Á meio percurso até a fazenda ficava o pequeno morro que era conhecido como Serrote, aonde fora edificada ali uma Cruz em devoção a São Jose. Cruzeiro de São Jose – Assim era chamado. A fundação e o início da devoção á São José, foi baseada em fatos verídicos de que algo estranho andava acontecendo naquele lugar. Diziam meus pais, que, há tempos era comum as pessoas verem de longe, entidades misteriosas vestidas de branco sobre as pedras ao lado da cruz, posteriormente ali colocada. Presumia-se que aqueles vultos brancos em forma de anjos, seria um aviso para que uma devoção fosse edificada ali.
O motivo de ser consagrada a São Jose se deu pelo fato de que as aparições mais constantes ocorrerem sempre no mês de março.
Contavam meus pais que no dia 19 de março, o dia de São José as aparições se intensificavam e podiam-se ver anjos vestidos de branco com asas, andando sobre as pedras em cerimônia de adoração.
Também, segundo eles, viam-se ainda saindo das duas
grandes pedras junto ao local onde colocaram a cruz, duas rodas de carro de boi fixadas ao eixo descendo morro abaixo. Assim fizeram! Reuniram-se todos, sob a iniciativa. de Tio Antônio e fundaram ali, a tão sublime devoção
Logo depois, com a primeira celebração, deu-se desde então a continuidade das festividades a cada ano consecutivamente. Por isso aumentava o número de fiéis com aquela
Logo depois, com a primeira celebração, deu-se desde então a continuidade das festividades a cada ano consecutivamente. Por isso aumentava o número de fiéis com aquela mesma
inspiração de fé e religiosidade. Às vezes, as pessoas até pediam para serem festeiros. Isto só era possível quando não houvesse escolhido ainda os novos e futuros representantes para o ano seguinte.
A inauguração aconteceu no dia 19 de março no decurso da década de cinquenta com a celebração de uma grandiosa festa em louvor ao Santo Padroeiro.
Segundo as tradições e o costume daquela época, a realização e celebração da festividade era representada por um casal como representantes e responsáveis pelo acontecimento. Eram os Festeiros que tinha a responsabilidade de arcar com as despesas na preparação da festa.
Como acontecem nos tempos atuais, os festejos começavam no dia 10 de março, e a celebração das novenas aconteciacom a reza do terço acrescentado a ladainha de Nossa Senhora.
Fazia-se o encerramento dia 19 - dia de São José — o Padroeiro. Havia durante as novenas, leilões das prendas que eram doadas pela comunidade local.
Era oferecido pelos festeiros no dia da festa, um grande banquete: doce, biscoitos, pãezinhos, não esquecendo também das tradicionais broas de fubá, que eram acompanhados com o delicioso leite fervido.
Tudo era de fabricação caseira pelas peritas confeiteiras do lugar. Nada era trazido do comércio local.
No ato do encerramento da festa, escolhiam-se os novos festeiros para o próximo ano. Era oferecido pelos atuais festeiros ao casal escolhido, um buquê de flores, Ramalhete como símbolo de compromisso dos novos festeiros.
Todos os anos se repetiam aquela tão calorosa devoção. As novenas eram celebradas com a reza do terço. Não havia padres disponíveis para a celebração das solenidades festivas. A celebração de novenas e da festa era encerrada com uma procissão no entorno do Cruzeiro.
Por causa da indisponibilidade de um sacerdote, não pode ser construída ali uma capela, por menor que fosse. Porém, para o acolhimento dos fiéis, havia ali um rancho de palhas de babaçu. Uma palmeira muito abundante na região.Era de fato, um lugar muito agradável e totalmente aconchegante. A brisa soprava levemente, exalando o perfume das flores vindo da vegetação que contornava o monte.
A vegetação compunha-se de um lindo cenário com árvores de várias espécies e tamanhos, transformando aquele lugar no mais agradável local de descanso e oração.
Pela bondade de Deus, com a interseção de São José, desde então não houve mais ali aquelas aparições. E as festividades continuavam-se todos os anos, na mesma data e local.
Lembro-me de um ano em que minha mãe e meu primo Irone eram festeiros. Como era de costume, minha mãe incumbiu-se de fazer os preparos da festa como: enfeites – flores para adorno do altar e as tradicionais comidas. Quitandas, doces acompanhados com o indispensável leite fervido.
