Luke
— Pai, por favor! É só uma festa!
— Eu já disse que não, Eva. Pare de insistir!
— Eu já tenho dezoito anos, sabia? Vou para a faculdade em menos de três meses. Qual é o problema de eu ir para uma festa?
— Ouvi a palavra festa? — perguntei ao entrar na sala do Arthur, sem aviso prévio. A discussão dava para ser ouvida do lado de fora.
— Luke... Graças a Deus! — disse Arthur aliviado. — Tenho uma reunião agora e não tenho tempo para os chiliques da Eva. — Levantou-se apanhando algumas pastas sobre a mesa.
— O que está acontecendo? — perguntei a ela, que me encarou de braços cruzados.
— Tem uma festa no velho armazém e o meu pai não quer me deixar ir! O que é ridículo, porque tenho dezoito anos! — falou impaciente.
— Eu concordo com ele, Eva. Já fui em festas neste lugar, na época do colégio, e não é um ambiente nada legal para uma moça como você.
Ela me fuzilou com olhar.
— Está vendo só, filha? Não é implicância minha. Você não vai e ponto final! — disse firme e deixou o escritório.
— Uma moça como eu? É sério, Luke? Que comentário mais machista! O que quis dizer com isso?
— Qual é, Eva...
O seu semblante e tom de voz mostrou-me que havia ficado chateada e irritada com o que disse.
— Vou para casa.
Pegou a sua bolsa sobre o sofá e saiu. Caminhei apressado atrás dela e a alcancei no elevador, colocando a mão na porta para impedir que se fechasse.
— Desculpe. — Entrei.
— O que quis dizer com “uma moça como você”? — perguntou brava.
— Delicada, linda e pequena. Ah, qual é, Eva? Você sabe o que os caras querem nessas festas.
Ela desviou o seu olhar do meu e cruzou os braços novamente, encarando as portas fechadas à sua frente.
— Eva... — Aproximei-me, enrolando uma mecha do seu cabelo dourado no meu dedo. — Borboleta... Não fique brava.
Ela bateu a sua mão na minha, empurrando-a para longe do seu cabelo.
— Odeio quando você subestima a minha maturidade e me trata como uma menininha frágil! Eu não sou assim, Luke. Você já deveria saber!
— Eu não a subestimei. Apenas zelo por você, Eva. Tenho medo de que te machuquem.
As portas do elevador se abriram e ela saiu sem se despedir. Odiava quando me ignorava, mas odiava ainda mais quando eu a chateava por qualquer motivo que fosse mesmo estando certo.
Jamais subestimaria a sua maturidade, era apenas cuidado. Eva sempre via o melhor nas pessoas, mesmo quando ele não existia e isso me preocupava muito. Ela era doce e encantadora, alguns se aproveitavam disso. Somente queria cuidar da minha melhor amiga. Se algo acontecesse com ela, jamais me perdoaria por falhar nessa missão.
— Você vai subir? — perguntou um homem, ao entrar no elevador.
— Sim.
Apertei o botão da cobertura e retornei para a minha sala. Logo a noite chegou após centenas de papéis assinados e inúmeras reuniões. Fui para casa levando comigo o pouco do trabalho inacabado.
Após um banho, pedi uma pizza e sentei-me na sala. Comia enquanto trabalhava. Já passava das nove quando o meu celular tocou ao lado da caixa de pizza, quase vazia. Peguei-o e vi que era Arthur quem ligava.
— Senhor Wangoria? — atendi, estranhando a sua ligação àquela hora.
— Luke... Eva está com você?
— Não. Ela não está em casa?
— Achávamos que estivesse, mas quando Jéssica entrou no seu quarto, ela não estava lá. Talvez tenha fugido, porque a proibimos de sair de casa. Acha que ela pode ter ido até a m*****a festa? — perguntou irritado.
Respirei fundo e passei a mão pelo rosto.
— Já tentaram ligar para ela?
— Sim, mas não nos atende.
— Vou atrás dela.
— Obrigado. Por favor, nos ligue para dar notícias.
— Claro, Arthur.
Encerrei a ligação e subi a escada para me trocar. Entrei no carro e tentei ligar para Eva, mas ela não atendeu. Fiquei furioso. Ela não me atender significava que estava aprontando algo muito terrível e só existia um único lugar onde ela estaria: o armazém.
Acelerei o carro e peguei a estrada em direção à reserva Salt Lake. No caminho para lá, passei por vários carros indo e vindo. A maioria em alta velocidade assumindo direção perigosa. Adolescentes sentados nas janelas, com metade dos corpos para fora, gritavam feito loucos, batendo no teto do veículo.
“Deus! Será que foi com malucos assim que Eva veio para a tal festa?”
