Helena mora sozinha numa quitinete no centro de São Paulo, "próxima" ao seu serviço, uma multinacional japonesa de grande porte, a Shingen S/A, referência mundial em moda e especializada em produção de roupas, acessórios e tecidos. Estilistas do mundo todo sonham em ter suas grifes produzidas por esta empresa.
Um deles é Dayane Remy Ribeiro, amiga franco-brasileira de Helena e Samantha. Ela estudou moda na ESMOD em Paris, já trabalhou com os maiores nomes da moda internacional e hoje lança a sua própria coleção.
Quando se diz "próxima", quer dizer ter o acesso mais fácil e mesmo assim, precisa enfrentar o metrô de São Paulo, como a maioria dos paulistanos. Mas seria muito pior se continuasse a morar com seus pais, onde o tráfego é muito mais contramão.
Assim que alugou a quitinete, Luiz queria morar junto com ela, porém Helena foi firme, dizendo que era muito cedo. Queria curtir o fato de morar sozinha por um tempo, comemorar a sua independência em seu próprio espaço, conquistado com muito trabalho duro, planejamento e decorado com o seu toque pessoal. Adepta ao minimalismo, mantém apenas o essencial no seu apartamento.
Mas claro que isto nunca o impediu de dormir em sua casa.
Luiz divide uma casa alugada com meia dúzia de lutadores de UFC e todos fazem parte de uma equipe olímpica da modalidade. Tentou levá-la para treinar junto com ele, mas não deu certo. Ela era craque no mundo dos negócios, inclusive chegou a conseguir patrocinadores e dinheiro para a equipe do namorado.
Porém, esportes realmente nunca foi o seu forte. Era muito preguiçosa para fazer exercícios. Samantha até brincava com ela, dizendo que o seu esporte preferido era o halterolivrismo (levantamento de livros) e os únicos músculos dos quais exercitava era os neurais.
— Sorte a sua ter o biotipo a seu favor. Queria só ver se não fosse... — Era o que a sua “personal trainer” sempre dizia a ela toda vez que combinavam de caminhar no Parque Ibirapuera.
Tanto que quando ia aos treinos do namorado para acompanhá-lo, sempre levava um livro para ler enquanto ele treinava. Os amigos de Luiz a chamavam de "a garota que lê". E ele se orgulhava disso, de namorar uma moça que além de linda, era inteligente e independente.
Quando Helena e Luiz começaram a namorar, algumas más línguas a apelidaram de "Maria-Tatame", ou seja, de garota que somente namora com lutador. Ele, sua melhor amiga e sua família odiavam este apelido, pois ela é uma mulher de classe, educada e não merece ser tratada como uma qualquer. É única.
Até aquele fatídico dia...
*
Em dezembro, Helena estava muito ocupada no trabalho e com a mudança de Luiz para sua casa. No final de janeiro do ano seguinte, ela fará uma viagem à Paris, para fechar um grande negócio com uma empresa da moda, onde também trabalha a sua amiga Dayane e claro, pretendia levar Luiz junto com ela. Será como uma viagem de lua-de-mel. Ele ainda não sabia, pois ela queria fazer uma surpresa.
Mas ela mal sabia da surpresa que ela teria...
*
Na véspera de Natal, Helena comprou uma caneca do Rock, com a estampa da banda de Heavy Metal favorita dele. Era a única coisa que tinham em comum, o amor pelo rock, apesar de ele gostar mais de rock pesado e ela preferir os clássicos. Queria comprar algo melhor, mas devido a correria das festas de fim de ano, não conseguiu e somente entregou na véspera de ano novo:
— Para você!
— Valeu gata. O que é?
— É algo que tem a haver com rock...
— Mas nessa caixinha não cabe uma guitarra ou bateria.
— E para que você quer uma guitarra ou bateria, se não sabe tocar, engraçadinho?
Quando ele abriu a caixa, tanto ele quanto ela não se aguentaram de tanta alegria:
— Minha banda favorita!
