VITTORIO
De repente, o medo que preenchia o olhar de Mia desapareceu. Ela mordeu o canto do polegar, pensativa, e um brilho de astúcia surgiu em seus olhos.
— Você não vai querer sujar suas mãos nos matando — ela disse, fazendo-me erguer as sobrancelhas.
— Ah, não? — provoquei, curioso.
— Claro que não. Devemos parecer como ratos para você, tenho certeza de que não vai querer se sujar com o nosso sangue — respondeu, com uma sagacidade inesperada.
Um sorriso de desdém se formou nos meus lábios.
— De fato, vocês são piores do que ratos. São vermes. Mas não se preocupe, querida, não serão minhas mãos que se mancharão. Meus homens cuidarão disso — falei, acenando para Benício, Giuseppe e outros dos meus soldados.
Mia levantou-se, olhando para os homens que se aproximavam, prontos para arrastá-los para fora do meu escritório, como se fossem uma praga.
— Você é um homem muito rico. Dez mil dólares devem ser como troco de bala para você — disse ela, com a voz trêmula de nervosismo. — Não poderia simplesmente esquecer essa dívida?
Observei Mia por alguns instantes antes de responder.
— Mesmo se fossem dez dólares, eu ainda cobraria. Não é só pelo dinheiro.
— No seu mundo, é sempre pelo dinheiro — ela retrucou.
Abri um sorriso frio.
— No meu mundo, não. Não permitir que devedores escapem é um recado claro. Uma lição para todos entender que ninguém faz a Cosa Nostra de idiota.
Mia me encarou por um momento, absorvendo cada palavra.
— Cosa Nostra? — ela murmurou. — É uma organização criminosa?
Tamborilei os dedos no tampo da mesa, deixando o silêncio pairar no ar.
— Sim, uma máfia — Giuseppe respondeu por mim. — Uma das máfias italianas mais influentes dos Estados Unidos.
Os olhos azuis de Mia quase saltaram das órbitas.
— Papai, você se meteu com a máfia? Você é louco? — ela gritou para Charles. — Como pôde fazer isso conosco?
Charles suspirou, exalando cansaço.
— Naquele momento, tudo o que eu queria era reaver o dinheiro. Nem me preocupei com o fato de serem da máfia — ele murmurou, a voz envergonhada.
Mia balançou a cabeça em negação.
— Pois deveria ter se preocupado! Nós dois vamos morrer hoje por sua culpa! — ela disse, a voz carregada de frustração, mas seu pai permaneceu em silêncio. Revirei os olhos diante daquela cena.
— Senhorita, por mais interessante que essa reunião esteja sendo, eu preciso do dinheiro. E se vocês não puderem pagar, não vejo razão para continuarmos com isso — falei friamente.
Mia secou com raiva uma lágrima que desceu por sua bochecha.
— Então nos mate logo. Não tenho esse dinheiro — ela disse, jogando as mãos para o alto em desespero.
— Acho que não será necessário matá-los — Giuseppe falou de onde estava, atraindo minha atenção. Olhei para ele, curioso.
— Qual é a sua proposta? — Charles respondeu imediatamente, ansioso.
Giuseppe desligou o celular e olhou para os dois.
— Antes de mais nada, quero deixar claro que nosso objetivo aqui é reaver o dinheiro. Então, Charles, enquanto não nos pagar o que deve, você está proibido de pisar em qualquer um dos nossos cassinos — ele respondeu com firmeza.
Observei-o, tentando entender aonde Giuseppe queria chegar.
— Está nos dando uma chance de conseguir o dinheiro? — Mia perguntou, a voz trêmula de esperança.
Giuseppe balançou a cabeça em negativa.
— Não estou dando uma chance, apenas sugerindo uma ideia. Cabe ao Vittorio decidir se aceita — ele disse, lançando-me um olhar calculado.
Neguei com veemência.
— Prefiro que morram e sejam jogados em alguma vala. Charles Foster é um homem sem palavra, não acredito que ele pagará a dívida — respondi, frio.
