Eu sento à mesa, o café esfriando diante de mim, mas o vazio no meu peito é muito maior do que qualquer bebida quente poderia aquecer. A noite foi longa, cada minuto parecia uma eternidade. A cabeça, cheia de perguntas, me empurra para um lugar que eu não quero ir. Dante... Ele está em algum lugar, fugindo, ou talvez se escondendo de mim, mas o que me consome é a falta de respostas, a falta de qualquer sinal de vida. Como ele está? Onde está? O que aconteceu? A cada segundo, a angústia cresce dentro de mim, como se eu estivesse esperando por uma verdade dolorosa que eu sabia que não queria ouvir.Abro a tela do celular de novo, na esperança de que algo, qualquer coisa, apareça. Mas não há nada. Nenhuma mensagem. Nada que me diga onde ele está, ou o que está acontecendo. O silêncio me engole, e a cada olhar desesperado para a tela, me sinto mais distante dele.De repente, vejo uma notícia na televisão que chama minha atenção. "Uma casa pega fogo em Restinga da Marambaia e destrói tudo,
A dor em meu peito é uma pressão constante, como se algo dentro de mim tivesse sido esmagado e jamais pudesse voltar ao lugar. A sensação de perda é quase física, um buraco que consome tudo ao meu redor. Não tenho mais forças para lutar contra essa angústia. Eu a ouvi, cada palavra, cada suspiro, e ainda assim, fiz o que precisava ser feito. A verdade é que, no fundo, eu sabia que ia machucar. Sabia que ela ia sofrer.Eu a amo. Deus, como eu a amo. Mas o amor pode ser uma prisão quando você sabe que nunca será suficiente. Não quero ser um fardo. Não posso ser o homem que ela merece. Não agora. Talvez nunca. E se eu não a afastasse, ela estaria condenada a viver uma mentira. Eu, com essa dor constante, incapaz de trabalhar, incapaz de construir algo na fazenda... Eu seria um peso. E eu me conheço. Eu a destruiria. A última coisa que quero é ser a razão do sofrimento dela.O celular ainda está no chão, a tela rachada refletindo o brilho pálido do abajur. Olho para ele, sem coragem para p
Vamos até o quartinho de Alice, onde me deito na cama com ela. Pego um livrinho de histórias e começo a contar uma historinha, minha voz suave, tentando me concentrar na tarefa e não na presença dele. Dante está sentado na poltrona em frente a nós, com as pernas abertas, observando. Ele está se divertindo. Seu sorriso é torto, os olhos fixos em mim com um brilho de desafio. Ele é incrivelmente sexy, quase perigoso. Não posso negar, ele é o próprio demônio sedutor. Com aqueles olhos penetrantes, aquele corpo musculoso, e os braços que parecem feitos para me dominar. Ele é um monstro de bonito, impossível não perceber.Não se culpe, isso que você sente é apenas atração. Você não gosta dele!Quando Alice adormece, eu a cubro cuidadosamente. Me levanto da cama e, ao olhar para Dante, encontro seus olhos fixos em mim. Ele sorri de forma preguiçosa, seus lábios se esticando de um jeito que me desconcentra.Desvio os olhos, o coração batendo forte dentro do peito. Saímos do quarto, mas no co
Isabela— Caramba! Nem parece a mesma pessoa. — Ouço a voz de Tânia entrando no vestiário do BOPE. Ela está visivelmente impressionada com a transformação. É a minha primeira missão real em campo, e estou decidida a provar que sou mais do que apenas uma especialista em relatórios. Passei um ano inteiro observando e analisando comportamentos, treinando infiltrações simuladas e estudando os perfis de traficantes e líderes de facções criminosas. Agora, finalmente, chegou a hora de colocar tudo isso em prática.Sorrio nervosamente e me avalio no espelho. Caracterizada como uma mulher fatal, meu objetivo é me infiltrar em uma festa promovida por Rafael Ferreira, num clube exclusivo. A festa é conhecida por atrair empresários, influenciadores e, especialmente, os nomes mais perigosos do tráfico local. Rafael é suspeito de usar sua fachada de empresário para lavar dinheiro e facilitar o transporte de cargas de drogas. Mas ele não é o verdadeiro alvo.O alvo real é seu irmão, Dante Ferreira d
