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6 - Vocês se merecem!

As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia.

— Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal.

— Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar.

— O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas...

O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental:

— Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho.

— Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pelo pior.

— Já que estamos aqui, podemos conversar na sua sala?

— Sim senhor. "Era só o que me faltava! Além da humilhação nas redes sociais, perder o emprego!"

— Sobre a viagem...

— Por favor senhor não me mande embora! — o interrompeu, mais uma vez caindo no choro. Sabia o quanto ele não gostava ser interrompido, mas ela já não se aguentava mais: — eu sei que o senhor não alguém como eu representando a sua empresa, mas eu preciso do emprego...

— Mas eu não ia te despedir... — tentou explicar meio que assustado com a sua reação: — Só queria avisar que está tudo pronto para a viagem. E quero mesmo que você vá, pois é a única aqui que fala francês fluente e tem onde ficar.

Ao ouvir aquilo, Helena sentiu que havia tirado um grande peso das suas costas. Realmente ela falava francês e ficaria hospedada na casa de sua amiga Dayane, assim a empresa não precisará pagar pela hospedagem. Seria um custo a menos.

Mas assim como todos, também soube da humilhação nas redes sociais.

— Então os boatos são verdadeiros?

— Infelizmente sim. Desculpe pela confusão...

— Bom eu sinto muito por você, mas eu espero que a traição do seu ex-namorado não atrapalhe seu trabalho e muito menos o contrato com a empresa francesa.

— Não vai atrapalhar senhor, tem a minha palavra.

— Acho bom mesmo você honrar sua palavra Helena. Se perder este contrato, considere-se demitida desta empresa.

"Ótimo, era tudo o que eu precisava, ser demitida por ter sido esculhambada no F******k!"

Pelo menos a viagem não foi cancelada. Ela ainda iria para Paris.

— Volte ao trabalho. Precisa adiantar seu serviço antes de ir viajar.

— Sim senhor... — assim que ele saiu de sua sala, ela se trancou e mais uma vez caiu no choro. Era muito desastre acontecendo em pouco tempo. Ela nem sequer saiu para almoçar e se não fosse por um dos poucos amigos que tem no trabalho, ficaria sem comer.

*

Ao final do dia, Helena esperou todos saírem para ser a última a ir embora. Não queria encarar mais ninguém...

Foi um alívio sair do trabalho, mas sentiu uma baita tristeza ao chegar em casa, pois tudo ali lembrava Luiz. Tinha algumas coisas dele que ficavam em sua casa, como roupas e objetos de uso pessoal. Havia também os presentes, as fotos e claro, os livros dados por ele... fora os momentos vividos com ele: os jantares românticos, as maratonas de filmes e séries e claro, as noites românticas de amor. Sempre que ele ia dormir em sua casa, ela sempre lhe fazia um agrado, como cozinhar sua comida favorita, fazer uma massagem, usar uma lingerie sexy...

Helena adorava quando ela e Luiz faziam amor, pois toda vez que acontecia, ela sempre fazia o seu ritual: tomava um banho com pétalas de rosas, passava o seu hidratante favorito, enchia a cama de pétalas de rosas e acendia velas aromáticas. Claro, variavam de vez em quando, para o relacionamento não cair na mesmice. E sempre usavam preservativos.

Agora lá estava ela, sozinha e abandonada. Nunca seu apartamento pareceu tão grande. A sua maior vontade era de jogar tudo fora, até mesmo o colchão onde dormia para tentar esquecê-lo... só não o fez porque custou muito caro. O máximo que fez foi virar o lado do colchão, para não sentir o cheiro dele. E mais uma vez chorou até cair no sono...

*

Helena acordou com a cara toda inchada de tanto chorar, no meio da madrugada. Foi só o que tem feito desde o dia em viu aquela porcaria de postagem. Foi se arrastando até o banheiro e ficou chocada com o que viu. Parecia mais a versão morena de A Loira do Banheiro.

"Credo, eu preciso realmente parar com isto... não tá me fazendo bem!

Reprendeu a si mesma por chorar por alguém que não a merece. Finalmente a ficha caiu. Mesmo sendo de madrugada, resolveu tomar um banho. E ali embaixo do chuveiro, deixou cair mais algumas lágrimas... o seu mal era esse, fazia-se de forte o tempo todo, mas quando não aguentava mais, soltava tudo e mais um pouco.