— Sabia que iria gostar.
— Você é a melhor namorada do mundo. Eu te amo Princesa Grega!
Ele a beijou do jeito como ela mais gostava, um selinho atrás do outro, enquanto a abraçava. Helena adorava quando Luiz a abraçava, se sentia protegida, amada, desejada... e adorava quando a chamava de Princesa, embora algumas vezes não a tratasse feito uma. Não que ele a maltratasse, era somente a falta de jeito dele. Não era violento, mas também não dado a gentilezas. Sabia o quanto ela era romântica, porém ela não esperava romance da parte dele:
— Também comprei algo para você, mas esqueci na casa da minha mãe... na verdade, não comprei, eu pedi para ela comprar...
— Tudo bem, quando se mudar lá para casa, pode me dar. Vou arrumar a minha estante.
— Para quê?
— Para receber o próximo livro.
— Não é um livro.
— Não?
— Desta vez não. É algo para você usar, bem melhor do que um livro.
Enquanto falava sobre o tal presente, Luiz segurava a sua mão. Ela somente o olhava de boca aberta, imaginando que tipo de presente seria melhor do que um livro. Mas tudo bem, como era presente do futuro namorido, não poderia opinar.
Na virada do ano, cada um decidiu passar com sua família e deixariam para se ver somente no dia mudança, que seria na semana seguinte. E será neste dia que ela pretende contar sobre a viagem. Já estava até com a passagem dele em mãos...
*
Alguns dias depois do ano novo, Helena recebera uma mensagem de Luiz no seu W******p:
"Não me procure por enquanto. Aconteceu um contratempo. Não posso falar nada agora. Deixa que eu te procuro. Bjs te amo."
Ela não entendeu nada e enviou um áudio: "Querido o que houve? Está tudo bem?"
Mas não teve resposta.
"Amor não sei o que tá acontecendo, mas saiba que estou do seu lado!"
Sem resposta.
"Amor não sei o que houve, mas tenho algo para te contar. Vamos viajar para Paris."
Nada...
— O que será que aconteceu? — começou a ficar preocupada com Luiz. Não se aguentou e ligou para a mãe dele:
— Oi Dona Maria, tudo bem?
— Sim minha querida e você? — Ouvir a voz da mãe de Luiz a fazia se sentir bem. E graças aos deuses, as duas se davam muito bem.
— O Luiz está aí? Eu não consigo falar com ele...
— Ah não. Ele passou aqui em casa mais cedo, pegou algumas coisas dele que ainda estavam aqui e saiu.
Ao saber que Luiz passou na casa da mãe para pegar as suas coisas, imaginou que era para se mudar para o seu apartamento. Pensou em dizer a senhora que eles decidiram morar juntos, mas conteve-se. Talvez ele ainda não tenha conversado com a mãe e ela deveria saber pelo filho, não por ela.
— Ele disse se passaria aqui em casa?
— Não... ele não disse.
Quando percebeu que não conseguiria as informações que queria, preferiu encerrar a ligação.
— Ah tudo bem então, obrigada Dona Maria, tchau, beijos!
— Outro, tchau!
Após se despedir da mãe do namorado, resolveu ligar para a república onde Luiz mora com a equipe, para saber se alguém sabia alguma informação sobre ele. Mas infelizmente ninguém também lá soube lhe responder. Agradeceu e desligou.
Ainda assim, Helena continua intrigada...
