Louisa entrou em sua sala de aula e escolheu o lugar de sempre: nos fundos da classe onde ninguém sentava. Assim ela podia rabiscar a última folha do caderno ou copiar os poemas e textos bonitos sobre amor que encontrava em seu livro de literatura. Às vezes trocava as tampas das canetas coloridas ou arrumava e desarrumava tudo em sua mesa até algum professor chegar. Lou admitia que tinha problemas para se concentrar, mas tentava ao máximo. Se não tinha a atenção chamada pelos professores por não prestar atenção na aula, então era um dia perdido.
Observava, distraída, os alunos de sua classe se empenharem em brincadeirinhas idiotas, juntarem as mesas para fofocar ou qualquer outra coisa. Suas mãos começaram a doer levemente, junto de um ardor. Louisa esfregou-as e cruzou os braços na esperança de que a ardência passasse. Ela convivia com a maldita sensação desde pequena, mas nunca quis falar a ninguém. Não gostava de contar as coisas sobre si para os outros, apenas para Henrik e Chris, pois seu pai, Saul, era deveras rígido, o que a fazia engolir seus problemas do que contar a ele e sua mãe tinha preocupações demais com a sorveteria para que tivesse mais coisas na cabeça. Louisa sequer considerava o ardor um problema, pensava ser apenas algo hormonal ou coisas do tipo, tendinite, quem sabe...
O professor da primeira aula entrou e Louisa iniciou o enorme esforço para se manter atenta, falhando miseravelmente.
Lou girava a caneta preta na mesa, distraída. Estava realmente tentada a ouvir música com os fones de ouvido, mas não faria isso. O professor à frente era substituto e estava explicando algo que todos ali já haviam estudado. Ela olhou pela janela, vendo o dia lá fora tão claro e livre...
— Louisa!
Ela olhou para frente, sobressaltada. O professor a encarava, provavelmente tendo perguntado algo que ela não escutara. Ela viu o nome dele escrito bem grande na lousa com giz vermelho: Mr. Fraser.
— Sim?
— Ah, esqueça. Você não vai prestar atenção nunca. — Disse ele, desistindo dela e continuando com a aula.
— Talvez não preste mesmo. — Sussurrou ela.
Fraser se virou para encará-la, com o giz ainda na mão.
— O que disse, senhorita?
— Nada. — Respondeu Lou, rezando para que ele realmente não tivesse escutado.
— Deixe-me refrescar sua memória: “talvez não preste mesmo”. Percebi muitos sentidos nesse comentário. — Disse ele, sendo o mais sarcástico possível na última frase.
Fraser largou o giz e limpou as mãos na roupa, nervoso. Não era a primeira vez que levava Louisa para um café com a diretora por causa de falta de atenção nas aulas. Ele mandou Louisa guardar suas coisas e segui-lo. Fechando a cara, Lou guardou seu material na mochila e a pôs no ombro rudemente, seguindo Fraser para fora.
No corredor, Fraser mexia com nervosismo em seu cabelo ralo, andando rápido. Ele parecia estar na casa dos cinquenta anos, andava com a postura rígida e os lábios crispados o tempo todo, como se avaliasse tudo a toda hora.
Chegaram à sala da diretora, que logo pediu para Louisa entrar enquanto Fraser voltava para a sala de aula. Louisa sentou na cadeira em frente à diretora, que estava em uma enorme poltrona marrom escura. Ela sempre repassava The Godfather em sua mente quando entrava ali, pensando em Don Corleone enquanto a diretora passava-lhe um sermão. Louisa, muitas vezes, passou noites encarando o espelho de corpo inteiro em seu quarto encenando partes icônicas do filme que amava. Ela nunca se lembrava do nome da diretora e sempre se referia a ela como a “poderosa chefona da escola”, jamais na frente dela, claro. Chamava-a assim não por ser diretora, mas por ter uma semelhança incrível com Don; as bochechas meio cheias, aquela expressão de estar sempre desgostosa, a boca ligeiramente aberta e muito fina e um buço que Lou sabia que ela nunca tirava, o que causava risos entre todos os alunos.
