Caleb estava numa crescente dúvida sobre ligar ou não para sua irmã Charlote, pois ela era a pessoa mais próxima de Daphine que ele conhecia. O dilema de não querer preocupá-la o manteve imóvel, olhando o clima lá fora pela janela da sala. O vento frio e o céu completamente escuro refletiam seu estado emocional, cheio de incerteza e medo.
Enquanto isso, Daphine corria entre as árvores, sentindo a terra macia sob suas patas e o ar gélido tocando suavemente seus pelos brilhantes. Cada passo que dava aumentava a sensação de liberdade, embora estivesse ciente da gravidade da situação. As memórias inundavam sua mente enquanto corria, lembrando-se de quando aquilo começou.
5 ANOS ANTES
Daphine estava prestes a completar 18 anos, faltando apenas dois meses, mas sentia-se devastada. Apenas uma semana antes, seu avô havia falecido, o que a abalou profundamente. Além disso, ela havia sido aceita na universidade dos seus sonhos, mas a dor da perda a impedia de sentir qualquer alegria com essa conquista. Sua turbulência emocional era tão intensa que ela sentia como se fosse morrer.
Para tentar aliviar um pouco a tristeza, Daphine saiu com sua melhor amiga, Carla Moreira. Carla, que já tinha completado 18 anos, tinha mais liberdade dos pais e decidiu levar Daphine para um pub. Lá, as duas comeram e conversaram, tentando distrair Daphine das suas preocupações.
Enquanto estavam no pub, dois homens se aproximaram delas. Um deles tocou levemente no ombro de Daphine e disse:
— O que acha de sairmos daqui para um lugar mais reservado?
Ele sorriu descaradamente e continuou:
— Percebi que você estava me olhando desde que chegou aqui.
Carla, conhecendo todos os problemas que sua amiga estava enfrentando e sabendo que aquele não era um bom momento para paquerar, interveio:
— Por favor, deixe-nos em paz. Queremos ficar sozinhas.
O homem, de maneira grosseira, respondeu:
— Eu não falei com você. Falei com a loirinha aqui.
Ele acariciou os cabelos de Daphine. Ela, tentando controlar as emoções que borbulhavam dentro dela, começou a perder a paciência. A insistência daquele homem a tirou do sério. Rapidamente, Daphine o segurou pelo braço e deu dois socos violentos em seu estômago. O homem tossiu desconfortavelmente, mas imediatamente avançou sobre ela.
Carla, percebendo a gravidade da situação e temendo que algo pior acontecesse, segurou rapidamente o braço de Daphine e disse:
— Vamos embora daqui!
As duas saíram imediatamente do pub, deixando o homem para trás, ainda se recuperando dos golpes. Uma vez fora do pub, Carla olhou para Daphine com preocupação.
— Você está bem? — perguntou Carla.
Daphine respirou fundo, tentando se acalmar. — Não sei o que aconteceu comigo. Eu só... não consegui me controlar.
Carla abraçou sua amiga, tentando oferecer algum conforto. — Está tudo bem. Vamos para casa e tentamos esquecer isso, ok?
Daphine assentiu, ainda sentindo a adrenalina correr por suas veias. As duas caminharam em silêncio, cada uma perdida em seus próprios pensamentos. Daphine sabia que precisava entender o que estava acontecendo dentro de si, mas por enquanto, tudo o que podia fazer era seguir em frente um passo de cada vez.
Elas caminharam apressadas até o carro e saíram rapidamente dali. Após percorrer quase um quilômetro, Carla parou o carro, preocupada com Daphine, que não estava se sentindo bem. Sentindo tonturas e ânsia de vômito, Daphine saiu rapidamente do carro e vomitou na calçada, sua cabeça girando.
Minutos depois, Carla olhou para a amiga com preocupação e falou:
— Vamos ao médico que seu avô recomendou. Estou preocupada com você.
Ela segurou a mão da amiga com carinho.
— Eu prometi não contar para meus pais, mas se você não for ao médico, serei obrigada a falar para eles.
Daphine olhava para o horizonte, perdida em seus pensamentos. Apesar disso, ouviu claramente o que Carla disse e respondeu:
— Certo, eu irei. Que tal agora?
