— Seu amigo? Tem certeza?
Já era a quinta vez que Skyler perguntava. Ela não conseguia acreditar na coincidência de ter esbarrado justamente com um amigo de sua irmã.
— Mas o que ele fazia naquele trem? — ela pergunta, querendo achar algum motivo para Alexsander ser uma pessoa ruim. — Sendo dono desse lugar, ele poderia muito bem viajar de avião. Não precisaria de horas naquele lugar.
Haley suspira ao mesmo tempo que ri.
— Alex é cheio de problemas pessoais. Ele costuma visitar um tio de consideração, em Cincinnati, quando precisa espairecer. Então ele pega um trem e fica alguns dias fora.
Skyler achou aquela explicação sem pé e muito menos sem cabeça. Ela ainda tentava decidir se acreditava naquela coisa toda, quando Alexsander se aproxima juntamente do garçom.
— Alex! — Haley se levanta e abraça o então amigo.
Seu olhar vai diretamente para Skyler, que evitava qualquer contato visual. Enquanto ela olhava para um ponto fixo na areia a sua frente, Alex tentava lembrar de onde conhecia aquele cabelo torto.
— Já sabe que seu pedido é todo por conta da casa, não é? — Alex pergunta, sorrindo para ela.
— Acho completamente injusto, mas tudo bem. É bom ser mimada às vezes. Ah, Alex, essa é minha irmã. Sky, esse é o Alex.
Quando Skyler finalmente se rendeu e olhou para Alex, foi como se uma luz se acendesse em sua cabeça.
— É você. — ele diz. — A menina do trem é sua irmã? Uau.
Skyler sorri sem jeito e apenas acena a cabeça para ele, em total timidez e vergonha.
— É. Preciso entender essa história direito, mas ela é sim. E veio para ficar, não é, irmã?
Haley encara Skyler, com um olhar fixo e intimidador.
— Sim.
— Eu tenho que ir resolver algumas coisas financeiras, mas daqui a pouco venho beber um vinho com vocês, tudo bem?
— Claro.
Alex sorri em resposta e se afasta das duas irmãs. Enquanto ele vai para seu escritório, que ficava acima da cozinha do lugar, seu telefone toca. O nome Irina berrava na tela e ele quase conseguia ouvi-la também.
— Irina? — ele atende, com a voz baixa e sem paciência.
— Onde está, Alex? Ainda surtando em trens?
Alex revira os olhos, diante daquela voz aguda e chata, que apenas sua namorada tem.
— O que quer, Irina? Não cansa de destruir minha mente?
— Nós precisamos conversar, querido. Você não pode simplesmente sumir, quando um problema aparece.
— Eu até concordaria, se o problema em questão, não fosse você pelada em cima de um segurança.
A mulher do outro lado do telefone bufa.
— Amor, eu estava bêbada. Sem querer, o confundi com você.
— Ah, claro. — Alex ri, ironicamente. — Aquele homem super branco, tem tudo a ver comigo, super negro.
— Vem para cá hoje? Nós bebemos um pouco, conversamos... vem!
— Vou pensar. Vou desligar, pois tenho mais o que fazer.
Sem esperar uma resposta da sua infiel namorada, Alex desliga a ligação e j**a o aparelho dentro da gaveta. A última coisa que ele queria ou precisava, era aturá-la.
Alex estava prestes a completar trinta e cinco anos e sentia toda a pressão das pessoas, em cima de seu relacionamento. Ele e Irina tinham três anos juntos, em meio a idas e vindas. Diante de tanta briga e agora com uma recente traição, Alex sentia-se esgotado dessa relação. Ele viajou até a cidade onde cresceu, buscando alguma luz com seu tio, o homem que o criou por toda sua vida.
Sendo o homem de poucas palavras que ele sempre foi, Charles, apenas disse que Alexsander tinha sabedoria o suficiente, para saber o que fazer. Porém, ele não fazia ideia. Ao mesmo tempo que queria terminar com Irina e voltar a viver em paz, ele lembra que os anos estão passando e ele nunca sentiu que devesse casar ou ter filhos com alguma das mulheres que se relacionou.
Após checar os relatórios financeiros, dos dias em que esteve fora, Alex resolve ir se juntar a Haley e Skyler. Ele gostava de acasos e achou interessante esbarrar justamente com a irmã de uma grande amiga.
— Posso me juntar a vocês? — ele pergunta, se aproximando de onde elas estavam sentadas.
— Claro.
Skyler sequer ergue o olhar. Ela abraça a si mesma, em uma tentativa de esconder as marcas que estão pelos braços. Skyler não queria que ele visse, mas Alex já havia reparado nas marcas desde que a olhou quando chegara.
— Então, sobre o que falavam?
— Sky cismou que precisa de um emprego. — Haley diz, revirando os olhos. — Você que me conhece há anos, diga a ela que não precisa.
— Hal, é perfeitamente normal que alguém queira trilhar seu próprio caminho.
— Eu sei, mas...
— Você tem experiência com o que? — Alex pergunta, encarando Skyler.
Ela leva alguns segundos, mas o encara.
— Não. Eu não... — Skyler suspira. — nunca trabalhei.
— Mas Skyler é muito esforçada, Alex. Ela sempre me ajudou nos trabalhos de escola. É super inteligente.
Alex volta a encarar Skyler. Ela repara que de repente, o olhar amendoado dele, fica escuro. Ao mesmo tempo que era acolhedor, era tentador.
— Acho que eu tenho algo que possa ajudar.
— Aqui? — Haley pergunta.
— Talvez em um futuro, mas amanhã terá uma recepção, em que meu restaurante irá servir o buffet. Fiquei de arrumar uma recepcionista para o evento, mas tinha esquecido. — ele encara Skyler novamente, com o olhar suavizado. — E então, você topa?
— O que eu precisaria fazer?
— Bem, você irá ficar na entrada do evento, checando se os convidados estão ou não na lista. Haverá alguns que serão VIPS e precisará de uma pulseira, para poder caminhar pelo camarote livremente. Será tranquilo. E de todo modo, caso você tenha alguma dúvida do que fazer, eu estarei lá.
Era óbvio que Skyler estava tremendamente disposta a aceitar aquele trabalho. Ela precisava de uma vida nova e se reerguer, com as próprias pernas. E o fato de Alexsander estar a encarando de uma maneira bem gentil, ajudou ainda mais na decisão.
— Tudo bem. Eu aceito.
Os três jantaram tão animadamente, que Skyler foi capaz de esquecer todo o drama que sua vida carrega. Ela sorria, diante de cada coisa engraçada que Alex e Haley compartilhavam, de algumas saídas. Quando Haley decide que é hora de ir embora, Skyler se despede com um breve aceno e se afasta, para deixar que os dois amigos se despeçam. Ela observa, quando eles cochicham algo e riem daquilo. Após um abraço caloroso, Haley deposita um beijo na bochecha de Alex e então se junta a irmã. — Hal, eu posso fazer uma pergunta? — Claro, Sky. — responde, ligando o carro. — O Alex... quer dizer... vocês... Haley ri. Ela já sabia qual seria a pergunta que sua irmã estava prestes a fazer. — Não. — Haley responde, ainda rindo. — Eu e o Alex nunca aconteceu e nem vai. — Ah... — Sky? — ela o olha. — Eu sou gay. Gosto de mulheres. Skyler quase se engasga. Ela não conseguia acreditar que sua irmãzinha, que amava pôneis cor de rosas, estava lhe dizendo que gostava de mulheres. — Nossa..
Após sua primeira noite de sono completa e sem nenhum pavor, Skyler despertou com bastante disposição. Ela sorri ao enxergar sua imagem no espelho do banheiro, feliz com o modo que seu cabelo estava. Haley tinha mãos de anjo e conseguiu consertar o estrago que Stephen havia feito. Aquele gesto fez com que Skyler ficasse nas nuvens o dia inteiro. Haley passou o dia fora trabalhando, mas quando a noite se aproximou, ela entrou em casa repleta de bolsas. Parecia que tinha passado o dia no shopping, ao invés do trabalho. — Cheguei! — ela informa, deixando as bolsas ao pé da escada. — Sky, cadê você? Skyler não foi capaz de ouvir, pois estava no banheiro, tomando um banho bem quente e relaxante. Em poucas horas ela estaria trabalhando e aquilo a deixava muito feliz. Tão feliz, que ela estava cantando e não ouvia sua irmã berrar seu nome. Haley sobe até o quarto e percebe a alegria de sua irmã mais velha. Sem querer atrapalhar, ela deixa todas as sacolas, repletas de roupas e linge
— Você entendeu o que vai fazer? — Alex pergunta. — Posso explicar mais uma vez, caso queira. — Não. Eu entendi. Eles vão me mostrar o convite e eu vou escanear para ver se é real e o nome da pessoa. Se a luz ficar preta, é vip. Se ficar verde, salão. Se ficar vermelha, não está na lista. Alex sorri. Apesar de ser um trabalho fácil, ele estava feliz por ela ter entendido tudo de primeira. A última coisa que ele queria, era problemas com a irmã dela. Haley era muito brigona e defendia quem amava com unhas e dentes. — Ótimo. — ele diz. — Bem, vou mandar abrir e vou receber o pessoal do vip. Qualquer coisa, você me chama. Tudo bem? Após um aceno com a cabeça de Skyler, Alex vai para perto da escada e diz para abrirem as portas. De forma casual e tranquila, as primeiras pessoas vão entrando. — Olá, boa noite! — Skyler sorri, para o primeiro casal que entra. — Os convites, por favor. Os dois mostram os celulares e Skyler pega no scaner, passando-o imediatamente nos aparelhos a s
No final do evento, Skyler estava na porta à espera de sua irmã. Ela não havia visto Alex o resto da noite e ela só conseguia pensar em como ele devia estar arrependido, de ter lhe dado uma oportunidade. — Você é uma burra. — ela resmunga, para si mesma. — Provavelmente vai viver para sempre na sombra da sua irmã mais nova. Provavelmente não, com certeza! Ela estava tão preocupada em se culpar, que não notou Alex se aproximar. Ele cruzou os braços e ficou encarando-a de maneira divertida, enquanto a mesma, se martirizava. Atrás de todo aquele drama, Alex enxergava Skyler. Obvio que o vestido justo, com aquele decote, ajudou, mas ele a enxergava. Ela era bastante bonita e aparentava ser extremamente doce e gentil. Apesar de não fazer o tipo loira escultural, pelo qual ele estava acostumado a ficar, tinha algo em Skyler que o intrigava. — A proposta ainda está de pé! — Alex diz, fazendo com que Skyler o olhe assustada. — O emprego é seu, se ainda o quiser. Skyler o encara, sem
Logo que chegaram em casa, Skyler e Haley vão para seus respectivos quartos, a fim de tirar as roupas que vestiam e tomarem banho. A mais velha estava tão radiante e extasiada, que não conseguia dormir. Vestindo um dos pijamas que sua irmã havia lhe emprestado, Skyler deixa o quarto e vai até o de Haley. — Atrapalho? — ela pergunta, logo que sua irmã diz para entrar. — Claro que não, Sky. Vem aqui. Haley se ajeita na cama, dando espaço para que sua irmã se deite ao seu lado. Skyler coloca a cabeça no peito da mais nova, que acarinha seu cabelo. — Não consegue dormir? — Haley questiona. — Estou animada demais para conseguir. O peito de Haley balança, indicando uma risada. — Eu falei que Alex era um bom rapaz. — Como o conheceu? — Ah. — Haley ri novamente e se ajeita, de modo que Skyler sente de frente para ela. — Não me julgue, tudo bem? — Por quê? — Eu o conheci durante um sexo aleatório. Skyler encara a irmã completamente confusa com aquela informação. El
Depois de um dia repleto de sorrisos e lembranças, as irmãs deixaram a casa de repouso, com o coração cheio de amor. A mãe além de ter lembrado quem elas eram, foi capaz de dividir algumas lembranças. Já em casa, enquanto se arrumava para seu primeiro dia de trabalho com Alex, Skyler repassava toda a sua vida como se fosse um filme. Graças a sua mãe, certas lembranças estavam bem vividas em sua mente, deixando-a mais feliz que antes. Para o seu primeiro dia de trabalho, Skyler passeou pelas roupas de sua irmã mais nova e escolheu uma saia lápis na cor preto, que ia da altura do umbigo até os joelhos. A saia justa, combinou perfeitamente com a blusa branca de botões. Haley havia deixado um par de saltos altos perto da cama de Skyler, que ela calçou logo que terminou de se vestir. Graças ao abusivo marido que teve, ela não precisava fazer mil coisas com o cabelo. Após penteá-lo, já estava bom. Skyler passou a maquiagem pelas marcas de agressões que estavam expostas e se observou n
Uma semana havia se passado, desde que Skyler começou uma nova vida e um emprego novo. Ela sabia andar por Los Angeles sem se perder, graças a sua boa memória e o celular que Haley havia lhe arrumado. No emprego, ela sabia o nome de cada um dos funcionários e qualquer coisa que perguntassem. Skyler estava craque naquilo. E Alex cumpriu com o combinado, pagando-a diariamente, o que a ajudou na compra de roupas e sapatos novos. A cada dois dias, ela ia visitar sua mãe. Apesar de saber como o Alzheimer funcionava, Skyler achava que as visitas regulares, fariam com que ela se lembrasse com frequência da vida antiga. Aproveitando o ótimo sol que estava fazendo e seguindo o conselho da irmã mais nova, Skyler estica um lenço na areia fofa da praia e olha em volta. Ninguém a olhava e isso a deixou tranquila o suficiente, para retirar a pouca roupa que vestia e ficar apenas com um biquíni amarelo. Quando se senta no lenço em que abriu, ela encara as marcas arroxeadas em seu corpo. Algum
Nos sonhos mais profundos de Skyler, ela vivia uma vida boa e tranquila. Trabalhando como nunca, conhecendo lugares e mais lugares, junto de Haley, e se esforçando a cada dia, para que sua mãe tivesse um resto de vida agradável e feliz. Ter criado coragem para fugir de Stephen, foi algo que Skyler guardou por muito tempo. Diversas vezes ela tentou e desistira ainda na porta de casa, pois em todas as simulações feitas em sua mente, ele e acharia e faria ainda pior que antes. E agora ele estava ali, diante dela. Portando seu sorriso irônico e desafiador, ao lado de um homem que Skyler jamais vira antes. — O... o... A presença de Stephen, lhe causava calafrios. Cada agressão sofrida, em todos os anos que passou com ele, passavam como um flashback na mente de Skyler. Ela não conseguia sequer formar uma frase, pelo terror que sua presença estava causando a ela. — O que eu estou fazendo aqui? — ele pergunta, batucando o balcão a sua frente. — Não é óbvio? Vim levar a minha mulher p