Leandro bate com uma das mãos em um armário e o faz vibrar. Os olhos dele chispam quando ele se volta para mim. Encaro-o, mantendo a calma, tentando manter meu foco no objetivo. Leandro bufa, mas recua, visivelmente frustrado. Ele respira fundo e então diz, com um tom de voz mais calmo. — Tudo bem. Mas lembre-se: o foco é me infiltrar. Você é apenas o primeiro passo. Então você sairá de cena. Nem que você me apresente como seu meio-irmão. Eu sorrio achando graça nas palavras dele. Seus olhos têm um puxadinho dos orientais. —Leandro, você não se parece com meu meio-irmão. Ele fecha os olhos, parecendo exercitar a paciência comigo. —Tudo bem. Mas foque no nosso objetivo. Você o abordará e de alguma maneira me apresentará a ele. —Ok! —Digo. Ergo os olhos para ele. Leandro sorri, e seu sorriso, apesar de rude, se torna incrivelmente atraente. Eu fico sem jeito e desvio o olhar, sentindo um arrepio percorrer a espinha. Por um momento, fico acovardada, como se ele estivesse me d
O tom na voz de Leandro carrega uma mistura de preocupação e uma tensão que eu não consigo identificar completamente. Ele mantém os olhos fixos na estrada, mas há algo de inquietante na maneira como suas mãos apertam o volante, como se tentasse se agarrar a algum tipo de controle que escapa por entre seus dedos.— Não vou desistir, Leandro. — Respondo com firmeza, minha voz cortando o silêncio abafado do carro. — Rafael é a nossa melhor chance, e você sabe disso.Ele bufa, um som baixo e contido que mais parece uma explosão controlada. Não responde imediatamente, mas a linha de sua mandíbula fica mais tensa, e seus olhos escuros brilham com algo entre frustração e resignação.— Você não entende o que está arriscando. — Ele finalmente fala, a voz grave como um trovão à distância. — Esse mundo… essas pessoas… Não é brincadeira, Isabela. Você acha que está no controle, mas eles… eles jogam sujo. Sempre.Por um momento, o peso das suas palavras me atinge. Sei que ele está certo, mas já to
— Entraremos juntos, e lá nos separamos. Caso consiga seu objetivo com o nosso alvo, me chame, e me apresente ao Rafael, como quem não quer nada. Eu tentarei me infiltrar. E lembre-se, você é Rebeca Silva, uma secretária desempregada, e eu sou Ricardo Félix, seu amigo de infância. Estou procurando emprego. Se ele perguntar como conseguimos o convite, já sabe o que dizer: uma amiga desistiu de ir à boate com o namorado e nos deu a vaga.Eu suspiro, engolindo a ansiedade.— Esta certo. E você tem tanta certeza assim que eu vou conseguir alcançar nosso objetivo?Ele me observa com um olhar sério e profundo.— Deus! Você ainda pergunta? Não percebe o quanto é bonita? E, mais, você é inteligente o suficiente para despertar a atenção de qualquer um. — Ele respira fundo, com um semblante que, apesar de preocupado, tem uma ponta de confiança. — Você vai conseguir.— Se sou inteligente como diz, por que teme?— Por isso mesmo... — Ele parece soltar um suspiro tenso, como se fosse uma luta inte
"Será que ele está envolvido na lavagem de dinheiro do irmão? Ou a imobiliária é só fachada para negócios mais sujos? É isso que estou aqui para descobrir."A música troca para uma batida ainda mais intensa, dificultando qualquer conversa. O loiro aproveita o momento e me convida:— Vamos dançar?Avalio rapidamente. Preciso passar despercebida, ser apenas mais uma convidada comum. Atrair a atenção de Rafael agora seria arriscado, mas parecer entrosada na festa é essencial.— Tudo bem.Fecho os olhos por um instante, tentando relaxar, e deixo meu corpo acompanhar a batida da música. A pista está cheia, os passos rápidos e os risos misturam-se à vibração elétrica do ambiente. De tempos em tempos, lanço um olhar discreto em direção à mesa de Rafael. Ele parece absorto na conversa, gesticulando de forma moderada, como quem expõe um argumento importante.Suspiro, voltando minha atenção à dança, enquanto o loiro ao meu lado me observa com um sorriso cada vez mais convencido. Retribuo com um