VITTORIOA ousadia de Mia me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir. A garota assustada que havia chegado desapareceu. Agora, ela parecia ter encontrado uma confiança nova, uma audácia que cresceu depois do mal-entendido sobre a morte de Charles.Eu planejava contar a verdade para Mia, mas apenas no momento certo. Sabia que havia algo muito maior e mais perigoso por trás de suas ações. A forma como ela aceitou dançar para Elijah me parecia uma provocação calculada, e a sensação de que estava sendo manipulado corroía meu orgulho. Nem o gosto ardente do uísque que descia pela minha garganta era capaz de acalmar o desconforto que tomava conta de mim.Para piorar, Don Mauricio resolveu aparecer na minha boate. Ele tinha um talento único para surgir nos momentos mais inoportunos, sempre com aquele olhar de quem tinha visto tudo. Estava lá para garantir que eu não tomasse mais nenhuma decisão importante sem sua bênção. Sentado no meu escritório, eu sentia o peso do julgamento n
MIADepois que o impacto de ter matado alguém se dissipou, o desespero de ser pega se instalou como uma sombra opressiva. Eu sabia que precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Se Vittorio descobrisse o que eu fiz, com certeza seria morta, assim como meu pai fora.A primeira coisa que fiz foi pegar o dinheiro de Elijah e juntá-lo com toda a grana que haviam colocado no cós da minha saia. Embolei todo o dinheiro e enfiei dentro do meu top. Para meu alívio, a porta estava trancada; eles demorariam um tempo até conseguirem entrar no quarto.Eu precisava encontrar uma maneira de fugir sem que soubessem para onde eu tinha ido. E eu iria usar a única câmera naquele quarto a meu favor.Caminhei a passos largos até a janela, que, infelizmente, estava fechada, mas tinha um vid
VITTORIOSeis meses se passaram desde a fuga de Mia, e tudo o que eu conseguia pensar era que meus inimigos agora tinham um motivo para rir de mim. E que Don Maurício estava furioso.Mia era só uma mulher comum, então como ela conseguiu fugir tão facilmente e se manter escondida por tanto tempo? Ou talvez Mia não fosse quem dizia ser?Desde que aquela diabinha fugiu, eu simplesmente não consegui sossegar. Sabia que só ficaria aliviado no momento em que a encontrasse, porque ninguém me humilhava daquele jeito. Ninguém me transformava em piada.Nos três primeiros meses, eu a procurei com a desculpa de que ninguém brinca com a Cosa Nostra. Mas agora, minha motivação era outra. Eu queria provar para aquela garotinha idiota que ela nunca seria mais
MIAAquele não era um bom dia, e eu soube disso assim que acordei para ir trabalhar. Um peso pressionava meu peito, um aviso silencioso de que a dor da ausência da minha mãe voltaria a me consumir. Se ela ainda estivesse viva, eu estaria comprando um bolo confeitado para celebrar mais um ano de vida. Mas o câncer a levou de mim, e com ele, todas as nossas celebrações.Eu não podia nem visitar seu túmulo.Por causa do fraco do meu pai. Pensar nele sempre fazia meu coração se contrair. A dor de não ter tido a chance de me despedir era uma ferida aberta. E a raiva... a raiva por Vittorio tê-lo arrancado de mim.Todos os dias, nos últimos seis meses, eu me perguntei se Vittorio me encontraria. E se encontrasse, se eu também seria morta.Eu nunca quis matar ninguém.As minhas noites eram atormentadas por pesadelos, e a imagem de Elijah morrendo por minhas mãos era um fantasma que me perseguia. Eu não era uma assassina, mas naquela noite foi necessário. Eu sabia o que me aguardava se não ag
VITTORIOA primeira coisa que vi assim que estacionamos o carro em frente à cafeteria foi Mia e os meses a haviam favorecido. Ela parecia mais bonita. Seu corpo, que antes era magrinho e esguio, agora exibia curvas sutis. Os cabelos negros e ondulados continuavam os mesmos, mas havia uma franja nova, que caía sobre sua testa, dando ao seu rosto um toque de suavidade que antes não existia.— Vamos? — Giuseppe perguntou ao meu lado, inquieto.Neguei com um aceno firme de cabeça.— Você fica — respondi com frieza. Ele abriu a boca, pronto para argumentar, mas eu levantei a mão, silenciando qualquer objeção. — Vou resolver isso sozinho. Fique atento. Não sabemos até onde vai a estupidez da Mia.Saí do carro sem olhar para trás, batendo a
MIAOlhei para Vittorio com todo o desprezo que eu poderia sentir, alimentado pelo ódio que brotava em mim por precisar fugir de Las Vegas, por causa do meu pai e pela impossibilidade de fazer uma faculdade, agora que havia sido encontrada. Provavelmente, eles iriam me matar, assim como fizeram com ele.— O que você quer de mim? — perguntei, a voz rígida e o corpo tremendo de raiva enquanto caminhávamos pela calçada do café.— Vingança — respondeu o demônio em pessoa. — Suas coisas já estão no carro, e sugiro que você não tente fugir.— Eu não vou fugir, seu imbecil — resmunguei.Vittorio ergueu as sobrancelhas em minha direção. Observei-o ajustar o terno e, de repente, uma vontade absurda de fazer a fatídica pergunta sobre meu pai tomou conta de
MIAMal tive tempo de me arrastar para longe quando duas mãos fortes agarraram meu braço, virando-me com brutalidade e deitando-me de costas no chão. Prendi a respiração, minhas pálpebras estavam cerradas com força. Que se danasse se isso me fizesse parecer covarde. Eu estava assustada, com dor, e sabia muito bem o que me aguardava assim que abrisse os olhos.— Abra os olhos — Vittorio ordenou.Engoli em seco, considerando brevemente ignorá-lo. Mas sabia que me comportar como uma criança teimosa só pioraria a situação. Então, relutante, abri os olhos e dei de cara com dois orbes negros, cintilando de raiva.— Vamos, me mate — murmurei.Vittorio balançou a cabeça em negação. Seus dedos tocaram minha testa, voltando manchados de sangue
MIAQuando ouvi um barulho de chaves sentei-me ereta no colchão, esperando pelo pior.A porta se abriu, e Vittorio entrou.Vestido impecavelmente de preto, ele segurava uma mala azul-marinho em uma das mãos e o celular na outra, digitando algo com concentração. Atrás dele, alguns guardas fecharam a porta assim que ele passou. Foram necessários alguns segundos até que seus olhos finalmente encontrassem os meus.Seu olhar intenso quase me fez encolher. Aquele negro penetrante fez meus pelos se arrepiarem.Vittorio se aproximou e jogou a mala aos meus pés.— Suas roupas — disse apenas, de forma seca.