Quando sua visão se tornou menos embaçada e distante, Louisa sentiu o cansaço tomar seu corpo e caiu de joelhos no tapete da sala, colocando as mãos dos lados da cabeça. Os acontecimentos da noite a açoitaram com força, e ela se viu em meio a vários cadáveres fardados e uma casa destruída que logo menos iria ruir – pois estalava e rangia. Ela podia ouvir gente na casa, talvez policiais que conseguiram se esconder da explosão de eletricidade que ela provocou. Um sorriso tímido passou por seus lábios rapidamente com a lembrança de algo tão incrível que pôde fazer.
Sem esperar, Lou disparou casa afora, correndo pela propriedade até a rua. Ao ganhar a rua, ela correu na direção contrária à da estrada, iria para os campos de girassóis e depois para o penhasco. Olhou por sobre o ombro rapidamente e viu que estava sendo seguida por meia dúzia de homens que conseguiram sobreviver. Eles corriam tão rápido que em pouquíssimo tempo a alcançariam. Assim como veio, seu dom se desvane
A fila do caixa finalmente começava a diminuir, animando Zya. Ele deveria ter cerca de meia hora para chegar à estação e temia que fosse perder o trem por conta da enrolação naquele mercado. A base da coluna doía levemente pelo tempo em que ficou em pé com a cesta de itens em mãos, balançando de um lado para o outro ao seu lado. Distraído, Zya encarava o nada à sua frente, mas havia alguém entre ele e o tal nada; um garoto meio afeminado, que o encarava sorrindo. Certamente achou que Zya olhava para ele propositalmente. Ele desviou o olhar do menino e o fixou na cesta, trincando os dentes. Os cabelos longos e negros como petróleo caíam em seu rosto, escondendo metade dele como uma cortina escura.Finalmente sua vez de ser atendido chegou. Pagou tudo e saiu de lá com pressa, passando pelo tal garoto afeminado que abriu a boca para falar com Zya, que sequer deu atenção. A sacola batia em sua coxa a cada passo apressado que ele dava em direção à saída, agradecendo por Sunfa
Genesis terminava de arrumar o pequeno apartamento, com a ajuda de Aiden, para acolher Louisa e Henrik. Aiden havia acabado de limpar o banheiro, e olhava Gen passar um pano úmido na TV enorme e antiga, tirando o pó.— Podíamos dividir um quarto e os deixar usarem o outro. Até acharem um lugar para eles. — Aiden sugeriu.— Será que ainda tem apartamentos vazios aqui?— Ah, não será eu quem vai perguntar para o Zedd. Você pergunta, se quiser.— Se não tiver aqui, podemos ajudá-los a procurar algum lugar por perto. Estamos aqui há algum tempo e já conhecemos um bom pedaço da cidade.— Sim, eu sei. Bom, eles chegam quando?— Já devem estar para chegar. Saíram de lá quase nove da noite. De lá até aqui são umas doze horas, mais ou menos, e agora são sete da manhã.Aiden reparou que Genesis parecia ansioso, mordendo o lábio com frequência.De fato, Gen estava nervoso. Afinal eram seus meio-irmãos que estavam chegando
As ruas principais de Ghonargon estavam lotadas como sempre, mas naquele dia o caos costumeiro estava pior: um provável acidente fechara quatro das seis pistas da avenida, resultando em um tráfego que percorria poucos centímetros de hora em hora. Buzinas eram usadas até machucar as palmas das mãos, como se fossem fazer o trânsito andar. A chuva forte batia no carro com força, misturando-se às buzinas e sons de motores ligados. Torrentes de água suja corriam velozes pelo meio fio da avenida e espantava pedestres, que andavam rentes às vitrines e afins das lojas nas calçadas. O costumeiro fluxo intenso de pessoas nas ruas havia sumido, substituído por uma ou outra alma que não tinha escolha a não ser andar debaixo da chuva torrencial. Por fim, o tráfego começou a andar muito lentamente, tirando Elya de seu torpor. Ele observava a cidade que tanto amava ao seu redor, acolhendo-o de volta com aquela chuvarada tão característica de Ghonargon. Estava dirigindo desde Sunfalls sem parar, se