— E então, Louisa? Entendeu o que eu disse?
— Ahm... Entendi, claro, mas poderia repetir só para reforçar a ideia?
— Você não ouviu nada não é? — Disse a diretora, cansada.
— Ele estava passando matérias que eu já sabia. — Disse Louisa, encolhendo-se.
A diretora estava prestes a responder quando o alarme de incêndio disparou, interrompendo-as. Louisa sabia que não havia um incêndio de fato, pois provavelmente fora algum aluno quem fez soar o alarme. Ela tentava esconder o sorriso, sabendo que seria salva daquela vez, que poderia ir para a sorveteria de sua mãe e passar o resto do dia lá.
— Saia daqui, vá lá para fora com o restante dos alunos. — Instruiu a diretora, saindo apressada da sala.
Louisa correu escola afora e permaneceu na frente dela junto dos outros alunos que ainda esperavam alguns saírem. Ela teve um vislumbre azul no meio da multidão e logo Chris estava com ela, sorrindo e oferecendo-lhe a mão.
— Chris, não me diga que foi você.
— Eu já estava à beira de ser assassinado pelo calor daquela sala, tive que tomar providências.
— Então vamos embora antes que vejam que não tem fogo nenhum e nos mandem entrar. — Sugeriu Lou, sorrindo e saltitando ao irem embora.
Louisa o puxava para a rua, tagarelando sobre sorvete e Henrik. Chris a parou, segurando a mão muito pequena dela, virando-a para si. Ele sorria com os lábios fechados, olhando em volta.
— Estamos no meio da rua, vamos continuar aqui até alguém nos atropelar? — Disse Louisa, encostando a ponta de seu nariz no queixo dele.
— Farei uma oferta irrecusável a você. — Disse ele, imitando a voz de Don Corleone.
Louisa riu, levando a mão à boca. Ela não gostava de como sorria, embora não soubesse dizer porquê exatamente.
— O que quer então?
— Poderíamos ir para o Muro. — Sugeriu ele.
Quando diziam “Muro”, se referiam ao muro do cemitério no qual ficavam sentados à sombra das árvores, vendo o riacho correr por trás dele. Sunfalls não tinha muitas opções para os jovens; nem para os adultos, nem para ninguém.
— Hmm, o Muro... Sou uma moça de família, Chris. Não posso ficar frequentando muros com os rapazes da cidade. — Brincou ela, desvencilhando-se dele.
— Que rapazes? Eu sou o único rapaz com quem você deve frequentar o Muro, mocinha.
— Vamos logo para o incrível Muro com M maiúsculo.
Chris levantou o braço para que ela o pegasse, como um cavalheiro. Caminharam por toda a rua da escola até uma pequena parte de um campo de girassóis. Atravessaram a parte e chegaram ao cemitério, dando a volta nele até chegar na parte do muro que eles tanto gostavam de ficar. Lou deixou sua mochila no chão, encostada ao muro e subiu nele, sentando-se com uma perna de cada lado. Chris pegou seus binóculos antes de subir, pois gostava de observar o horizonte, dizendo ser mais bonito daquele ponto. Cerca de cinco quilômetros dali havia um penhasco com uma mata densa abaixo dele.
Chris ergueu-o e observou a estrada atrás da cidade, do lado contrário ao do penhasco, onde passava a rodovia larga que dava acesso à Sunfalls; e levava para longe dela. Em frente à cidade havia um ponto de ônibus, onde um passava por ali três vezes ao dia. E estava quase na hora do segundo passar.
— Chris, você me trouxe aqui para ficar olhando o além pelo binóculo?
— Só estou dando uma olhadinha rápida.
Louisa cruzou os braços e Chris baixou o binóculo, deixando-o pender do pescoço pela corrente fina. Ele se arrastou para mais perto dela de modo que Louisa ficasse com os joelhos encostados nos de Chris. Ele pegou uma mecha do cabelo dela e a enrolou em um dos dedos, entretido.
— Eu vi você indo para a sala da diretora hoje. O que houve?
— Eu não consegui prestar atenção, como sempre. E o professor do primeiro tempo era o Fraser, então já sabe.
