2. O PASSADO DE DAPHINE

Caleb estava numa crescente dúvida sobre ligar ou não para sua irmã Charlote, pois ela era a pessoa mais próxima de Daphine que ele conhecia. O dilema de não querer preocupá-la o manteve imóvel, olhando o clima lá fora pela janela da sala. O vento frio e o céu completamente escuro refletiam seu estado emocional, cheio de incerteza e medo.

Enquanto isso, Daphine corria entre as árvores, sentindo a terra macia sob suas patas e o ar gélido tocando suavemente seus pelos brilhantes. Cada passo que dava aumentava a sensação de liberdade, embora estivesse ciente da gravidade da situação. As memórias inundavam sua mente enquanto corria, lembrando-se de quando aquilo começou.

5 ANOS ANTES

Daphine estava prestes a completar 18 anos, faltando apenas dois meses, mas sentia-se devastada. Apenas uma semana antes, seu avô havia falecido, o que a abalou profundamente. Além disso, ela havia sido aceita na universidade dos seus sonhos, mas a dor da perda a impedia de sentir qualquer alegria com essa conquista. Sua turbulência emocional era tão intensa que ela sentia como se fosse morrer.

Para tentar aliviar um pouco a tristeza, Daphine saiu com sua melhor amiga, Carla Moreira. Carla, que já tinha completado 18 anos, tinha mais liberdade dos pais e decidiu levar Daphine para um pub. Lá, as duas comeram e conversaram, tentando distrair Daphine das suas preocupações.

Enquanto estavam no pub, dois homens se aproximaram delas. Um deles tocou levemente no ombro de Daphine e disse:

— O que acha de sairmos daqui para um lugar mais reservado?

Ele sorriu descaradamente e continuou:

— Percebi que você estava me olhando desde que chegou aqui.

Carla, conhecendo todos os problemas que sua amiga estava enfrentando e sabendo que aquele não era um bom momento para paquerar, interveio:

— Por favor, deixe-nos em paz. Queremos ficar sozinhas.

O homem, de maneira grosseira, respondeu:

— Eu não falei com você. Falei com a loirinha aqui.

Ele acariciou os cabelos de Daphine. Ela, tentando controlar as emoções que borbulhavam dentro dela, começou a perder a paciência. A insistência daquele homem a tirou do sério. Rapidamente, Daphine o segurou pelo braço e deu dois socos violentos em seu estômago. O homem tossiu desconfortavelmente, mas imediatamente avançou sobre ela.

Carla, percebendo a gravidade da situação e temendo que algo pior acontecesse, segurou rapidamente o braço de Daphine e disse:

— Vamos embora daqui!

As duas saíram imediatamente do pub, deixando o homem para trás, ainda se recuperando dos golpes. Uma vez fora do pub, Carla olhou para Daphine com preocupação.

— Você está bem? — perguntou Carla.

Daphine respirou fundo, tentando se acalmar. — Não sei o que aconteceu comigo. Eu só... não consegui me controlar.

Carla abraçou sua amiga, tentando oferecer algum conforto. — Está tudo bem. Vamos para casa e tentamos esquecer isso, ok?

Daphine assentiu, ainda sentindo a adrenalina correr por suas veias. As duas caminharam em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Daphine sabia que precisava entender o que estava acontecendo dentro de si, mas por enquanto, tudo o que podia fazer era seguir em frente um passo de cada vez.

Elas caminharam apressadas até o carro e saíram rapidamente dali. Após percorrer quase um quilômetro, Carla parou o carro, preocupada com Daphine, que não estava se sentindo bem. Sentindo tonturas e ânsia de vômito, Daphine saiu rapidamente do carro e vomitou na calçada, sua cabeça girando.

Minutos depois, Carla olhou para a amiga com preocupação e falou:

— Vamos ao médico que seu avô recomendou. Estou preocupada com você.

Ela segurou a mão da amiga com carinho.

— Eu prometi não contar para meus pais, mas se você não for ao médico, serei obrigada a falar para eles.

