3 meses depois.RAELNunca consegui me ver nesse meio. Trabalhei desde moleque pra ter o meu certinho e não me envolver, mas não teve jeito. A dificuldade e o bem estar da minha filha falaram mais alto eu e nem pensei duas vezes. Botei a cara, mesmo.E graças ao cara lá de cima eu saí ileso naquele dia. A famosa prova de fogo. Tu só tem o direito de portar um fuzil se passar por ela, aí sim tu tá dentro.Foi ralado, mas eu consegui.Com o dinheiro que tô recebendo do tráfico eu consegui pagar todas as minhas dívidas, comprar uma casa, e ainda matrícular a Rita em colégio particular aí. Era em período integral e dava muito bom pra mim, já que eu fazia plantão o dia todo, a noite eu tava em casa pra curtir a minha filhota.Passei o dia pelo morro com os crias sempre fazendo o meu melhor, e tava tudo suave. Morrão tava na paz e eu tava tranquilinho, me preocupando só com a hora de ir buscar a Rita na escola porque aí que era foda, parceiro. Sair do morro e voltar sem nenhum arranhão, era
RICOQuando a varijeira da Carla colocou o Rael pra fora da casa, eu pedi para a Aninha ficar de olho na Ritinha pra poder resolver os problemas do Rael. Depois que resolvemos tudo, eu brotei na janela dela e a gente fez um amor gostosinho. Mas depois desse dia, parceiro... Nunca mais vi ela, só a irmã e a velha fofoqueira.Bagulho desse tava estranho demais, nem pra escola eu via ela ir. E a única coisa que eu sentia era medo de ter perdido ela, e saudades. Muitas saudades.— O dindo tá com sorvete no nariz — a Ritinha me sujou me fazendo despertar dos meus pensamentos e ficou rindo, enquanto tomava o sorvete dela.Peguei a colher do meu sorvete e sujei a bochecha dela que me olhou com raiva fazendo um bico enorme.— Estamos quites agora — falei dando risada e ela passou a mão se sujando ainda mais.— Qual é, parece criança tu — Rael reclamou comigo e pegou um guardanapo pra limpar a Ritinha e eu continuei rindo. Eu não tinha maturidade nenhuma pra lidar com crianças.Imagina se eu
RICOO Sorriso estacionou o carro de qualquer jeito, desceu pra ver se não tinha nenhum verme e assim me chamou pra sair do carro.Peguei ela no colo fui andando rápido até a porta de entrada do hospital, e desesperado começo a gritar pedindo ajuda.Eles chegam com uma cadeira de rodas e a levam lá pra dentro ainda desacordada. Eu queria acompanhá-la, mas não deixaram, e eu fiquei boladão já.— Tu não pode entrar lá, caralho — o Sorriso me segurou me pela camisa e me empurrou em das cadeiras de espera — Ela vai ficar bem, parceiro. Relaxa aí — tentou me acalmar, mas eu tava nervoso demais. O medo era o mesmo, pô.Algumas horas se passaram o Sorriso tinha ido comprar alguma coisa pra matar aquela fome de maconheiro dele e o hospital já estava ficando vazio, apenas com as pessoas que estavam internadas.Vi um médico passar pelo corredor e fui logo na reta dele, queria notícias da Aninha. Eu não aguentava mais esperar, eu precisava saber de algo.— Coe, doutor! Como tá a minha mulher? —
RICOPorra, logo agora que eu tô constituindo uma família. Bagulho era meu sonho, e vem um médico fodido querendo me arrastar. Aí não dá, parceiro.Eu tava encurralado. O corredor não tinha saída, e eu tava armado, se eu avançasse os vermes iriam me pegar no vacilo. Dei meia volta e entrei em um quarto qualquer me escondendo atrás da porta.Nele havia uma mulher que ninava um bebê em seus braços, mas ela logo colocou ele no berço.— Talvez você ficando aqui tenha um futuro melhor ao que eu tenho pra te oferecer — falava enquanto se afastava do berço e andava de costas até a porta, e não me vendo saiu do quarto.Fiquei boladasso com isso, cara. Se não tem condições não fode porra! Por falta de irresponsabilidade, bagulho assim só sobra para as crianças.E alí com a minha revolta, ouvi os vermes conversarem e assim passarem direto para o final do corredor, provavelmente até o quarto da minha mulher procurando informações sobre mim. Fiquei com medo pela Aninha que era menor e não tinha
