Adeus, Dante
Acordo com um estalo no meu corpo, o peso da dor me arrastando de volta à realidade. O ombro, marcado por platinas e remendos, arde como fogo. A dor não me dá trégua, como se cada movimento que eu fizesse fosse uma lâmina rasgando a carne, cortando mais fundo. Eu olho para a janela, onde a luz do amanhecer entra, mas o que vejo é uma mancha turva. O cheiro de pólvora ainda paira no ar, o cheiro do que fiz, do que sou.

Minha mão vai instintivamente até o bolso da calça, e eu sinto o pequeno pacote que já se tornou familiar. A cocaína. No estado em que estou, já não sei mais como viver sem ela. Ela me dá o que o meu corpo não consegue mais — um alívio. Um intervalo da dor insuportável que me consome. Pego a pequena quantidade e, com a habilidade de quem já fez isso muitas vezes, despejo no buraco do ombro. A sensação é imediata, como uma onda que me atinge e me afasta ao mesmo tempo. O alívio vem em gotas, o ferimento se acalma, e por um momento, posso respirar sem que a dor me quebre.

M
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