Luke
Voltei ao meu cubículo e continuei com o meu trabalho após comer. Alguns dias se passaram até eu ver Eva novamente. Como na noite em que a conheci, ela estava sentada na sala de espera, fazendo a sua lição, enquanto aguardava pelo pai. E foi assim que sempre a encontrei. Jogada pelos cantos, esperando por Arthur ou por alguém que pudesse ir buscá-la.
— Oi.
— Oi, Eva! Como foi a aula de verão hoje? — Virei a minha cadeira para ela, que estava parada na entrada da minha baia.
— Foi um saco. — Sorriu.
— Quer ajuda com a lição?
— Não. Faço em casa quando chegar. A minha mãe disse que virá me buscar quando sair do tribunal.
— Legal. Quer ir almoçar?
— Não. O meu pai pediu para que eu não saía do prédio.
— Já sei como resolver isso. E se deixarmos um recado com a secretária do seu pai? Assim, quando ele se desocupar, vai saber onde e com quem você estará. — Estendi a minha mão para ela. — Vamos, Eva. Precisa comer, já são uma hora da tarde.
Ela olhou para os lados e encarou a minha mão estendida, antes de agarrá-la.
— Tudo bem.
Após avisarmos a secretária de Arthur, saímos em direção ao meu carro estacionado do outro lado da rua. Fomos até uma pizzaria ali perto e pedimos uma pizza grande de pepperoni. Das nossas mãos escorriam gordura e as nossas bocas estavam sujas de azeite e molho. Comíamos como dois famintos desesperados, rindo da nossa lambança.
— Luke?
Olhei para o lado e vi Allison, minha ex-namorada.
— Oi, Allison.
— Nossa... Você fica bem diferente vestindo um terno.
Forcei um sorriso e olhei novamente para a comida nas minhas mãos.
— Os meninos me disseram que você vai para Nova Iorque.
— É, eu vou.
— Legal — disse desconcertada. — Amiga nova? — Olhou para Eva.
— Sim. Esta é a Eva.
— Oi — cumprimentou ela.
— Você é uma gracinha — elogiou Allison.
— Obrigada.
— Bom... Eu só queria dizer um oi e... saber como você está.
— Estou bem, obrigado.
— Certo. Eu tenho que ir. A gente se vê por aí?
— Creio que não. Vou para a faculdade em duas semanas e tenho trabalhado muito.
— Podemos sair para tomar um sorvete depois?
— Não vai dar. Já combinei com a Eva de irmos tomar sorvete mais tarde. — Allison olhou para Eva em busca de confirmação.
— É verdade, a gente combinou — Eva afirmou a minha mentira e sorriu para mim.
— Okay. Eu vou indo. Divirta-se com a sua nova amiguinha — ironizou e saiu.
— Valeu, Eva.
— Não tem que agradecer — riu. — Acho que ela ficou chateada.
— Ela supera. — Pisquei para ela.
— Vocês eram namoradinhos? — zombou.
Gargalhei.
— Sim. Mas ela terminou comigo antes do baile de formatura. Disse que não queria namorar a distância, já que vamos para faculdades diferentes — expliquei, por mais que eu achasse que Eva era nova demais para entender o fim complicado do meu relacionamento de três anos.
Eu realmente amava a Allison, mas o modo e o seu motivo para o término não me foram convincentes o suficiente. Já havíamos conversado sobre a nossa ida à faculdade. Tínhamos nos resolvido. Nós nos veríamos em todas as férias de verão e feriados. Mas ela apareceu na minha casa e disse não poder lidar com a distância, alegando que iria sofrer com a insegurança.
“Porra! Insegurança? O que mais eu precisava fazer para que ela sentisse e acreditasse no meu amor?”
Eu já havia feito planos e ela tinha conhecimento de cada um deles. No entanto, nos últimos dias do verão, ela começou a mandar algumas mensagens dizendo sentir saudades. Também sentia, mas achava melhor que as coisas ficassem como estavam.
— A distância não devia ser um obstáculo para ficar com quem se ama.
Sorri surpreso. Apesar da tão pouca idade, Eva tinha mais consciência sobre o amor do que Allison.
— Sabe de uma coisa, Eva... Você e eu seremos grandes amigos para sempre.
— A minha mãe diz que para sempre é muito tempo.
Sorri.
— Então seremos amigos por muito tempo.
Estendi a palma da mão engordurada na sua direção para um hi-five, que ela aceitou causando um barulho alto e estalado.
