MIA
De repente, o pânico do que estava prestes a acontecer tomou conta da minha mente e do meu coração. Ali estava Vittorio, seus olhos brilhando com uma intensidade que eu não conseguia decifrar. Ele se aproximou lentamente, cada passo seu parecia carregar um peso maior. Nunca estivemos tão próximos e, o mais assustador de tudo, era que eu não me importava. No fundo, eu queria que estivéssemos mais próximos ainda, uma parte de mim desejando explorar essa conexão inesperada.
Afastei-me dele, sentindo o espaço entre nós se distender como uma corda prestes a se romper. Olhei para a porta, como se o ato de me afastar fosse um escape.
— Acho que já ficamos tempo demais aqui — respondi enquanto me levantava, a voz tremendo um po
MIAA viagem de volta foi incrivelmente silenciosa.O clima no carro era tão pesado que eu poderia cortar com uma faca, e a presença de Vittorio ao meu lado tornava tudo ainda mais constrangedor. Ele estava ali, com aquele sorriso provocador no rosto, e o meu batom vermelho vibrante ainda manchava o seu pescoço. Eu sabia que, as garotas estúpidas do bar da boate estavam morrendo de raiva depois que nos viram sair do quarto. Ah, se elas soubessem que tudo não passava de uma grande mentira.Giuseppe, que sabia sobre o nosso plano, ainda conseguiu encontrar um jeito de parabenizar Vittorio pela “grande noite”. Aquilo foi tão nojento que precisei respirar fundo para não socar a cara dele.— Você conheceu seus a
MIADe repente, uma onda de adrenalina percorreu meu corpo, e uma sede avassaladora de ajudar tomou conta do meu peito. O coração batia acelerado, pulsando em sincronia com a urgência da situação. Felizmente, Vittorio conseguiu recuperar a direção do carro e, com uma manobra ágil, despistou os carros que nos seguiam, mas a sensação de que estávamos longe de estar a salvo era palpável. Ele virou à direita novamente, e percebi que estávamos entrando em um estacionamento escuro e quase deserto.— O que você vai fazer? — perguntei, a ansiedade crescendo em meu estômago.Vittorio não hesitou. Com um movimento rápido, ele tirou um fuzil do banco de trás do carro, junto com uma caixa cheia d
MIAVittorio fez um gesto rápido para que eu me escondesse debaixo do carro.— O quê? — sussurrei, um pouco incrédula. — Pensei que eu fosse atirar.Um sorriso sarcástico se formou no canto de sua boca.— A gente acha que conhece alguém, mas, de repente, ela vira uma verdadeira sanguinária — murmurou.Revirei os olhos, ignorando a provocação.— Não é isso. Só quero ser útil.Ele me olhou de um jeito estranho, como se estivesse considerando se eu realmente sabia o que queria.— Certo. Vá para debaixo do carro e tente acertar pelo menos um deles. Depois disso, saia rápido. Nunca fique no mesmo lugar.Assenti, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.Me enfiei debaixo do primeiro carro que encontrei, ignorando a poeira e o cheiro de borracha queimada. Por sorte, meu corpo pequeno fazia com que o espaço apertado não fosse sufocante. Segurei a arma com as mãos trêmulas, lutando contra o medo. O mundo parecia dividido entre o silêncio assustador do meu esconderijo e o caos l
MIAVittorio apertou o volante com força, seus olhos faiscando de concentração enquanto ele manobrava o carro em meio ao caos. Eu podia ouvir sua respiração pesada, um contraste gritante com o som ensurdecedor dos tiros e dos pneus cantando ao nosso redor. O carro deu mais um giro brusco, e, por um momento, temi que capotássemos. Mas Vittorio conseguiu recuperá-lo com um movimento rápido e preciso.Os gritos da multidão se misturavam ao eco dos disparos. Meu peito queimava de tanto gritar, mas não conseguia parar. O pânico me dominava, e eu tentava me agarrar a qualquer coisa, buscando um ponto de estabilidade em meio ao crescente terror.— Por que eles estão fazendo isso? — perguntei, a voz elevada, o gosto amargo do medo se espalhando pela boca.— Tenho minhas suspeitas — respondeu Vittorio