RICOAcordei desnorteado, com uma zonzeira na cabeça. O sono ainda não tinha me deixado, meu celular não parava de tocar e eu quase deixei o moleque cair no chão.O segurei pela camisa com uma mão e ajeitei ele em cima de mim, peguei o celular no bolso da bermuda. Ele ainda dormia, então atendi o celular.— Porra, cadê você? Estamos te esperando atrás do hospital, parceiro — Sorriso falou um pouco alto e todo afobado.— Calma aí, irmãozinho — me ajeitei na cadeira — Pra quê essa afobação, a Aninha tá bem? — Perguntei com receio e levantei da cadeira ajeitando o moleque no braço.— A Aninha tá bem, caralho! Tô preocupadão com tu, pô — Falou suspirando — o Teixeira tá aí procurando a ninfeta dele. A garota teve um filho dele, mas abandonou o cria e saiu vazada — disse e eu logo liguei os pontos. O garoto ter a mesmo sobrenome nome que aquele verme não era nem de longe coincidência — pensei, ao lembrar da ficha.— Então ele não tá atrás de mim?! — dei risada.— Pelo menos hoje não. Mas s
Algumas semanas depois.RAEL- Papai, o Rian é muito feio - a Rita falava enquanto estava pendurada nos braços do padrinho babando o moleque, e eu apenas ria da folguisse dela.- Papo reto, Ritinha! Maior carinha de joelho, pô - Rico concordou dando risada enquanto brincava com o bebê.Eu estava feliz à beça pelo meu irmãozinho, mas temia que a felicidade dele não durasse por muito tempo. O Teixeira não iria deixar como está, era só questão de tempo pra ele invadir a procura do moleque e matar quem estivesse em seu caminho.E o que me impressiona, é que o Talibã aceitou tudo isso numa boa. Sem cara feia, sermões ou surtos de raiva. E aí eu já poderia esperar o pior.- Cadê o meu afilhado ein? - o Sorriso entrou carregando três caixas de cerveja, sendo seguido pelo Neguinho que trazia vários pacotes de carne e algumas garrafas de uísque e energético.- Meu papai que vai ser o dindo do Rian - a Rita deu lingua pra ele e eu ri.- Vou não, gatinha. O teu dindo nem chamou pra isso - joguei
TEIXEIRAEu e o Talibã éramos melhores amigos, aquela típica amizade que vai dá escola pra vida. Ele morava em uma comunidade e não tinha uma boa índole e mesmo meus pais enchendo meu ouvido falando que ele não era boa companhia, continuei andando ao seu lado.Mas eu deveria ter ouvido os meus pais, porque não demorou muito pra ele me colocar em um rolo errado.Começou a vender drogas, e eu só servia de aviãozinho e foi assim até os nossos dezoito anos, quando conhecemos a Samantha. Um menina linda, toda meiga e gostosinha.Nós dois ficamos de quatro por ela, mas quem a tinha avistado primeiro foi eu. Tentei uma chance com ela e não deu em porra nenhuma. Fiquei arrasado pô, e quando vi os dois juntos eu me recusei a continuar com a nossa amizade.Falei com os meus pais e eles me mandaram pra uma escola militar e já que meu pai era Tenente foi tudo mais fácil. E mesmo sabendo que eu não tinha nascido para aquilo, eu fui mesmo assim.Me formei e me tornei um policial militar, dando um o
RAELAlguns tiros foram disparados ao longe e antes de sairmos, o Talibã entregou o moleque pro Rico dando a ordem pra ele não sair de casa.O meu irmão ficou bolado por não poder ir junto, mas foi pra dentro de casa sem querer fazer alarde.O Sorriso e o Neguinho desceram pra buscar o maluco, e eu peguei a moto levando o Talibã na garupa até a linha que dividia o morro, do matagal.Estacionei alí, e ele desceu. Coloquei o descanso e desci, ajeitando meu fuzil. Coloquei o mesmo atravessado nas costas e cruzei os braços esperando, junto do Talibã os crias chegarem com o verme.Não demorou muito e eles chegaram arrastando o Teixeira até onde estávamos e o jogaram no chão, empurrando à pontapés.— Cadê o meu filho? — gritou exageradamente, assim que caiu aos pés do Talibã.— Agora vai dizer que amava a putinha também? — Talibã perguntou e riu debochado encarando o policial, e erguendo o mesmo pela camisa o jogou em direção dos crias, fazendo eles segurarem o mesmo.Fiquei observando tudo