Genesis esperava Aiden terminar de se arrumar para poderem sair. Em suas andanças pela cidade, acharam uma boate pela qual Aiden se apaixonou imediatamente, entraram por alguns minutos e foram embora, e Genesis prometeu que voltariam para que pudessem curtir melhor. Aiden apareceu na sala, vestido com roupas que fariam Samira ter um ataque do coração; calças cargo com mais de uma dezena de fivelas e um pouco de correntes, uma blusa de mangas compridas igualmente cheia de fivelas que formavam um tipo de colete e coturnos de cano longo, tudo em cor preta. Ele estava vestindo roupas do mesmo estilo que muitas pessoas daquele subúrbio, provável que se misturasse perfeitamente com a multidão da boate, toda composta de cabelos de todo tipo e ares fetichistas. Gen o encarou melhor, comparando sua roupa de “menino comum” – jeans azuis e blusão de moletom verde musgo – com o estilo meio dark de seu primo. Aiden passou os dedos nos cabelos cortados rente, bagunçando os fios, ligeiramente sem
Louisa estava nervosa. Em pé no meio do quarto, ela olhava o bilhete do trem em suas pequenas mãos, encarando o horário em que ele partiria: 20h40m. Suas malas estavam ao lado da cama, parecendo montes na penumbra. Lou olhou cada detalhe do quarto, tentando memorizar tudo para aplacar a saudade quando ela a acometesse – embora já não houvessem detalhes pessoais dela ali. Pouco mais de uma semana antes, Henrik e ela colocaram quase todos os objetos que tinham para vender na internet, pois não poderiam levar tudo. Louisa colocou à venda sua coleção de bloquinhos de acrílico com borboletas dentro, todas as miniaturas de gatinhos de porcelana que não eram maiores do que seu dedo mindinho, suas pelúcias, penteadeira, bijuterias e tudo o mais que pudera vender, conseguindo despachar o último objeto no dia anterior. Agora seu quarto era apenas um cômodo com uma cama nua e um guarda-roupa vazio.Já não era mais uma simples mudança como de início, mas uma espécie de fuga, e
Willem seguia devagar pela rua deserta, sendo seguido pelos demais carros. A rua estava escura e extremamente quieta; seria difícil fazer tudo por baixo dos panos. Elya ajeitava a farda cor de vinho, checando a munição do fuzil e ajeitando o capacete.— Para. Está me dando nos nervos. — Rosnou Willem.— Faz tempo que não uso a farda, desacostumei. E você também parece desconfortável na sua, então cala a boca.— Pareço, mas estou bem até demais nela. Quanto tempo faz que não apertamos uns gatilhos? — Riu Willem.— Muito tempo, com certeza. Mas vamos pôr a mira em dia logo menos.Willem checou no rádio se os demais policiais estavam prontos e estacionou o carro em frente a uma casa que ficava um pouco distante das outras, provavelmente fora algum tipo de rancho de cavalos no passado, pois tinha um celeiro bem conservado.Desceram e esgueiraram-se pelo terreno rapidamente, protegidos pelo breu da noite, parando atrás do celeiro. Elya
Quando sua visão se tornou menos embaçada e distante, Louisa sentiu o cansaço tomar seu corpo e caiu de joelhos no tapete da sala, colocando as mãos dos lados da cabeça. Os acontecimentos da noite a açoitaram com força, e ela se viu em meio a vários cadáveres fardados e uma casa destruída que logo menos iria ruir – pois estalava e rangia. Ela podia ouvir gente na casa, talvez policiais que conseguiram se esconder da explosão de eletricidade que ela provocou. Um sorriso tímido passou por seus lábios rapidamente com a lembrança de algo tão incrível que pôde fazer.Sem esperar, Lou disparou casa afora, correndo pela propriedade até a rua. Ao ganhar a rua, ela correu na direção contrária à da estrada, iria para os campos de girassóis e depois para o penhasco. Olhou por sobre o ombro rapidamente e viu que estava sendo seguida por meia dúzia de homens que conseguiram sobreviver. Eles corriam tão rápido que em pouquíssimo tempo a alcançariam. Assim como veio, seu dom se desvane
