Eva
Ao chegarmos no parque, eu não acreditei na imensa pista que montaram naquele ano. Eu não conseguia parar de pular. Patrick se afastou e logo voltou com dois pares de patins. Ele me sentou na mureta alta de proteção e os calçou nos meus pés. Após fazer o mesmo nele, entramos e começamos a patinar. Estava sendo muito divertido. Ele me girava e ensinou-me a deslizar somente em um pé.
A noite caiu, e eu me assustei percebendo o quanto já estava tarde. As luzes fortes já haviam sido acesas em volta da pista. Parei bruscamente e olhei a minha volta procurando por Patrick, mas não o encontrei. Estava tão bom ali, que nem percebi quando ele parou de falar comigo e se afastou. Deixei a pista e me sentei no chão gelado, trocando os patins pelas minhas botas rasteiras de cano alto.
— Onde está o seu amigo? — perguntei ao homem que alugava os patins.
Ele me encarou com estranheza, franzindo o cenho.
— Quem? — questionou confuso.
— Patrick. O seu amigo.
Ele negou com a sua cabeça.
— Desculpe, querida. Não tenho um amigo chamado Patrick. Está perguntando por aquele homem que chegou com você?
— Sim. Onde ele está? — Um bolo de desespero se formava na minha garganta.
— Ele foi embora há uns dez minutos. Disse que deixou você com a sua mãe.
— A minha mãe não está aqui.
O homem me olhou preocupado e saiu de trás do balcão, abaixando-se à minha frente.
— Você sabe o número do telefone dos seus pais, docinho? Podemos ligar para eles virem buscar você. — Tirou o celular do bolso da sua jaqueta. Comecei a chorar e neguei com a cabeça. — Não chore, menina. Qual o seu nome?
— Eva — respondi-o em meio às lágrimas.
— Eva, quem são seus pais?
— Arthur e Jéssica Wangoria.
— Certo. Eu vou ligar para a polícia e eles vão encontrar os seus pais.
— Para a polícia? — perguntei assustada.
— A polícia são pessoas do bem. Vão cuidar de você e levá-la de volta para casa. Está bem?
Assenti.
Ele se levantou discando números na tela do celular e levou o aparelho até a orelha.
— Eva! — Um berro chamou por mim e eu me virei rapidamente.
— Luke... — Sequei as minhas lágrimas e sorri ao vê-lo correndo na minha direção.
— Graças a Deus! — Jogou-se de joelhos à minha frente e me abraçou apertado. — O que faz aqui? — Soltou-me.
— Eu vim com o Patrick.
— Patrick? Quem é Patrick?
— Amigo de trabalho do papai — funguei e sequei os meus olhos ainda molhados.
— O senhor é irmão da menina? — interrogou o homem que me ajudava há pouco.
— Sou amigo da família. Eu vou ligar para os pais dela.
— Você conhece esse rapaz, mocinha?
— Sim. Vou ficar bem com ele. Obrigada.
— Todos os dias somem crianças nesta cidade. Deviam ser mais atentos! — O homem chamou a atenção de Luke, que o ignorou.
— Os seus pais estão loucos atrás de você, Eva! Tem ideia de por quanto tempo você sumiu? — perguntou alto, segurando firme os meus ombros e chacoalhando-me um pouco. — Você deu um susto na gente! Nunca mais faça isso, nunca! — gritou. O seu rosto estava vermelho e a sua mandíbula contraída. O seu olhar era furioso, parecia me fuzilar em mente.
— Desculpe — sussurrei, com os olhos cheios de lágrimas novamente.
Luke nunca havia falado daquele modo comigo. Ele sempre me tratou com cuidado e carinho, mas, pela primeira vez, vi o seu lado nervoso e não me agradou. Senti medo. Porém, hoje entendo o porquê do seu estresse. Fui negligente e irresponsável. Ele havia ficado imensamente preocupado comigo.
— Nem todos os homens são como eu ou o seu pai, Eva. Existe gente ruim por aí. Você não pode sair com estranhos somente porque eles dizem conhecer a mim ou aos seus pais. Você entende isso? — Ainda apertava os meus ombros com certa força. — Me responde, Eva! — gritou outra vez. — Preciso saber se você entende isso? Existem homens maus! Pessoas más! E todos eles só se aproximam com sorrisos gentis e promessas boas. Tome cuidado!
Assenti.
Luke tinha razão. Nem todos os homens são bons. E anos mais tarde vivi isso novamente.
O homem que me levou ao parque se chamava Julius e havia sido demitido por meu pai naquele mesmo dia. Estava com raiva e queria se vingar de alguma forma. Talvez tivesse planos piores para mim e tenha desistido, ou talvez não. Quem sabe, só tinha a intenção de desesperar o meu pai.
***
— Beleza. Sobre a tatuagem, eu até entendo. Mas sobre o sexo, não. Vocês sempre falaram disso. Por que não quer contar a ele que perdeu a virgindade?
