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CAPÍTULO II - CRUZEIRO DE SÃO JOSÉ - Esbarrancado

Á meio percurso até a fazenda ficava o pequeno morro que era conhecido como Serrote, aonde fora edificada ali uma Cruz em devoção a São Jose. Cruzeiro de São Jose – Assim era chamado. A fundação e o início da devoção á São José, foi baseada em fatos verídicos de que algo estranho andava acontecendo naquele lugar. Diziam meus pais, que, há tempos era comum as pessoas verem de longe, entidades misteriosas vestidas de branco sobre as pedras ao lado da cruz, posteriormente ali colocada. Presumia-se que aqueles vultos brancos em forma de anjos, seria um aviso para que uma devoção fosse edificada ali.

O motivo de ser consagrada a São Jose se deu pelo fato de que as aparições mais constantes ocorrerem sempre no mês de março.

Contavam meus pais que no dia 19 de março, o dia de São José as aparições se intensificavam e podiam-se ver anjos vestidos de branco com asas, andando sobre as pedras em cerimônia de adoração.

Também, segundo eles, viam-se ainda saindo das duas

grandes pedras junto ao local onde colocaram a cruz, duas rodas de carro de boi fixadas ao eixo descendo morro abaixo. Assim fizeram!  Reuniram-se todos, sob a iniciativa. de Tio Antônio e fundaram ali, a tão sublime devoção

Logo depois, com a primeira celebração, deu-se desde então a continuidade das festividades a cada ano consecutivamente. Por isso aumentava o número de fiéis com aquela

            Logo depois, com a primeira celebração, deu-se desde então a continuidade das festividades a cada ano consecutivamente. Por isso aumentava o número de fiéis com aquela mesma

inspiração de fé e religiosidade. Às vezes, as pessoas até pediam para serem festeiros. Isto só era possível quando não houvesse escolhido ainda os novos e futuros representantes para o ano seguinte.

A inauguração aconteceu no dia 19 de março no decurso da década de cinquenta com a celebração de uma grandiosa festa em louvor ao Santo Padroeiro.

Segundo as tradições e o costume daquela época, a realização e celebração da festividade era representada por um casal como representantes e responsáveis pelo acontecimento. Eram os Festeiros que tinha a responsabilidade de arcar com as despesas na preparação da festa.

Como acontecem nos tempos atuais, os festejos começavam no dia 10 de março, e a celebração das novenas aconteciacom a reza do terço acrescentado a ladainha de Nossa Senhora.

Fazia-se o encerramento dia 19 - dia de São José — o Padroeiro. Havia durante as novenas, leilões das prendas que eram doadas pela comunidade local.

Era oferecido pelos festeiros no dia da festa, um grande banquete: doce, biscoitos, pãezinhos, não esquecendo também das tradicionais broas de fubá, que eram acompanhados com o delicioso leite fervido.

Tudo era de fabricação caseira pelas peritas confeiteiras do lugar. Nada era trazido do comércio local.

No ato do encerramento da festa, escolhiam-se os novos festeiros para o próximo ano. Era oferecido pelos atuais festeiros ao casal escolhido, um buquê de flores, Ramalhete como símbolo de compromisso dos novos festeiros.

Todos os anos se repetiam aquela tão calorosa devoção. As novenas eram celebradas com a reza do terço. Não havia padres disponíveis para a celebração das solenidades festivas. A celebração de novenas e da festa era encerrada com uma procissão no entorno do Cruzeiro.

Por causa da indisponibilidade de um sacerdote, não pode ser construída ali uma capela, por menor que fosse. Porém, para o acolhimento dos fiéis, havia ali um rancho de palhas de babaçu. Uma palmeira muito abundante na região.Era de fato, um lugar muito agradável e totalmente aconchegante.  A brisa soprava levemente, exalando o perfume das flores vindo da vegetação que contornava o monte.

A vegetação compunha-se de um lindo cenário com árvores de várias espécies e tamanhos, transformando aquele lugar no mais agradável local de descanso e oração.

Pela bondade de Deus, com a interseção de São José, desde então não houve mais ali aquelas aparições. E as festividades continuavam-se todos os anos, na mesma data e local.

Lembro-me de um ano em que minha mãe e meu primo Irone eram festeiros. Como era de costume, minha mãe incumbiu-se de fazer os preparos da festa como: enfeites – flores para adorno do altar e as tradicionais comidas. Quitandas, doces acompanhados com o indispensável leite fervido.

Meu primo responsabilizou-se pela reforma do rancho de palha como era costume fazer isso todos os anos. Acontecia periodicamente no período de estiagem algum incêndio nos campos e, às vezes, o rancho era consumido totalmente pelas chamas. Com quatro juntas de bois, colocou o material no carro e convidou meu irmãozinho Rubens de apenas seis anos de idade e eu para acompanhá-lo e seguimos rumo ao cruzeiro de são José, aonde seriam levados os materiais para a reforma da casa de acolhimento dos fiéis.