— Imaginei que fosse algo assim mesmo. — Disse Chris, evitando sorrir.
— Não é minha culpa, Chris. Só não consigo.
— Hey, não tem problema, docinho. — Disse ele.
— Se meu pai descobrir que me chamaram a atenção de novo na escola, ele vai ficar muito puto.
— Adoro quando você fala palavrão. — Chris riu, inclinando-se para trás e deitando no muro grosso.
Louisa sorriu e pegou o binóculo, observando a rodovia. O ônibus das onze da manhã chegara, parando lentamente no ponto.
— Olha, o ônibus das onze. Vamos ver se alguém vai descer aqui!
— Ninguém quer vir para Sunfalls, querem ir embora de Sunfalls.
O ônibus parou, soltando uma fumaça negra pelo escapamento. Após um minuto, ele se foi.
E havia alguém no ponto de ônibus.
— Alguém desceu aqui em Sunfalls!
Chris ergueu-se repentinamente, olhando-a de modo confuso. Ele puxou o binóculo que estava preso a ela. Louisa estava com o rosto colado no dele, ainda com a corrente do binóculo presa em seu pescoço.
— Tem mesmo alguém lá. Deve ser louco, coitado. — Disse Chris.
— Me deixa ver!
— Mas eu quero ver também. — Reclamou ele.
Chris e Louisa colaram suas cabeças, dividindo o binóculo, usando uma lente cada um. Louisa fechou o olho direito para que a lente funcionasse melhor no olho esquerdo. Ela via uma pessoa de costas para eles no ponto de ônibus com uma grande mala preta aos pés. Louisa achava que fosse uma mulher, pois a pessoa tinha longos e cheios cabelos pretos, mas eram estranhos, como se fossem feitos de corda.
— Olha que cabelo estranho... — Disse ela.
— Eu acho que são dreads.
— Que? Dreads?
— Sim e pelo brilho devem ser de lã. É como enrolar mechas do cabelo com a lã.
— Legal! Talvez eu faça isso também! — Ela disse animada.
— As roupas daquela pessoa são estranhas.
A pessoa no ponto de ônibus se tratava de um garoto que usava calças pretas cheias de fivelas e correntes, com botas que pareciam do exército e blusa preta de mangas compridas. Os cabelos – ou dreads – eram muito longos, mais ou menos na altura dos quadris. Eram muito bonitos e a parte de cima estava presa, deixando à mostra as laterais raspadas da cabeça. Louisa se sobressaltou quando o “forasteiro” olhou por sobre o ombro.
Diretamente para eles.
Ele cravou os olhos em ambos, como se os visse, e deveria de fato ver pois nada os escondia. Ele parecia ter a idade de Chris, embora tivesse um ar mais maduro. Usava muita maquiagem preta contornando os olhos e Louisa se pegou pensando de que cor eles seriam. A pele dele era tão clara que beirava o cinza e havia alguma coisa muito estranha nele, talvez o jeito ou aquele olhar tão... selvagem. Lou pensou ter visto um lampejo vermelho nos olhos dele, mas talvez fosse apenas um reflexo do sol.
O forasteiro pegou sua mala e seguiu seu caminho, sumindo por uma das ruas da cidade.
— Que sinistro. — Disse Chris, assobiando em seguida.
— Quem será que é?
— Eu não sei, mas se ele decidiu vir para cá de livre e espontânea vontade, normal ele não é.
— Talvez ele só goste de lugares sossegados. — Lou disse dando de ombros.
— Não parece. Tem algo muito estranho com ele. Deixa para lá, vamos comer sorvete de graça!
Louisa riu ao vê-lo arregalar os olhos ao falar do sorvete. Jenna não aceitava que Chris pagasse quando ia à loja e servia-o feliz, pois gostava dele.
— Sorte sua que minha mãe acha você um cara bom para mim.
Chris sorriu e pulou do muro, ajudando-a a descer.