Giuseppe sorriu, satisfeito.
— Ele vai pagar, com certeza. Porque vai nos dar uma garantia. Se não quitar a dívida, a garantia sofrerá as consequências — disse ele, em um tom glacial. Foi então que tudo começou a fazer sentido em minha mente.
Lancei um olhar de soslaio para Giuseppe, sem gostar nem um pouco daquela proposta.
— Como assim? — Mia perguntou, com a voz tremendo de ansiedade e medo.
— Seu pai vai conseguir o dinheiro, e você ficará sob meu controle até que ele pague tudo — respondi, mesmo não gostando desse plano. Por que eu deveria querer essa garota irritante e insolente?
— Não! — Mia me olhou e depois virou-se para o pai. — Definitivamente, não!
— A decisão é do seu pai, menina — Giuseppe falou, incisivo. — Está nas mãos dele.
Mia lançou um olhar furioso para Giuseppe e avançou contra ele, mas a segurei pela cintura antes que ela conseguisse mais do que arranhar o rosto do meu segundo no comando. Ela tentou se soltar, mas sua tentativa foi em vão. Então, apenas olhou para o pai, seu corpo inteiro tremendo. Ela sabia o que a aguardava, e também sabia que Charles não hesitaria em sacrificá-la para salvar a própria pele. Homens como Charles eram covardes.
— Pai, meu Deus, você não pode estar considerando essa proposta — ela implorou, a voz carregada de dor. — Eles vão me obrigar a fazer coisas horríveis, não concorde com isso!
Charles balançou a cabeça, negando.
— Não posso fazer isso com a minha filha. Se alguém tem que pagar, que seja eu. Sou o devedor, não ela — ele disse, com a voz trêmula.
Fiquei surpreso com a resposta. Sinceramente, pensei que ele aceitaria a proposta sem hesitar.
— Tudo bem — eu disse friamente. — Sua filha vai conseguir o dinheiro para mim. Se em um mês o valor não estiver nas minhas mãos, você morre. — Meus olhos se fixaram nos de Mia. — E você vai viver o resto da vida com a culpa por ser incompetente.
Os ombros de Mia caíram, e ela parecia prestes a desmoronar. O rosto estava encharcado de lágrimas, e o desespero era evidente em cada expressão. Ela estava à beira de tomar a decisão mais dolorosa de sua vida.
— Não, fiquem comigo, não suportaria deixar meu pai aqui. Sou mais jovem e tenho mais força para suportar isso — Mia declarou, decidida, sem olhar para Charles, que balançava a cabeça em negação, implorando em silêncio.
Revirei os olhos, exasperado com aquele drama. O senso de sacrifício dela não me impressionava.
— É o seguinte, a garota fica. Ela será mais útil para mim aqui. Todo o dinheiro que ela conseguir vai direto para pagar a dívida do pai. E você — apontei para Charles —, trate de levantar o resto da quantia. Se não quiser que sua filha continue aqui por muito tempo, é melhor se apressar.
Mia assentiu com uma firmeza que eu não esperava.
— Depois que eu conseguir o dinheiro, vocês vão me libertar? — perguntou, a voz firme, mas seus olhos revelavam a sombra do medo que tentava esconder.
Giuseppe abriu um sorriso seco.
— Claro — respondeu ele, sem pestanejar.
Mia lançou um último olhar ao pai, que murmurava algo inaudível, as lágrimas prestes a escapar. Então, seus olhos se fixaram nos meus. Havia uma determinação inesperada ali, algo que me deixou em alerta.
— Tudo bem, eu aceito o acordo — disse ela, com uma calma que parecia ensaiada.
O silêncio que seguiu parecia mais pesado que o ar ao nosso redor. A tensão no ambiente era quase palpável. Mesmo com as palavras saindo de sua boca, algo me dizia que esse “acordo” estava longe de ser um fim. Era apenas o início.
Quando a porta se fechou atrás de Charles, deixando Mia ali, sozinha, no meu escritório, uma pergunta pairou na minha mente: até onde essa garota estava disposta a ir?
