Ela corria o máximo que podia pelas ruas rústicas da pequena cidade, desesperada para fugir. Choramingava e ofegava com o medo. O esforço da corrida fazia as pernas começarem a queimar e os pés doerem loucamente dentro das botas plataforma brancas cobertas por tecido rendado preto. O vestido escuro prendia em suas coxas conforme ela corria, embolando-se em meio às pernas enquanto as alças dele teimavam em escorregar dos ombros, ameaçando deixá-la com o busto à mostra. As lágrimas borravam o delineador preto que descia pelo rosto como rios negros e faziam os cabelos loiros grudarem na pele. 

Seu peito subia e descia rapidamente devido à respiração acelerada e o ar entrando com grosseria pelas narinas rasgava a garganta já seca. Extremamente cansada, ela começava a sentir o corpo se esgotando, tingindo sua visão com pontinhos brilhantes. 

Ela chegava ao final da rua desnivelada, feliz por chegar aos campos de girassóis que cercavam a cidade. Ao alcançar o campo, que terminava em um íngreme penhasco com vegetação mais à frente, continuou correndo, sentindo a terra seca levantar poeira por onde ela passava. Arriscou olhar para trás, vendo luzes de lanternas balançando conforme quem as empunhava corria atrás dela, ainda nas ruas da cidade. Voltou seus olhos para frente e avistou a ponta do penhasco bem próxima. Já podia ouvir os gritos dos homens que a seguiam.

Sentindo as mãos esquentarem como se as tivesse posto no fogo, ela baixou os olhos para elas, vendo-as brilhando e faiscando, soltando curtos raios que atingiam o chão e queimavam a pouca vegetação marrom e seca que teimava em crescer ali. 

Enfim chegou ao penhasco e as terras extensas e áridas se estendiam abaixo dele, esperando-a.

Ela saltou, caindo, sentindo o vento açoitar os cabelos longos e muito loiros, avermelhando seus olhos azuis. 

Caindo, caindo, caindo...