Ela olhou para o relógio que carregava no pulso e disse:
— Ainda são 17 horas. Temos alguns minutos.
Carla sorriu e as duas correram até o carro, seguindo diretamente para a clínica. Ao se aproximarem do prédio, entraram e subiram de elevador até o terceiro andar. Pararam diante de uma porta larga e Carla deu um leve empurrão na amiga, incentivando-a a continuar. Entraram na sala e foram recebidas com o sorriso gentil da assistente, que disse:
— Desculpe, meninas, mas o senhor Windsor já encerrou o expediente.
No mesmo instante, sem dizer uma palavra, Daphine deu as costas para sair, mas Carla segurou seu braço e disse para a assistente:
— Por favor, é urgente. Somente diga que é a senhorita Jones.
A assistente balançou a cabeça em negação, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, a porta do consultório se abriu imediatamente e um rosto extremamente lindo apareceu. Daphine o olhou por alguns segundos, mas seu transe foi interrompido pela voz firme do médico:
— Senhorita Jones, que bom revê-la. Entrem.
As duas amigas se entreolharam, confusas pela familiaridade na expressão do médico. Era a primeira vez que estavam ali, mas ele continuou olhando para sua assistente e disse:
— Cintia, se quiser, pode ir embora. Eu fecho tudo quando sair.
Assim que o médico fechou a porta atrás de si, um sorriso caloroso se formou em seus lábios e ele falou com alegria:
— Senti seu cheiro quando chegou aqui.
Daphine ficou séria, olhando para o médico, e falou envergonhada:
— Você sentiu meu cheiro?
Ela cheirou suas roupas e continuou:
— Credo, estou fedendo a vômito. Posso usar seu banheiro?
O médico sorriu e apontou para um canto da sala, indicando onde ficava o banheiro. Enquanto Daphine seguia para lá, Carla olhou para o médico e falou em tom de cochicho:
— O vovô Jones pediu para ela vir até aqui. Ele faleceu há uma semana e Daphine não está nada bem. Você realmente pode nos ajudar?
Daphine revirou os olhos e disse de onde estava:
— Carla, não esqueça que posso te ouvir.
Não demorou muito e ela saiu do banheiro e se sentou em frente ao médico. Ele a olhou minuciosamente e disse:
— Suas pupilas estão muito dilatadas. O que você está sentindo?
Daphine suspirou, relutante. O médico percebeu o desconforto e disse:
— Bom, eu não quero que se sinta desconfortável.
Ele sorriu amigavelmente e começou:
— Eu sou o Bruce Windsor. Estou nessa profissão há uns dois anos, me formei muito cedo.
Ele deu uma pausa e disse:
— Agora é sua vez.
Daphine, decidida a falar, se acomodou confortavelmente no divã e começou:
— Eu sou uma bomba-relógio, prestes a explodir a qualquer momento.
— Quando isso começou? — perguntou Bruce.
Daphine olhou para ele, confusa, e respondeu com outra pergunta:
— Começou o quê?
— Quando você começou a ficar agressiva de repente, a sentir tonturas, ânsia de vômito, perda de memória? Quando tudo isso começou?
Daphine suspirou, sem querer lembrar do passado, mas disse:
— Bom, a primeira vez que perdi o controle, eu tinha uns 12 anos. Eu agredi um garoto da minha classe e meu professor. Mas minha mãe me levou ao médico e, desde então, tomo remédio. O médico me diagnosticou com psicose maníaca.
— Os remédios estão com você? — perguntou o médico.
— Sim.
— Suspenda o uso imediatamente.
Após conversarem por alguns minutos, Daphine teve certeza de que aqueles remédios estavam piorando sua saúde e decidiu suspender o uso.
Já havia se passado trinta dias desde que Daphine suspendeu o uso dos remédios, seguindo rigorosamente as orientações de Bruce. Ela corria todas as manhãs e se mantinha bem hidratada. Todo aquele novo regime a fez se sentir bem e revigorada; os sintomas que antes a atormentavam haviam desaparecido, e ela começava a retomar sua vida.