Zya finalmente chegara naquele maldito fim de mundo. Talvez ali teria sossego e, quem sabe, até recomeçasse a vida, mudasse de nome e iniciasse uma criação de plantas carnívoras, coisa que ele amava.Ele andava pela rua comprida e muito quente com o sol fritando-lhe a cabeça. Tinha em mãos um papel pequeno e já bastante amassado que continha um endereço de um lugar onde ele poderia alugar um quarto por um preço barato. Zya tinha uma quantia relativamente pouca de dinheiro que usaria para se manter até achar algo em que pudesse trabalhar – embora não achasse que conseguiria grande coisa naquela cidade em especial. Nas cidades vizinhas, Zya vira algumas fábricas e coisas do tipo. Um lugar daqueles sempre precisava de pessoas para trabalhar e aceitavam qualquer um, contanto que trabalhasse direito.Zya começava a ficar nervoso com o calor insuportável e o fato de não chegar nunca ao endereço anotado no papel. Ele levava a mala pendurada no ombro direito e tentava se c
Louisa andava ao lado de Chris, entrelaçando sua pequena mão na dele enquanto Zya andava um pouco atrás. A todo o momento, Zya via Lou olhando-o de soslaio, intrigada. Ele sentia o sol rascante fervendo a cidade e sabia que mais tarde iria se arrepender de ter andado tanto debaixo do sol.Era estranho não ver quase ninguém nas ruas e ele se deu conta de que ainda era cedo, pouco mais de onze horas da manhã e todos estavam na escola ou trabalho, sem contar que a cidade já não deveria ter muitos habitantes.Os três andavam calados e Zya podia sentir a tensão neles. Jenna tinha razão; fechados demais para forasteiros, até mesmo eles dois que deveriam ter uma idade próxima à de Zya e que ele pensou serem mais receptivos.— O que costumam fazer aqui? — Perguntou Zya, tentando puxar conversa.— Bom, não tem nada para fazer em Sunfalls, na verdade. Mas fazemos o que podemos para não morrer de tédio. — Respondeu Louisa, sorrindo.A voz dela le
Henrik ouvia Chris falar desde que chegaram da escola. Já passava das quatro da tarde e ele não parava, ainda falando do cara novo na cidade. Henrik estava melhor da insolação que o acometera após horas jogando lacrosse debaixo de um sol cruel. Seu rosto já estava menos vermelho, pois ficou o dia todo passando cremes à base de aloe vera.Chris estava sentado à sua frente na bancada da cozinha com uma incrível cara de louco. Henrik desviou os olhos dele e observou seu reflexo na tela apagada de seu celular; cansado, vermelho e dolorido, com bolsas abaixo dos olhos vermelhos. Os cabelos claros como os de Louisa estavam secos e feios por causa do maldito sol e sua boca cheia estava queimada.— Olha, cara, que paranoia toda é essa? É só um garoto novo na cidade, nada demais. Ele não vai tirar a Lou de você. — Disse Henrik, cansado.— Você não está entendendo. Ele disse que matou um cara!— E você acreditou? Ele foi sarcástico com você, Chris. Se
Genesis estava ajoelhado em frente ao altar cristão no quarto de sua mãe havia horas, já sem saber o que estava rezando. Seus joelhos estavam dormentes e os olhos pesavam. Era noite, quase hora do jantar e Aiden, ao seu lado, ainda tinha os olhos fechados. Genesis olhou seu reflexo no espelho atrás da grande cruz de madeira; olheiras terríveis, olhos vermelhos de sono – pois não dormia fazia dias por conta da “maratona da fé” imposta por sua mãe, Samira – cabelos pretos bagunçados e feições carrancudas de cansaço. Ele baixou a cabeça e olhou de rabo de olho para o primo, percebendo que ele não estava rezando, mas dormindo. Genesis riu baixinho, pois Aiden sempre dava um jeito de ser o idiota da casa.Ou talvez o mais esperto.Ele ouviu Samira subindo as escadas, cantarolando. Genesis cutucou Aiden, que não acordava.— Aiden! — Sussurrou Genesis.Samira girou a maçaneta devagar quando Genesis deu uma cotovelada bruta em Aiden, que acord