— Termine de comer. Vou levar você para tomar o melhor sorvete da cidade.
— Onde?
— No parque.
— O meu favorito é de chocolate.
— O meu é de frutas vermelhas.
Eva— Sua safada! Quem usa um decote desses para ir tomar sorvete no parque?— Pare, Ellen! Você sabe que Luke e eu somos apenas amigos. E depois... o meu decote nem está tão grande assim. — Cobri com a mão o decote em "V" do vestido.Estava sentada à minha mesa de estudos, enquanto falava pelo Skype com a minha amiga que viajava com os pais pela Europa.— Melhor amigo... Sei. Você já contou para ele sobre o Michael?— Não.— Não entendo... vocês contam “tudo” — fez aspas com os dedos — um para o outro, mas teve medo de contar sobre a tatuagem e sobre ter perdido a virgindade no Quatro de Julho.— Eu acho que ele vai ficar bravo com a tatuagem, e não quero ver Luke assim.— E por acaso ele já ficou bravo com você alguma vez? — desdenhou.— Já! E não foi legal. — Abaixei a cabeça, lembrando-me do fatídico dia em que vi Luke bravo comigo pela primeira e única vez.***Eu tinha dez anos e, como sempre na minha infância, esperava por meu pai na sala de espera da empresa até que ele termin
EvaAo chegarmos no parque, eu não acreditei na imensa pista que montaram naquele ano. Eu não conseguia parar de pular. Patrick se afastou e logo voltou com dois pares de patins. Ele me sentou na mureta alta de proteção e os calçou nos meus pés. Após fazer o mesmo nele, entramos e começamos a patinar. Estava sendo muito divertido. Ele me girava e ensinou-me a deslizar somente em um pé.A noite caiu, e eu me assustei percebendo o quanto já estava tarde. As luzes fortes já haviam sido acesas em volta da pista. Parei bruscamente e olhei a minha volta procurando por Patrick, mas não o encontrei. Estava tão bom ali, que nem percebi quando ele parou de falar comigo e se afastou. Deixei a pista e me sentei no chão gelado, trocando os patins pelas minhas botas rasteiras de cano alto.— Onde está o seu amigo? — perguntei ao homem que alugava os patins.Ele me encarou com estranheza, franzindo o cenho.— Quem? — questionou confuso.— Patrick. O seu amigo.Ele negou com a sua cabeça.— Desculpe,
Luke— Pai, por favor! É só uma festa!— Eu já disse que não, Eva. Pare de insistir!— Eu já tenho dezoito anos, sabia? Vou para a faculdade em menos de três meses. Qual é o problema de eu ir para uma festa?— Ouvi a palavra festa? — perguntei ao entrar na sala do Arthur, sem aviso prévio. A discussão dava para ser ouvida do lado de fora.— Luke... Graças a Deus! — disse Arthur aliviado. — Tenho uma reunião agora e não tenho tempo para os chiliques da Eva. — Levantou-se apanhando algumas pastas sobre a mesa.— O que está acontecendo? — perguntei a ela, que me encarou de braços cruzados.— Tem uma festa no velho armazém e o meu pai não quer me deixar ir! O que é ridículo, porque tenho dezoito anos! — falou impaciente.— Eu concordo com ele, Eva. Já fui em festas neste lugar, na época do colégio, e não é um ambiente nada legal para uma moça como você.Ela me fuzilou com olhar.— Está vendo só, filha? Não é implicância minha. Você não vai e ponto final! — disse firme e deixou o escritóri
LukeContinuei a andar procurando por Eva ou um dos seus amigos para perguntar por ela, mas não vi ninguém. Demorei minutos até chegar ao meio do lugar, sendo espremido por um mar de gente suada, que pulavam gritando como loucos com a batida agitada da música. Andei um pouco mais e avistei uma bancada de ferro à frente. Sobre ela dançava duas moças de um jeito sensual, levando os moleques ao delírio.De repente, os meus punhos cerraram e a minha mandíbula contraiu, quase quebrando os meus dentes. Não podia ser... Não acreditava que era ela uma das moças que chamava a atenção dos marmanjos, fazendo os seus membros incharem dentro das malditas calças.— É isso ai, Eva! Tira blusa para a gente! — gritou um babaca ao meu lado.De costas para o seu “público”, ela segurou a barra da blusa e começou a puxá-la para cima, expondo a sua cintura modelada. A blusa foi arrancada para fora do corpo e arremessada para a multidão. Ela se virou de frente exibindo a sua barriga chapada e os seios farto
