Nota da autora: Dois meses se passaram desde o fim do estágio. Luna, Isadora, Bruno, Letícia e Marcos foram efetivados como desenvolvedores do app de bem-estar na Stuart & Co. Apesar de não serem mais estagiários, a rotina da equipe se manteve intensa. A responsabilidade aumentou — assim como a visibilidade. E com isso, os riscos. ⸻ Sexta-feira / Faculdade / Sala do grupo de desenvolvimento O silêncio era denso. Letícia folheava uma revista sem realmente ler, Bruno tamborilava os dedos na mesa, e Isadora olhava para Luna com o cenho franzido. Luna respirou fundo. Havia praticado o que queria dizer, mas as palavras pareciam evaporar quando encarava os olhos das pessoas que estiveram ao seu lado por tanto tempo. — Foi o Marcos. — disse, de uma vez só. — Ele descobriu sobre a minha vida fora daqui. Tentou me chantagear. E quando eu me recusei a ceder… ele ameaçou vazar tudo. Isadora arregalou os olhos. — Meu Deus… Luna. — Ele está suspenso, a empresa abriu investigação interna e
Sábado / Início da tarde / Apartamento de Sophia Luna estava sentada no sofá, com o notebook apoiado nas pernas. O sol atravessava as cortinas finas e riscava seu rosto de luz e sombra. Sophia, de pé ao lado da mesa de jantar, falava baixo ao telefone com alguém da área de cibersegurança da empresa. — Quero o rastreamento completo. IP, provedor, localização. Se essa conta tiver qualquer histórico em nossa rede, rastreiem. Nome da conta: Dark_Observer. Prioridade máxima. — ela fez uma pausa, ouvindo. — Obrigada, Amanda. Me avise assim que tiver qualquer retorno. Luna fechou o notebook devagar. — Eles vão conseguir? Sophia caminhou até ela e se sentou ao seu lado. — Não sei. A pessoa por trás dessa conta é cuidadosa. Usa redes privadas, não interage diretamente, só observa. Mas agora que mandou mensagem, deixou rastro. Vamos seguir isso. Luna olhou para as próprias mãos. — Sabe… eu achei que depois que eu te contasse tudo, depois que eu deletasse minha conta, o pior tive
“O mundo era como uma bomba-relógio, prestes a explodir.” Luna Ferreira : Luna caminhava descalça pelas ruas da cidade, os pés desprotegidos tocando o asfalto frio, sentindo cada pedrinha como um lembrete de sua própria vulnerabilidade. O céu estava encoberto, carregado, como se refletisse seu estado de espírito. Sentia-se esmagada por uma solidão que não pedia licença, uma presença constante que a seguia por onde quer que fosse. O peso do desespero se agarrava a seus ombros, tornando cada passo uma luta silenciosa. O bullying na escola havia se tornado uma rotina cruel, um ciclo sem fim. Risadinhas abafadas nos corredores, mensagens maldosas deixadas em sua mesa, empurrões discretos que os professores fingiam não ver. A indiferença dos adultos era o que mais a fería. Não era apenas o desprezo dos colegas — era o silêncio cúmplice daqueles que deveriam protegê-la. Era como gritar em um quarto vazio, esperando que alguém ouvisse. Chegar em casa não trazia alívio. O apartamento
A casa estava em silêncio. Luna sentia o coração disparado como se estivesse prestes a cometer um crime. A fantasia de coelha, guardada no fundo do armário desde os tempos em que as festas pareciam um sonho distante, agora era sua única armadura. Ela a vestiu com mãos trêmulas. A meia arrastão subiu devagar por suas pernas pálidas. O body preto moldava suas curvas com precisão e as orelhas de pelúcia no topo da cabeça conferiam um ar de doçura dissonante com a tensão que preenchia o quarto. A câmera foi posicionada de modo que seu rosto permanecesse oculto pelas sombras e pelos efeitos suaves do aplicativo. O corpo, no entanto, era protagonista. A pele alva, o quadril marcado, os gestos tímidos a princípio. Mas com o passar dos minutos, algo nela começou a mudar. A transmissão começou. As notificações de espectadores apareciam como pequenas batidas no coração. Ela passou a mão pelos próprios braços, depois pelo pescoço, descendo lentamente até os seios cobertos apenas por renda. Se
