MIA
Depois que o impacto de ter matado alguém se dissipou, o desespero de ser pega se instalou como uma sombra opressiva. Eu sabia que precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Se Vittorio descobrisse o que eu fiz, com certeza seria morta, assim como meu pai fora.
A primeira coisa que fiz foi pegar o dinheiro de Elijah e juntá-lo com toda a grana que haviam colocado no cós da minha saia. Embolei todo o dinheiro e enfiei dentro do meu top. Para meu alívio, a porta estava trancada; eles demorariam um tempo até conseguirem entrar no quarto.
Eu precisava encontrar uma maneira de fugir sem que soubessem para onde eu tinha ido. E eu iria usar a única câmera naquele quarto a meu favor.
Caminhei a passos largos até a janela, que, infelizmente, estava fechada, mas tinha um vid
VITTORIOSeis meses se passaram desde a fuga de Mia, e tudo o que eu conseguia pensar era que meus inimigos agora tinham um motivo para rir de mim. E que Don Maurício estava furioso.Mia era só uma mulher comum, então como ela conseguiu fugir tão facilmente e se manter escondida por tanto tempo? Ou talvez Mia não fosse quem dizia ser?Desde que aquela diabinha fugiu, eu simplesmente não consegui sossegar. Sabia que só ficaria aliviado no momento em que a encontrasse, porque ninguém me humilhava daquele jeito. Ninguém me transformava em piada.Nos três primeiros meses, eu a procurei com a desculpa de que ninguém brinca com a Cosa Nostra. Mas agora, minha motivação era outra. Eu queria provar para aquela garotinha idiota que ela nunca seria mais
MIAAquele não era um bom dia, e eu soube disso assim que acordei para ir trabalhar. Um peso pressionava meu peito, um aviso silencioso de que a dor da ausência da minha mãe voltaria a me consumir. Se ela ainda estivesse viva, eu estaria comprando um bolo confeitado para celebrar mais um ano de vida. Mas o câncer a levou de mim, e com ele, todas as nossas celebrações.Eu não podia nem visitar seu túmulo.Por causa do fraco do meu pai. Pensar nele sempre fazia meu coração se contrair. A dor de não ter tido a chance de me despedir era uma ferida aberta. E a raiva... a raiva por Vittorio tê-lo arrancado de mim.Todos os dias, nos últimos seis meses, eu me perguntei se Vittorio me encontraria. E se encontrasse, se eu também seria morta.Eu nunca quis matar ninguém.As minhas noites eram atormentadas por pesadelos, e a imagem de Elijah morrendo por minhas mãos era um fantasma que me perseguia. Eu não era uma assassina, mas naquela noite foi necessário. Eu sabia o que me aguardava se não ag
VITTORIOA primeira coisa que vi assim que estacionamos o carro em frente à cafeteria foi Mia e os meses a haviam favorecido. Ela parecia mais bonita. Seu corpo, que antes era magrinho e esguio, agora exibia curvas sutis. Os cabelos negros e ondulados continuavam os mesmos, mas havia uma franja nova, que caía sobre sua testa, dando ao seu rosto um toque de suavidade que antes não existia.— Vamos? — Giuseppe perguntou ao meu lado, inquieto.Neguei com um aceno firme de cabeça.— Você fica — respondi com frieza. Ele abriu a boca, pronto para argumentar, mas eu levantei a mão, silenciando qualquer objeção. — Vou resolver isso sozinho. Fique atento. Não sabemos até onde vai a estupidez da Mia.Saí do carro sem olhar para trás, batendo a
MIAOlhei para Vittorio com todo o desprezo que eu poderia sentir, alimentado pelo ódio que brotava em mim por precisar fugir de Las Vegas, por causa do meu pai e pela impossibilidade de fazer uma faculdade, agora que havia sido encontrada. Provavelmente, eles iriam me matar, assim como fizeram com ele.— O que você quer de mim? — perguntei, a voz rígida e o corpo tremendo de raiva enquanto caminhávamos pela calçada do café.— Vingança — respondeu o demônio em pessoa. — Suas coisas já estão no carro, e sugiro que você não tente fugir.— Eu não vou fugir, seu imbecil — resmunguei.Vittorio ergueu as sobrancelhas em minha direção. Observei-o ajustar o terno e, de repente, uma vontade absurda de fazer a fatídica pergunta sobre meu pai tomou conta de
