2: O Preço da Ousadia

VITTORIO

— Por que a trouxeram? — perguntei, a voz gelada e implacável, interrompendo qualquer provocação que Mia pudesse estar prestes a soltar. Nos seus olhos perturbadores, um brilho de raiva faiscou, refletindo a tensão que pairava no ar.

— Vim para convencê-lo a esquecer a dívida do meu pai. Ele é...

— Deixei bem claro que era para trazerem apenas o Charles — interrompi, sem a mínima paciência. Vi suas mãos se fecharem em punhos, o rosto tenso, transbordando frustração.

Benício coçou a testa, visivelmente desconfortável.

— Compreendo, Vittorio, mas ela foi insistente.

Neguei com a cabeça, impaciente.

— Matasse ambos e o problema estaria resolvido. Vocês sabem que tenho assuntos mais importantes para tratar do que perder tempo com um viciado e sua filhinha.

Aquilo foi a gota d'água para Mia.

— Olha só, seu canalha! — ela disparou. Me virei lentamente para encará-la. Seu rosto, antes aparentemente calmo, agora estava vermelho de pura irritação. — Você tem assuntos mais importantes para resolver, certo? Que coincidência, eu também!

Cruzei os braços, deixando que o silêncio se estendesse por um segundo, absorvendo sua ousadia.

— Uma pobretona como você não me parece o tipo de pessoa que tem o dia ocupado — provoquei, um sorriso de escárnio nos lábios.

Mia deu uma risada seca, balançando a cabeça como se estivesse lidando com alguém estúpido.

— Vocês ricos é que não têm nada para fazer. Trabalho meio período e ainda estudo. Não sou uma riquinha mimada e arrogante como você.

— Mia — pronunciei seu nome com desdém, ignorando sua tentativa de me ofender. — Isso nem é nome de verdade. É nome de gato.

Ela revirou os olhos, impaciente.

— Ora, por favor, não seja infantil.

Antes que Mia pudesse responder, agarrei seu braço com força, o suficiente para fazê-la arregalar os olhos de dor. Um sorriso cruel se formou nos meus lábios.

— Garota, quando você nasceu, eu já havia dizimado mais homens do que você poderia contar — declarei friamente, deixando o tom pesado pairar no ar. — E agora você vem aqui com essa atitude ridícula. O que propõe? Que eu esqueça a dívida do seu pai?

Ela gaguejou, a firmeza que tentava exibir se esvaindo como areia entre os dedos.

— Eu…

Aproximei-me ainda mais de Mia, segurando seu queixo com firmeza. Ela tentou se soltar, mas não tinha chance contra a minha força; a garota era pequena e frágil demais para alguém como eu.

— Tenho sido mais paciente do que deveria, e normalmente, não sou assim — comecei, minha voz baixa e ameaçadora. — Tolerar por dois meses as promessas vazias de seu pai já foi um grande favor.

Pausei por um instante, apenas para ver a teimosia brilhar em seus olhos. Continuei:

— Então, considere-se sortuda por eu ainda não ter enfiado uma bala na cabeça do verme que te colocou no mundo.

O rosto de Mia empalideceu, e vi o brilho de lágrimas começando a se formar em seus olhos azuis. Por um instante, pensei que ela fosse desabar ali mesmo. Mas, para minha surpresa, ela engoliu em seco e endireitou os ombros com uma determinação que não combinava com sua aparência delicada. Afastei-me, apoiando-me no tampo da mesa de mogno, ignorando o prazer perverso que senti ao perceber o desconforto que havia causado.

— E então… quanto meu pai te deve? — Mia perguntou, abrindo sua bolsa com as mãos trêmulas.

Lancei um olhar para Charles, cuja expressão estava carregada de tristeza. Aquele homem me enojava.

— Filha, você não precisa pagar — ele finalmente falou, a voz fraca. — Vou dar um jeito.

Mia soltou um suspiro cansado, olhando para mim com uma mistura de resignação e raiva.

— Vamos ser práticos, pai. Preciso pagar, ou nós não sairemos vivos daqui — disse ela, com a voz rouca e os olhos cravados nos meus, repletos de ódio. — Quanto meu pai deve?

Peguei a pasta de Charles e consultei o valor.

— Dez mil dólares — respondi, direto ao ponto.

Os olhos de Mia se arregalaram, chocados com a quantia.

— Como alguém consegue gastar tanto assim? — murmurou para si mesma, quase incrédula.

— Mia… — Charles sussurrou, mas logo se calou.

— Papai, por que fez isso? — Ela perguntou, decepcionada. Contudo, o verme do seu pai não respondeu. Apenas olhou para os próprios pés, afundado em vergonha. — Esse dinheiro poderia ter sido investido no meu futuro, na minha faculdade.

— Presumo que você não tenha essa quantia — falei, pegando a carteira da sua mão e vendo que a tolinha tinha apenas cinquenta dólares.

— Ei, me devolve isso! — Mia exigiu, estendendo a mão e pegando a sua carteira de mim.

— Você definitivamente não tem todo o dinheiro — respondi, fechando a pasta lentamente, sem tirar os olhos de Mia, que balançou a cabeça em negação.

— Você me daria um tempo para conseguir o dinheiro?

— Não — respondi sem hesitar, a voz firme como pedra. — E se vocês não podem pagar a dívida com dinheiro, então pagarão com a vida.

A frieza das minhas palavras a atingiu em cheio. Vi quando seu corpo desabou na cadeira, os olhos arregalados, incapazes de processar a gravidade da situação. O silêncio que se seguiu foi tão denso que poderia ser cortado com uma faca.

Um sorriso cruel se formou em meu rosto. Era exatamente isso que eu gostava de ver: desespero e medo. Uma lembrança clara de quem estava no controle.

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