Os três jantaram tão animadamente, que Skyler foi capaz de esquecer todo o drama que sua vida carrega. Ela sorria, diante de cada coisa engraçada que Alex e Haley compartilhavam, de algumas saídas.
Quando Haley decide que é hora de ir embora, Skyler se despede com um breve aceno e se afasta, para deixar que os dois amigos se despeçam. Ela observa, quando eles cochicham algo e riem daquilo. Após um abraço caloroso, Haley deposita um beijo na bochecha de Alex e então se junta a irmã.
— Hal, eu posso fazer uma pergunta?
— Claro, Sky. — responde, ligando o carro.
— O Alex... quer dizer... vocês...
Haley ri. Ela já sabia qual seria a pergunta que sua irmã estava prestes a fazer.
— Não. — Haley responde, ainda rindo. — Eu e o Alex nunca aconteceu e nem vai.
— Ah...
— Sky? — ela o olha. — Eu sou gay. Gosto de mulheres.
Skyler quase se engasga. Ela não conseguia acreditar que sua irmãzinha, que amava pôneis cor de rosas, estava lhe dizendo que gostava de mulheres.
— Nossa... eu...
— Me deixa um pouco chateada, saber que você nunca notou. — ela diz. — Gosto de meninas desde sempre. Quando foi que você me viu com algum garoto?
Era verdade. Desde a escolinha, que Haley nutria mais carinho pelas meninas que meninos. No fundamental, foi quando percebeu que gostava de meninas. Um dos garotos a chamou para sair e ela aceitou, pois adorava conversar com a garota que trabalhava na lanchonete. Enquanto estava em seu encontro, no qual o garoto apenas falava de futebol, Haley observava a forma graciosa com que América andava pelo salão. Em como ela sorria, ao ouvir algum elogio ou agradecimento. Mas foi exatamente quando Tom tentou beijá-la, que Haley sabia que aquilo não era para ela. A sensação era de que seria capaz de vomitar tudo o que tinha e não tinha no estomago, incluindo o próprio.
Nunca passou de uma paixãozinha da lanchonete, mas Haley sempre soube o que queria para sua vida. No ensino médio ela descolou uns beijinhos escondidos, mas nada muito sério. Os moradores do Missouri, eram muito tradicionais. Embora tivessem pessoas assumidas na cidade, Haley não sabia se aguentaria a pressão daquele povo. Na faculdade, ela se libertou. Conheceu Andréa, uma francesa toda perfumada e cheia de amor para dar. Enfim, teve sua primeira experiencia sexual. Não duraram, uma vez que Andréa voltou para Paris e a bloqueou de todas as coisas.
Haley decidiu viver o presente e não se apegar a mais ninguém. Além de trabalhar muito, ela pegava várias e não se apegava a ninguém.
— Desculpe. — Skyler diz, sentindo-se mal, por não ter prestado atenção em sua irmã. — Eu...
— Relaxa, Sky. Não estou chateada de verdade.
Skyler acena, embora não consiga lidar com aquilo. Ela viveu tanto tempo à mercê de Stephen, que esqueceu de todo o resto. Esqueceu de viver sua própria vida e principalmente, de saber sobre sua irmã.
— Animada para amanhã? — Haley pergunta. — Será um baita evento.
— Você sabe que tipo de evento é esse?
— Olha, até onde eu sei, será lançamento de uma linha de joias. Estará repleto de pessoas importantes. E o Alex estará lá também.
— Eu sei. Ele disse.
Skyler não nota, mas Haley tinha um sorriso travesso nos lábios. Ela havia entendido a pergunta de sua irmã, sobre ela e Alex, como um possível interesse. Quando na verdade, Skyler só queria saber um pouco da vida de sua irmã mais nova.
— Você precisará vestir roupas sociais. Eu acho que tenho algo para emprestar.
[...]
— Eu não posso usar isso. — Skyler diz, em total reprovação a roupa que sua irmã mostrava. — Eu estou quase na casa dos trinta, não posso.