MIAAssim que chegamos à casa de Vittorio, respirei aliviada. Durante todo o trajeto de volta, eu me perguntava se outro perseguidor apareceria, se eu teria que matar alguém ou se nós sucumbiríamos à morte.Subimos as escadas em silêncio. Vittorio recusou minha ajuda, mas eu percebia que, a cada passo que ele dava, mais sangue escorria de seu ferimento. Quando finalmente chegamos ao corredor dos quartos, consegui fazê-lo se apoiar um pouco em mim. Mas assim que abri a porta do seu quarto, Vittorio se sentou no chão de madeira.— Pode ir tomar um banho e descansar, eu me viro daqui — disse ele, com a voz firme, mas exausta.Olhei para Vittorio e assenti, mas ao me virar para a porta, algo dentro de mim me fez parar. Eu sentia que precisava ajudá-lo.— Posso ajudar com alguma coisa? — perguntei, virando-me novamente para ele.Nesse momento, observei-o enfiar o indicador no ferimento e mexer ali dentro. Um mar de sangue escorreu pela ferida, e seu rosto se contorceu de dor. No entanto, u
MIA O ambiente ao nosso redor era abafado, cada detalhe carregado de uma atmosfera quase opressiva, como se as paredes de concreto absorvessem e devolvessem o calor dos nossos corpos. O quarto era espaçoso, mas cheio de sombras, a estante, com livros alinhados com precisão obsessiva. Ali, em meio ao cheiro de couro e páginas envelhecidas, senti o peso daquele espaço, que, de alguma forma, parecia cúmplice de Vittorio. O ar estava carregado de algo que oscilava entre o perigo e o desejo, como um fio fino e afiado que poderia se partir a qualquer momento. Estava no território dele, completamente à mercê de suas vontades. O que havia entre nós era intenso e arriscado, e naquele momento, entre o som abafado da minha respiração e o pulsar acelerado do meu coração, eu não sabia se deveria recuar ou avançar. Todas as memórias dos momentos com Vittorio invadiram minha mente como relâmpagos: sua presença esmagadora, a frieza nos olhos, e a pressão que ele exerci
MIAFranzi a testa, minha voz saindo firme, mas com uma leve tremida que talvez só eu perceba.— Eu não sei do que você está falando — respondi secamente. — Nem sei o que “calabrese” significa, como eu poderia conhecer essas pessoas?Vittorio se levantou lentamente, a sombra de seu corpo estendendo-se sobre mim como uma ameaça silenciosa.— Eles fazem parte da máfia da ‘Ndrangheta, originária da Calábria. Usam o dialeto calabrese para se comunicarem sem serem descobertos. Meu pai me obrigou a aprender isso quando eu tinha dez anos.O som de sua voz, enigmática e fria, ecoava no silêncio do quarto abafado, e o cheiro de pólvora e san
MIAOs dias pareciam se arrastar em um ciclo interminável.A luz do sol invadia o quarto pelas frestas da cortina, transformando a penumbra em um espetáculo de sombras dançantes no chão. Aquele retângulo de luz que cortava o quarto era meu único contato com o mundo exterior. Por três dias inteiros, minha rotina se resumiu a livros e refeições que Gisela me trazia, enquanto o silêncio da casa reverberava com minha solidão. Eu não via Vittorio desde aquela noite. Uma noite que deixara sua marca em mim de forma irremediável, como uma ferida que se recusava a cicatrizar.Mergulhada em um romance policial, os olhos quase já sem foco, fui interrompida pela porta se abrindo e pelo cheiro aconchegante de café fresco e pão. Gisela adentrou o quarto com uma bandeja, e o aroma trouxe um breve alívio, ainda que fugaz.— Senhorita, já está acordada? — ela perguntou, colocando a bandeja sobre a mesa ao lado.Assenti, exausta.— A verdade é que