Meu primo responsabilizou-se pela reforma do rancho de palha como era costume fazer isso todos os anos. Acontecia periodicamente no período de estiagem algum incêndio nos campos e, às vezes, o rancho era consumido totalmente pelas chamas. Com quatro juntas de bois, colocou o material no carro e convidou meu irmãozinho Rubens de apenas seis anos de idade e eu para acompanhá-lo e seguimos rumo ao cruzeiro de são José, aonde seriam levados os materiais para a reforma da casa de acolhimento dos fiéis.
As madeiras e as palhas de babaçu formavam meia carga no soalho do carro protegido apenas pelos fueiros e meu irmão se encontrava sentado nas folhas. Os bois começaram a sair da estrada, que por sinal era cheia de buraco e cascalho fazendo o carro balançar muito.
Em um determinado momento uma das rodas do carro entrou em uma vala um pouco funda fazendo o carro pender-se para o lado direito. Com isso meu irmão caiu e ficou pendurado na roda direita com o carro em movimento.
Meu primo se encontrava a uma distância de uns oito metros e num piscar de olhos correu e segurou o garoto antes que a roda lhe cortasse os braços ou até mesmo a cabeça. Segurando-o nos braços, comovido e trêmulo pelo ocorrido e pelo fato de ter salvado o menino, ergueu os olhos para o alto e bradou: Milagre! Com os olhos cheios de lágrimas veio até a mim e disse: ele poderia ter morrido! Foi um milagre! A partir desse momento, ele tocou os bois e seguimos andando atrás do carro.
Os bois, por sua vez, puxavam o carro silenciosamente até a chegada do local da reforma do rancho e não saíram mais da estrada.Voltamos para casa na mais perfeita harmonia e uma paz celestial reinava durante todo o período da festa.
Por causa da minha pouca idade, não pude entender muito bem aquela cena, mas, foi realmente muito surpreendente pavoroso e assustador. Foi sim, com certeza um milagre!
Um caso parecido com esse relata um grande milagre atribuído a Nossa Senhora de Abadia, padroeira da cidade. Esse fato se deu pelos seus arredores numa antiga fazenda.A mulher era devota de Nossa senhora, mas, o marido não dava nenhuma importância em sua devoção e não frequentava asas festas celebradas no dia quinze de agosto.Em um determinado ano, no dia da santa, o fazendeiro pegou o carro de boi para carrear o feijão da colheita daquela safra.Sua esposa humildemente pediu a ele que não trabalhasse naquele dia – que era um dia de guarda, porém ele ignorou severamente.
De volta com o carro cheio de sacas de feijão e seu filho de oito anos sentado em cima. O carro tombou-se e a carga caiu sobre o menino deixando-o preso debaixo da carga. Vendo, então aquela cena, dobrou os joelhos no chão e clamou a Virgem com a seguinte prece: Se meu filho sair dessa com vida, prometo a Senhora que nunca mais trabalharei neste dia consagrada a Vós! Farei todo de cera á réplica do carro de boi narrando esta cena verdadeira.
A partir do próximo ano, irei com toda minha família e colocarei a réplica da cena debaixo de Vossos Pés!Assim que terminou de fazer o pedido á santa, o menino gritou debaixo da sacaria que se encontravam por cima dele.
Com os olhos em lágrimas, o coração palpitando e tomado de arrependimento por inteiro, começou a retirar as sacas de feijão de cima do garoto.
Havia formado um teto circular em volta e nada sofreu o menino, saindo são e salvo daquele perigo.Voltou para casa e relatou todo o acontecido á sua esposa que ficou maravilhada, um tanto mais fervoroso na fé e sua devoção ganhou sentido maior.Passou então a partir do seguinte ano, a participar de todas as celebrações atribuídas a Nossa Senhora da Abadia durante toda sua vida. Esse milagre repercutiu em muitos lugares e trouxe aointeiro um fortalecimento da fé em Nossa senhora, Mãe de Jesus e nossa mãe. Uma réplica encenando o carro com seis juntas de bois, feito em cera retratando aquela cena real e milagrosa, era depositada aos pés da Virgem todos os anos
Esbarrancado
Há uns cinquenta metros da sede da nossa fazenda, margeando a estrada que descia até a casa pelo lado esquerdo, havia uma erosão bastante evoluída.