A roupa em questão, era um vestido preto e justo. Ele tinha as alças grossas e um detalhe no busto, que deixaria os seios de Skyler quase saltando para fora. Chegando próximo ao joelho, tinha um pequeno corte. Era deslumbrante e social ao mesmo tempo.
— Você ainda fará vinte e nove, Sky. Para de graça.
— Hal... e essas marcas? — ela questiona, passando as mãos pelos braços. — Tenho que usar algo que cubra tudo.
Haley revira os olhos e caminha até sua penteadeira. Ela logo retorna segurando uma base e um pó.
— Se prepare para o milagre.
A garota passa um pouco de base por cada marca visível nos braços e seios de sua irmã. Após alguns minutos, maquiando as agressões sofridas, Haley vira a irmã para diante do enorme espelho que havia ali. Skyler encara admirada, a obra de arte que sua irmãzinha foi capaz de fazer.
— Meu Deus... — ela murmura, tocando o braço com cuidado. — Não dá para ver nada... você é genial.
— Claro que sou, irmãzinha. E então? Se sente mais disposta a usar o vestido?
Skyler pega o tecido em suas mãos e coloca na frente do corpo, tentando visualizar como ficaria ali. Ela até gostava do que imaginou, mas o cabelo que tinha no momento, a deixava com a autoestima mais baixa do que costuma estar.
— Hal... você... — ela tenta encontrar palavras, enquanto mexe no cabelo toro. — Conseguiria melhorar isso?
— Se senta aí.
Haley vai até o banheiro e pega uma tesoura na gaveta da pia. Ela volta até sua irmã, que já está sentada a sua espera e começa a consertar o estrago que estava aquele cabelo.
— Por que ele cortou? — Haley pergunta.
Skyler suspira, com as lembranças recentes preenchendo sua mente.
— Eu estava sentada diante da TV, fazendo uma trança. Eu gostava de colocar em alguns tutoriais no youtube, para aprender formas de trançá-lo. Eu juro, juro que não ouvi Stephen chegar. Ele estava completamente bêbado, como todos os outros dias. Começou a gritar comigo e quebrar cada vidro que encontrava na frente, dizendo o quão inútil eu era. Stephen gritava que eu só sabia ficar mexendo no cabelo e o quanto ele odiava aquilo.
Ela pausa, para recuperar o folego. Lembrar daquilo novamente, embora não fizesse muito tempo que tivesse ocorrido, a machucava intensamente.
— Ele me puxou pelo cabelo, até o banheiro do quarto. Stephen pegou uma tesoura e começou a cortá-lo, de qualquer jeito e violentamente. Dei muita sorte, em ele não ter me cortado ou furado. Você sabe que eu sempre cuidei do meu cabelo muito bem e amava cultivá-lo. De todas as violências que sofri, essa foi uma das mais dolorosas.
Haley sentia uma dor profunda no coração, ao ouvir o relato de sua irmã. Ela se sentia culpada, por ter ido embora e deixado ela para trás. Principalmente por nunca ter notado, o quão manipulador e violento seu cunhado era.
Ela abraça Skyler e deposita um beijo em sua bochecha molhada.
— Vamos prometer uma coisa aqui? — Skyler assente. — Nunca mais, falaremos de Stephen ou tudo o que você passou. Tudo bem? Daqui por diante, só falaremos de coisas boas. Você já tem em que trabalhar amanhã e tudo irá se encaixar, você vai ver.
Skyler sorri e se vira para abraçar fortemente, a única pessoa capaz de amar e cuidar dela, da maneira que merece. Por enquanto.