Respirei fundo e encarei a tela do laptop novamente.
— Estou com vergonha. — Sorri falsamente e ela nem se deu conta disso. — Há diferença entre você contar que fez sexo e falar sobre.
— Bobagem! Ele vai ficar chateado quando souber que escondeu isso dele. É sério! A amizade entre vocês dois tem dez anos, Eva, e não dez meses ou dez semanas. Se fosse eu ficaria puta com você.
— Eu sei... Vou conversar com ele, mas não agora. A gente se fala depois, tenho que ir. Tchau.
— Tchau.
Encerrei a videochamada e fechei o laptop. Eu queria contar ao Luke, queria mesmo. Mas como ele iria reagir quando soubesse que errei em confiar em um homem mau novamente e que, desta vez, ele não me largou sozinha no parque, ele me machucou?
Luke— Pai, por favor! É só uma festa!— Eu já disse que não, Eva. Pare de insistir!— Eu já tenho dezoito anos, sabia? Vou para a faculdade em menos de três meses. Qual é o problema de eu ir para uma festa?— Ouvi a palavra festa? — perguntei ao entrar na sala do Arthur, sem aviso prévio. A discussão dava para ser ouvida do lado de fora.— Luke... Graças a Deus! — disse Arthur aliviado. — Tenho uma reunião agora e não tenho tempo para os chiliques da Eva. — Levantou-se apanhando algumas pastas sobre a mesa.— O que está acontecendo? — perguntei a ela, que me encarou de braços cruzados.— Tem uma festa no velho armazém e o meu pai não quer me deixar ir! O que é ridículo, porque tenho dezoito anos! — falou impaciente.— Eu concordo com ele, Eva. Já fui em festas neste lugar, na época do colégio, e não é um ambiente nada legal para uma moça como você.Ela me fuzilou com olhar.— Está vendo só, filha? Não é implicância minha. Você não vai e ponto final! — disse firme e deixou o escritóri
LukeContinuei a andar procurando por Eva ou um dos seus amigos para perguntar por ela, mas não vi ninguém. Demorei minutos até chegar ao meio do lugar, sendo espremido por um mar de gente suada, que pulavam gritando como loucos com a batida agitada da música. Andei um pouco mais e avistei uma bancada de ferro à frente. Sobre ela dançava duas moças de um jeito sensual, levando os moleques ao delírio.De repente, os meus punhos cerraram e a minha mandíbula contraiu, quase quebrando os meus dentes. Não podia ser... Não acreditava que era ela uma das moças que chamava a atenção dos marmanjos, fazendo os seus membros incharem dentro das malditas calças.— É isso ai, Eva! Tira blusa para a gente! — gritou um babaca ao meu lado.De costas para o seu “público”, ela segurou a barra da blusa e começou a puxá-la para cima, expondo a sua cintura modelada. A blusa foi arrancada para fora do corpo e arremessada para a multidão. Ela se virou de frente exibindo a sua barriga chapada e os seios farto
LukeTirei-a do carro e levei Eva para o quarto de hóspedes. Sentei-a na cama, retirei as suas botas de cano curto e a deixei ali. Ela encarava algum ponto à sua frente, dispersa, enquanto eu preparava o seu banho na banheira.— O seu banho está pronto. As toalhas estão em cima da bancada da pia.Ela assentiu de cabeça baixa, cobrindo o tórax com os braços. Parei diante dela e encarei a sua figura desprotegida. De repente, a menina que sensualizava minutos atrás para centenas de homens, havia ido embora e dado lugar a uma menina triste de oito anos. Parecia até que ela estava menor diante de mim.— Eu te amo, Eva. Sabe disso, não é? — Assentiu, mais uma vez. — Vou precisar que faça algo por mim... — Ela me olhou e o seu rosto estava vermelho, ainda banhado por lágrimas. — Preciso que preste queixa contra esse maldito.— Não! — discordou apavorada, levantando-se. — Os meus pais não podem saber, me matariam.— Borboleta... — Segurei o seu rosto entre as minhas mãos. — Eles não vão fazer
LukeEsperei por quase uma hora dentro do carro, até que Michael entrasse na sua caminhonete e dirigisse em direção à sua casa. Segui-o a uma distância segura para não ser notado. Ele parou em um drive-thru e após apanhar o seu pedido na segunda cabine, estacionou o seu carro no estacionamento quase vazio. Esperei pacientemente por ele descer em algum momento. Quando Michael saiu para dispensar o lixo, segui-o até a caçamba.— Michael Tiff? — chamei-o ao me aproximar.Ele se virou e me encarou de queixo erguido.— Quem quer saber? — perguntou com arrogância.— Não interessa quem sou! — Acertei-lhe um forte soco no seu rosto, fazendo-o bater com as costas contra a caçamba de lixo.— Qual é a sua, cara? — questionou, colocando a sua mão no nariz que sangrava.— Estou aqui para te ensinar uma lição, seu merda! — Acertei-lhe mais um soco, deixando um hematoma na maçã do seu rosto.Ele tentou revidar, mas me esquivei e o empurrei para trás.— Eu sei quem é você! É amigo da Eva. Foi ela quem