MIADe todas as coisas que idealizei para a minha vida, ser jogada em um clube para me prostituir estava em último lugar na lista. Ouso dizer que sequer estava na lista. Limpar cocô de pombo estaria acima disso.— O que vai acontecer comigo? — perguntei a Vittorio, o demônio que apareceu na minha vida e a destruiu por completo. — Vou morar nesse cassino?Vittorio negou com a cabeça, enquanto assinava alguns papéis de uma pasta azul.— De forma alguma — ele disse. — Você não teria serventia em um cassino, mas com uma saia de couro e um top brilhante, conseguiria muito dinheiro.Estremeci só de me imaginar com aquelas roupas.— Como quiser — murmurei. Olhei para o homem cujo rosto eu havia arranhado e franzi a testa para ele. — Algum problema?Um sorriso sinistro surgiu em seu rosto.— Nenhum — ele respondeu.Vittorio guardou os papeis na pasta e a deixou em cima da mesa. Seus olhos passaram por mim e ele soltou um suspiro.— Bom, meu trabalho aqui terminou. Preciso me encontrar com Mau
MIATentei abrir os olhos, mas a luz forte me atingiu de imediato, me forçando a fechar as pálpebras novamente. Pisquei, tentando me ajustar à claridade. Cada piscada aumentava a dor na cabeça, mas eu precisava saber onde estava. Respirei fundo e, finalmente, consegui focar o olhar ao meu redor.O lugar era pequeno e sufocante, com paredes de um bege antigo, descascadas em alguns pontos, revelando manchas de mofo e umidade. O cheiro era horrível, uma mistura de perfume barato e suor que me fez querer vomitar. As cortinas de veludo vermelho, gastas e sujas, pendiam das janelas minúsculas, bloqueando qualquer chance de luz natural. A única iluminação vinha de uma lâmpada no teto, piscando como se estivesse prestes a apagar a qualquer momento. Isso só deixava tudo mais sombrio e assustador.Olhei ao redor e vi camas de metal espalhadas pela sala, os colchões eram finos e nojentos, como se nunca tivessem sido limpos. Roupas estavam jogadas por todo lado — lingeries e sapatos de salto alto
MIAAssim que me vesti com a nova persona, segui Becky pelo corredor, onde luzes fluorescentes vermelhas lançavam sombras ameaçadoras nas paredes. O lugar parecia vivo, pulsando com sons que me faziam querer fugir. De trás das portas, o que eu ouvia me embrulhava o estômago. Risadas, gemidos, gritos de desespero. O caos abafado daqueles quartos era sufocante. Não podia me permitir imaginar o que se passava lá dentro. O corredor, de repente, parecia apertado demais, e uma sensação de claustrofobia tomou conta de mim, me afogando em pavor.— Mantenha a calma — murmurou Becky, apertando minha mão.— Sem conversinhas — o segurança latiu, friamente.O som dos nossos saltos no piso metálico da escada em espiral ecoava como um relógio que contava o tempo até algo inevitável. Quando descemos, o ambiente mudou, tornando-se ainda mais opressor. O segurança nos guiou até uma porta pesada, de onde eu já podia ouvir a música pulsante e risadas que soavam distantes, abafadas. Pela fresta da porta,
MIAMeu pai estava morto, e Vittorio era o assassino. Tive certeza disso assim que nossos olhares se cruzaram.Engoli o choro com força, apertando a bandeja até meus dedos doerem. Com passos firmes e decididos, caminhei pelo salão. A cada sorriso falso que eu forçava, a cada impulso de me encolher e chorar, um pensamento me mantinha em pé: meu plano de fuga.Eu não ficaria ali. Não com meu pai morto.— Venha — a voz de Becky me puxou de volta à realidade, sua mão segurando meu braço com urgência. — Vittorio quer ver como você se sai na dança.Sem pensar duas vezes, peguei as últimas cinco tequilas da bandeja e engoli de uma só vez, como se fosse água. O líquido queimou minha garganta, mas levou junto a vergonha e a timidez que costumava sentir. O álcool se misturava ao ódio que corria nas minhas veias, inflamando a coragem que antes eu não tinha.Eu seria a ruína de Vittorio, o Diabo.A música reverberava por toda a boate, uma batida pesada que parecia pulsar dentro de mim. A luz verm