Daphine olhava para o horizonte, perdida em seus pensamentos. Apesar disso, ouviu claramente o que Carla disse e respondeu:

— Certo, eu irei. Que tal agora?

Ela olhou para o relógio que carregava no pulso e disse:

— Ainda são 17 horas. Temos alguns minutos.

Carla sorriu e as duas correram até o carro, seguindo diretamente para a clínica. Ao se aproximarem do prédio, entraram e subiram de elevador até o terceiro andar. Pararam diante de uma porta larga e Carla deu um leve empurrão na amiga, incentivando-a a continuar. Entraram na sala e foram recebidas com o sorriso gentil da assistente, que disse:

— Desculpe, meninas, mas o senhor Windsor já encerrou o expediente.

No mesmo instante, sem dizer uma palavra, Daphine deu as costas para sair, mas Carla segurou seu braço e disse para a assistente:

— Por favor, é urgente. Somente diga que é a senhorita Jones.

A assistente balançou a cabeça em negação, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta do consultório se abriu imediatamente e um rosto extremamente lindo apareceu. Daphine o olhou por alguns segundos, mas seu transe foi interrompido pela voz firme do médico:

— Senhorita Jones, que bom revê-la. Entrem.

As duas amigas se entreolharam, confusas pela familiaridade na expressão do médico. Era a primeira vez que estavam ali, mas ele continuou olhando para sua assistente e disse:

— Cintia, se quiser, pode ir embora. Eu fecho tudo quando sair.

Assim que o médico fechou a porta atrás de si, um sorriso caloroso se formou em seus lábios e ele falou com alegria:

— Senti seu cheiro quando chegou aqui.

Daphine ficou séria, olhando para o médico, e falou envergonhada:

— Você sentiu meu cheiro?

Ela cheirou suas roupas e continuou:

— Credo, estou fedendo a vômito. Posso usar seu banheiro?

O médico sorriu e apontou para um canto da sala, indicando onde ficava o banheiro. Enquanto Daphine seguia para lá, Carla olhou para o médico e falou em tom de cochicho:

— O vovô Jones pediu para ela vir até aqui. Ele faleceu há uma semana e Daphine não está nada bem. Você realmente pode nos ajudar?

Daphine revirou os olhos e disse de onde estava:

— Carla, não esqueça que posso te ouvir.

Não demorou muito e ela saiu do banheiro e se sentou em frente ao médico. Ele a olhou minuciosamente e disse:

— Suas pupilas estão muito dilatadas. O que você está sentindo?

Daphine suspirou, relutante. O médico percebeu o desconforto e disse:

— Bom, eu não quero que se sinta desconfortável.

Ele sorriu amigavelmente e começou:

— Eu sou o Bruce Windsor. Estou nessa profissão há uns dois anos, me formei muito cedo.

Ele deu uma pausa e disse:

— Agora é sua vez.

Daphine, decidida a falar, se acomodou confortavelmente no divã e começou:

— Eu sou uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer momento.

— Quando isso começou? — perguntou Bruce.

Daphine olhou para ele, confusa, e respondeu com outra pergunta:

— Começou o quê?

— Quando você começou a ficar agressiva de repente, a sentir tonturas, ânsia de vômito, perda de memória? Quando tudo isso começou?

Daphine suspirou, sem querer lembrar do passado, mas disse:

— Bom, a primeira vez que perdi o controle, eu tinha uns 12 anos. Eu agredi um garoto da minha classe e meu professor. Mas minha mãe me levou ao médico e, desde então, tomo remédio. O médico me diagnosticou com psicose maníaca.

— Os remédios estão com você? — perguntou o médico.

— Sim.

— Suspenda o uso imediatamente.

Após conversarem por alguns minutos, Daphine teve certeza de que aqueles remédios estavam piorando sua saúde e decidiu suspender o uso.

Já havia se passado trinta dias desde que Daphine suspendeu o uso dos remédios, seguindo rigorosamente as orientações de Bruce. Ela corria todas as manhãs e se mantinha bem hidratada. Todo aquele novo regime a fez se sentir bem e revigorada; os sintomas que antes a atormentavam haviam desaparecido, e ela começava a retomar sua vida.

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