A fila do caixa finalmente começava a diminuir, animando Zya. Ele deveria ter cerca de meia hora para chegar à estação e temia que fosse perder o trem por conta da enrolação naquele mercado. A base da coluna doía levemente pelo tempo em que ficou em pé com a cesta de itens em mãos, balançando de um lado para o outro ao seu lado. Distraído, Zya encarava o nada à sua frente, mas havia alguém entre ele e o tal nada; um garoto meio afeminado, que o encarava sorrindo. Certamente achou que Zya olhava para ele propositalmente. Ele desviou o olhar do menino e o fixou na cesta, trincando os dentes. Os cabelos longos e negros como petróleo caíam em seu rosto, escondendo metade dele como uma cortina escura.Finalmente sua vez de ser atendido chegou. Pagou tudo e saiu de lá com pressa, passando pelo tal garoto afeminado que abriu a boca para falar com Zya, que sequer deu atenção. A sacola batia em sua coxa a cada passo apressado que ele dava em direção à saída, agradecendo por Sunfa
Genesis terminava de arrumar o pequeno apartamento, com a ajuda de Aiden, para acolher Louisa e Henrik. Aiden havia acabado de limpar o banheiro, e olhava Gen passar um pano úmido na TV enorme e antiga, tirando o pó.— Podíamos dividir um quarto e os deixar usarem o outro. Até acharem um lugar para eles. — Aiden sugeriu.— Será que ainda tem apartamentos vazios aqui?— Ah, não será eu quem vai perguntar para o Zedd. Você pergunta, se quiser.— Se não tiver aqui, podemos ajudá-los a procurar algum lugar por perto. Estamos aqui há algum tempo e já conhecemos um bom pedaço da cidade.— Sim, eu sei. Bom, eles chegam quando?— Já devem estar para chegar. Saíram de lá quase nove da noite. De lá até aqui são umas doze horas, mais ou menos, e agora são sete da manhã.Aiden reparou que Genesis parecia ansioso, mordendo o lábio com frequência.De fato, Gen estava nervoso. Afinal eram seus meio-irmãos que estavam chegando
As ruas principais de Ghonargon estavam lotadas como sempre, mas naquele dia o caos costumeiro estava pior: um provável acidente fechara quatro das seis pistas da avenida, resultando em um tráfego que percorria poucos centímetros de hora em hora. Buzinas eram usadas até machucar as palmas das mãos, como se fossem fazer o trânsito andar. A chuva forte batia no carro com força, misturando-se às buzinas e sons de motores ligados. Torrentes de água suja corriam velozes pelo meio fio da avenida e espantava pedestres, que andavam rentes às vitrines e afins das lojas nas calçadas. O costumeiro fluxo intenso de pessoas nas ruas havia sumido, substituído por uma ou outra alma que não tinha escolha a não ser andar debaixo da chuva torrencial. Por fim, o tráfego começou a andar muito lentamente, tirando Elya de seu torpor. Ele observava a cidade que tanto amava ao seu redor, acolhendo-o de volta com aquela chuvarada tão característica de Ghonargon. Estava dirigindo desde Sunfalls sem parar, se
O trem soou o aviso de que partiria em cinco minutos, sobressaltando-o levemente. Após quase a noite inteira parado, ele finalmente voltaria a rodar pelos trilhos. Passava do meio dia e Zya havia acabado de comer um lanche qualquer o qual nem sentiu o gosto. Seus pensamentos estavam em Ghonargon, a cidade que amava e ter falado com Louisa o aquietou, matando o sentimento ruim de que ela fora pega por Elya.Com uma estremecida, o trem voltou ao movimento, ganhando velocidade rapidamente. Já não estava tão calor e sol e Zya podia ver a camada grossa de poluição e nuvens carregadas que cobriam Ghonargon. Ansiava por sentir a chuva nele novamente, frequentar os lugares que gostava e mostrar à Louisa tudo o que queria, achar Aksu e retomar a vida. Sem Willem, a divisão iria demorar a se estabilizar novamente, o que os daria tempo para uma recuperação do susto; e todos sabiam como aquela Divisão estava perdendo o poder rapidamente. Já não o tinham em boa quantidade na época da pr
Ela corria o máximo que podia pelas ruas rústicas da pequena cidade, desesperada para fugir. Choramingava e ofegava com o medo. O esforço da corrida fazia as pernas começarem a queimar e os pés doerem loucamente dentro das botas plataforma brancas cobertas por tecido rendado preto. O vestido escuro prendia em suas coxas conforme ela corria, embolando-se em meio às pernas enquanto as alças dele teimavam em escorregar dos ombros, ameaçando deixá-la com o busto à mostra. As lágrimas borravam o delineador preto que descia pelo rosto como rios negros e faziam os cabelos loiros grudarem na pele.Seu peito subia e descia rapidamente devido à respiração acelerada e o ar entrando com grosseria pelas narinas rasgava a garganta já seca. Extremamente cansada, ela começava a sentir o corpo se esgotando, tingindo sua visão com pontinhos brilhantes.Ela c