Seis

RAEL

Porra, cara, aquilo foi a gota d'água, papo reto mesmo.

De todas as humilhações sofridas, essa foi a pior, pô. E o pior de tudo, foi na frente da minha princesa.

Fiquei com o coração na mão quando ela me perguntou se a gente iria morar na rua, parceiro. A pergunta doeu pra caramba. Quase não consegui responder, papo de ter formado um nó na garganta nessa hora.

— Eu vou dar um jeito, meu amor — apertei ela em meus braços, deixando minhas lágrimas molharem seu cabelo loiro.

Ela agarrou o meu pescoço e deitou a cabeça no meu ombro, molhando toda a minha camisa com as suas lágrimas.

Ajeitei ela no meu colo e levantei da calçada enxugando minhas lágrimas com as costas da mão que estava livre.

O Sorriso estava esquina esperando o Rico, e enquanto ele não chegava eu fui juntando todas as minhas roupas e da Rita que estava no guarda-roupa que tinha sido largado no meio da rua.

Coloquei tudo que pude dentro da minha única mochila, e as roupas que sobraram da Rita coloquei na bolsinha dela.

Peguei pente, perfume, algumas outras coisas e a boneca que a mãe dela deu de presente no último aniversário antes de ir. Ela não conseguia dormir sem a boneca, era uma parte da mãe dela ali com ela.

— Porra, irmão! Tu não me fala nada né, caralho! Eu tinha bancado o aluguel até tu conseguir algum trabalho aí — Rico já chegou falando à beça.

Pra quê eu iria falar, cara? Bagulho de depender dos outros é maior feião. Eu detestava.

— Tu sabe, cara. Não gosto de depender dos outros — falei ainda com a voz trêmula de tanto chorar, e ele negou chateado.

— Eu não sou os outros não, cara. Sou teu irmão, o que tu precisar é só falar. Tiro do meu pra te dar, tu sabe — me abraçou e eu retribui.

O carro que o Rico chamou chegou pra pegar os móveis, e os soldados foram ajudar a colocar tudo dentro do carro.

Depois de tanto chorar a Rita acabou dormindo nos meus braços. Deixei ela com o Sorriso e fui ajudar terminar de carregar a carro com os móveis que não eram muitos.

— Carla é a maior filha de um puta, mané. Ainda pego essa velha na porrada — Neguinho chegou possesso de raiva. A dona Carla era tia dele, e na infância fez ele comer o pão que o diabo amassou na mão dela.

— Não vale a pena, parceiro. Deus tá providenciando o dela — falei cansado pegando minha mochila na calçada e ele negou.

— Só vou ter sossego quando eu enxugar minhas mãos naquela cara de piranha dela — ajeitou o fuzil na bandoleira.

— Faz isso fora daqui. Mesmo ela merecendo, eu não tolero agressão contra mulher na minha área — o Rico falou e pegou a Rita dos braços do Sorriso — Bora, Rael, tu vai ficar lá em casa enquanto tudo se resolve — falou e já foi metendo o pé.

Não tive nem chance de negar, parceiro, só fui seguindo ele.

— Eu já resolvi — falei enquanto andava ao lado dele — Vou entrar pro movimento pô, só estava esperando pra falar com tu — cocei a cabeça e ele parou me encarando sem reação.

— Se é o que tu quer, e tá precisando... Não vou me meter, tu tem meu apoio aí. Pode contar comigo, irmão. Sempre. — fez toque comigo, e um sorriso de esperança surgiu em meus lábios.

Eu nem precisei agradecer, pô. Só de olhar pra mim ele já entendeu. Papo de amizade verdadeira, tá ligado? O que tu sente o outro já sabe sem ao menos precisar das palavras.

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