Dois

RAEL

Acordei com uma luz forte que tomava todo o quarto, e as paredes brancas deixavam tudo ainda mais claro.

Tudo doía, cara. Meu corpo, meu rosto tava inchadasso, conseguia nem abrir os olhos direito e o braço que mesmo quebrado eu sentia menos, agora tá doendo pra caralho.

Ouvi uma gritaria alí fora, e logo a porta foi aberta.

— Tu é foda em — Sorriso falou e eu virei a cabeça com dificuldade vendo ele me encarar, risonho como sempre.

Me apoiei no braço bom e me sentei na cama. Grunhir sentindo minhas costas doerem.

— A Rita tá com a Aninha, e o Rico tá vendo um médico aí pra tu — falou, antes mesmo que eu perguntasse.

Assenti sentindo um fisgada no pescoço, coloquei rápido a mão alí me desequilibrando e caindo deitado na cama novamente.

— Ai caralho! — resmunguei de dor. Respirei fundo olhando pro teto de gesso.

— Tá mal em, corajoso — Neguinho entrou no quarto — Só os covardes pegaram você aí, parceiro. Melhor forma é tu largar essa vida de moleque certinho, papo de visão — comentou e logo aconselhou observando todo o quarto.

Neguei com a cabeça.

— Ele tá certo, Rael. Hoje só te bateram, na próxima matam você dizendo que confundiu com bandido — Sorriso falou calmo.

— Se eu entrar nessa e ir de ralo, quem ia ficar com a Maria Rita? — Perguntei recebendo o silêncio como resposta — Foi o que eu pensei — me ajeitei sentindo o meu braço latejar.

Eu não iria deixar eles entrarem na minha mente, e nem vou me deixar levar por um bagulho sem fundamento que eu nem tinha culpa de nada.

Levei maior esculacho, mas vou continuar fazendo os meus bicos até o cara lá de cima dar um basta. Só ele tem o direito de intervir na minha vida, pô.

— Parem de querer entrar na mente do parceiro e vão procurar o que fazer, tô ligado que vocês tem muita pica pra resolver. O Talibã tá vendo bicho com vocês aí — Rico falou entrando no quarto, e logo depois o doutor.

O Sorriso se levantou colocando o boné, e foi andando devagar até a porta.

— Tô nem ligando pro que aquele velho tá vendo, rapá — Neguinho reclamou — Pra eu mandar os meus cria suspender a segurança daquele velho maluco é só um vacilo, hã — disparou serinho andando até o Sorriso.

Rico negou com a cabeça e eu ri.

— O cara apaixonado é foda — Sorriso debochou.

— Também, cara. Uma bunda daquela — Rico continuou — é uma pena que o nosso Nego só vai pegar quando tiver tudo caído — gastou ele.

— Pô, e o amigo do amigo não vai mais subir. Mas né, a viagra taí — Sorriso soltou essa e saiu correndo.

E mesmo com o meu corpo todo fodido eu dei várias gargalhadas.

— Vão se foder  — gritou saindo do quarto.

— Se ficar puto é pior — Rico gritou de volta vindo pro meu lado e sendo repreendido pelo doutor.

— Desculpa aí — Rico levantou os braços em forma de rendição.

O doutor me examinou, fez alguns curativos e me levou pra engessar o braço.

— Vou deixar a Ritinha depois. Quero passar um tempinho com a minha afilhada — Rico falou assim que parou o carro na frente da minha casa.

— E com Aninha também, fala tu? — Falei enquanto abria a porta do carro.

Rico saiu do carro e deu a volta pra me ajudar a descer, andar direito ainda tava foda pra mim, tinha tomado maior bicudão na canela aí já viu.

— Deixa baixo — ele riu.

Me apoiei na muleta e fui andando até a porta.

— Qual é, vai dizer que tu não tá querendo provar da novinha? — brinquei.

Ele negou, abriu a porta e eu entrei me sentando no sofá.

— Não, parceiro. Quero um bagulho a mais, papo de futuro tá ligado? Mas se depender daquela velha fofoqueira, nem uma treta rola — ralou sorrindo sem humor.

Neguei.

— Nada é impossível pro grande RC — ergui o meu braço bom para cima e ele deu risada.

— Mãe dela é ossada, agradar é difícil. E ainda mais que eu sou bandido, ela não quer esse futuro pra filha dela não — comentou indo até a porta.

— Você tem que agradar a Ana, não a mãe dela — falei e ele assentiu saindo.

Me ajeitei no sofá e liguei a televisão.

"Policiais apreendem drogas em operação no morro do Cantagalo".

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo