Enquanto o marido dormia, Skyler reparava na maneira violenta que seu peito subia e descia, conforme ele respirava. Parecia que ele estava furioso, mesmo dormindo.
Cautelosamente ela se levanta, e ainda o observando, ela se afasta da cama. Devido à falta de claridade e por estar checando se o marido ainda dormia, ela acaba pisando em um caco de vidro.
— Merda.
Após resmungar, Skyler olha novamente para a cama e observa o marido se mexer. Uma vez que ela confirma que ele ainda está dormindo, ela volta a caminhar, dessa vez com mais cuidado por onde pisava e vai para o banheiro.
Skyler se senta no vaso sanitário e ergue a perna, observando o pequeno vidro fincado em seu pé. Felizmente era vidro de porta-retrato e o sangue que havia era pouco. Ela retira o vidro sem pensar duas vezes e coloca um curativo rápido.
Embaixo da pia, escondido atrás de um cesto, estava uma mochila. Tinha duas semanas que aquela mochila estava escondida ali, esperando para ser resgatada, assim como Skyler.
Skyler j**a a mochila nas costas e sai do banheiro, indo em direção a saída. Ela calça as sandálias que estavam do lado da porta e sai, sem olhar para trás.
Enquanto caminhava pelas ruas da cidade onde nasceu, cresceu e se casou, ela pensava em tudo que havia dado errado em sua vida. Skyler sabia exatamente o momento em que tudo se perdeu. Quando aceitou o pedido de casamento que Stephen havia feito há oito anos atrás.
A Skyler de vinte anos, tinha ficado extasiada. Stephen era seu namorado, desde o ensino médio. Ele jogador de futebol americano e ela líder de torcida. O típico casal que todo mundo diz que não vai durar. Eles duraram. Duraram bem mais que qualquer outro casal que havia se formado na escola.
— Eu quero uma passagem para Los Angeles. — ela pede, quando chega na estação de trem.
— O próximo trem sai em duas horas.
Ela olha o relógio. Eram duas e catorze da manhã. Skyler fazia as contas mentalmente, para saber se seria seguro esperar por ali mesmo. E sabendo a imensidão que Stephen havia bebido antes de dormir, ela compra a passagem e se senta em um canto do chão.
A estação estava em um completo silencio. Skyler quase podia ouvir os tiques do grande relógio na parede.
O local onde o pequeno pedaço de vidro havia se enfiado, latejava, mas ainda assim, sua preocupação não sumia. A todo minuto ela olhava na direção da saída, apavorada com a ideia de seu marido passar por ali.
Skyler observa seu reflexo em uma parede de vidro que estava na sua frente. O longo cabelo negro que ela cultivava, estava agora na altura do pescoço e completamente desproporcional, graças a um surto de Stephen com uma tesoura em mãos.
Stephen não foi sempre violento. Os primeiros cinco anos de casados, haviam sido perfeitos. Ele era o tipo de marido que chegava toda noite do trabalho com flores e beijava sua mulher com vontade, para mostrar que sentia falta dela durante o dia.
Quando a empresa em que ele trabalhava, faliu, foram que os problemas começaram. Stephen se incomodava até com a forma de Skyler cortar a unha. E ao invés de trazer flores quando voltava da rua, ele trazia uma garrafa de pinga dentro de um saco de papel e um imenso odor de bebida.
Nos últimos três anos, ela não podia questioná-lo a nada. Cada questionamento, vinha seguido de alguma agressão. Começou com um tapinha, que no dia seguinte ele implorou o perdão. E no segundo foi a mesma coisa. Depois do décimo, parou de ser um tapinha e Skyler carrega diversos hematomas pelo corpo.
— Ei, moça? — Skyler olha na direção da voz. Era o atendente da estação de trem. — O trem com destino a Los Angeles, chegou. Pode embarcar. Ele sairá em dez minutos.
A mulher sorri em resposta e se levanta do chão onde estava. Ela caminha até o local de embarque e entrega a passagem ao homem na porta. Seria uma viagem de trinta e seis horas, até o destino final. Então Skyler se encaminha até a área dos leitos, a fim de deitar e esquecer o que estava deixado para trás.
Havia duas camas e uma estava ocupada por uma mulher com cabelos loiros. Skyler se senta na outra cama disponível e puxa seu celular. Ela digita rapidamente uma mensagem, para a única pessoa que poderia lhe ajudar. Quando o trem começa a andar, ela j**a o aparelho pela janela.
[...]
Skyler desperta devido um barulho feito pela sua colega de cabine. Ela leva alguns segundos para perceber que fora isso, e não seu marido agressivo a encontrando.
— Desculpe. — a mulher diz, pegando um livro dentro de uma gaveta. — Esbarrei no móvel.
A mulher loira, encara Skyler minuciosamente. Provavelmente está se perguntando o motivo daquele corte de cabelo totalmente torto.
— Não tem problema.
Skyler boceja e pela janela. O trem permanecia em movimento, mas o dia estava claro. A impressão era que ela tinha dormido apenas por dez minutos, até ter sido acordada.
— Poderia me informar as horas?
— Hmmm... são quase uma da tarde. Você está bem?
— Sim. Eu só... sim.
A loira permanece encarando Skyler, como se quisesse lê-la e entender que tipo de mistério ela estava carregando.
— Bem, eu estou indo almoçar. Caso queira companhia, estarei três vagões a frente.
Skyler apenas confirma com a cabeça e observa a mulher sair. Ela solta a respiração que nem sabia estar segurando e se levanta. Após calçar as sandálias novamente, Skyler se direciona para o banheiro.
Ela encara seu semblante cansado no espelho, passando os dedos com leveza embaixo das olheiras que tinha. Olhando a forma com que seu cabelo estava, Skyler sente vontade de chorar novamente. Ela não reconhecia a mulher que estava diante dela. Abaixo do peso, com uma cicatriz fina no queixo, com cabelo mal cortado... sem contar todos os roxos que tinha pelo corpo, que felizmente estavam cobertos com uma calça jeans e blusa de mangas longas.
Após passar um pouco de pasta de dente na boca, ela sai da cabine, disposta a ir em direção ao terceiro vagão. Antes de conseguir trocar de vagão, um homem sai de um dos leitos sem olhar para os lados e acaba derrubando Skyler.
— Oh, me desculpe!
Skyler ergue o olhar para encarar a pessoa que havia a derrubado e fica levemente desnorteada. O homem alto e negro, a encarava com um olhar preocupado. Ele achou que tivesse a machucado, já que a única coisa que Skyler fazia, era ficar sentada naquele chão, o encarando. Quando na verdade, ela só estava se perguntando se ele o fato dele parecer preocupado com ela, tinha alguma coisa a ver com seu marido.
— Ei? Você está bem? Uma vez que aquele homem começa a se abaixar para se aproximar de Skyler, ela rapidamente se levanta e da dois passos para trás. — Sim. — ela responde, olhando para o chão. — Tem certeza? Você ficou muito... ei? Assim que se firmou, Skyler deixou aquele homem falando sozinho e disparou para o vagão aonde iria. Ela olha em volta, sem saber ainda se quer encontrar a companhia de leito ou apenas ficar sozinha. A mulher acaba optando por se sentar sozinha e olha o cardápio que tinha a sua frente. Com sua visão periférica, ela pode ver o homem que havia trombado nela, passar. Ele mexia no celular, completamente alheio a qualquer coisa que estivesse acontecendo a sua volta. Era até como se não se importasse com o que tinha acabado de acontecer. Skyler até tenta não o acompanhar com o olhar, mas tinha algo naquele homem que a intrigava. Então enquanto está encolhida em um canto da mesa que havia escolhido, ela observa quando ele anda de um lado para o outro, f
Andar em um conversível, pelas ruas de Los Angeles, era pedir para receber sol e vento constante no rosto. Skyler com a calça jeans e blusa de mangas longas que vestia, suava bastante. Porém, ela se sentia de uma maneira, que fazia anos que não era possível. Ela estava feliz. Feliz por estar ao lado da irmã mais nova, que não via desde que a menina se mudou para estudar engenharia em outra cidade. Mas principalmente, por estar longe do marido agressivo. — Caramba, Sky! Eu estou tão feliz de você estar aqui. Tenho tanta coisa para te mostrar. Skyler sorri, ao olhar o imenso sorriso que sua irmã estampava. Haley era quatro anos mais nova que Skyler. Quando seu pai morreu e a mãe foi para a casa de repouso, ela decidiu que queria deixar a cidade em que nasceu, em busca de algo maior. Ela não aceitava o fato de sua irmã ter se acomodado no casamento e não ter tentado sua independência. E definitivamente não queria ficar como ela. Ela estava completamente diferente de como era q
Haley e Skyler permaneceram abraçadas por muito tempo, até que a mais nova se revoltasse mais do que já estava. — Vai trocar de roupa. — ela diz, secando o rosto da irmã. — Nós vamos sair e conversar. — Hal, eu não quero falar sobre Stephen. — Mas nós vamos e ao mesmo tempo, vamos esquecê-lo para sempre. Tudo bem? Skyler apenas assente e observa sua irmã mexer nas poucas roupas que trouxera. — Nós vamos precisar fazer compras urgente para você, mas por enquanto... hmmm... aqui. Vista isso. Você calça trinta e sete, não é? — ela balança a cabeça, confirmando. — Vou pegar uma outra sandália para você. Quando Haley deixa o quarto, Skyler desce a toalha e veste uma outra calcinha e logo após o short jeans que sua irmã tinha escolhido. Ela j**a a regata para cima, mesmo sem sutiã, pois isso era uma das coisas que ela sempre quis fazer. Seu marido dizia que mulher sem sutiã, era coisa de puta, e que mulheres assim queriam se amostrar para outros homens. Haley volta com uma sand
— Seu amigo? Tem certeza? Já era a quinta vez que Skyler perguntava. Ela não conseguia acreditar na coincidência de ter esbarrado justamente com um amigo de sua irmã. — Mas o que ele fazia naquele trem? — ela pergunta, querendo achar algum motivo para Alexsander ser uma pessoa ruim. — Sendo dono desse lugar, ele poderia muito bem viajar de avião. Não precisaria de horas naquele lugar. Haley suspira ao mesmo tempo que ri. — Alex é cheio de problemas pessoais. Ele costuma visitar um tio de consideração, em Cincinnati, quando precisa espairecer. Então ele pega um trem e fica alguns dias fora. Skyler achou aquela explicação sem pé e muito menos sem cabeça. Ela ainda tentava decidir se acreditava naquela coisa toda, quando Alexsander se aproxima juntamente do garçom. — Alex! — Haley se levanta e abraça o então amigo. Seu olhar vai diretamente para Skyler, que evitava qualquer contato visual. Enquanto ela olhava para um ponto fixo na areia a sua frente, Alex tentava lembrar de
Os três jantaram tão animadamente, que Skyler foi capaz de esquecer todo o drama que sua vida carrega. Ela sorria, diante de cada coisa engraçada que Alex e Haley compartilhavam, de algumas saídas. Quando Haley decide que é hora de ir embora, Skyler se despede com um breve aceno e se afasta, para deixar que os dois amigos se despeçam. Ela observa, quando eles cochicham algo e riem daquilo. Após um abraço caloroso, Haley deposita um beijo na bochecha de Alex e então se junta a irmã. — Hal, eu posso fazer uma pergunta? — Claro, Sky. — responde, ligando o carro. — O Alex... quer dizer... vocês... Haley ri. Ela já sabia qual seria a pergunta que sua irmã estava prestes a fazer. — Não. — Haley responde, ainda rindo. — Eu e o Alex nunca aconteceu e nem vai. — Ah... — Sky? — ela o olha. — Eu sou gay. Gosto de mulheres. Skyler quase se engasga. Ela não conseguia acreditar que sua irmãzinha, que amava pôneis cor de rosas, estava lhe dizendo que gostava de mulheres. — Nossa..
Após sua primeira noite de sono completa e sem nenhum pavor, Skyler despertou com bastante disposição. Ela sorri ao enxergar sua imagem no espelho do banheiro, feliz com o modo que seu cabelo estava. Haley tinha mãos de anjo e conseguiu consertar o estrago que Stephen havia feito. Aquele gesto fez com que Skyler ficasse nas nuvens o dia inteiro. Haley passou o dia fora trabalhando, mas quando a noite se aproximou, ela entrou em casa repleta de bolsas. Parecia que tinha passado o dia no shopping, ao invés do trabalho. — Cheguei! — ela informa, deixando as bolsas ao pé da escada. — Sky, cadê você? Skyler não foi capaz de ouvir, pois estava no banheiro, tomando um banho bem quente e relaxante. Em poucas horas ela estaria trabalhando e aquilo a deixava muito feliz. Tão feliz, que ela estava cantando e não ouvia sua irmã berrar seu nome. Haley sobe até o quarto e percebe a alegria de sua irmã mais velha. Sem querer atrapalhar, ela deixa todas as sacolas, repletas de roupas e linge
— Você entendeu o que vai fazer? — Alex pergunta. — Posso explicar mais uma vez, caso queira. — Não. Eu entendi. Eles vão me mostrar o convite e eu vou escanear para ver se é real e o nome da pessoa. Se a luz ficar preta, é vip. Se ficar verde, salão. Se ficar vermelha, não está na lista. Alex sorri. Apesar de ser um trabalho fácil, ele estava feliz por ela ter entendido tudo de primeira. A última coisa que ele queria, era problemas com a irmã dela. Haley era muito brigona e defendia quem amava com unhas e dentes. — Ótimo. — ele diz. — Bem, vou mandar abrir e vou receber o pessoal do vip. Qualquer coisa, você me chama. Tudo bem? Após um aceno com a cabeça de Skyler, Alex vai para perto da escada e diz para abrirem as portas. De forma casual e tranquila, as primeiras pessoas vão entrando. — Olá, boa noite! — Skyler sorri, para o primeiro casal que entra. — Os convites, por favor. Os dois mostram os celulares e Skyler pega no scaner, passando-o imediatamente nos aparelhos a s
No final do evento, Skyler estava na porta à espera de sua irmã. Ela não havia visto Alex o resto da noite e ela só conseguia pensar em como ele devia estar arrependido, de ter lhe dado uma oportunidade. — Você é uma burra. — ela resmunga, para si mesma. — Provavelmente vai viver para sempre na sombra da sua irmã mais nova. Provavelmente não, com certeza! Ela estava tão preocupada em se culpar, que não notou Alex se aproximar. Ele cruzou os braços e ficou encarando-a de maneira divertida, enquanto a mesma, se martirizava. Atrás de todo aquele drama, Alex enxergava Skyler. Obvio que o vestido justo, com aquele decote, ajudou, mas ele a enxergava. Ela era bastante bonita e aparentava ser extremamente doce e gentil. Apesar de não fazer o tipo loira escultural, pelo qual ele estava acostumado a ficar, tinha algo em Skyler que o intrigava. — A proposta ainda está de pé! — Alex diz, fazendo com que Skyler o olhe assustada. — O emprego é seu, se ainda o quiser. Skyler o encara, sem