Mais alguns dias se passaram e nenhum sinal de Luiz. Helena ligava, mandava mensagens, olhava no F******k e nada. Chegou a perguntar para Samantha se o viu na academia, mas ela também não soube lhe dizer nada. O que por um lado foi inútil, uma vez que os seus horários não se coincidem. Ela já pensava no pior. "Notícia ruim sempre vem primeiro!" Disse para si mesma. * Em uma manhã quente de janeiro, Helena se arrumava para ir trabalhar, quando ouviu um barulho de algo se quebrando. Era o seu olho grego, feito especialmente para ela, por sua vó, que estava pendurado na parede da sala. Na cultura grega, este artefato simboliza o Olho dos Deuses, protegendo a pessoa da inveja e do mal olhado. Quando se quebra, é porque a protegeu de algum mal... ... ou é porque algo muito ruim está para acontecer com ela. Mas seu olho grego quebrou de um jeito tão estranho, que a deixou assustada. O objeto se partiu em mil pedaços, que se espalharam por toda a sala. Foi como se alguém tivesse
Como prometido, Samantha realmente passou o dia todo cuidando de Helena. Limpou os cacos de porcelana do vaso e do olho grego, passou uma pomada em seu machucado e fez uma comprinha básica no mercadinho da esquina, para preparar um almoço simples, mas bem gostoso para elas. Também fez questão de comprar algumas guloseimas, como chocolates e sorvete. Encontrou uma edição limitada sabor baunilha com calda de goiaba e quis levar para experimentarem. Nada como um docinho para adoçar um coração amargurado. Também ligou para o seu escritório, para explicar que ela não estava se sentindo muito bem, mas amanhã estaria melhor. A secretária parecia que já estava ciente do caso do F******k, foi muito grosseira e desligou na sua cara. — Credo, que grossa! Vai desligar na cara da sua vó! — Esbravejou. De lá do seu quarto, Helena ouvia a amiga reclamar, só imaginando quem foi que a atendeu. Como era de se esperar, a família de Helena ligou para saber como ela estava. Sophia fez um verdad
No dia seguinte, Helena foi trabalhar, tentando fingir que nada aconteceu. Vestiu o seu melhor conjunto social para provar, pelo menos a si mesma, que era melhor do que aqueles dois. E também porque precisa acertar alguns detalhes da viagem. Chegando lá, muitos a olhavam de forma muito estranha: uns davam risada, outros ficavam com pena e alguns com curiosidade. A profissional bem-sucedida e admirada por sua garra e competência, agora não passa de uma pobre coitada que levou um chifre pelo F******k. Chegou a ouvir os comentários: "Se uma moça como ela não conseguiu segurar um namorado, então não há esperança para nenhuma de nós..." “Coitada, ela não merece isso. Saber da traição do namorado pelo F******k não deve ter sido nada fácil para ela...” “Sinceramente, aquele cara nunca me enganou...” "Ela sempre se achou perfeita demais! Achou que nunca seria traída! Bem-feito para ela!" "Agora que está solteira, podemos ter alguma chance! Vamos apostar quem é que consegue sair com
As duas só olharam para o lado e quando viram quem era, não sabiam onde enfiar a cara. Sim, era ele mesmo, o presidente da empresa, Takeda Shingen, com a sua imponente presença, olhando para elas naquela cena deplorável. Helena somente pensou na hora que realmente não era o seu dia. — Sr. Shin-gen! — Gaguejou ao vê-lo. Fez a tradicional reverência japonesa, pois sabia o quanto seu chefe era apegado às tradições de sua Terra Natal. — Eu a avisei que o senhor queria falar com ela, mas ela não quis me ouvir. — Disse a bruxa da Olga, querendo se safar. — O QUÊ? Isso é mentira, eu já ia mesmo falar com o senhor, mas... O presidente somente um gesto com a mão pedindo basta, com toda a sua calma oriental: — Dona Olga, volte agora para sua mesa, por favor. Deixe que eu mesmo converso com a Helena. E todos vocês, voltem ao trabalho. — Sim senhor. — A velha senhora só a olhou de cima a baixo e saiu pisando firme. Todos olhavam a cena. E ela o olhou com o rosto vermelho, esperando pel