Eva— Pegue. — Luke entregou-me um frasco plástico com comprimidos. — Tome uma aspirina. Vai se sentir melhor.Tirei o comprimido do frasco e tomei-o junto ao copo d'água que ele me serviu.— Os meus pais sabem que estou aqui?— Sim. Eu falei com o seu pai ontem, depois que chegamos. Disse que a encontrei no drive-in com alguns amigos e te trouxe para cá. Inventei a desculpa de que vamos para a casa do lago hoje.— Você contou que bebi?— Não, Eva. Mas ainda posso contar a verdade e você estará ferrada.— Não faria isso. — Sorri com os olhos estreitados na sua direção.— Tem razão, eu não faria. — Encarou-me sério. — A não ser que você fuja de novo, deixando todo mundo preocupado.— Desculpa por ontem, eu só... — interrompi-me e respirei fundo. — Na verdade, sei lá o que eu queria enchendo a cara daquele jeito.— Também não sei o que queria bêbada e dançando seminua sobre uma coisa velha e enferrujada, correndo o risco de cair e se machucar.Cobri o rosto envergonhada, resmungando baix
EvaLuke sorriu e arrancou a sua camiseta. Em seguida, retirou a bermuda e os tênis, ficando somente de cueca boxer preta. Ele entrou e veio andando na minha direção arremessando água com as mãos.Começamos a brincar feito duas crianças fazendo “guerra” no lago, nos deixando de cabelos ensopados. Só se ouvia o barulho da água turva e as nossas risadas altas. Comecei a arremessar com mais agilidade contra o seu rosto. Luke caminhou rapidamente até mim. Tentei fugir, mas não consegui. Ele me agarrou por trás, prendendo os meus braços junto ao corpo.— Peguei você! Perdeu a brincadeira.— Não perdi, não! — Tentei me soltar, mas ele puxou-me mais contra o seu corpo.— Perdeu sim! — riu.— Tudo bem, aceito a derrota. Já venci outras vezes de você.— Ah, Eva, minha querida... Venceu, porque eu deixava você ganhar. O seu humor de perdedora é irritante. Agora que já tem dezoito anos, não tem mais esse privilégio. — Rimos.Luke desarrochou o aperto dos seus braços ao meu redor. Virei-me de fre
LukeEu conhecia Eva muito bem para saber que aqueles eram sinais de alegria extrema. Tão bem que, mesmo com passar do tempo, ainda sabia ver que ela estava feliz naquele momento brincando comigo dentro da água.Quando a agarrei, trazendo-a para junto do meu corpo, senti uma corrente elétrica descer da cabeça aos pés. O meu coração batia tão rápido, que parecia que iria parar a qualquer segundo. Senti-me abalado, como se tivesse realmente tomado um choque de um fio desencapado. A minha garganta secou e as minhas mãos estremeceram.Eva diminuiu o seu sorriso de alegria radiante e deslizou minuciosamente os seus olhos por meu rosto. Os seus pensamentos pareciam tão distantes e tão perto ao mesmo tempo... De repente, não queria mais soltá-la. Queria mais dela. Desejava os seus lábios nos meus.“Meu Deus! Será que devo? Por que me sinto fraco com esse desejo? E se ela me odiar por isso? Está ficando mais forte do que eu. Não consigo correr ou ao menos me afastar. Me ajude!”— Não me odeie
Luke— Precisamos ir devagar. E-eu... Eu tenho medo, Eva.— Mas não precisa ter. Luke... Eu amo você! Não sou de vidro, não vou quebrar. Me amar como mulher, inclui fazermos isso também.— Eu sei. É só que... vamos devagar. Está bem?Ela sorriu e assentiu.— Não temos que fazer sexo agora, e está tudo bem. Faremos quando você estiver menos perturbado e não ver mais a situação como se estivesse deflorando a sua amiguinha. — Sorriu tensa.— Certo... — Senti-me um pouco aliviado.Puxando a cueca, guardei o meu membro.— Ainda podemos ficar juntos e nos beijar, não é?— Podemos, sim. Vem aqui... — Puxei-a pela nuca, trazendo a sua boca até a minha.***Eva Eu passei uma tarde inteira beijando Luke e rezando para não ser um sonho. Queria mais do que tudo no mundo que nós não tivéssemos que ir embora. Ele beijava tão bem. Tinha uma boca tão perfeita e gostosa, que superou a minha imaginação e expectativa.Respeitei os seus limites. Ele não queria sexo naquele momento e por mim estava tudo