As madeiras e as palhas de babaçu formavam meia carga no soalho do carro protegido apenas pelos fueiros e meu irmão se encontrava sentado nas folhas. Os bois começaram a sair da estrada, que por sinal era cheia de buraco e cascalho fazendo o carro balançar muito.

Em um determinado momento uma das rodas do carro entrou em uma vala um pouco funda fazendo o carro pender-se para o lado direito. Com isso meu irmão caiu e ficou pendurado na roda direita com o carro em movimento.

Meu primo se encontrava a uma distância de uns oito metros e num piscar de olhos correu e segurou o garoto antes que a roda lhe cortasse os braços ou até mesmo a cabeça. Segurando-o nos braços, comovido e trêmulo pelo ocorrido e pelo fato de ter salvado o menino, ergueu os olhos para o alto e bradou: Milagre! Com os olhos cheios de lágrimas veio até a mim e disse: ele poderia ter morrido! Foi um milagre!  A partir desse momento, ele tocou os bois e seguimos andando atrás do carro.

 Os bois, por sua vez, puxavam o carro silenciosamente até a chegada do local da reforma do rancho e não saíram mais da estrada.Voltamos para casa na mais perfeita harmonia e uma paz celestial reinava durante todo o período da festa.

Por causa da minha pouca idade, não pude entender muito bem aquela cena, mas, foi realmente muito surpreendente pavoroso e assustador. Foi sim, com certeza um milagre!

Um caso parecido com esse relata um grande milagre atribuído a Nossa Senhora de Abadia, padroeira da cidade. Esse fato se deu pelos seus arredores numa antiga fazenda.A mulher era devota de Nossa senhora, mas, o marido não dava nenhuma importância em sua devoção e não frequentava asas festas celebradas no dia quinze de agosto.Em um determinado ano, no dia da santa, o fazendeiro pegou o carro de boi para carrear o feijão da colheita daquela safra.Sua esposa humildemente pediu a ele que não trabalhasse naquele dia – que era um dia de guarda, porém ele ignorou severamente.

De volta com o carro cheio de sacas de feijão e seu filho de oito anos sentado em cima.  O carro tombou-se e a carga caiu sobre o menino deixando-o preso debaixo da carga. Vendo, então aquela cena, dobrou os joelhos no chão e clamou a Virgem com a seguinte prece: Se meu filho sair dessa com vida, prometo a Senhora que nunca mais trabalharei neste dia consagrada a Vós! Farei todo de cera á réplica do carro de boi narrando esta cena verdadeira.

A partir do próximo ano, irei com toda minha família e colocarei a réplica da cena debaixo de Vossos Pés!Assim que terminou de fazer o pedido á santa, o menino gritou debaixo da sacaria que se encontravam por cima dele.

Com os olhos em lágrimas, o coração palpitando e tomado de arrependimento por inteiro, começou a retirar as sacas de feijão de cima do garoto.

Havia formado um teto circular em volta e nada sofreu o menino, saindo são e salvo daquele perigo.Voltou para casa e relatou todo o acontecido á sua esposa que ficou maravilhada, um tanto mais fervoroso na fé e sua devoção ganhou sentido maior.Passou então a partir do seguinte ano, a participar de todas as celebrações atribuídas a Nossa Senhora da Abadia durante toda sua vida. Esse milagre repercutiu em muitos lugares e trouxe aointeiro um fortalecimento da fé em Nossa senhora, Mãe de Jesus e nossa mãe. Uma réplica encenando o carro com seis juntas de bois, feito em cera retratando aquela cena real e milagrosa, era depositada aos pés da Virgem todos os anos

Esbarrancado

Há uns cinquenta metros da sede da nossa fazenda, margeando a estrada que descia até a casa pelo lado esquerdo, havia uma erosão bastante evoluída.

Esta era conhecida como Esbarrancado e tinha uns oitocentos metros de comprimento, por uns quinze de largura, e dez de profundidade em alguns pontos estendendo-se até o Ribeirão.

Quando chovia, recebia uma grande quantidade de água que desembocava formando dentro dele, uma enorme enxurrada lamacenta que era despejada no Ribeirão logo abaixo. Formara-se ali, nos barrancos do esbarrancado, um verdadeiro santuário ecológico de aves de várias espécies. Carcarás, gaviões, urubus, papagaios, araras, periquitos e outras espécies de aves de rapina. faziam ali, seus ninhos, dando assim continuidade à perpetuação das espécies, ás quais faziam parte daquele santuário natural. Não havia nenhum risco de extinção das aves.

Todo mundo que passava por lá, ficava bastante maravilhado e não desperdiçava a chance de assistir uma cena real daquelas aves. O encantamento das acrobacias e malabarismo das águias e dos falcões na perseguição de sua presa deixava os visitantes inteiramente maravilhados.

Apesar da proximidade da sede da fazenda,viviam em total harmonia. Não sentiam ameaçadas de maneira alguma, por qualquer tipo de predadores. Como bom defensor da natureza, meu pai meu pai tornou-se seu guardião.

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