Dias depois, Helena recebeu uma ligação e ficou aliviada ao ver na tela no celular que era a Samantha. Porém quando foi atender, percebeu que no lugar da voz da amiga, era outra pessoa. — Helena Petropoulos? Por acaso é amiga de Samantha Ferreira e Duarte? Era a voz de uma mulher. Naquele exato momento, sentiu um aperto no coração. Aliás, era só o que tem sentido ultimamente. — Sim, sou eu. — Aqui é do Pronto Socorro, sua amiga foi agredida e precisou ser socorrida. — O que? Como ela está? Por favor me passe o endereço que eu vou buscá-la! Após anotar o endereço do local, saiu correndo já pedindo um Uber escadaria a abaixo. Durante a corrida, ficou imaginando o que poderia ter acontecido a sua amiga... Chegando lá, perguntou por ela na recepção e a encaminharam até a sala de repouso, onde a encontrou com arranhões, hematomas, a mão enfaixada e um corte na testa. — Pelos Deuses amiga, o que houve? — Se eu te contar, você não vai acreditar... e eu não sei por onde começ
Dias depois daquela confusão na academia e dias antes da viagem, Samantha ficou hospedada na casa de Helena para ajudá-la a fazer as malas. Quis ficar na casa da amiga para de lá, partirem juntas até o aeroporto. E também para evitar o olhar de reprovação de seus pais. Sim, eles e toda alta sociedade paulistana já souberam da sua briga na academia. — Já verifiquei o seu passaporte. Está atualizado, então não terá nenhum problema na hora do embarque. E eu já falei com a Day, ela ficou muito feliz em saber que você vai junto comigo no lugar do Luiz... — Valeu, eu também estou contente em poder vê-la de novo. Nossa, faz tempo que não a vejo. E faz mais tempo ainda que nós três não nos encontramos. — Comentou Samantha, tentando se lembrar da última vez em esteve com as amigas. Se a sua memória não falha, foi no seu casamento quando as convidou para serem as suas madrinhas. Lembrou também que na época, chegou a adiar a viagem de Lua de Mel apenas para ficar mais tempo com elas, pois não
Finalmente chegou o grande dia! Helena e Samantha foram à Paris, a famosa Cidade-luz, onde a vida é vivida com beleza e paixão, também conhecida por ser a capital mundial da moda. Foram mais ou menos onze horas de viagem, mas foi tranquila, desde o Aeroporto Internacional de Guarulhos até o Aeroporto de Charles de Gaulle. Elas pareciam duas garotinhas animadas, indo ao parque de diversões pela primeira vez. E se animaram ainda mais quando viram a sua amiga de infância, Dayane Remy no portão de desembarque. — Oh mes chers amis (minhas queridas amigas)! — Miga sua loka! — Gritaram as duas ao mesmo tempo. "Como foi bom ter feito esta viagem!" Pensava Helena. — Oh meu Deus, deixe-me olhar para você, está tão linda! — Disse Samantha ao vê-la depois de tantos anos. A última vez que se viram foi em seu casamento, quando a amiga criou o seu vestido de noiva. Foi um dos seus primeiros trabalhos como estilista profissional. Ela foi recebê-las com um elegante blazer rosa pastel, uma
Logo após a festinha, cada uma foi se recolher em seu quarto. A casa de Dayane tinha três quartos e deixou o maior para Helena, pois achou que ela viria com o namorado. Ela iria tratar de negócios amanhã cedo, mas não conseguia dormir. Não conseguia parar de pensar no que o canalha do Luiz havia feito. Ela ainda estava com a camisola vermelha, quando resolveu se sentar na varanda de seu quarto para observar a cidade. Ela ficava o imaginando ali do seu lado, admirando a luz do luar, como faziam em seu apartamento. Ele passava a mão em seus cabelos, enquanto a beijava. Como ela adorava isso... começavam com um selinho, depois outro e depois partia para um beijo quente e cheio de desejo, acompanhado de um abraço forte e ao mesmo tempo suave, pois ela era delicada e Luiz tinha medo de machucá-la. Mas não conseguia conter o desejo de possuí-la. Ela por sua vez, não resistia em se perdia em seus braços, com aqueles músculos fortes e duros feito aço. Quando a coisa pegava fogo, ele sempre