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2 - Mensagem Estranha

Helena mora sozinha numa quitinete no centro de São Paulo, "próxima" ao seu serviço, uma multinacional japonesa de grande porte, a Shingen S/A, referência mundial em moda e especializada em produção de roupas, acessórios e tecidos. Estilistas do mundo todo sonham em ter suas grifes produzidas por esta empresa.

Um deles é Dayane Remy Ribeiro, amiga franco-brasileira de Helena e Samantha. Ela estudou moda na ESMOD em Paris, já trabalhou com os maiores nomes da moda internacional e hoje lança a sua própria coleção.

Quando se diz "próxima", quer dizer ter o acesso mais fácil e mesmo assim, precisa enfrentar o metrô de São Paulo, como a maioria dos paulistanos. Mas seria muito pior se continuasse a morar com seus pais, onde o tráfego é muito mais contramão.

Assim que alugou a quitinete, Luiz queria morar junto com ela, porém Helena foi firme, dizendo que era muito cedo. Queria curtir o fato de morar sozinha por um tempo, comemorar a sua independência em seu próprio espaço, conquistado com muito trabalho duro, planejamento e decorado com o seu toque pessoal. Adepta ao minimalismo, mantém apenas o essencial no seu apartamento.

Mas claro que isto nunca o impediu de dormir em sua casa.

Luiz divide uma casa alugada com meia dúzia de lutadores de UFC e todos fazem parte de uma equipe olímpica da modalidade. Tentou levá-la para treinar junto com ele, mas não deu certo. Ela era craque no mundo dos negócios, inclusive chegou a conseguir patrocinadores e dinheiro para a equipe do namorado.

Porém, esportes realmente nunca foi o seu forte. Era muito preguiçosa para fazer exercícios. Samantha até brincava com ela, dizendo que o seu esporte preferido era o halterolivrismo (levantamento de livros) e os únicos músculos dos quais exercitava era os neurais. 

— Sorte a sua ter o biotipo a seu favor. Queria só ver se não fosse... — Era o que a sua “personal trainer” sempre dizia a ela toda vez que combinavam de caminhar no Parque Ibirapuera. 

Tanto que quando ia aos treinos do namorado para acompanhá-lo, sempre levava um livro para ler enquanto ele treinava. Os amigos de Luiz a chamavam de "a garota que lê". E ele se orgulhava disso, de namorar uma moça que além de linda, era inteligente e independente.

Quando Helena e Luiz começaram a namorar, algumas más línguas a apelidaram de "Maria-Tatame", ou seja, de garota que somente namora com lutador. Ele, sua melhor amiga e sua família odiavam este apelido, pois ela é uma mulher de classe, educada e não merece ser tratada como uma qualquer. É única.

Até aquele fatídico dia...

*

Em dezembro, Helena estava muito ocupada no trabalho e com a mudança de Luiz para sua casa. No final de janeiro do ano seguinte, ela fará uma viagem à Paris, para fechar um grande negócio com uma empresa da moda, onde também trabalha a sua amiga Dayane e claro, pretendia levar Luiz junto com ela. Será como uma viagem de lua-de-mel. Ele ainda não sabia, pois ela queria fazer uma surpresa.

Mas ela mal sabia da surpresa que ela teria...

*

Na véspera de Natal, Helena comprou uma caneca do Rock, com a estampa da banda de Heavy Metal favorita dele. Era a única coisa que tinham em comum, o amor pelo rock, apesar de ele gostar mais de rock pesado e ela preferir os clássicos. Queria comprar algo melhor, mas devido a correria das festas de fim de ano, não conseguiu e somente entregou na véspera de ano novo:

— Para você!

— Valeu gata. O que é?

— É algo que tem a haver com rock...

— Mas nessa caixinha não cabe uma guitarra ou bateria.

— E para que você quer uma guitarra ou bateria, se não sabe tocar, engraçadinho?

Quando ele abriu a caixa, tanto ele quanto ela não se aguentaram de tanta alegria:

— Minha banda favorita!

— Sabia que iria gostar.

— Você é a melhor namorada do mundo. Eu te amo Princesa Grega!

Ele a beijou do jeito como ela mais gostava, um selinho atrás do outro, enquanto a abraçava. Helena adorava quando Luiz a abraçava, se sentia protegida, amada, desejada... e adorava quando a chamava de Princesa, embora algumas vezes não a tratasse feito uma. Não que ele a maltratasse, era somente a falta de jeito dele. Não era violento, mas também não dado a gentilezas. Sabia o quanto ela era romântica, porém ela não esperava romance da parte dele:

— Também comprei algo para você, mas esqueci na casa da minha mãe... na verdade, não comprei, eu pedi para ela comprar...

— Tudo bem, quando se mudar lá para casa, pode me dar. Vou arrumar a minha estante.

— Para quê?

— Para receber o próximo livro.

— Não é um livro.

— Não?

— Desta vez não. É algo para você usar, bem melhor do que um livro.

Enquanto falava sobre o tal presente, Luiz segurava a sua mão. Ela somente o olhava de boca aberta, imaginando que tipo de presente seria melhor do que um livro. Mas tudo bem, como era presente do futuro namorido, não poderia opinar.

Na virada do ano, cada um decidiu passar com sua família e deixariam para se ver somente no dia mudança, que seria na semana seguinte. E será neste dia que ela pretende contar sobre a viagem. Já estava até com a passagem dele em mãos...

*

Alguns dias depois do ano novo, Helena recebera uma mensagem de Luiz no seu W******p:

"Não me procure por enquanto. Aconteceu um contratempo. Não posso falar nada agora. Deixa que eu te procuro. Bjs te amo."

Ela não entendeu nada e enviou um áudio: "Querido o que houve? Está tudo bem?"

Mas não teve resposta.

"Amor não sei o que tá acontecendo, mas saiba que estou do seu lado!"

Sem resposta.

"Amor não sei o que houve, mas tenho algo para te contar. Vamos viajar para Paris."

Nada...

— O que será que aconteceu? — começou a ficar preocupada com Luiz. Não se aguentou e ligou para a mãe dele:

— Oi Dona Maria, tudo bem?

— Sim minha querida e você? — Ouvir a voz da mãe de Luiz a fazia se sentir bem. E graças aos deuses, as duas se davam muito bem.

— O Luiz está aí? Eu não consigo falar com ele...

— Ah não. Ele passou aqui em casa mais cedo, pegou algumas coisas dele que ainda estavam aqui e saiu.

Ao saber que Luiz passou na casa da mãe para pegar as suas coisas, imaginou que era para se mudar para o seu apartamento. Pensou em dizer a senhora que eles decidiram morar juntos, mas conteve-se. Talvez ele ainda não tenha conversado com a mãe e ela deveria saber pelo filho, não por ela.

— Ele disse se passaria aqui em casa?

— Não... ele não disse.

Quando percebeu que não conseguiria as informações que queria, preferiu encerrar a ligação.

— Ah tudo bem então, obrigada Dona Maria, tchau, beijos!

— Outro, tchau!

Após se despedir da mãe do namorado, resolveu ligar para a república onde Luiz mora com a equipe, para saber se alguém sabia alguma informação sobre ele. Mas infelizmente ninguém também lá soube lhe responder. Agradeceu e desligou.

Ainda assim, Helena continua intrigada...

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