O trem soou o aviso de que partiria em cinco minutos, sobressaltando-o levemente. Após quase a noite inteira parado, ele finalmente voltaria a rodar pelos trilhos. Passava do meio dia e Zya havia acabado de comer um lanche qualquer o qual nem sentiu o gosto. Seus pensamentos estavam em Ghonargon, a cidade que amava e ter falado com Louisa o aquietou, matando o sentimento ruim de que ela fora pega por Elya.Com uma estremecida, o trem voltou ao movimento, ganhando velocidade rapidamente. Já não estava tão calor e sol e Zya podia ver a camada grossa de poluição e nuvens carregadas que cobriam Ghonargon. Ansiava por sentir a chuva nele novamente, frequentar os lugares que gostava e mostrar à Louisa tudo o que queria, achar Aksu e retomar a vida. Sem Willem, a divisão iria demorar a se estabilizar novamente, o que os daria tempo para uma recuperação do susto; e todos sabiam como aquela Divisão estava perdendo o poder rapidamente. Já não o tinham em boa quantidade na época da pr
Ela corria o máximo que podia pelas ruas rústicas da pequena cidade, desesperada para fugir. Choramingava e ofegava com o medo. O esforço da corrida fazia as pernas começarem a queimar e os pés doerem loucamente dentro das botas plataforma brancas cobertas por tecido rendado preto. O vestido escuro prendia em suas coxas conforme ela corria, embolando-se em meio às pernas enquanto as alças dele teimavam em escorregar dos ombros, ameaçando deixá-la com o busto à mostra. As lágrimas borravam o delineador preto que descia pelo rosto como rios negros e faziam os cabelos loiros grudarem na pele.Seu peito subia e descia rapidamente devido à respiração acelerada e o ar entrando com grosseria pelas narinas rasgava a garganta já seca. Extremamente cansada, ela começava a sentir o corpo se esgotando, tingindo sua visão com pontinhos brilhantes.Ela c
Aquele era um dia muito ensolarado, com a luz do Sol lançando raios dourados nos campos de girassóis, trigo e milharais que praticamente cercavam a cidade mergulhada em um calor intenso dia e noite, sempre. Mas em Sunfalls não passava de mais um dia normal e entediante, igual a todos os outros desde que a cidade fora fundada.Sunfalls era uma típica e clichê cidade de interior que jamais mudava: havia missa aos domingos, festival da torta uma vez a cada semestre e escola cinco dias por semana durante toda a manhã, com as famosas panelinhas de meninas pseudo-populares, seus namorados bonitões e meninos que viviam dizendo que iriam embora de Sunfalls assim que acabasse a escola para entrar em uma universidade, mas nunca iam embora de fato.E havia Louisa Newton.Louisa nascera em Sunfalls e não fazia parte de grupo algum, tanto na escola como em qualquer outro canto da cidade. O pai de Louisa, Saul, era pastor na pequena igreja da cidade e sua esposa, Jen
Louisa entrou em sua sala de aula e escolheu o lugar de sempre: nos fundos da classe onde ninguém sentava. Assim ela podia rabiscar a última folha do caderno ou copiar os poemas e textos bonitos sobre amor que encontrava em seu livro de literatura. Às vezes trocava as tampas das canetas coloridas ou arrumava e desarrumava tudo em sua mesa até algum professor chegar. Lou admitia que tinha problemas para se concentrar, mas tentava ao máximo. Se não tinha a atenção chamada pelos professores por não prestar atenção na aula, então era um dia perdido.Observava, distraída, os alunos de sua classe se empenharem em brincadeirinhas idiotas, juntarem as mesas para fofocar ou qualquer outra coisa. Suas mãos começaram a doer levemente, junto de um ardor. Louisa esfregou-as e cruzou os braços na esperança de que a ardência passasse. Ela convivia com a maldita sensação desde pequena, mas nunca quis falar a ninguém. Não gostava de contar as coisas sobre si para os outros, apenas para H
Zya finalmente chegara naquele maldito fim de mundo. Talvez ali teria sossego e, quem sabe, até recomeçasse a vida, mudasse de nome e iniciasse uma criação de plantas carnívoras, coisa que ele amava.Ele andava pela rua comprida e muito quente com o sol fritando-lhe a cabeça. Tinha em mãos um papel pequeno e já bastante amassado que continha um endereço de um lugar onde ele poderia alugar um quarto por um preço barato. Zya tinha uma quantia relativamente pouca de dinheiro que usaria para se manter até achar algo em que pudesse trabalhar – embora não achasse que conseguiria grande coisa naquela cidade em especial. Nas cidades vizinhas, Zya vira algumas fábricas e coisas do tipo. Um lugar daqueles sempre precisava de pessoas para trabalhar e aceitavam qualquer um, contanto que trabalhasse direito.Zya começava a ficar nervoso com o calor insuportável e o fato de não chegar nunca ao endereço anotado no papel. Ele levava a mala pendurada no ombro direito e tentava se c