MIA
Assim que terminei de comer, uma mulher usando um uniforme preto com detalhes dourados entrou na sala de jantar. Seu sorriso era largo e gentil, e ela se apresentou como Gisela.
— Senhorita, gostaria de conhecer o seu quarto? — Gisela perguntou, e percebi o quão marcado era o seu sotaque italiano. — Talvez tomar um banho?
Fiz uma careta.
— Estou fedendo, não estou? — perguntei, soltando uma risada enquanto me levantava da cadeira.
Gisela assentiu, visivelmente sem jeito. Eu realmente estava com um cheiro desagradável, mas ela tentava ser educada para não me constranger. Não era surpresa que eu estivesse assim — Vittorio não me deu outra escolha al&eacut
MIADepois de um banho relaxante e de finalmente me sentir limpa, troquei minhas roupas imundas por uma camiseta e jeans limpos. Ainda estava indecisa se realmente deveria entrar no quarto de Vittorio para falar com ele.Durante todo o banho, minha decisão oscilava a cada momento. Eu sabia que precisava encará-lo e fazer as perguntas que poderiam definir meu futuro, mas, embora não quisesse admitir, eu estava apavorada. Vittorio me assustava profundamente. O fato de agir feito uma idiota perto daquele patife só mostrava o quanto ele mexia comigo, e eu odiava isso.Ajeitei meu cabelo em um coque e prendi minha franja com um grampo — eu definitivamente precisava cortá-la. Calcei as pantufas que encontrei no closet e saí do quarto, com a sensação de estar caminhando
VITTORIOEu estava na minha quinta dose de uísque quando recebi uma mensagem de Breno, um dos assassinos mais letais da Cosa Nostra, perguntando se podíamos fazer uma videoconferência. Não era um momento oportuno, minha mente estava longe e meu humor ainda mais distante, mas conhecendo Breno, era melhor não ignorar. Ele não era o tipo que procurava alguém à toa.Com um suspiro cansado, decidi aceitar. O rosto moreno de Breno apareceu na tela alguns segundos depois, suas feições angulosas iluminadas pela luz fraca de um abajur atrás dele. Seus cabelos escuros estavam levemente desgrenhados, como se ele tivesse acabado de voltar de uma longa viagem ou de uma tarefa especialmente desagradável. Olhos penetrantes, quase sempre inexpressivos, fitavam-me através da tela, avaliando-me com
VITTORIOBebi mais um gole do uísque.Quando senti minha mente começar a clarear, percebi que aquele era o sinal de que eu precisava parar. Uma das poucas regras que eu sempre me impus era nunca permitir que o álcool me dominasse completamente. Levantei-me, sentindo o leve peso do uísque ainda no meu corpo, e olhei para o relógio de mesa. Já eram quase seis da manhã, e eu precisava dormir um pouco antes de retomar meus deveres.Guardei o copo vazio sobre a mesa e saí do escritório. O corredor começava a ser iluminado pelos primeiros raios de sol da manhã, sinal de que o resto da casa logo estaria acordando. O silêncio ali me dava uma falsa sensação de tranquilidade, um breve intervalo entre o caos constante da minha vida. Espera
MIAAcordei meio grogue e sem me lembrar de onde estava. Meu corpo parecia pesado, como se estivesse preso em algum tipo de transe. Pisquei os olhos algumas vezes e, quando minha visão finalmente se ajustou, percebi que meu rosto estava enterrado em um lençol de seda preta. A sensação macia contrastava com a dureza da realidade que logo me atingiu. Todas as lembranças retornaram com a força de um soco: Vittorio me encontrando, sendo drogada, presa naquele quartinho mofado, e a proposta dele para que eu me tornasse sua amante.Engoli em seco e me xinguei mentalmente. Eu havia tomado a insana decisão de ir ao quarto de Vittorio para confrontá-lo com algumas perguntas, mas, de algum modo, adormeci no processo. Que tipo de idiota faz isso?Sentei-me na cama, um pouco desnorteada, e minh
MIA— O quê? — perguntei baixinho, a voz trêmula com a confusão que pairava no ar.Vittorio revirou os olhos e, antes que eu pudesse reagir, me agarrou pelo braço, me arrastando em direção à porta com uma força bruta que me fez perder o equilíbrio. Debati, tentando me soltar, mas era inútil. Era como se eu estivesse tentando lutar contra uma parede de concreto. Em um impulso desesperado, finquei minhas unhas em sua bochecha, arranhando-o com toda a força que eu consegui reunir.O sangue começou a escorrer do machucado que eu fizera, e minha respiração ficou presa no peito. Olhei para ele em choque, assim como Vittorio, que me encarava com uma mistura de surpresa e raiva. Seus olhos, antes tão controlados, estavam arregalados
MIAApós passar o dia trancada naquele maldito quarto, recebendo apenas visitas de Gisela para minhas refeições, consegui esquecer — não totalmente — o incidente de mais cedo. O silêncio opressivo do lugar só me permitia pensar nas consequências de ter arranhado o rosto de Vittorio. Havia uma tensão no ar, como se o próprio ambiente soubesse que eu havia cruzado uma linha perigosa.Vittorio, por outro lado, havia passado o dia fora, deixando claro que qualquer um que abrisse a porta para mim, exceto nas ocasiões das refeições, seria morto. As palavras dele ecoavam na minha mente como um aviso sombrio. Felizmente, havia um banheiro no meu quarto, o que tornava a permanência ali um pouco menos torturante. Tinha uma televisão na parede, que me permitia escapar da realidade por bre
MIATentei recuperar o fôlego e, assim que consegui, reuni novamente toda a minha coragem e ergui teimosamente o queixo.— Eu já não posso dizer o mesmo de você — murmurei, tentando adotar um tom desafiador.No entanto, essa era a mentira mais ridícula que eu já havia dito. Vittorio estava impecavelmente bonito, como se tivesse saído de um daqueles filmes de Hollywood. Ele usava uma roupa de gala preta, perfeitamente ajustada ao seu corpo musculoso, e no seu pescoço jazia uma gravata do mesmo tecido do meu vestido, que contrastava com a camisa preta. Seus cabelos escuros estavam alinhados de uma forma que fazia o coração acelerar, brilhando com a luz suave do ambiente. E ali, na sua bochecha, estava a marca do meu arranhão, um lembrete cruel da nossa r
MIADepois de um tempo em silêncio no carro, a tensão entre nós era quase palpável. Eu precisava quebrá-la.— Por que tantas pessoas te odeiam? Sua personalidade não é das mais fáceis de gostar e… — comecei, sabendo que isso provavelmente o irritaria.Vittorio levantou as sobrancelhas, claramente surpreso com minha ousadia.— Primeiro, você precisa entender como funciona a máfia. É tudo um jogo, e vence o mais astuto — ele disse, a voz carregada de uma calma perigosa. — Todos querem uma única coisa: o lugar de Don Maurício.Fiquei mais interessada do que gostaria de admitir.Último capítulo