Na primeira semana de setembro, um frio intenso dominava a cidade. As pessoas reclamavam do frio rigoroso que chegara mais cedo, andando pelas ruas bem agasalhadas. Daphine se levantou cedo, fez sua corrida matinal como de costume e, ao retornar para casa, sentiu seu celular vibrar no bolso do casaco. Era uma chamada perdida de Bruce, mas ela a ignorou.Após um banho, Daphine e Carla saíram de casa animadas. Entraram no carro e seguiram para a universidade. Aproximaram-se do grande prédio da Oxford Brookes University de Londres quando Ana Roger se aproximou e tocou no ombro de Daphine, dizendo:— Eu disse que você ia amar.Daphine sorriu, ainda sentindo a leveza e o bem-estar que sua nova rotina lhe proporcionava. Ela olhou ao redor, observando os estudantes que passavam apressados, envolvidos em suas próprias rotinas acadêmicas. A Oxford Brookes University era um símbolo de suas conquistas, o lugar onde ela iniciaria uma nova fase de sua vida, agora livre dos remédios e das turbulênc
“Ethan estava parado, em êxtase, olhando fixamente para aquela figura feminina, loira e linda, sorrindo para ele, Daphine era o nome dela. Ele ficou como se estivesse hipnotizado, até parecia que estava apaixonado...”Daphine chegou em seu apartamento com um sorriso no rosto, depois daquele dia. Ao entrar, deixou as sacolas no chão e se jogou no sofá, buscando seu celular para uma rápida checagem. Após trocar algumas mensagens com sua amiga Carla, ela seguiu para o banheiro para um banho revigorante. Após o banho, preparou o jantar e se acomodou confortavelmente no sofá de dois lugares, onde planejava relaxar enquanto assistia à TV. No entanto, seus planos foram interrompidos por uma mensagem de Carla, informando que passaria a noite na casa do namorado.Daphine continuou sua noite, comendo sua refeição enquanto assistia à TV, antes de se recolher sonolenta para a cama. Na manhã seguinte, ao abrir os olhos, ela percebeu com espanto que estava prestes a se atrasar para seu segundo dia
Horas mais tarde naquele dia, Daphine, Carla e Ana estavam almoçando no refeitório da universidade. Elas estavam rindo e trocando histórias, quando Arthur chegou sorrindo e se sentou entre elas, se juntando à conversa animada.Enquanto comiam e conversavam, Ethan entrou no recinto. Seu andar era firme e confiante, atraindo a atenção de Daphine instantaneamente. Curiosa, ela tocou no braço de Carla e perguntou:— Quem é ele?Carla levantou os olhos, procurando quem Daphine estava mencionando, e respondeu com outra pergunta:— Quem?Arthur, que já havia notado a presença de Ethan, interveio:— O Ethan. Dizem que ele é parente do reitor. Há boatos nos corredores que ele é um vampiro.Carla e Ana não puderam conter o riso diante do comentário de Arthur, mas Daphine ficou séria e falou:— Eu o conheci hoje. Ele mora na floresta de Snowdonia.Carla olhou para a amiga surpresa e perguntou:— Você falou com ele? Ele não fala com ninguém.Daphine sorriu levemente, lembrando-se do encontro daqu
Na manhã seguinte, Daphine acordou determinada a se aproximar de Ethan. Ela tinha pensado muito sobre ele e queria conhecê-lo melhor. Assim que chegou ao estacionamento da universidade, para sua sorte, viu Ethan se aproximando. Aproveitando a oportunidade, ela o chamou com um sorriso no rosto.— Ei, Ethan. Bom dia!Ethan parou e deu um leve sorriso em resposta.— Bom dia, Daphine. Eu queria mesmo falar com você.Ele ajeitou uma mecha de cabelo que estava caindo sobre sua testa, parecendo um pouco nervoso, mas determinado. Depois de um breve silêncio, ele continuou:— O que acha de darmos uma volta na sexta à noite?Daphine sentiu seu coração acelerar. Uma adrenalina tomou conta dela, misturada com uma sensação de felicidade e ansiedade. Ela não conseguiu evitar um sorriso leve enquanto respondia:— Eu acho ótimo.Ethan, satisfeito com a resposta, deu um sorriso mais largo.— Passo na sua casa às 20 horas?— Ótimo! — Daphine respondeu, tentando esconder o quanto estava animada.Ethan e
