das suas costas. Realmente ela falava francês e ficaria hospedada na casa de sua amiga Dayane, assim a empresa não precisará pagar pela hospedagem. Seria um custo a menos.
Mas assim como todos, também soube da humilhação nas redes sociais.
— Então os boatos são verdadeiros?
— Infelizmente sim. Desculpe pela confusão...
— Bom eu sinto muito por você, mas eu espero que a traição do seu ex-namorado não atrapalhe seu trabalho e muito menos o contrato com a empresa francesa.
— Não vai atrapalhar senhor, tem a minha palavra.
— Acho bom mesmo você honrar sua palavra Helena. Se perder este contrato, considere-se demitida desta empresa.
"Ótimo, era tudo o que eu precisava, ser demitida por ter sido esculhambada no F******k!"
Pelo menos a viagem não foi cancelada. Ela ainda iria para Paris.
— Volte ao trabalho. Precisa adiantar seu serviço antes de ir viajar.
— Sim senhor... — assim que ele saiu de sua sala, ela se trancou e mais uma vez caiu no choro. Era muito desastre acontecendo em pouco tempo. Ela nem sequer saiu para almoçar e se não fosse por um dos poucos amigos que tem no trabalho, ficaria sem comer.
*
Ao final do dia, Helena esperou todos saírem para ser a última a ir embora. Não queria encarar mais ninguém...
Foi um alívio sair do trabalho, mas sentiu uma baita tristeza ao chegar em casa, pois tudo ali lembrava Luiz. Tinha algumas coisas dele que ficavam em sua casa, como roupas e objetos de uso pessoal. Havia também os presentes, as fotos e claro, os livros dados por ele... fora os momentos vividos com ele: os jantares românticos, as maratonas de filmes e séries e claro, as noites românticas de amor. Sempre que ele ia dormir em sua casa, ela sempre lhe fazia um agrado, como cozinhar sua comida favorita, fazer uma massagem, usar uma lingerie sexy...
Helena adorava quando ela e Luiz faziam amor, pois toda vez que acontecia, ela sempre fazia o seu ritual: tomava um banho com pétalas de rosas, passava o seu hidratante favorito, enchia a cama de pétalas de rosas e acendia velas aromáticas. Claro, variavam de vez em quando, para o relacionamento não cair na mesmice. E sempre usavam preservativos.
Agora lá estava ela, sozinha e abandonada. Nunca seu apartamento pareceu tão grande. A sua maior vontade era de jogar tudo fora, até mesmo o colchão onde dormia para tentar esquecê-lo... só não o fez porque custou muito caro. O máximo que fez foi virar o lado do colchão, para não sentir o cheiro dele. E mais uma vez chorou até cair no sono...
*
Helena acordou com a cara toda inchada de tanto chorar, no meio da madrugada. Foi só o que tem feito desde o dia em viu aquela porcaria de postagem. Foi se arrastando até o banheiro e ficou chocada com o que viu. Parecia mais a versão morena de A Loira do Banheiro.
"Credo, eu preciso realmente parar com isto... não tá me fazendo bem!
Reprendeu a si mesma por chorar por alguém que não a merece. Finalmente a ficha caiu. Mesmo sendo de madrugada, resolveu tomar um banho. E ali embaixo do chuveiro, deixou cair mais algumas lágrimas... o seu mal era esse, fazia-se de forte o tempo todo, mas quando não aguentava mais, soltava tudo e mais um pouco.
Na hora do banho, lavou-se como nunca tivesse se lavado na vida. Se esfregou com tanta força, que chegou a tirar sangue da pele. Queria tirar o cheiro do Luiz da sua pele... tirá-lo da sua cabeça e se possível, fazer o mesmo com o coração.
Quando saiu do banho, seu celular tocou. Quem ligaria as três da madrugada? Seria no máximo sua família ou Samantha e mesmo assim teria que ser algo muito sério, ou talvez seja algum desocupado da vida para lhe passar trote, como já aconteceu outras vezes.
