Dois

— Ei? Você está bem?

Uma vez que aquele homem começa a se abaixar para se aproximar de Skyler, ela rapidamente se levanta e da dois passos para trás.

— Sim. — ela responde, olhando para o chão.

— Tem certeza? Você ficou muito... ei?

Assim que se firmou, Skyler deixou aquele homem falando sozinho e disparou para o vagão aonde iria. Ela olha em volta, sem saber ainda se quer encontrar a companhia de leito ou apenas ficar sozinha.

A mulher acaba optando por se sentar sozinha e olha o cardápio que tinha a sua frente. Com sua visão periférica, ela pode ver o homem que havia trombado nela, passar. Ele mexia no celular, completamente alheio a qualquer coisa que estivesse acontecendo a sua volta. Era até como se não se importasse com o que tinha acabado de acontecer.

Skyler até tenta não o acompanhar com o olhar, mas tinha algo naquele homem que a intrigava. Então enquanto está encolhida em um canto da mesa que havia escolhido, ela observa quando ele anda de um lado para o outro, falando ao telefone. Em um certo momento ele olha na direção dela e sua expressão é curiosa. Ele quer saber o motivo dela estar encarando-o, depois de sair correndo da trombada que deram.

Rapidamente Skyler olha pela janela, cortando toda e qualquer troca de olhares que tiveram. Sua respiração começa a ficar falhada, devido ao medo que ela está sentindo.

O trem para e ela observa que parou em uma estação. Skyler começa a olhar para os lados, desesperada. A única coisa que vinha em sua mente, era seu marido entrando por algum lugar e a arrastando para casa pelo pouco cabelo que resta.

Sem pensar duas vezes, ela corre de volta para os leitos. Após trancar a porta, ela se senta em sua cama e abraça suas pernas. Não há um segundo em que ela pare de olhar para a porta.

Deviam ter quase uma hora que Skyler estava naquela mesma posição, quando a maçaneta começou a mexer. Ela se retraiu e agarrou ainda mais as pernas, quando viu a porta se abrir. Skyler relaxou parcialmente, ao notar que era apenas a sua companhia de leito.

— Oi... você está bem?

Ela apenas balança a cabeça. Tinha receio que sua voz saísse baixa ou apavorada demais.

— Eu trouxe isso aqui para você. — a loira coloca um prato com macarrão em cima da cama de Skyler. — Eu vi você sair correndo da mesa... previ que não tivesse comido nada e resolvi trazer isso.

— Obrigada.

Skyler relaxa as pernas e puxa o prato para perto de si. Ela come tudo com bastante rapidez, sobre os olhares da loira curiosa. Não era o suficiente, Skyler ainda estava com fome.

— Eu me chamo Nancy e você?

Havia muito tempo que Skyler não sabia o que era confiar em alguém. Seu pai morreu cedo, devido a um câncer. A mãe estava em uma casa de repouso, por sofrer de Alzheimer. A única irmã, se mudou bem nova, deixando Skyler apenas com os pais de Stephen e o próprio. Então quando alguém parece disposto a se aproximar, ela fica receosa.

— Elena. — mente.

Nancy não acredita, devido o tempo que Skyler levou para responder. Mas ela não menciona, pois sabe que algo está errado com a sua parceira de cabine.

— Você quer conversar ou?

— Não. — Skyler diz, dura.

— Tudo bem. Olha, eu vou ficar bem aqui, lendo um livro. Se quiser alguma coisa, principalmente conversar, pode falar.

Obviamente que Skyler não confiava naquela mulher, mas seu coração se manteve aquecido por uns instantes. Era bom saber que alguém se importava com o que ela tinha a dizer.

— Você mora no Missouri? — Skyler pergunta, de repente.

Nancy a olha e larga o livro, sorrindo.

— Não. Eu moro na Califórnia. Estou vindo de Chicago.

— Ah, sim.

— Você mora lá? — Skyler a olha. — No Missouri.

— Não.

Nancy solta uma risada baixa. Ela não sabia o problema que a outra mulher tinha, mas estava determinada a descobrir.

— Então... o que está indo fazer na Califórnia?

— Ah... minha irmã mora lá. Estou indo... vê-la.

— E já foi até lá alguma vez?

— Não. É a primeira.

— Caramba, você vai amar! — Nancy sorri e b**e palmas animada. — As baladas, as lojas, as praias... você está precisando pegar uma corzinha.

Skyler sorri envergonhada. Pela primeira vez, em anos, ela está sorrindo por algo divertido. E aquilo a faz tão bem, que ela e Nancy embalam em uma conversa sobre as coisas boas para se fazer na Califórnia.

[...]

Em todas as horas das refeições, Nancy levava alguma coisa para Skyler comer na cabine. Ela sempre embalava algum assunto com a assustada mulher, a fim de fazê-la se distrair.

Quando o trem chegou na estação de Los Angeles, Skyler decidiu esperar que todos saíssem, para depois fazer o mesmo. Ela queria evitar toda e qualquer pessoa estranha.

— Elena, você não vem? — Nancy pergunta, antes de sair.

— Vou... eu só... perdi meus brincos. Vou procurar.

Durante as rápidas conversas que tiveram, Nancy havia reparado muito bem em Skyler. O modo com que ela se abraçava, cada vez que se sentia com receio de alguma pergunta. O corte de cabelo torto. A cicatriz no queixo e o rosto inchado. Então quando ela mencionou procurar brincos perdidos, ela sabia ser mentira, já que Skyler não tinha as orelhas furadas.

Sem saída, já que Skyler não abria guarda para uma possível ajuda, Nancy vai embora, deixando a fugitiva para trás.

Skyler olha de um lado a outro no corredor, antes de finalmente sair da cabine. Ela anda para uma das saídas, sem parar de checar todos os cantos a sua volta.

Uma vez que ela está na estação, no meio de tudo e todos, Skyler se esforça para não entrar em desespero e procura pelo par de olhos verdes que ela não vê há mais de cinco anos.

— Sky!

Ela se vira na direção da voz doce e feminina, e precisa se segurar, para não começar a chorar.

— Haley... — ela sussurra, quando finalmente está abraçada a irmã mais nova. — Eu senti tanto a sua falta.

— Eu também, irmã.

Skyler suspira, aliviada, por estar nos braços da única pessoa em quem pode confiar na vida.

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