Após sua primeira noite de sono completa e sem nenhum pavor, Skyler despertou com bastante disposição. Ela sorri ao enxergar sua imagem no espelho do banheiro, feliz com o modo que seu cabelo estava. Haley tinha mãos de anjo e conseguiu consertar o estrago que Stephen havia feito. Aquele gesto fez com que Skyler ficasse nas nuvens o dia inteiro. Haley passou o dia fora trabalhando, mas quando a noite se aproximou, ela entrou em casa repleta de bolsas. Parecia que tinha passado o dia no shopping, ao invés do trabalho. — Cheguei! — ela informa, deixando as bolsas ao pé da escada. — Sky, cadê você? Skyler não foi capaz de ouvir, pois estava no banheiro, tomando um banho bem quente e relaxante. Em poucas horas ela estaria trabalhando e aquilo a deixava muito feliz. Tão feliz, que ela estava cantando e não ouvia sua irmã berrar seu nome. Haley sobe até o quarto e percebe a alegria de sua irmã mais velha. Sem querer atrapalhar, ela deixa todas as sacolas, repletas de roupas e linge
— Você entendeu o que vai fazer? — Alex pergunta. — Posso explicar mais uma vez, caso queira. — Não. Eu entendi. Eles vão me mostrar o convite e eu vou escanear para ver se é real e o nome da pessoa. Se a luz ficar preta, é vip. Se ficar verde, salão. Se ficar vermelha, não está na lista. Alex sorri. Apesar de ser um trabalho fácil, ele estava feliz por ela ter entendido tudo de primeira. A última coisa que ele queria, era problemas com a irmã dela. Haley era muito brigona e defendia quem amava com unhas e dentes. — Ótimo. — ele diz. — Bem, vou mandar abrir e vou receber o pessoal do vip. Qualquer coisa, você me chama. Tudo bem? Após um aceno com a cabeça de Skyler, Alex vai para perto da escada e diz para abrirem as portas. De forma casual e tranquila, as primeiras pessoas vão entrando. — Olá, boa noite! — Skyler sorri, para o primeiro casal que entra. — Os convites, por favor. Os dois mostram os celulares e Skyler pega no scaner, passando-o imediatamente nos aparelhos a s
No final do evento, Skyler estava na porta à espera de sua irmã. Ela não havia visto Alex o resto da noite e ela só conseguia pensar em como ele devia estar arrependido, de ter lhe dado uma oportunidade. — Você é uma burra. — ela resmunga, para si mesma. — Provavelmente vai viver para sempre na sombra da sua irmã mais nova. Provavelmente não, com certeza! Ela estava tão preocupada em se culpar, que não notou Alex se aproximar. Ele cruzou os braços e ficou encarando-a de maneira divertida, enquanto a mesma, se martirizava. Atrás de todo aquele drama, Alex enxergava Skyler. Obvio que o vestido justo, com aquele decote, ajudou, mas ele a enxergava. Ela era bastante bonita e aparentava ser extremamente doce e gentil. Apesar de não fazer o tipo loira escultural, pelo qual ele estava acostumado a ficar, tinha algo em Skyler que o intrigava. — A proposta ainda está de pé! — Alex diz, fazendo com que Skyler o olhe assustada. — O emprego é seu, se ainda o quiser. Skyler o encara, sem
Logo que chegaram em casa, Skyler e Haley vão para seus respectivos quartos, a fim de tirar as roupas que vestiam e tomarem banho. A mais velha estava tão radiante e extasiada, que não conseguia dormir. Vestindo um dos pijamas que sua irmã havia lhe emprestado, Skyler deixa o quarto e vai até o de Haley. — Atrapalho? — ela pergunta, logo que sua irmã diz para entrar. — Claro que não, Sky. Vem aqui. Haley se ajeita na cama, dando espaço para que sua irmã se deite ao seu lado. Skyler coloca a cabeça no peito da mais nova, que acarinha seu cabelo. — Não consegue dormir? — Haley questiona. — Estou animada demais para conseguir. O peito de Haley balança, indicando uma risada. — Eu falei que Alex era um bom rapaz. — Como o conheceu? — Ah. — Haley ri novamente e se ajeita, de modo que Skyler sente de frente para ela. — Não me julgue, tudo bem? — Por quê? — Eu o conheci durante um sexo aleatório. Skyler encara a irmã completamente confusa com aquela informação. El