Gelou quando viu na tela um certo nome: Luiz!
Ela ficou na dúvida se atendia ou não. Questionou o porquê de ele ligar agora e não ter feito isto antes. Assim que resolveu atender, a ligação caiu. Pensou em ligar de volta, mas desistiu. O que será que ele queria? Se desculpar? Explicar o que houve ou simplesmente tirar uma com a sua cara?
A última pergunta era sem dúvida a mais provável.
Pelos seus cálculos, aquela era a décima vez que ela tentara falar com ele, desde quando vira aquela postagem no perfil dele. Decidiu que era melhor parar de vez, pois Luiz já havia feito a sua escolha e não era ela.
*
Amanheceu e Helena já estava de pé, se arrumando para ir trabalhar e com certas decisões em sua mente, quando o seu celular tocou. Era ele.
— Alô? — Criou coragem em atender e perguntou: — Luiz é você? Se for me diga, porque senão eu...
— Você o quê?
Emudeceu-se ao ouvir aquela voz. Era a voz de mulher e já imaginou de quem era.
— Quem é?
— Quem é que quer saber?
Ela já estava perdendo a sua paciência com aquela conversa. Decidiu partir para os finalmentes.
— Aqui é a Helena, quem fala?
— Ahá, então é você que é a tal da "Helena"?
Neste exato momento, sentiu um tremendo ódio por aquela criatura desprezível, ainda mais do jeito como falava o seu nome.
— Não, não é a tal da Helena não tá, é ela mesma! E você deve ser a tal da "Núbia". — Respondeu no mesmo tom: — ... a não ser que ele tenha arranjado outra, o que não seria nenhuma novidade. — Quando queria, Helena também tinha a língua muito da afiada.
— Para você é dona Núbia! É você que fica ligando para o celular do meu marido?
"Marido? Já estão assim?"
— Na verdade, foi o seu "maridinho" que me ligou de madrugada.
— Hahahaha! — até a risada de Núbia era desprezível: — trouxa! Achou mesmo que ele ligaria para você? Fui eu que liguei!
Ao ouvir aquilo, sentiu seu estômago embrulhar. Sentiu também vontade de chorar, mas não ia dar este gostinho para a sua inimiga.
— E por que você se prestou a um papelão desses?
— Ele me deu o seu número. Disse que eu podia me divertir, atormentando você para comemorar a nossa união!
"Luiz não se rebaixaria a isso! Ou sim?" Já não sabia mais o que pensar. Resolveu dar um basta naquela situação.
— Olha você já tá com ele, faça bom proveito, pode ficar com ele. Eu deixo. Pode também ficar com a caneca que EU comprei para ele!
Helena triunfou ao perceber que Núbia ficou muda quando falou da caneca.
— Passamos seu número para alguns amigos nossos, assim você não fica na mão. E deixe meu marido em paz! Você vai parar de ligar para ele, se não for por bem, será por mal. Agora ele está comigo e eu não sou como as outras tá? Se finalizar com as outras foi fácil, finalizar com você será mais fácil ainda!
"Outras?"
— Mas é claro que você não é igual as outras, é a pior de todas. Hoje ele está com você, amanhã já tá com outra. A partir de agora, você é a chifruda da vez. Você é uma vadia e ele é um imbecil que praticamente se merecem!
Após desligar na cara daquela cretina, Helena mais uma vez chorou. Mas desta vez engoliria o choro e voltará para as suas decisões. Uma delas é trocar o número do celular, porque se o que ela disse for verdade, que passou seu número para outros, então é o melhor a fazer.
Núbia ligava de novo, pois deveria estar muito puta da vida por Helena ter desligado na sua cara. Bloqueou aquele número. Uma outra decisão seria se mudar de seu apartamento, se possível, pois era bem capaz de Luiz ter dado o seu endereço a ela ou para mais alguém.
