MIA
Quando ouvi um barulho de chaves sentei-me ereta no colchão, esperando pelo pior.
A porta se abriu, e Vittorio entrou.
Vestido impecavelmente de preto, ele segurava uma mala azul-marinho em uma das mãos e o celular na outra, digitando algo com concentração. Atrás dele, alguns guardas fecharam a porta assim que ele passou. Foram necessários alguns segundos até que seus olhos finalmente encontrassem os meus.
Seu olhar intenso quase me fez encolher. Aquele negro penetrante fez meus pelos se arrepiarem.
Vittorio se aproximou e jogou a mala aos meus pés.
— Suas roupas — disse apenas, de forma seca.
VITTORIOEu não queria admitir o quanto aquela estúpida me tirava do sério ao ponto de me fazer perder o controle.Felizmente, agora Mia estava presa em minhas mãos.Dessa vez, ela não fugiria, e eu finalmente poderia recuperar meu prestígio com Don Maurício. Enchi meu copo com uísque e me joguei na cadeira, já pensando na reunião que teria com ele no dia seguinte. Eu mostraria que estava no comando, que a situação estava sob controle.Além disso, eu começaria a desvendar a verdade sobre Mia. Minhas investigações já haviam dado resultados, confirmando minhas suspeitas: ela estava escondendo algo.Miana, a mãe de Mia, havia morrido de maneira misteriosa — um câncer agressivo que a consumiu em questão de dias. Tudo aquilo cheirava a queima de arquivo. Mas por que alguém eliminaria uma simples dona de casa? Essa era a peça que faltava no quebra-cabeça, e eu estava determinado a descobrir o que estava realmente acontecendo.Uma batida suave na porta interrompeu meus pensamentos.— Sim? —
MIAAcordei com um cutucão nas costelas.Sentei-me bruscamente no colchão e olhei para quem havia feito aquilo. Vi o sapato de Vittorio perto do meu corpo. Ele tinha mesmo me acordado usando a ponta do sapato caro?Franzi os olhos e, com toda a força, dei uma cotovelada no pé dele. Vittorio se afastou mancando e me xingando.— Nunca mais faça isso, ou eu arranco o seu braço — ele disse.Ergui as sobrancelhas.— Então nunca mais me acorde assim. Não sou um cachorro.Vittorio ergueu as sobrancelhas, parecendo considerar o que eu disse. Revirei os olhos e mostrei o dedo médio para ele.— Quanta maturi
MIAAssim que Vittorio abriu a porta, deu um passo para trás, me dando espaço para passar. Respirei fundo e caminhei para fora. O corredor à frente parecia interminável, iluminado apenas por uma luz fraca, enquanto a escuridão ao redor da casa fazia meu estômago se apertar.O silêncio era sufocante, quebrado apenas pelo som de nossos passos ecoando no chão frio de mármore. Meus pés descalços e sujos contrastavam com o piso limpo e brilhante. Era quase irônico como tudo ao redor de Vittorio era impecável, enquanto eu me sentia como um caos ambulante.Ao chegarmos à sala, a luz da lua atravessava as grandes janelas, projetando sombras longas e distorcidas pelo chão. A madrugada estava em seu auge; o mundo lá fora parecia congelado no tempo. Eu deveria sentir alívio por estar longe do porão, mas a presença de Vittorio tornava
MIAAssim que terminei de comer, uma mulher usando um uniforme preto com detalhes dourados entrou na sala de jantar. Seu sorriso era largo e gentil, e ela se apresentou como Gisela.— Senhorita, gostaria de conhecer o seu quarto? — Gisela perguntou, e percebi o quão marcado era o seu sotaque italiano. — Talvez tomar um banho?Fiz uma careta.— Estou fedendo, não estou? — perguntei, soltando uma risada enquanto me levantava da cadeira.Gisela assentiu, visivelmente sem jeito. Eu realmente estava com um cheiro desagradável, mas ela tentava ser educada para não me constranger. Não era surpresa que eu estivesse assim — Vittorio não me deu outra escolha al&eacut
MIADepois de um banho relaxante e de finalmente me sentir limpa, troquei minhas roupas imundas por uma camiseta e jeans limpos. Ainda estava indecisa se realmente deveria entrar no quarto de Vittorio para falar com ele.Durante todo o banho, minha decisão oscilava a cada momento. Eu sabia que precisava encará-lo e fazer as perguntas que poderiam definir meu futuro, mas, embora não quisesse admitir, eu estava apavorada. Vittorio me assustava profundamente. O fato de agir feito uma idiota perto daquele patife só mostrava o quanto ele mexia comigo, e eu odiava isso.Ajeitei meu cabelo em um coque e prendi minha franja com um grampo — eu definitivamente precisava cortá-la. Calcei as pantufas que encontrei no closet e saí do quarto, com a sensação de estar caminhando
VITTORIOEu estava na minha quinta dose de uísque quando recebi uma mensagem de Breno, um dos assassinos mais letais da Cosa Nostra, perguntando se podíamos fazer uma videoconferência. Não era um momento oportuno, minha mente estava longe e meu humor ainda mais distante, mas conhecendo Breno, era melhor não ignorar. Ele não era o tipo que procurava alguém à toa.Com um suspiro cansado, decidi aceitar. O rosto moreno de Breno apareceu na tela alguns segundos depois, suas feições angulosas iluminadas pela luz fraca de um abajur atrás dele. Seus cabelos escuros estavam levemente desgrenhados, como se ele tivesse acabado de voltar de uma longa viagem ou de uma tarefa especialmente desagradável. Olhos penetrantes, quase sempre inexpressivos, fitavam-me através da tela, avaliando-me com
VITTORIOBebi mais um gole do uísque.Quando senti minha mente começar a clarear, percebi que aquele era o sinal de que eu precisava parar. Uma das poucas regras que eu sempre me impus era nunca permitir que o álcool me dominasse completamente. Levantei-me, sentindo o leve peso do uísque ainda no meu corpo, e olhei para o relógio de mesa. Já eram quase seis da manhã, e eu precisava dormir um pouco antes de retomar meus deveres.Guardei o copo vazio sobre a mesa e saí do escritório. O corredor começava a ser iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã, sinal de que o resto da casa logo estaria acordando. O silêncio ali me dava uma falsa sensação de tranquilidade, um breve intervalo entre o caos constante da minha vida. Espera
MIAAcordei meio grogue e sem me lembrar de onde estava. Meu corpo parecia pesado, como se estivesse preso em algum tipo de transe. Pisquei os olhos algumas vezes e, quando minha visão finalmente se ajustou, percebi que meu rosto estava enterrado em um lençol de seda preta. A sensação macia contrastava com a dureza da realidade que logo me atingiu. Todas as lembranças retornaram com a força de um soco: Vittorio me encontrando, sendo drogada, presa naquele quartinho mofado, e a proposta dele para que eu me tornasse sua amante.Engoli em seco e me xinguei mentalmente. Eu havia tomado a insana decisão de ir ao quarto de Vittorio para confrontá-lo com algumas perguntas, mas, de algum modo, adormeci no processo. Que tipo de idiota faz isso?Sentei-me na cama, um pouco desnorteada, e minh