EvaMais tarde, já na minha cama, uma batida soou do outro lado da porta. Ao abri-la, lá estava Will do outro lado. Sem esperar que eu dissesse nada, ele entrou e me surpreendeu com um beijo profundo que tinha gosto de desespero. Os seus braços me apertavam contra o seu corpo, como se a qualquer instante eu fosse desaparecer.Já estava quase sem fôlego quando ele se afastou soltando os meus lábios. Senti-me atordoada. Respirei fundo e o olhei espantada.— O que foi isso? — perguntei sem ar.Ele analisou-me meticulosamente, sem pressa. O seu olhar entristeceu.— Você não sente — constatou, aos sussurros.— Não sinto o quê? Do que está falando, Will?— Não sente por mim o que sente por ele.Desviei os meus olhos dos seus.— Will...— Eva, olhe para mim — pediu, interrompendo-me.Tomei coragem e o encarei.— Nunca vai me amar como o ama, eu sei. Posso sentir. E quer saber? Está tudo bem. — Acariciou o meu rosto.— Desculpe. — Os meus olhos se encheram de lágrimas.— Não tem que se descul
Eva Os dias decorreram e uma semana se foi. Pensei em mil coisas e em mil maneiras de procurar por Luke. Eu e a minha mãe voltamos para a nossa cidade. Passaríamos juntas o réveillon, mas com a companhia do Kurt, é claro. Ele era um cara incrível. Fazia a minha mãe rir o tempo todo e isso me deixava muito feliz.Era o último dia do ano. Faltavam exatamente uma hora para aquele ano acabar. Eu estava sentindo um misto maluco de ansiedade e angústia. Andava de um lado para o outro. Não conseguia me manter sentada. O meu corpo parecia estar vibrando em eletricidade.Em um rompante de um segundo, deixei a sala sem chamar a atenção dos dois, que riam baixinho de pé em frente à lareira. No hall, peguei a chave do meu carro, celular, o casaco e caminhei em direção à porta.— Aonde vai? — perguntou a minha mãe, vindo atrás de mim.— Desculpe, mãe. Mas eu preciso ir. — Beijei o seu rosto. — Feliz Ano-Novo.Saí rapidamente, sem lhe dar mais tempo para me questionar. Entrei no meu carro, liguei
Eva Acordei e senti o lado esquerdo da cama vazio. Abri os olhos e estava só no quarto. Levantei-me, vesti uma camisa sua e desci. Na cozinha, encontrei Luke escorado ao balcão, tomando café em uma xícara.— Bom dia. — Abracei-o e fui correspondida.Respirei fundo o seu cheiro de pós-banho e beijei o seu peitoral nu. Luke acariciou as minhas costas e beijou o topo da minha cabeça.— Senti saudade disso.— Eu também senti — ele respondeu.Respirou fundo com pesar e me apertou ainda mais nos seus braços. Percebi haver algo errado. Olhei-o.— O que tem de errado, Luke?— Não podemos, Eva. — Os seus olhos se encheram de lágrimas.O meu coração se partiu. Afastei-me um pouco e o encarei confusa.— Como assim? Claro que podemos, Luke! É o Will? Ele foi embora. Percebemos que não temos nada a ver um com o outro. Você é o meu par, Luke. Sempre foi! — disse desesperada.— Eva... Estou doente. Essa doença maldita está dentro de mim! A qualquer momento posso começar a me esquecer de tudo, esque
Luke Dois meses depois...De mãos dadas com Eva, deixamos o tribunal. Enfim, o julgamento contra Tiff havia terminado. O pai tentou livrar a cara do filho a todo custo, mas a justiça do homem foi feita. Ele pagaria por todos os crimes sexuais e de agressão que ficaram comprovados. Cinquenta e três anos de cadeia seria seu futuro. Cada um faz as suas escolhas.Jéssica cumpriu com aquilo que prometeu. Ela sorriu feliz e aliviada ao sair do tribunal. Não foi fácil descobrir sobre o que a filha havia passado. Era difícil para todos nós, menos para Arthur, que fez questão de não aparecer em nenhum dos julgamentos. Nem sequer ligou para a filha para saber como ela estava passando com tudo aquilo. Cretino! Mas o que era dele, a vida se encarregaria de lhe dar. E já estava lhe dando, começando pela multa que ele passaria o resto da vida pagando, pelo crime de venda de informações privadas. Sorte a sua não ter ido fazer companhia para Tiff em uma cela.Alguns dias depois, após visitar o meu p
