4: Sob Controle

MIA

De todas as coisas que idealizei para a minha vida, ser jogada em um clube para me prostituir estava em último lugar na lista. Ouso dizer que sequer estava na lista. Limpar cocô de pombo estaria acima disso.

— O que vai acontecer comigo? — perguntei a Vittorio, o demônio que apareceu na minha vida e a destruiu por completo. — Vou morar nesse cassino?

Vittorio negou com a cabeça, enquanto assinava alguns papéis de uma pasta azul.

— De forma alguma — ele disse. — Você não teria serventia em um cassino, mas com uma saia de couro e um top brilhante, conseguiria muito dinheiro.

Estremeci só de me imaginar com aquelas roupas.

— Como quiser — murmurei. Olhei para o homem cujo rosto eu havia arranhado e franzi a testa para ele. — Algum problema?

Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.

— Nenhum — ele respondeu.

Vittorio guardou os papeis na pasta e a deixou em cima da mesa. Seus olhos passaram por mim e ele soltou um suspiro.

— Bom, meu trabalho aqui terminou. Preciso me encontrar com Maurício e informá-lo sobre o que aconteceu — ele disse para o outro homem, que assentiu lentamente.

— Quem é esse Maurício? — perguntei.

Vittorio olhou para mim.

— O líder da Cosa Nostra — respondeu ele.

Franzi a testa, confusa.

— Você não é o líder? — perguntei, surpresa. Vittorio balançou a cabeça, negando. — Bom, com toda a sua arrogância, achei que você fosse o dono disso tudo. Mas é apenas o capacho do verdadeiro chefe.

As sobrancelhas escuras de Vittorio se franziram, e seus olhos negros brilharam de ódio. Seus lábios, cheios e rosados, repuxaram-se em um sorriso cruel, que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem. Eu sabia que estava sendo tola ao dizer aquelas coisas. Tinha plena consciência de que poderia morrer por isso. No entanto, eu já estava ferrada. Pelo menos, não lhes daria o prazer de me verem com medo, assustada.

Os soldados seguraram meus braços com força e me arrastaram pelo corredor, na mesma direção em que Vittorio caminhava. Tentei me soltar, mas foi completamente em vão. O caminho parecia interminável, envolto em um silêncio opressor.

Notei que estávamos saindo pelos fundos da propriedade, um caminho completamente diferente de quando cheguei com meu pai. Uma pontada aguda perfurou meu peito ao pensar nele, e a vontade de chorar quase voltou com força. Como ele pôde ser tão ingênuo? Por que confiou dinheiro a essas pessoas cruéis? A dor em meu coração aumentava enquanto me lembrava do desespero no olhar dele, e das palavras impotentes que, pouco a pouco, revelaram sua falta de controle sobre a situação.

Um nó se formou na minha garganta, mas eu me recusei a deixar as lágrimas caírem. Não seria mais uma fraca nesse jogo sujo.

Ao chegarmos a uma porta pesada, Vittorio parou e se virou para mim. Seu olhar penetrante me avaliava como se eu fosse um quebra-cabeça prestes a ser resolvido. Mas, antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, uma dor fina no meu braço chamou minha atenção.

Olhei para baixo e vi um dos soldados com uma agulha enfiada na minha pele, injetando algo em mim.

— O que…?

A realidade começou a se distorcer diante dos meus olhos, como se um véu opaco cobrisse minha visão. Tentei lutar, tentei gritar, mas minha voz não saía. As palavras ficaram presas na minha garganta, e o chão sob meus pés parecia desmoronar. Tudo que eu conseguia ouvir era o som distante da minha respiração acelerada, misturada com o pulsar ensurdecedor do meu coração.

— Mia, respire — a voz de Vittorio ecoou, como um sussurro distante, mas eu não conseguia mais distinguir se ele realmente estava ali ou se sua voz era apenas uma ilusão, fruto da substância que agora percorria meu corpo.

As paredes do corredor pareciam ondular, e a luz se tornava cada vez mais intensa, até se transformar em um turbilhão de cores que dançavam e se misturavam diante dos meus olhos. As figuras dos homens ao meu redor se transformaram em sombras indistintas, e eu fui sendo arrastada para a neblina da inconsciência, impotente para lutar contra o que quer que estivesse me invadindo.

— O que você fez comigo? — forcei minha voz a sair, mas era apenas um sussurro arrastado, como se as palavras fossem pérolas afundando no mar, perdidas e submersas.

Risos ecoaram pelo corredor, mas não eram risos de alegria. Eram de satisfação, como se se divertissem às minhas custas. A indignação queimava em meu peito, mas eu não conseguia reagir.

Vittorio se aproximou, seu rosto tão perto do meu que pude sentir o calor de sua presença.

— Você acha mesmo que eu iria levá-la acordada? — ele disse, sua voz fria como gelo. — Acredita que eu seria burro o suficiente para mostrar o caminho e deixá-la fugir no meio da noite?

A sensação de estar presa em um pesadelo se intensificou, e o pânico começou a crescer dentro de mim, uma onda incontrolável.

— Eu não iria fugir! — tentei gritar, mas saiu apenas um gemido débil, patético.

A realidade ao meu redor começava a se despedaçar. O controle deslizava pelas minhas mãos, como areia escapando ao vento. As sombras ao redor pareciam ganhar vida, movendo-se de forma errática, como se fossem marionetes presas a cordas invisíveis, dançando ao meu redor.

Eu precisava sair. Precisava encontrar uma maneira de me libertar desse estado, de recobrar a consciência. No meio do caos, uma ideia desesperada surgiu em minha mente: eu tinha que me manter acordada, precisava lutar contra a onda de letargia que me puxava para baixo. Com um esforço monumental, tentei mover meu corpo, mas ele não respondia.

E então, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o mundo ao meu redor girou violentamente, e fui engolida por uma espiral de confusão e escuridão.

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