Esta era conhecida como Esbarrancado e tinha uns oitocentos metros de comprimento, por uns quinze de largura, e dez de profundidade em alguns pontos estendendo-se até o Ribeirão.
Quando chovia, recebia uma grande quantidade de água que desembocava formando dentro dele, uma enorme enxurrada lamacenta que era despejada no Ribeirão logo abaixo. Formara-se ali, nos barrancos do esbarrancado, um verdadeiro santuário ecológico de aves de várias espécies. Carcarás, gaviões, urubus, papagaios, araras, periquitos e outras espécies de aves de rapina. faziam ali, seus ninhos, dando assim continuidade à perpetuação das espécies, ás quais faziam parte daquele santuário natural. Não havia nenhum risco de extinção das aves.
Todo mundo que passava por lá, ficava bastante maravilhado e não desperdiçava a chance de assistir uma cena real daquelas aves. O encantamento das acrobacias e malabarismo das águias e dos falcões na perseguição de sua presa deixava os visitantes inteiramente maravilhados.
Apesar da proximidade da sede da fazenda,viviam em total harmonia. Não sentiam ameaçadas de maneira alguma, por qualquer tipo de predadores. Como bom defensor da natureza, meu pai meu pai tornou-se seu guardião.
Como fora citado antes, falou-se apenas de seus arredores e sua localização. A Escolinha, o Cruzeiro de São José, no Morro do Serrote e a estrada que liga a sede da propriedade.Falar-se a agora da tradição e do costume desta tão aconchegante e encantadora fazenda.Apesar de ter o tempo transformado tudo isso em eternas lembranças que acompanha-me até hoje, guardo como se fosse uma brasa viva a queimar-me por dentro.Tantas surpresasficaram para trás. Lembro-as como se fosse hoje. Fatos e acontecimentos marcaram presença e o tempo não as afastaramde mim.Recordações de tudo que vivi. Apesar da minha pouca idade até participei de algumas que serão descritas mais adiante.Com a certeza de que nada fugisse-me da mente, escrevo-as com o maior entusiasmo e precisão, buscando encontrar a forma perfeita para uma boa leitura com riquezas d
A cinco metros da bica d’água, fora construído o tão famoso engenho de cana-de-açúcar feito exclusivamente de madeira de Jatobá Vermelho, balsamo e garapa amarela. A moagem de cana, bem como a fabricação de rapaduras e açúcar mascavo, além do apetitoso melaço de cana e doces de diversos sabores se dava no início no mês de junho.Nessa época a cana estava já amadurecida e por isso, o rendimento era bem maior com relação aos meses anteriores. Nessa época a cana estava já amadurecida e por isso, o rendimento era bem maior com relação aos meses anteriores.O processo ideal da moagem e a apuração da garapa para que o melado chegasse ao ponto de ir para a fôrma, era de tamanha importância. Isto, porém, influenciava bastante na qualidade e na concentração do produto.