LukeTirei-a do carro e levei Eva para o quarto de hóspedes. Sentei-a na cama, retirei as suas botas de cano curto e a deixei ali. Ela encarava algum ponto à sua frente, dispersa, enquanto eu preparava o seu banho na banheira.— O seu banho está pronto. As toalhas estão em cima da bancada da pia.Ela assentiu de cabeça baixa, cobrindo o tórax com os braços. Parei diante dela e encarei a sua figura desprotegida. De repente, a menina que sensualizava minutos atrás para centenas de homens, havia ido embora e dado lugar a uma menina triste de oito anos. Parecia até que ela estava menor diante de mim.— Eu te amo, Eva. Sabe disso, não é? — Assentiu, mais uma vez. — Vou precisar que faça algo por mim... — Ela me olhou e o seu rosto estava vermelho, ainda banhado por lágrimas. — Preciso que preste queixa contra esse maldito.— Não! — discordou apavorada, levantando-se. — Os meus pais não podem saber, me matariam.— Borboleta... — Segurei o seu rosto entre as minhas mãos. — Eles não vão fazer
LukeEsperei por quase uma hora dentro do carro, até que Michael entrasse na sua caminhonete e dirigisse em direção à sua casa. Segui-o a uma distância segura para não ser notado. Ele parou em um drive-thru e após apanhar o seu pedido na segunda cabine, estacionou o seu carro no estacionamento quase vazio. Esperei pacientemente por ele descer em algum momento. Quando Michael saiu para dispensar o lixo, segui-o até a caçamba.— Michael Tiff? — chamei-o ao me aproximar.Ele se virou e me encarou de queixo erguido.— Quem quer saber? — perguntou com arrogância.— Não interessa quem sou! — Acertei-lhe um forte soco no seu rosto, fazendo-o bater com as costas contra a caçamba de lixo.— Qual é a sua, cara? — questionou, colocando a sua mão no nariz que sangrava.— Estou aqui para te ensinar uma lição, seu merda! — Acertei-lhe mais um soco, deixando um hematoma na maçã do seu rosto.Ele tentou revidar, mas me esquivei e o empurrei para trás.— Eu sei quem é você! É amigo da Eva. Foi ela quem
Eva— Pegue. — Luke entregou-me um frasco plástico com comprimidos. — Tome uma aspirina. Vai se sentir melhor.Tirei o comprimido do frasco e tomei-o junto ao copo d'água que ele me serviu.— Os meus pais sabem que estou aqui?— Sim. Eu falei com o seu pai ontem, depois que chegamos. Disse que a encontrei no drive-in com alguns amigos e te trouxe para cá. Inventei a desculpa de que vamos para a casa do lago hoje.— Você contou que bebi?— Não, Eva. Mas ainda posso contar a verdade e você estará ferrada.— Não faria isso. — Sorri com os olhos estreitados na sua direção.— Tem razão, eu não faria. — Encarou-me sério. — A não ser que você fuja de novo, deixando todo mundo preocupado.— Desculpa por ontem, eu só... — interrompi-me e respirei fundo. — Na verdade, sei lá o que eu queria enchendo a cara daquele jeito.— Também não sei o que queria bêbada e dançando seminua sobre uma coisa velha e enferrujada, correndo o risco de cair e se machucar.Cobri o rosto envergonhada, resmungando baix
EvaLuke sorriu e arrancou a sua camiseta. Em seguida, retirou a bermuda e os tênis, ficando somente de cueca boxer preta. Ele entrou e veio andando na minha direção arremessando água com as mãos.Começamos a brincar feito duas crianças fazendo “guerra” no lago, nos deixando de cabelos ensopados. Só se ouvia o barulho da água turva e as nossas risadas altas. Comecei a arremessar com mais agilidade contra o seu rosto. Luke caminhou rapidamente até mim. Tentei fugir, mas não consegui. Ele me agarrou por trás, prendendo os meus braços junto ao corpo.— Peguei você! Perdeu a brincadeira.— Não perdi, não! — Tentei me soltar, mas ele puxou-me mais contra o seu corpo.— Perdeu sim! — riu.— Tudo bem, aceito a derrota. Já venci outras vezes de você.— Ah, Eva, minha querida... Venceu, porque eu deixava você ganhar. O seu humor de perdedora é irritante. Agora que já tem dezoito anos, não tem mais esse privilégio. — Rimos.Luke desarrochou o aperto dos seus braços ao meu redor. Virei-me de fre