Estacionei o carro e desliguei o motor. Através das janelas no alto do armazém, eu via as luzes coloridas piscarem lá dentro. Caminhei até lá e entrei recebendo olhares de desaprovação. Provavelmente, eu era o mais velho ali.
À minha volta havia gente bêbada e outros fumando nicotina ou maconha. O mau cheiro se misturava ao de suor e bebida no ar, não era nada agradável. Alguns casais se engoliam em meio à multidão, outros somente se esfregavam enquanto dançavam.
LukeContinuei a andar procurando por Eva ou um dos seus amigos para perguntar por ela, mas não vi ninguém. Demorei minutos até chegar ao meio do lugar, sendo espremido por um mar de gente suada, que pulavam gritando como loucos com a batida agitada da música. Andei um pouco mais e avistei uma bancada de ferro à frente. Sobre ela dançava duas moças de um jeito sensual, levando os moleques ao delírio.De repente, os meus punhos cerraram e a minha mandíbula contraiu, quase quebrando os meus dentes. Não podia ser... Não acreditava que era ela uma das moças que chamava a atenção dos marmanjos, fazendo os seus membros incharem dentro das malditas calças.— É isso ai, Eva! Tira blusa para a gente! — gritou um babaca ao meu lado.De costas para o seu “público”, ela segurou a barra da blusa e começou a puxá-la para cima, expondo a sua cintura modelada. A blusa foi arrancada para fora do corpo e arremessada para a multidão. Ela se virou de frente exibindo a sua barriga chapada e os seios farto
LukeTirei-a do carro e levei Eva para o quarto de hóspedes. Sentei-a na cama, retirei as suas botas de cano curto e a deixei ali. Ela encarava algum ponto à sua frente, dispersa, enquanto eu preparava o seu banho na banheira.— O seu banho está pronto. As toalhas estão em cima da bancada da pia.Ela assentiu de cabeça baixa, cobrindo o tórax com os braços. Parei diante dela e encarei a sua figura desprotegida. De repente, a menina que sensualizava minutos atrás para centenas de homens, havia ido embora e dado lugar a uma menina triste de oito anos. Parecia até que ela estava menor diante de mim.— Eu te amo, Eva. Sabe disso, não é? — Assentiu, mais uma vez. — Vou precisar que faça algo por mim... — Ela me olhou e o seu rosto estava vermelho, ainda banhado por lágrimas. — Preciso que preste queixa contra esse maldito.— Não! — discordou apavorada, levantando-se. — Os meus pais não podem saber, me matariam.— Borboleta... — Segurei o seu rosto entre as minhas mãos. — Eles não vão fazer
LukeEsperei por quase uma hora dentro do carro, até que Michael entrasse na sua caminhonete e dirigisse em direção à sua casa. Segui-o a uma distância segura para não ser notado. Ele parou em um drive-thru e após apanhar o seu pedido na segunda cabine, estacionou o seu carro no estacionamento quase vazio. Esperei pacientemente por ele descer em algum momento. Quando Michael saiu para dispensar o lixo, segui-o até a caçamba.— Michael Tiff? — chamei-o ao me aproximar.Ele se virou e me encarou de queixo erguido.— Quem quer saber? — perguntou com arrogância.— Não interessa quem sou! — Acertei-lhe um forte soco no seu rosto, fazendo-o bater com as costas contra a caçamba de lixo.— Qual é a sua, cara? — questionou, colocando a sua mão no nariz que sangrava.— Estou aqui para te ensinar uma lição, seu merda! — Acertei-lhe mais um soco, deixando um hematoma na maçã do seu rosto.Ele tentou revidar, mas me esquivei e o empurrei para trás.— Eu sei quem é você! É amigo da Eva. Foi ela quem
Eva— Pegue. — Luke entregou-me um frasco plástico com comprimidos. — Tome uma aspirina. Vai se sentir melhor.Tirei o comprimido do frasco e tomei-o junto ao copo d'água que ele me serviu.— Os meus pais sabem que estou aqui?— Sim. Eu falei com o seu pai ontem, depois que chegamos. Disse que a encontrei no drive-in com alguns amigos e te trouxe para cá. Inventei a desculpa de que vamos para a casa do lago hoje.— Você contou que bebi?— Não, Eva. Mas ainda posso contar a verdade e você estará ferrada.— Não faria isso. — Sorri com os olhos estreitados na sua direção.— Tem razão, eu não faria. — Encarou-me sério. — A não ser que você fuja de novo, deixando todo mundo preocupado.— Desculpa por ontem, eu só... — interrompi-me e respirei fundo. — Na verdade, sei lá o que eu queria enchendo a cara daquele jeito.— Também não sei o que queria bêbada e dançando seminua sobre uma coisa velha e enferrujada, correndo o risco de cair e se machucar.Cobri o rosto envergonhada, resmungando baix