Falando em Festas, lembro-me bem de quando eu tinha por volta de cinco anos de idade, de uma Festa de Reis que houve em nossa Fazenda. Era segundo meus pais, uma promessa que fizera há algum tempo e era aquele o momento certo para a realização e celebração da Festa.Era de manhã quando na frente da casa da fazenda começava a ser construída provisoriamente uma tolda coberta com folhas de babaçu, amarradas com embiras de casca de jatobá para servir o jantar para os foliões que chegariam logo mais ao entardecer.Fora colocado também ali, bancos de tabuas para que as pessoas pudessem sentar e algumas mesas improvisadas para colocar as comidas para os inúmeros convidados.Ao lado, perto da cozinha, havia um grande rancho de palhas onde morava minha avó paterna. Ali era feito as comidas e trazidas para as coberturas feitas para esse fim. Além da cobertura na frente
Zé Catucá era um cidadão meio extrovertido, nervoso e cheio de artimanha. Sofria de uma gagueira crônica e tinha muita dificuldade no falar. Às vezes, ficava um tanto chateado quando certas pessoas zombavam dele. Era filho do lugar e vinha de uma família humilde e simples.Vivia sempre de casa em casa, trabalhando como boia fria nas fazendas que o acolhia por várias semanas ou até meses. Aparentava uns 45 anos de idade. Não sabia ler nem escrever.Tinha o hábito de reclamar de tudo que o aborrecia, principalmente nas horas das refeições questionando algum atraso do horário costumeiro. Também no serviço, era turrão e vagaroso. Seu desempenho era defasado com relação ao rendimento nas tarefas que lhes eram proporcionadas a fazer.Catucá não ingeria bebida alcoólica, mas era fumante assíduo. Não dispensava u
Histórias como estas de Zé Catucá e outros mais, são abundantes no cenário mineiro como será narrada a vida de Joaquim Furtadinho Era ele um homem de pequena estatura, cor de canela, cabelos negros e lisos. Olhos grandes, nariz achatado e bem dividido entre os olhos e a testa. Traziam traços indígenas.Seus lábios grossos demonstravam fortes aparências com os bugres – uma raça indígena dispersa na nossa região. Viviam isolados e solitários.De vez em quando meu pai defrontava com algum que habitava as matas da nossa fazenda. Eram pacíficos e tímidos.Sua característica era de um cidadão bastante rústico e antiquado, apesar de ser um tanto alegre, humilde e educado. Não costumava tomar banho. Suas roupas eram semelhantes a uma lona de caminhão. O mau odor tomava conta do ambiente no qual se encontrava Joaqui
Lembro-me bem de quando numa tarde ensolarada de céu límpido e muito calor, meu irmão e eu brincávamos no gramado na frente da casa da fazenda.Os últimos raios do sol já se encobriam atrás do horizonte anunciando o anoitecer. O gado reunia-se no curral para lamber o sal depositado nos cochos como era de costume.Os passarinhos fazendo revoada para acomodarem-se nos galhos aonde costumavam dormir. Abriam o peito num gorjeio constante aproveitando as últimas horas do dia para depois silenciarem-se. A brisa fresca soprava tentando afastar o calor deixado pelo sol, ensaiando um tom de frescor para a tranquilidade da noite.A alegria que sentíamos em nossas brincadeiras era tanto que nem percebemos quando aquele estranho apareceu no portão do pátio na entrada da casa.Sem pronunciar uma palavra sequer, começou a calafetar as amarras de arame que prendia o rústico portão
Certo dia, depois de ter ouvido falar que seu Alcebíades, um fazendeiro daquela região, o qual Pedro Malas Arte passava grande parte do tempo em sua casa, ficou um tanto chateado ao saber que o mesmo havia falado que ele era um João Ninguém, ou seja, um Pedro Ninguém, um preguiçoso e não valia o que comia.Decidiu então tomar satisfação com seu Alcebíades que já andava meio preocupado, pois não imaginava o que Pedro Malas Arte era capaz de fazer para se vingar. Dito e feito; Pedro chegou à sua casa e falou com certa ironia;—Seu Alcebíades.—Não gostei nada do que o senhor andou falando por aí a meu respeito. O sinhô fique sabendo que eu sô é muito macho, uai. Logo o senhor, meu melhor amigo ficar falando essas coisas me deixando aperreado dessa maneira homem!—Calma Pedro! Não pensei que fosse
Passados alguns dias, corria pela redondeza o boato de que uma famigerada onça vermelha – suçuarana, andava apavorando os moradores ali da região.As pessoas não saiam mais de casa à noite, nem deixavam mais as crianças irem a escolinha da fazenda. Diziam que a danada já havia comido várias rezes, porcos, cabritos e até aves nos poleiros das fazendas.Vários caçadores já se preparavam para caçar a maldita fera, mas, até então ninguém havia visto ainda a danada. Nem sequer vestígio dela. Não passava de um simples boato, mas aspessoas não se continham tomadas de medo e pavor. Temiam serem atacados a qualquer momento pela famigerada;Quando o boato chegou à nossa fazenda, ouvi meu pai dizer que isso poderia ser alguma traquinagem de Pedro Malas Arte. Sabia muito bem do que Pedro era capaz de aprontar por detrás das