VITTORIOComo capo da Cosa Nostra, minha tarefa era simples: cobrar dívidas de drogas, viciados em jogos e prostitutas. E hoje, eu estava no meu escritório, aguardando que meus homens trouxessem mais um desses fracassados: Charles Foster, o tipo de pessoa que me enojava. Viciado em jogos, sem um pingo de autocontrole. E, claro, devia uma boa quantia para a Cosa Nostra.Na Família, eu era conhecido como o Diabo. Minha regra era clara: ninguém deixava de pagar os italianos. E ninguém ousava desafiar essa regra.Eu não permitia que dívidas ficassem pendentes no meu território. Por isso, sempre fazia questão de resolver isso pessoalmente. Eu me encontrava com os devedores no meu escritório, um lugar aconchegante e bem iluminado, localizado no andar de cima de um prédio que abrigava nossos jogos ilegais. A polícia? Eles sabiam, mas fingiam que não viam. Ainda assim, eu sabia que havia muitos esperando minha queda. Um erro, um deslize, e minha cabeça estaria na mira.Verifiquei o relógio Bu
VITTORIO— Por que a trouxeram? — perguntei, a voz gelada e implacável, interrompendo qualquer provocação que Mia pudesse estar prestes a soltar. Nos seus olhos perturbadores, um brilho de raiva faiscou, refletindo a tensão que pairava no ar.— Vim para convencê-lo a esquecer a dívida do meu pai. Ele é...— Deixei bem claro que era para trazerem apenas o Charles — interrompi, sem a mínima paciência. Vi suas mãos se fecharem em punhos, o rosto tenso, transbordando frustração.Benício coçou a testa, visivelmente desconfortável.— Compreendo, Vittorio, mas ela foi insistente.Neguei com a cabeça, impaciente.— Matasse ambos e o problema estaria resolvido. Vocês sabem que tenho assuntos mais importantes para tratar do que perder tempo com um viciado e sua filhinha.Aquilo foi a gota d'água para Mia.— Olha só, seu canalha! — ela disparou. Me virei lentamente para encará-la. Seu rosto, antes aparentemente calmo, agora estava vermelho de pura irritação. — Você tem assuntos mais importantes
VITTORIODe repente, o medo que preenchia o olhar de Mia desapareceu. Ela mordeu o canto do polegar, pensativa, e um brilho de astúcia surgiu em seus olhos.— Você não vai querer sujar suas mãos nos matando — ela disse, fazendo-me erguer as sobrancelhas.— Ah, não? — provoquei, curioso.— Claro que não. Devemos parecer como ratos para você, tenho certeza de que não vai querer se sujar com o nosso sangue — respondeu, com uma sagacidade inesperada.Um sorriso de desdém se formou nos meus lábios.— De fato, vocês são piores do que ratos. São vermes. Mas não se preocupe, querida, não serão minhas mãos que se mancharão. Meus homens cuidarão disso — falei, acenando para Benício, Giuseppe e outros dos meus soldados.Mia levantou-se, olhando para os homens que se aproximavam, prontos para arrastá-los para fora do meu escritório, como se fossem uma praga.— Você é um homem muito rico. Dez mil dólares devem ser como troco de bala para você — disse ela, com a voz trêmula de nervosismo. — Não pod
MIADe todas as coisas que idealizei para a minha vida, ser jogada em um clube para me prostituir estava em último lugar na lista. Ouso dizer que sequer estava na lista. Limpar cocô de pombo estaria acima disso.— O que vai acontecer comigo? — perguntei a Vittorio, o demônio que apareceu na minha vida e a destruiu por completo. — Vou morar nesse cassino?Vittorio negou com a cabeça, enquanto assinava alguns papéis de uma pasta azul.— De forma alguma — ele disse. — Você não teria serventia em um cassino, mas com uma saia de couro e um top brilhante, conseguiria muito dinheiro.Estremeci só de me imaginar com aquelas roupas.— Como quiser — murmurei. Olhei para o homem cujo rosto eu havia arranhado e franzi a testa para ele. — Algum problema?Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.— Nenhum — ele respondeu.Vittorio guardou os papeis na pasta e a deixou em cima da mesa. Seus olhos passaram por mim e ele soltou um suspiro.— Bom, meu trabalho aqui terminou. Preciso me encontrar com Mau