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CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO - A Escolinha

Ao descambar-se vindo das bandas de Abadia dos Dourados, uma pequena cidade do Triângulo Mineiro às margens do Rio Dourados, afastando-se alguns quilômetros da bela cidade de Monte Carmelo, estendia-se ali um pouco a direita aquele antigo estradão de terra que se dava rumo a Dourado Quara.

Cortava várias fazendas e campos áridos típicos daquelas regiões, transitando ora indo ora vindo, veículos, pedestres, cavaleiros e carros de boi. Passando pela região da Matinha assediada por várias fazendas de criação de gado bovino e plantações de grãos, estendia-se cruzando as férteis terras retratando as belas e exuberantes paisagens.

Às suas margens, tanto a direita como a esquerda, ostentavam-se pequenas reservas de matas divisando-se com as belas pastagens cobertas de rezes, ora pastando, ou ruminando. Nas regiões mais baixas corria serenamente as límpidas águas de vários córregos e ribeirões, debaixo de pequenas pontes de madeira.  

 Avançava-se até o velho Sobrado. Na margem esquerda existia um velhomonumento de madeira inacabado e abandonado pelo tempo. Fora sem dúvida um projeto que não deu certo e acabou em total abandono, ficando apenas as marquises jogadasao vento.

Houve quem afirmasse que o lugar era mal-assombrado e jurava ter visto algo sobrenatural subindo e descendo as escadas do velho duplex.No entanto, não passava de superstição ou lenda na cabeça de algumas pessoas pouco esclarecidas e não conscientizadas com relação ao sobrenatural. Talvez fosse até dedução de alguém que por certo havia ouvido o canto de um pássaro ou até mesmo o barulho de algum animal passando por ali.

Na verdade, o lugar era esmo e solitário, envolto por várias mangueiras centenárias com galhos encurvados pelo peso excessivo dos frutos, tornando aquele lugar um pouco assustador. Havia na verdade, alguns porcos e ouriços transitando debaixo delas comendo os frutos maduros caídos no chão.

Cerca de aproximadamente um quilômetro dali, ficava logo abaixo, a sede da velha fazenda do Senhor José Ramos, um dos mais influentes e antigos fazendeiros daquelas imediações.

Era talvez a mais antiga propriedade naquelas bandas, e, também uma das maiores em criação de gado e plantações de grãos, abrangendo parte das melhores terras da região.

Tinha ele também uma grande influência política nas regiões circunvizinhas da pequena cidade de Abadia dos Dourados.  Não exercia nenhum cargo político, mas, defendia com unhas e dentes a sigla do PSD, um dos dois únicos partidos políticos daquela época.

Logo mais à frente, dando sequência em seu percurso, descambava-se por uma chapada de campos limpos e arenosos com baixos relevos. Era coberta com uma camada fina de rocha pigmentada semelhante a uma pedra de giz, contendo várias cores. Era usada como tinta para pintar as paredes das casas das fazendas. Também, uma camada espessa de areia fina era utilizada para fazer o reboco nas paredes adicionadas com estrumes de gado e cal hidratados.

Estendia-se de suas margens o vasto campo todo coberto de frutos silvestresjatobá do campo, mama cadela, marmelada, mangaba, bacupari, gabiroba, cajuzinho do campo e muitos ou-

tros frutos nativos da região.Logo que chegava o período de estiagem, por volta de agosto a setembro, ocasião em que o calor aumentava e o sol era mais quente, o capim secava e logo apareciam alguns focos de queimadas.

Assim que as gramíneas apresentavam seus brotos verdes, o gado se espalhava pelos campos para comê-los. Só aparecia nasede da fazenda a procura de água e sal nas cocheiras.

Nessas imediações, do lado direito do velho estradão, entrava-se em nossas terras. Abria-se ali uma estrada um pouco estreita que se estendia até a sede da nossa fazenda, numa distância de aproximadamente três quilômetros. Nela transitava apenas carros de boi, cavaleiros, pedestres e raramente veículos. Era a parte mais alta e vinha abaixando gradativamente até a fazenda.

A Escolinha

Quase as margens do estradão fora construída uma escolinha toda feita de madeira verde e coberta com folhas de babaçu exclusivamente pelo meu pai.

A fundação dessa escola se deu a pedido do Doutor Calil Porto, o primeiro e atual Prefeito de Abadia dos Dourados naquela época. Em 1947, houve o desmembramento de Coromandel e a emancipação como município. Portanto o primeiro prefeito de Abadia dos Dourados, após tal desmembramento, foi o médico Doutor Calil Porto, sendo que há na praça principal um busto em homenagem a ele.Esse busto foi construído e inaugurado em 2004, pelo então prefeito Isvaldino Assunção.

Assim que tomou posse da Prefeitura da cidade, o então governador do Estado de Minas Gerais repassou a ele em moeda corrente, a quantia de C$ 1.800 (mil e oitocentos contos de réis).

A verba seria destinada a construção de 30 grupos escolares de nível primário, no valor de C$ 60.000 (sessenta mil reais)cada um em determinados municípios de Abadia dos Dourados. Esse projeto nem sequer saiu do papel e nenhum grupo escolar fora construído naquela redondeza.

Sem assistência da parte da Prefeitura, a simples escolinha que tinha como professor meu tio Antônio Paixão, irmão de ma-

mãe. Funcionou apenas por um período de sete meses e depois fora destruída pelas queimadas e pelo tempo.

Semelhante a esta, fora construída também mais duas nas fazendas vizinhas, que tivera por infelicidade a mesma sorte que a construída em nossa fazenda. Tivera, no entanto, a mesma decadência e a falta de assistência por parte da Prefeitura da cidade.

Por causa do tamanho descaso, o abandono tomou conta delas e o tempo incumbiu-se de levar a cabo o que fora feito com tanto esforço e sacrifício pelos proprietários das fazendas.

Com isso, o futuro das crianças e adolescentes da redondeza ficou comprometido com a falta dessas escolas. Alguns, porém, tiveram a sorte de estudarem fora.

Outros, porém, não tiveram a mesma sorte se entregando ao trabalho rural, adquirindo para si um futuro semelhante ao que tiveram seus pais.

Algumas fazendas – no caso a nossa, tiveram a iniciativade contratar professores particulares para o ensino de seus filhos. Isso, também, por pouco tempo, pois, não havia nenhum vínculo com o Ministério da educação que pudesse garantir a legitimidade do ensino formal.

Por esse motivo, pela expansão do lugar, ou talvez por força maior por parte das autoridades governamentais da época, a nossa região não contava de maneira alguma com a possibilidade de ser instalada ali uma nova escola.Ficou, portanto, descartada essa ideia, e, só conseguia prosseguir nos estudos quem saísse de lá em busca de um futuro melhor.

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