LukeSete semanas depois, Eva e eu estávamos morando juntos. Eu não acreditava que a vida a dois poderia ser perfeita, mas estava enganado. Tínhamos os nossos pequenos desentendimentos por causa de bobagens, como: toalha molhada sobre a cama, tampa do vaso aberta, caneca suja sobre a mesa, entre outras coisas tolas. Mas, segundos depois, já estávamos nos braços um do outro, onde era o nosso lugar.Eva me ajudava com a parte financeira da Click Design & Publicidade. Ela era meu braço direito nos negócios e virava noites de fim semana trabalhando ao meu lado. Pouco a pouco, com o passar do tempo, estávamos conquistando o mercado e chegando ao topo.Deixei o nosso escritório no apartamento e caminhei para a sala. Eva estava terminando de montar a árvore de Natal. Aquele seria nosso segundo Natal no nosso lar e, pela primeira vez, receberíamos os familiares.Eu estava ansioso. Amber deixaria Anthony conosco durante todo o feriado até o réveillon, quando retornaria de Las Vegas com o namora
— Frutas vermelhas para você e de chocolate para mim.— Por que você sempre pede de chocolate? — perguntei, risonho.— Pelo mesmo motivo que você sempre pede de frutas vermelhas. — Ela sorriu e me entregou a casquinha com duas bolas de sorvete, sentando-se ao meu lado no banco da praça. — Não acredito que esse é o nosso último verão antes de eu ir para a faculdade.— Você vai curtir a faculdade. Será a melhor época da sua vida, acredite em mim.— Ah... eu não sei. E se eu não gostar de estar longe de casa? Longe de você, principalmente?— Você vai gostar de ir para Boston. Fará novos amigos e, no próximo verão, estará de volta. E não vamos nos esquecer dos feriados, como: Ação de Graças, Natal, Ano-Novo e Páscoa.— Vai atender sempre que eu te ligar?Olhei-a e vi um pouco de receio, ou seria medo no seu olhar?— Isso não vai mudar, Eva. Eu e você nunca iremos mudar.Um sorriso se abriu. Os seus olhos, que mais se pareciam com duas pedras límpidas de esmeraldas, iluminaram-se com a luz
LukeVoltei ao meu cubículo e continuei com o meu trabalho após comer. Alguns dias se passaram até eu ver Eva novamente. Como na noite em que a conheci, ela estava sentada na sala de espera, fazendo a sua lição, enquanto aguardava pelo pai. E foi assim que sempre a encontrei. Jogada pelos cantos, esperando por Arthur ou por alguém que pudesse ir buscá-la.— Oi.— Oi, Eva! Como foi a aula de verão hoje? — Virei a minha cadeira para ela, que estava parada na entrada da minha baia.— Foi um saco. — Sorriu.— Quer ajuda com a lição?— Não. Faço em casa quando chegar. A minha mãe disse que virá me buscar quando sair do tribunal.— Legal. Quer ir almoçar?— Não. O meu pai pediu para que eu não saía do prédio.— Já sei como resolver isso. E se deixarmos um recado com a secretária do seu pai? Assim, quando ele se desocupar, vai saber onde e com quem você estará. — Estendi a minha mão para ela. — Vamos, Eva. Precisa comer, já são uma hora da tarde.Ela olhou para os lados e encarou a minha mão
Eva— Sua safada! Quem usa um decote desses para ir tomar sorvete no parque?— Pare, Ellen! Você sabe que Luke e eu somos apenas amigos. E depois... o meu decote nem está tão grande assim. — Cobri com a mão o decote em "V" do vestido.Estava sentada à minha mesa de estudos, enquanto falava pelo Skype com a minha amiga que viajava com os pais pela Europa.— Melhor amigo... Sei. Você já contou para ele sobre o Michael?— Não.— Não entendo... vocês contam “tudo” — fez aspas com os dedos — um para o outro, mas teve medo de contar sobre a tatuagem e sobre ter perdido a virgindade no Quatro de Julho.— Eu acho que ele vai ficar bravo com a tatuagem, e não quero ver Luke assim.— E por acaso ele já ficou bravo com você alguma vez? — desdenhou.— Já! E não foi legal. — Abaixei a cabeça, lembrando-me do fatídico dia em que vi Luke bravo comigo pela primeira e única vez.***Eu tinha dez anos e, como sempre na minha infância, esperava por meu pai na sala de espera da empresa até que ele termin