Dois dias depois, enquanto Daphine se preparava para ir a uma festa que alguns alunos haviam organizado para aquele sábado à noite, ela decidiu convidar Ethan. Pegou o celular e ligou para ele, esperando ansiosamente enquanto o telefone tocava. Após alguns segundos, Ethan atendeu.— Alô, Ethan? É a Daphine. — Ela tentou manter a voz firme.— Oi, Daphine. — Ele respondeu, sua voz parecendo surpresa, mas agradável.— Tem uma festa hoje à noite organizada por alguns alunos da universidade. Gostaria de ir comigo? — Ela fez o convite, sentindo uma pontada de ansiedade.Ethan hesitou por um momento, o silêncio no telefone parecia durar uma eternidade para Daphine.— Eu... bem, eu não sou muito de festas... — Ele começou, mas antes que pudesse terminar, Daphine o interrompeu.— Vai ser divertido, prometo. Vai poder passar mais tempo comigo, pense bem. — Ela tentou convencê-lo.Finalmente, Ethan cedeu.— Tudo bem, eu vou. Que horas passo na sua casa?Daphine sorriu, sentindo-se vitoriosa.— À
Assim que Ethan chegou em casa, ele se jogou na cama e, quase instintivamente, pegou o celular. As trocas de mensagens com Daphine começaram imediatamente. Ambos estavam ainda eufóricos pelos momentos compartilhados e a química evidente entre eles. Ethan não conseguia parar de sorrir enquanto lia as mensagens que Daphine lhe enviava. Cada palavra dela era uma confirmação do que ele sentia, e ele se sentia cada vez mais atraído por sua personalidade cativante.Daphine, por sua vez, estava igualmente animada. As mensagens de Ethan eram doces, cheias de carinho e atenção, algo que ela valorizava profundamente. Sentindo-se conectada a ele de uma maneira que nunca tinha experimentado antes, Daphine estava deitada em sua própria cama, rindo sozinha ao ler suas respostas.Os dois continuaram trocando mensagens até tarde da noite. As conversas variavam entre o que gostavam de fazer em seus tempos livres, suas esperanças e sonhos. A cada mensagem trocada, eles sentiam que a ligação entre eles
Quando enfim, eles retornaram para casa, a chuva voltou a cair, e o frio aumentou de tal maneira que Ethan tirou seu casaco para cobrir Daphine. Eles imediatamente entraram no carro e seguiram para casa, quando o carro parou em frente ao prédio de Daphine, ela segurou a mão de Ethan suplicando.— Vem comigo Ethan.Eu preciso de sua ajuda. Ethan hesitou por um momento, mas acabou cedendo e saindo do carro seguiu Daphine até seu apartamento, eles passaram pelo porteiro rapidamente e entraram no elevador, ela sentiu a adrenalina aumentando a cada passa que dava, sabendo que ficaria sozinha com Ethan. Ela olhou para ele de forma sedutora quando saíram do elevador. Daphine rapidamente destrancou a porta, entrando em casa e puxando Ethan, ele, porém, se manteve na porta e disse:— Estar com você foi magnifico. Faremos isso outras vezes, mas agora eu preciso ir. Eu ainda tenho algumas coisas para fazer antes de dormir.Daphine fez uma cara triste e suplicou:— Por favor, eu preciso muito de
Na manhã seguinte, Ethan se levantou bem cedo. Antes de sair, deixou um bilhete para Daphine ao lado da cama, contendo uma mensagem breve e carinhosa, explicando que precisaria resolver algumas coisas importantes antes de ir para a universidade. Silenciosamente, ele se vestiu e saiu do apartamento, fechando a porta com cuidado para não acordá-la.Ethan tinha uma lista de tarefas a cumprir naquela manhã. Ele passou algumas horas resolvendo questões pessoais e administrativas que vinham se acumulando. Finalmente, com tudo em ordem, seguiu para a universidade, ansioso para iniciar seu dia de estudos.Ao chegar na universidade, Ethan atravessou o grande portão do prédio principal, movendo-se rapidamente entre os outros estudantes que também chegavam para suas aulas. No corredor, ele foi abordado por Ana. Ela o parou com um semblante curioso e perguntou diretamente:— Cadê a Daphine?Ethan parou e olhou sério para ela, respondendo com o mesmo tom de voz:— Bom dia para você também.Ana rev