Na hora do banho, lavou-se como nunca tivesse se lavado na vida. Se esfregou com tanta força, que chegou a tirar sangue da pele. Queria tirar o cheiro do Luiz da sua pele... tirá-lo da sua cabeça e se possível, fazer o mesmo com o coração.

Quando saiu do banho, seu celular tocou. Quem ligaria as três da madrugada? Seria no máximo sua família ou Samantha e mesmo assim teria que ser algo muito sério, ou talvez seja algum desocupado da vida para lhe passar trote, como já aconteceu outras vezes.

Gelou quando viu na tela um certo nome: Luiz!

Ela ficou na dúvida se atendia ou não. Questionou o porquê de ele ligar agora e não ter feito isto antes. Assim que resolveu atender, a ligação caiu. Pensou em ligar de volta, mas desistiu. O que será que ele queria? Se desculpar? Explicar o que houve ou simplesmente tirar uma com a sua cara?

A última pergunta era sem dúvida a mais provável.

Pelos seus cálculos, aquela era a décima vez que ela tentara falar com ele, desde quando vira aquela postagem no perfil dele. Decidiu que era melhor parar de vez, pois Luiz já havia feito a sua escolha e não era ela.

Amanheceu e Helena já estava de pé, se arrumando para ir trabalhar e com certas decisões em sua mente, quando o seu celular tocou. Era ele.

— Alô? — Criou coragem em atender e perguntou:  — Luiz é você? Se for me diga, porque senão eu...

— Você o quê?

Emudeceu-se ao ouvir aquela voz. Era a voz de mulher e já imaginou de quem era.

— Quem é?

— Quem é que quer saber?

Ela já estava perdendo a sua paciência com aquela conversa. Decidiu partir para os finalmentes.

— Aqui é a Helena, quem fala?

— Ahá, então é você que é a tal da "Helena"?

Neste exato momento, sentiu um tremendo ódio por aquela criatura desprezível, ainda mais do jeito como falava o seu nome.

— Não, não é a tal da Helena não tá, é ela mesma! E você deve ser a tal da "Núbia". — Respondeu no mesmo tom: — ... a não ser que ele tenha arranjado outra, o que não seria nenhuma novidade. — Quando queria, Helena também tinha a língua muito da afiada.

— Para você é dona Núbia! É você que fica ligando para o celular do meu marido?

"Marido? Já estão assim?"

— Na verdade, foi o seu "maridinho" que me ligou de madrugada.

— Hahahaha! — até a risada de Núbia era desprezível: — trouxa! Achou mesmo que ele ligaria para você? Fui eu que liguei!

Ao ouvir aquilo, sentiu seu estômago embrulhar. Sentiu também vontade de chorar, mas não ia dar este gostinho para a sua inimiga.

— E por que você se prestou a um papelão desses?

— Ele me deu o seu número. Disse que eu podia me divertir, atormentando você para comemorar a nossa união!

"Luiz não se rebaixaria a isso! Ou sim?" Já não sabia mais o que pensar. Resolveu dar um basta naquela situação.

— Olha você já tá com ele, faça bom proveito, pode ficar com ele. Eu deixo. Pode também ficar com a caneca que EU comprei para ele!

Helena triunfou ao perceber que Núbia ficou muda quando falou da caneca. 

— Passamos seu número para alguns amigos nossos, assim você não fica na mão. E deixe meu marido em paz! Você vai parar de ligar para ele, se não for por bem, será por mal. Agora ele está comigo e eu não sou como as outras tá? Se finalizar com as outras foi fácil, finalizar com você será mais fácil ainda!

"Outras?"

— Mas é claro que você não é igual as outras, é a pior de todas. Hoje ele está com você, amanhã já tá com outra. A partir de agora, você é a chifruda da vez. Você é uma vadia e ele é um imbecil que praticamente se merecem!

Após desligar na cara daquela cretina, Helena mais uma vez chorou. Mas desta vez engoliria o choro e voltará para as suas decisões. Uma delas é trocar o número do celular, porque se o que ela disse for verdade, que passou seu número para outros, então é o melhor a fazer.

Núbia ligava de novo, pois deveria estar muito puta da vida por Helena ter desligado na sua cara. Bloqueou aquele número. Uma outra decisão seria se mudar de seu apartamento, se possível, pois era bem capaz de Luiz ter dado o seu endereço a ela ou para mais alguém.

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