Chris levava Louisa para sua casa após as aulas, passando da uma hora da tarde. De mãos entrelaçadas, eles andavam pela rua onde Chris morava. Aquele fora o último dia de aula e então estavam oficialmente de férias. Lou saltitava ao lado dele, usando o vestido que ele dera de presente para ela havia alguns meses. O vestido era preto de alças finas, com rendas na saia. Era simples e não tinha muitos adornos, mas Lou o adorou tanto que Chris sentiu que aquele fora o melhor presente que poderia ter dado a ela. Louisa gostava de usá-lo com seu par de all star vermelhos, pois o contraste de cores do vestido e dos tênis era lindo aos olhos dela. Seus cabelos estavam presos em uma trança frouxa posta por sobre o ombro direito.— Meu pai não irá gostar nada de saber que estou indo para a sua casa, sozinha com você. — Comentou Lou, sorrindo um pouco.— Não vou roubar sua virtude nem nada do tipo, só estou te levando lá para ter um tempo com você. De preferência sem o Henrik
Zya caminhava sem pressa pela cidade, procurando conhecê-la. Já era noite e ele voltava para o celeiro, cansado. A noite estava fresca e não havia ninguém por perto, então Zya arriscou tirar a blusa de mangas compridas, vestindo apenas a regata preta que usava por baixo dela. Zya soltou os dreadlocks, deixando-os estendidos ao longo das costas e jogados de lado, de modo que um lado de sua cabeça ficasse livre deles, com uma parte raspada à mostra onde uma sombra de cabelos pretos aparecia. Zya se cobrou mentalmente sobre comprar uma lâmina de barbear no dia seguinte para dar fim ao cabelo que começava a crescer.Caminhando tranquilamente pela cidade, que deveria ter mais ou menos umas dez ruas, Zya descobrira que só as principais eram asfaltadas; todas as outras eram de terra, inclusive a rua de seu novo endereço.Ele repassava mentalmente os planos para sua nova vida naquela cidade enquanto andava: no dia seguinte, iria ao lugar onde o pai do Chris trabalhav
Louisa mantinha a cabeça deitada na cama, ao lado de Chris. Estava sentada naquela cadeira desconfortável o dia inteiro, tendo se levantado apenas para ligar para sua mãe e contar o que aconteceu. Jenna dissera que esperaria Saul chegar em casa e então iriam vê-los, após avisar Marco.Chris não corria perigo, mas ainda não acordara. Louisa não podia contar a verdade nem por um decreto, e teve de inventar que Chris havia entrado em contato com um fio grosso cortado na estrada. Sem maiores detalhes, ela se fechou para a equipe médica, que cuidou de Chris o melhor que puderam com tão poucas informações. Ele estava sedado e tinha curativos por todo seu peito. Chris ressonava tranquilo, deliciosamente alheio à tudo. Louisa desejou poder estar sedada também.Sua cabeça explodia com tantas especulações, perguntas e tudo o mais relacionado ao que acontecera mais cedo. Como era possível que ela, Louisa Newton, a menina mais normal da cidade mais monótona da Terra, tiv
Saul preparava, na mesa da cozinha, o que falaria naquele domingo na igreja. Anotava algumas ideias em um bloco de papel fino com pautas pretas enquanto lia algumas passagens bíblicas. Saul ouvia Jenna assistir TV na sala, alguma novela melosa a qual ele não tinha o mínimo interesse. Ele não conseguia se concentrar no que estava fazendo, pois tinha a cabeça cheia de outras coisas, como Louisa e a quase morte de seu namorado, o inquilino novo e Samira. Erguendo os olhos para o relógio da cozinha, Saul viu que era tarde, mas sabia que àquela hora alguns garotos treinavam lacrosse na escola, pois de noite o clima ficava mais fresco, facilitando o jogo.Fechou a Bíblia e descansou a caneta em cima do bloco de papel, levantando-se da cadeira. Apagou a luz ao sair da cozinha e parou aos pés da escada, observando Jenna sentada ao sofá sorrindo sozinha para a televisão, totalmente entretida na tal novela. Os cabelos claros dela estavam presos em um coque simples e desleixado e e