Depois de um dia repleto de sorrisos e lembranças, as irmãs deixaram a casa de repouso, com o coração cheio de amor. A mãe além de ter lembrado quem elas eram, foi capaz de dividir algumas lembranças. Já em casa, enquanto se arrumava para seu primeiro dia de trabalho com Alex, Skyler repassava toda a sua vida como se fosse um filme. Graças a sua mãe, certas lembranças estavam bem vividas em sua mente, deixando-a mais feliz que antes. Para o seu primeiro dia de trabalho, Skyler passeou pelas roupas de sua irmã mais nova e escolheu uma saia lápis na cor preto, que ia da altura do umbigo até os joelhos. A saia justa, combinou perfeitamente com a blusa branca de botões. Haley havia deixado um par de saltos altos perto da cama de Skyler, que ela calçou logo que terminou de se vestir. Graças ao abusivo marido que teve, ela não precisava fazer mil coisas com o cabelo. Após penteá-lo, já estava bom. Skyler passou a maquiagem pelas marcas de agressões que estavam expostas e se observou n
Uma semana havia se passado, desde que Skyler começou uma nova vida e um emprego novo. Ela sabia andar por Los Angeles sem se perder, graças a sua boa memória e o celular que Haley havia lhe arrumado. No emprego, ela sabia o nome de cada um dos funcionários e qualquer coisa que perguntassem. Skyler estava craque naquilo. E Alex cumpriu com o combinado, pagando-a diariamente, o que a ajudou na compra de roupas e sapatos novos. A cada dois dias, ela ia visitar sua mãe. Apesar de saber como o Alzheimer funcionava, Skyler achava que as visitas regulares, fariam com que ela se lembrasse com frequência da vida antiga. Aproveitando o ótimo sol que estava fazendo e seguindo o conselho da irmã mais nova, Skyler estica um lenço na areia fofa da praia e olha em volta. Ninguém a olhava e isso a deixou tranquila o suficiente, para retirar a pouca roupa que vestia e ficar apenas com um biquíni amarelo. Quando se senta no lenço em que abriu, ela encara as marcas arroxeadas em seu corpo. Algum
Nos sonhos mais profundos de Skyler, ela vivia uma vida boa e tranquila. Trabalhando como nunca, conhecendo lugares e mais lugares, junto de Haley, e se esforçando a cada dia, para que sua mãe tivesse um resto de vida agradável e feliz. Ter criado coragem para fugir de Stephen, foi algo que Skyler guardou por muito tempo. Diversas vezes ela tentou e desistira ainda na porta de casa, pois em todas as simulações feitas em sua mente, ele e acharia e faria ainda pior que antes. E agora ele estava ali, diante dela. Portando seu sorriso irônico e desafiador, ao lado de um homem que Skyler jamais vira antes. — O... o... A presença de Stephen, lhe causava calafrios. Cada agressão sofrida, em todos os anos que passou com ele, passavam como um flashback na mente de Skyler. Ela não conseguia sequer formar uma frase, pelo terror que sua presença estava causando a ela. — O que eu estou fazendo aqui? — ele pergunta, batucando o balcão a sua frente. — Não é óbvio? Vim levar a minha mulher p
Alex ficou encarando Skyler, esperando que ela continuasse. Ele não queria demonstrar já ter ouvido uma conversa pessoal, em que o fazia imaginar que ela seria casada. — Seu... marido? — É... é complicado. Skyler passa a mão pelos braços, onde as marcas estavam quase invisíveis. Alex sabia que tinha toda uma história por trás das marcas que aquela mulher levava, ele apenas não tinha intimidade para perguntar qual era. — Eu prometo que conto em uma outra hora. — ela diz. — Eu só... não sei o que fazer. Agora. — Quer que eu peça para ele ir? Pela primeira vez naquela noite, Skyler o olha nos olhos. — Você faria isso? — Se ele te intimida e você não está confortável com a presença dele, claro que sim. O coração de Skyler aqueceu de uma maneira que não acontecia há muito tempo. — Vamos. — Alex diz. — Vamos sair desse banheiro. — Você me dá mais um segundo? Já vou sair. Alexsander entendeu que ela precisava de mais algum momento, para lidar com o que estava por vir.