Dias depois, Helena recebeu uma ligação e ficou aliviada ao ver na tela no celular que era a Samantha. Porém quando foi atender, percebeu que no lugar da voz da amiga, era outra pessoa. — Helena Petropoulos? Por acaso é amiga de Samantha Ferreira e Duarte? Era a voz de uma mulher. Naquele exato momento, sentiu um aperto no coração. Aliás, era só o que tem sentido ultimamente. — Sim, sou eu. — Aqui é do Pronto Socorro, sua amiga foi agredida e precisou ser socorrida. — O que? Como ela está? Por favor me passe o endereço que eu vou buscá-la! Após anotar o endereço do local, saiu correndo já pedindo um Uber escadaria a abaixo. Durante a corrida, ficou imaginando o que poderia ter acontecido a sua amiga... Chegando lá, perguntou por ela na recepção e a encaminharam até a sala de repouso, onde a encontrou com arranhões, hematomas, a mão enfaixada e um corte na testa. — Pelos Deuses amiga, o que houve? — Se eu te contar, você não vai acreditar... e eu não sei por onde começ
Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia. — Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz... — Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre
No dia seguinte, Helena se levantou cedo para visitar a empresa francesa de moda, junto com Dayane. Fazia muito frio em Paris nesta época do ano, mas faça sol ou chuva ou até mesmo acontecendo o apocalipse, ela fazia questão de se vestir bem para trabalhar, mesmo sendo apenas uma visita para conhecer a empresa. Afinal de contas está representando a empresa onde trabalha e quer (e deve) causar uma boa impressão. "Aparência não é tudo, mas ajuda!"Era o seu lema. Enquanto se arrumava, ela deu uma espiadinha pela porta da varanda, para ver se seu vizinho estava lá. Porém estava tudo fechado. Ou ele não est
No dia seguinte, Helena foi se encontrar com Pierre, o CEO da empresa com quem estava fechando contrato. Até que ele era um rapaz bem-apanhado, bonito e muito simpático. Se encontraram no Café Angelina, um dos mais antigos salões de chá de Paris e também é o lar de algumas das sobremesas mais incríveis da cidade. O Café Angelina leva a fama de ter o melhor chocolate quente de Paris. Sem falar no lugar, que é um espetáculo. A arquitetura em Belle Époque é um charme. Helena sentiu que foi transportada para uma outra Paris de uma outra época. A conversa entre eles foi muito animada, sem deixar de ser produtiva. Durante o b**e-papo, descobriu que P
Alguns dias depois, as três melhores amigas ficaram sabendo de uma balada que aconteceria na Torre Eiffel. Não se sabe o porquê da festa, mas a população local e turistas adoraram a ideia. É claro que não podiam perder essa. Todas elas foram de boinas e lenços amarrados no pescoço, como se fossem francesas... com exceção de Dayane, que realmente era. E ela combinou com o namorado de se encontrarem na festa. Chegando lá, a maioria das pessoas também estavam de boina e lenço no pescoço. A festa estava lotada e animada, DJ tocando vários tipos de música, muita bebida e é claro, muita pegação! Assim que chegaram, Helena notou que alguém cantava para a mu
O namorado de Dayane era homem bonito e ao mesmo tempo, estranho. Um dos lados de seu rosto era marcado por uma imensa cicatriz de origem cirúrgica. Um dos seus belos olhos castanhos era vermelho. E quando ele estendeu a mão para cumprimentar Helena, ela logo notou que sua mão também tinha uma outra cicatriz, como se tivesse sido perfurada. _Monprince(meu príncipe), esta é a minha amiga de infância, HelenaPetropoulosque junto com Samantha, vieram do Brasil para passar um tempo comigo. _ disse Dayane ao apresentá-la. Ela só olhou para o casal, reparando o quanto eles eram diferentes. Enquanto a sua amiga era elegância pura, ele tinha um visual um pouco mais despojado, mas ainda estava bem-vestido.Último capítulo