Cinco

RAEL

A Lis fez um prato pra mim e eu sentei a mesa com a Rita no colo. Comecei a comer e dividir o meu almoço com a minha princesa.

— Rita, você já comeu! Deixa o almoço do teu pai, menina — reclamou com ela que fez um bico e cruzou os braços saindo do meu colo.

— Você é chata, a Clarinha é mais legal que você — resmungou fazendo a Clara rir e foi para a sala puxando a mesma pela mão.

A Lisiane negou com a cabeça e deixou um riso escapar, perdendo a pose de madrinha durona.

A Lis me deu um copo de suco e eu tomei um gole logo em seguida.

— Pode começar a falar — se encostou na pia e ficou me encarando.

Levei uma colherada do meu almoço até a boca e encarei ela de volta.

— Vou entrar pro tráfico — falei com a boca cheia. Ela me encarou confusa, terminei de mastigar e continuei — Cansei pô, vou falar com o Rico hoje mesmo — ela negou com a cabeça.

— Tá falando sério? — perguntou incrédula — Você tem outras opções, Raelisson... — cruzou os braços e negou mais uma vez, agora chateada.

— Ah, é? Me fala aí então, pô, me fala. Te faço uma lista de todas as opções que eu já tentei num mês só, cara — larguei a colher e cruzei o braços serinho.

— Todas não, Raelisson. Sabe que tu pode voltar a estudar né, cara? — comentou e se virou pra lavar a louça que tinha suja na pia.

— Sei mesmo. Mas não tenho cabeça pra isso mais não pô, e muito menos dinheiro pra material. Tu sabe que eu tive uma dificuldade do caralho com os estudos, nem dá — falei bolado já. Bagulho de escola nunca foi pra mim, pô. Eu odiava.

— Dá sim, cara. É só um ano, eu te dou o material — neguei.

— Não dá, tô te falando. Quem vai cuidar da Maria Rita enquanto eu fico me ferrando na porra de uma escola, é tu? — perguntei rindo sem humor e ela ficou calada, porque sabia que não tinha condições em me ajudar a criar porque tinha a faculdade — Tá vendo, uma coisa é tu tá ai de fora só vendo. Queria ver se tu tivesse de dentro, pra ver eu sendo humilhado todo dia — deixei o prato de lado, nem comer eu queria mais. Perdi a fome maneiro depois disso.

Levantei bolado e já fui saindo pra sala, peguei a Rita dos braços da garota, e a ela me olhou sem entender.

— Rael não fica assim, eu só quero o seu bem, cara. Não faz isso! —Lis falou e eu a encarei por alguns segundos.

Neguei com a cabeça, abri a porta e meti o pé boladasso.

— O que foi papai? — segurou o meu rosto com as mãozinhas dela e encostou sua testa na minha.

Sorri com uma vontade imensa de chorar, pô.

— Nada não, minha princesa — beijei seu nariz e ela riu empurrando o meu rosto.

Fui andando até passar as três ruas e chegar no pé do morro.

Coloquei a Rita no chão e andei até a entrada, o Sorriso e Grego estavam lá fazendo a ronda.

— Fala aí — Sorriso me cumprimentou com um toque e o Grego apenas com um aceno de cabeça. E ele depois de entregar o fuzil pro Grego colocou a Rita no braço, que estava reclamando pra caramba que iria subir a pé.

Minha filha é folgada pra caralho, mané. Sem condições, puxou a mãe porque a mim não foi.

O Sorriso subiu comigo e no caminho acionou um cria pra ficar no lugar dele.

Depois de umas cinco ruas, a terceira era a minha. Enrolamos a esquina e assim que entramos na rua eu vi uma movimentação estranha e todos os móveis da minha casa estavam na calçada.

— Qual foi, dona Carla? Me explica isso aí — cheguei puto já.

— A explicação é que você não me pegou os três meses de aluguel, Rael. Te dei o tempo que você me pediu, mas eu não vi dinheiro nenhum chegar nas minhas mãos. Agora tu vai se virar pra arrumar outro lugar pra morar em, na minha casa tu não fica mais — começou a falar alto pra caralho e eu senti vergonha daquilo, pô.

Humilhação do porra.

— Não fala assim com o meu papai — minha filha já tava com voz de choro, e o Sorriso olhava pra gente sem saber o que fazer.

Todos assistiam aquilo como se fosse um show. Ninguém fazia nada.

Olhei para todos os móveis, sentei na calçada e não consegui mais segurar. Chorei, chorei pra caralho.

Aquilo alí foi a gota d'água, parceiro.

Só ouvi o Sorriso passar um rádio pro Rico e me desliguei do mundo. A Rita veio pros meus braços e chorou junto comigo, mesmo não entendendo nem a metade das paradas que estavam acontecendo.

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