Luna permaneceu imóvel por longos segundos depois que a live foi encerrada. A respiração ofegante ainda martelava contra o silêncio do quarto. As mãos, agora paradas sobre os próprios joelhos, tremiam levemente — não de medo, mas de uma excitação nova, diferente de tudo o que já sentira. Um tipo de poder pulsando sob a pele. Ela nunca imaginara que o toque sobre si mesma, transmitido por uma câmera barata e embalado por uma fantasia de coelha, pudesse provocar tamanha reação — não só em quem a assistia, mas nela própria. O corpo ainda vibrava com os ecos do prazer, mas era a mente que parecia em combustão. Ela se levantou devagar, tirando a meia arrastão como quem desfaz um feitiço. A roupa colava à pele úmida, e quando passou o tecido frio de um lenço umedecido entre as pernas, estremeceu de novo, lembrando-se do momento exato em que percebeu… havia alguém do outro lado que realmente a via. A notificação tinha surgido entre centenas. Um valor alto, acompanhado de uma frase simples
A manhã nasceu abafada, típica de um fim de primavera que se arrasta preguiçosamente até o verão. Luna saiu de casa com os cabelos presos num coque frouxo e uma mochila surrada pendendo de um ombro. O uniforme escolar — amassado, ajustado com pequenos remendos — parecia um lembrete silencioso de todas as vezes que ela precisou se virar sozinha. Era seu último dia de aula. Um peso e um alívio. Ela caminhava pela calçada tentando manter o olhar baixo. O som das risadas de um grupo ao longe já bastava para fazer seu estômago se contrair. As valentonas — sempre em grupo, sempre maquiadas como se estivessem indo a um desfile — ainda estavam por ali. Luna evitou o corredor central e seguiu pelos fundos do prédio, atravessando a quadra de cimento rachado. Por fora, ninguém dizia nada. Por dentro, ela contava os segundos. Luna sabia que deveria estar empolgada. O mundo se abria em possibilidades, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia-se perdida. A faculdade parecia um horizon
Fazia três dias desde a última live. Luna ainda sentia a eletricidade daquela noite correr por sua pele, como se cada centímetro de seu corpo tivesse memorizado os olhares invisíveis que a observavam pela câmera. Mas depois daquilo, ela precisou de silêncio — um respiro. O jantar completo foi como um rito de passagem. Assou o frango com carinho, saboreou cada garfada como se fosse um banquete, brindou consigo mesma com o vinho barato. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se adulta. Sentiu-se viva. Mas agora, o vazio digital começava a doer. Seu perfil estava lotado de mensagens, curtidas e uma chuva de novas inscrições. Entre todas, um nome brilhava com frequência: LadyInSilk. Não mandava palavras, só reações, doações generosas, curtidas rápidas. Silêncio carregado de expectativa. E algo mais. Algo que Luna começava a reconhecer… desejo de posse. Na manhã do terceiro dia, acordou decidida. Entrou num site de bolsas estudantis e, após muita pesquisa e uma madrugada insone, fez
A respiração de Sophia pesava. Os olhos não piscavam. O corpo, agora espraiado pelo sofá, era só calor, arrepio e impulso. O som da live enchia o ambiente com sussurros e gemidos cristalinos — cada um penetrando fundo, tocando lugares que ela mantinha trancados sob a couraça de sua vida corporativa. As luzes do apartamento estavam baixas, o gelo do gin derretia devagar. Sophia afastou a saia do vestido, deixou a bebida sobre a mesinha de centro e escorregou os dedos por debaixo da calcinha preta de seda. Sentiu a pele úmida, quente, receptiva. Na tela, Luna ofegava, os lábios entreabertos, o dildo ainda pulsando entre as pernas, agora mais devagar, como se saboreasse a própria rendição. A câmera tremia um pouco — talvez pelas mãos instáveis da garota, talvez pela intensidade do momento. — Gostaram de me ver assim, hein…? — Luna sorriu, meio sem fôlego. — Nunca tinha sentido isso antes… foi diferente. Sophia mordeu o lábio. Estava prestes a atravessar aquela linha tênue entre espe