MIAElijah sorriu, sua expressão se iluminou com a possibilidade de uma dança particular. Ele se inclinou para mais perto, e eu me deixei levar pela adrenalina da situação, alimentando meu plano de fuga.— Onde podemos fazer isso? — perguntei, olhando para Vittorio, desafiando-o silenciosamente. Era uma forma de cortar as amarras que ele tentava me impor, um ato de rebeldia que alimentava meu desejo de vingança.Vittorio hesitou, avaliando a cena diante dele. Sabia que, ao me deixar ir, ele estava permitindo que eu me aproximasse do perigo, que eu fizesse minhas próprias escolhas. Em um lugar como aquele, a liberdade tinha um preço, e eu estava disposta a pagá-lo, mesmo que isso significasse flertar com o abismo.— No andar de cima — ele finalmente disse, a voz baixa, mas firme. — Não se esqueça de quem você é, Mia.Aquelas palavras ecoaram em minha mente, mas, em vez de me intimidar, me motivaram. Eu não era mais a mesma garota que ele conheceu. Compreendi que, naquele mundo, você ou
VITTORIOA ousadia de Mia me incomodava mais do que eu estava disposto a admitir. A garota assustada que havia chegado desapareceu. Agora, ela parecia ter encontrado uma confiança nova, uma audácia que cresceu depois do mal-entendido sobre a morte de Charles.Eu planejava contar a verdade para Mia, mas apenas no momento certo. Sabia que havia algo muito maior e mais perigoso por trás de suas ações. A forma como ela aceitou dançar para Elijah me parecia uma provocação calculada, e a sensação de que estava sendo manipulado corroía meu orgulho. Nem o gosto ardente do uísque que descia pela minha garganta era capaz de acalmar o desconforto que tomava conta de mim.Para piorar, Don Mauricio resolveu aparecer na minha boate. Ele tinha um talento único para surgir nos momentos mais inoportunos, sempre com aquele olhar de quem tinha visto tudo. Estava lá para garantir que eu não tomasse mais nenhuma decisão importante sem sua bênção. Sentado no meu escritório, eu sentia o peso do julgamento n
MIADepois que o impacto de ter matado alguém se dissipou, o desespero de ser pega se instalou como uma sombra opressiva. Eu sabia que precisava sair daquele lugar o mais rápido possível. Se Vittorio descobrisse o que eu fiz, com certeza seria morta, assim como meu pai fora.A primeira coisa que fiz foi pegar o dinheiro de Elijah e juntá-lo com toda a grana que haviam colocado no cós da minha saia. Embolei todo o dinheiro e enfiei dentro do meu top. Para meu alívio, a porta estava trancada; eles demorariam um tempo até conseguirem entrar no quarto.Eu precisava encontrar uma maneira de fugir sem que soubessem para onde eu tinha ido. E eu iria usar a única câmera naquele quarto a meu favor.Caminhei a passos largos até a janela, que, infelizmente, estava fechada, mas tinha um vid
VITTORIOSeis meses se passaram desde a fuga de Mia, e tudo o que eu conseguia pensar era que meus inimigos agora tinham um motivo para rir de mim. E que Don Maurício estava furioso.Mia era só uma mulher comum, então como ela conseguiu fugir tão facilmente e se manter escondida por tanto tempo? Ou talvez Mia não fosse quem dizia ser?Desde que aquela diabinha fugiu, eu simplesmente não consegui sossegar. Sabia que só ficaria aliviado no momento em que a encontrasse, porque ninguém me humilhava daquele jeito. Ninguém me transformava em piada.Nos três primeiros meses, eu a procurei com a desculpa de que ninguém brinca com a Cosa Nostra. Mas agora, minha motivação era outra. Eu queria provar para aquela garotinha idiota que ela nunca seria mais