EvaLuke sorriu e arrancou a sua camiseta. Em seguida, retirou a bermuda e os tênis, ficando somente de cueca boxer preta. Ele entrou e veio andando na minha direção arremessando água com as mãos.Começamos a brincar feito duas crianças fazendo “guerra” no lago, nos deixando de cabelos ensopados. Só se ouvia o barulho da água turva e as nossas risadas altas. Comecei a arremessar com mais agilidade contra o seu rosto. Luke caminhou rapidamente até mim. Tentei fugir, mas não consegui. Ele me agarrou por trás, prendendo os meus braços junto ao corpo.— Peguei você! Perdeu a brincadeira.— Não perdi, não! — Tentei me soltar, mas ele puxou-me mais contra o seu corpo.— Perdeu sim! — riu.— Tudo bem, aceito a derrota. Já venci outras vezes de você.— Ah, Eva, minha querida... Venceu, porque eu deixava você ganhar. O seu humor de perdedora é irritante. Agora que já tem dezoito anos, não tem mais esse privilégio. — Rimos.Luke desarrochou o aperto dos seus braços ao meu redor. Virei-me de fre
LukeEu conhecia Eva muito bem para saber que aqueles eram sinais de alegria extrema. Tão bem que, mesmo com passar do tempo, ainda sabia ver que ela estava feliz naquele momento brincando comigo dentro da água.Quando a agarrei, trazendo-a para junto do meu corpo, senti uma corrente elétrica descer da cabeça aos pés. O meu coração batia tão rápido, que parecia que iria parar a qualquer segundo. Senti-me abalado, como se tivesse realmente tomado um choque de um fio desencapado. A minha garganta secou e as minhas mãos estremeceram.Eva diminuiu o seu sorriso de alegria radiante e deslizou minuciosamente os seus olhos por meu rosto. Os seus pensamentos pareciam tão distantes e tão perto ao mesmo tempo... De repente, não queria mais soltá-la. Queria mais dela. Desejava os seus lábios nos meus.“Meu Deus! Será que devo? Por que me sinto fraco com esse desejo? E se ela me odiar por isso? Está ficando mais forte do que eu. Não consigo correr ou ao menos me afastar. Me ajude!”— Não me odeie
Luke— Precisamos ir devagar. E-eu... Eu tenho medo, Eva.— Mas não precisa ter. Luke... Eu amo você! Não sou de vidro, não vou quebrar. Me amar como mulher, inclui fazermos isso também.— Eu sei. É só que... vamos devagar. Está bem?Ela sorriu e assentiu.— Não temos que fazer sexo agora, e está tudo bem. Faremos quando você estiver menos perturbado e não ver mais a situação como se estivesse deflorando a sua amiguinha. — Sorriu tensa.— Certo... — Senti-me um pouco aliviado.Puxando a cueca, guardei o meu membro.— Ainda podemos ficar juntos e nos beijar, não é?— Podemos, sim. Vem aqui... — Puxei-a pela nuca, trazendo a sua boca até a minha.***Eva Eu passei uma tarde inteira beijando Luke e rezando para não ser um sonho. Queria mais do que tudo no mundo que nós não tivéssemos que ir embora. Ele beijava tão bem. Tinha uma boca tão perfeita e gostosa, que superou a minha imaginação e expectativa.Respeitei os seus limites. Ele não queria sexo naquele momento e por mim estava tudo
EvaA manhã seguinte passou arrastando. Luke me mandou uma mensagem desejando um bom-dia como fazia todos os dias nos últimos cinco anos, desde que ganhei o meu primeiro celular. Mas naquela manhã havia sido diferente. O texto veio com um coração a mais.Entrei no meu carro e dirigi para a sede da empresa publicitária McAlson. Subi pelo elevador até o último andar. Era lá onde ficava a presidência, que atualmente pertencia ao Luke.— Luke está ocupado? — perguntei para a sua secretária.— A Louis está lá, mas acho que você pode entrar. — Sorriu.— Obrigada.Caminhei em direção à sua sala e entrei me preparando para o escândalo que Louis faria ao me ver. Ela era a irmã mais nova do Luke, modelo internacional e não tinha controle do tom da sua voz, mas era uma garota legal. Sempre me dei muito bem com ela, mesmo sendo sete anos mais velha do que eu.— Eva! — gritou ela, saltando do sofá quando entrei.Luke estava de pé e de costas para mim. Virou-se rapidamente.— Louis! Oi. Quando cheg