MIA
Acordei meio grogue e sem me lembrar de onde estava. Meu corpo parecia pesado, como se estivesse preso em algum tipo de transe. Pisquei os olhos algumas vezes e, quando minha visão finalmente se ajustou, percebi que meu rosto estava enterrado em um lençol de seda preta. A sensação macia contrastava com a dureza da realidade que logo me atingiu. Todas as lembranças retornaram com a força de um soco: Vittorio me encontrando, sendo drogada, presa naquele quartinho mofado, e a proposta dele para que eu me tornasse sua amante.
Engoli em seco e me xinguei mentalmente. Eu havia tomado a insana decisão de ir ao quarto de Vittorio para confrontá-lo com algumas perguntas, mas, de algum modo, adormeci no processo. Que tipo de idiota faz isso?
Sentei-me na cama, um pouco desnorteada, e minh
MIA— O quê? — perguntei baixinho, a voz trêmula com a confusão que pairava no ar.Vittorio revirou os olhos e, antes que eu pudesse reagir, me agarrou pelo braço, me arrastando em direção à porta com uma força bruta que me fez perder o equilíbrio. Debati, tentando me soltar, mas era inútil. Era como se eu estivesse tentando lutar contra uma parede de concreto. Em um impulso desesperado, finquei minhas unhas em sua bochecha, arranhando-o com toda a força que eu consegui reunir.O sangue começou a escorrer do machucado que eu fizera, e minha respiração ficou presa no peito. Olhei para ele em choque, assim como Vittorio, que me encarava com uma mistura de surpresa e raiva. Seus olhos, antes tão controlados, estavam arregalados
MIAApós passar o dia trancada naquele maldito quarto, recebendo apenas visitas de Gisela para minhas refeições, consegui esquecer — não totalmente — o incidente de mais cedo. O silêncio opressivo do lugar só me permitia pensar nas consequências de ter arranhado o rosto de Vittorio. Havia uma tensão no ar, como se o próprio ambiente soubesse que eu havia cruzado uma linha perigosa.Vittorio, por outro lado, havia passado o dia fora, deixando claro que qualquer um que abrisse a porta para mim, exceto nas ocasiões das refeições, seria morto. As palavras dele ecoavam na minha mente como um aviso sombrio. Felizmente, havia um banheiro no meu quarto, o que tornava a permanência ali um pouco menos torturante. Tinha uma televisão na parede, que me permitia escapar da realidade por bre
MIATentei recuperar o fôlego e, assim que consegui, reuni novamente toda a minha coragem e ergui teimosamente o queixo.— Eu já não posso dizer o mesmo de você — murmurei, tentando adotar um tom desafiador.No entanto, essa era a mentira mais ridícula que eu já havia dito. Vittorio estava impecavelmente bonito, como se tivesse saído de um daqueles filmes de Hollywood. Ele usava uma roupa de gala preta, perfeitamente ajustada ao seu corpo musculoso, e no seu pescoço jazia uma gravata do mesmo tecido do meu vestido, que contrastava com a camisa preta. Seus cabelos escuros estavam alinhados de uma forma que fazia o coração acelerar, brilhando com a luz suave do ambiente. E ali, na sua bochecha, estava a marca do meu arranhão, um lembrete cruel da nossa r
MIADepois de um tempo em silêncio no carro, a tensão entre nós era quase palpável. Eu precisava quebrá-la.— Por que tantas pessoas te odeiam? Sua personalidade não é das mais fáceis de gostar e… — comecei, sabendo que isso provavelmente o irritaria.Vittorio levantou as sobrancelhas, claramente surpreso com minha ousadia.— Primeiro, você precisa entender como funciona a máfia. É tudo um jogo, e vence o mais astuto — ele disse, a voz carregada de uma calma perigosa. — Todos querem uma única coisa: o lugar de Don Maurício.Fiquei mais interessada do que gostaria de admitir. MIAAssim que me aproximei do bar, peguei uma bebida qualquer e a bebi de uma vez só. Minha pouca paz, conquistada naquele pequeno refúgio, evaporou quando ouvi uma das garotas ao meu lado sussurrar para sua amiga:— Ouvi dizer que eles estão noivos.— Duvido que dure muito — a outra respondeu. — Ele é mulherengo.As duas riram e me olharam por cima do ombro. Respirei fundo e continuei bebendo o líquido que queimava minha garganta a cada gole, me fazendo sentir mais viva.— Dizem que ela nem faz parte da máfia — a primeira murmurou.— Claro que não. Essa daí deve ser só mais uma putinha dele.29: Segredos Revelados
MIAVittorio me olhou surpreso, e eu desviei o olhar para minhas mãos. Sentia uma vergonha avassaladora de falar sobre aquilo, de confiar em alguém.Por muito tempo, fui vista como esquisita. Na noite em que ele tentou roubar minha inocência, algo dentro de mim se quebrou. Não era mais eu mesma. Fechei-me para o mundo, parei de falar com meus amigos. Muitos culparam o luto, outros acharam que era porque meu pai me negligenciava.Mas ninguém podia imaginar o que realmente havia acontecido. Todos temos nossos monstros no armário, e o meu era o meu próprio agressor. Ele me destruiu, e todos os dias, em segredo, eu tentava entender por que aquilo aconteceu comigo. Seria minha culpa? De algum jeito, eu havia permitido?— Você
MIAVittorio deu um sorriso sem jeito ao ouvir o que eu havia dito. O contraste entre sua presença imponente e o ambiente claustrofóbico parecia aumentar a tensão entre nós.— Ninguém percebeu que algo de errado estava acontecendo? — ele perguntou, a voz grave ressoando como um eco no quarto silencioso.— Não — murmurei, sentindo as lágrimas quentes rolarem pela minha bochecha. — Dei tantos sinais, mas ninguém percebeu. Ninguém ligou para a criança que havia se fechado para o mundo, que não sorria e não conversava com ninguém.Vittorio engoliu em seco, a expressão em seu rosto mudando rapidamente de curiosidade para algo mais profundo, mais intenso. Ele
MIADe repente, o pânico do que estava prestes a acontecer tomou conta da minha mente e do meu coração. Ali estava Vittorio, seus olhos brilhando com uma intensidade que eu não conseguia decifrar. Ele se aproximou lentamente, cada passo seu parecia carregar um peso maior. Nunca estivemos tão próximos e, o mais assustador de tudo, era que eu não me importava. No fundo, eu queria que estivéssemos mais próximos ainda, uma parte de mim desejando explorar essa conexão inesperada.Afastei-me dele, sentindo o espaço entre nós se distender como uma corda prestes a se romper. Olhei para a porta, como se o ato de me afastar fosse um escape.— Acho que já ficamos tempo demais aqui — respondi enquanto me levantava, a voz tremendo um po