Jaden
Colocando o chapéu na cabeça, desci do carro e atravessei a rua. Ao passar pela porta, o sino acima dela anunciou a minha chegada. O lugar ainda estava um tanto vazio e silencioso, mas algumas pessoas se preparavam para tocar em breve no pequeno palco.
— Bennett! Chegou em boa hora. Uísque duplo? — perguntou Mike.
Ele era o dono do lugar e um velho amigo. Boa índole, grande fé e um fofoqueiro.
— Isso aí. Sentei-me na banqueta diante dele.
— Saudade de quando o seu pai aparecia por aqui.
— Sabe como é a agenda de um governador. — Forcei um sorriso.
— Eu sei. — Riu. — Mas isso não me impede de sentir saudade do velho Bennett.
Ele colocou o copo sobre a bancada, à minha frente. Apanhei-o e levei-o até o nariz, sentindo o adocicado e defumado aroma do líquido de cor âmbar. Dei um gole, deixando a porção se demorar um pouco na boca antes de engoli-la, sentindo-a aquecer suavemente a garganta ao descer.
— Com licença. — Uma voz suave reverberou atrás de mim.
Não fazia nem cinco minutos que eu havia chegado, e o bar ainda não estava tão cheio, mas já tinha uma mulher me importunando.
Não, garota. Irmão Bennett errado.
Virei a cabeça um pouco para o lado, sem me dar o trabalho de olhá-la, apenas para que ela pudesse me ouvir melhor.
— Não estou a fim! — fui direto e rude, olhando para frente outra vez e tomando mais um gole da bebida. Mas, antes que eu pudesse engolir o uísque, dois dedos bateram com certa força no meu ombro.
— Com licença! — disse em um tom mais firme e um pouco mais alto.
— Já disse não, garota! — Fui impaciente, virando-me para ela. Era uma mulher jovem, loira e que jamais vi ali.
— Você está sentado em cima da minha jaqueta — disse ela firmemente, encarando-me nos olhos.
Olhei para baixo e me levantei depressa. Havia uma jaqueta de cor vermelha pendurada no encosto da baqueta em que estava sentado. A ponta da sua manga estava sobre o assento, onde segundos atrás o meu traseiro descansava. A mulher a apanhou e sacudiu, indo embora sem agradecer ou me encarar novamente. Não dando mais importância, voltei a me sentar. Olhei para o lado e vi muitas banquetas vazias. Por que não prestei atenção onde estava me acomodando?
— Mais uma dose? — perguntou Mike, aproximando-se com a garrafa na mão.
Coloquei o copo sobre a bancada e empurrei-o para ele.
— Boa noite — disse alguém no microfone.
Curioso, virei-me na sua direção. A garota que havia me incomodado pouco antes agora tinha um violão branco pendurado no seu corpo e vestia a bendita jaqueta.
— Sou Olivia Davis e vou cantar para vocês essa noite.
A banda começou a tocar, e ela os acompanhou no violão, tocando suavemente as cordas. Chegou mais perto do microfone e soltou vagarosamente a voz, cantando Before He Cheats. É, eu preciso admitir. É uma linda voz. Gradualmente o seu tom foi aumentando, embalando a curtição das pessoas que estavam ali e daquelas que chegavam uma atrás da outra, lotando o bar rapidamente.
Apanhando o copo, segui para uma mesa vaga diante do palco, podendo observá-la melhor. Seus cabelos iam até um pouco mais abaixo dos ombros em delicadas ondas. Por baixo da jaqueta, um vestido preto repleto de brilho prateado. Nos pés, um par de bota country marrom-escuro de cano médio, com bordados laterais em branco. E na cabeça, um chapéu de cor preta.
Seus olhos percorreram a plateia ao final de mais um refrão, encontrando os meus. No entanto, ela os desviou rapidamente, fechando os olhos em seguida e concentrando-se na música, a qual não necessitava de esforço algum da sua parte para cantar. Quando a canção terminou, ela iniciou outra em sequência.
Com o meu copo vazio, levantei-me e retornei para o balcão, desta vez verificando o banco antes de me sentar.
— Mais um, Mike.
Ele jogou o pano de prato sobre o ombro e apanhou a garrafa, vindo até mim e servindo-me.
— Ela é boa, não é?
Olhei rapidamente mais uma vez para ela por cima do ombro.
— De onde ela veio?
— De toda parte. Ela roda o país fazendo shows com a banda. Vai tocar durante a temporada de pecuária.
— Os três meses? — perguntei um tanto intrigado.
Recebemos muitos cantores e bandas, mas eles nunca ficam por tanto tempo, no máximo por duas semanas.
— A temporada inteira! — afirmou ele, também impressionado.
— E como ela veio parar aqui, cantando nessa espelunca? — perguntei em tom humorado, arrancando uma boa risada dele.
— Ela apareceu e perguntou se podia tocar de graça. Disse ser para poder divulgá-la na pecuária. O meu filho concordou na mesma hora. — Riu. — Não é para menos, ela é uma gata. Ainda se fala assim?
Sorri.
— É, acho que sim.
O show continuou por mais algumas horas, com pequenos intervalos. A doce voz cantou um belo repertório. Eu já estava na minha sexta dose de uísque. Ao longe, já havia avaliado e admirado cada curva dela e cada centímetro de pele à mostra.
Quando Olivia se despediu, já passava das dez da noite. As pessoas começaram a pagar suas contas e ir para as suas casas, ou fazer alguma merda na rua. Ela ajudou a banda a recolher alguns cabos e os microfones. Retirou a jaqueta pela terceira vez naquela noite, expondo novamente os seus ombros. Com as mãos, juntou os cabelos, fazendo um coque desajeitado no alto da cabeça. Ao se virar de costas, me permitiu ver a peculiar tatuagem que tinha na nuca. Uma abelha. Por que alguém tatua uma abelha?
Depois de um primeiro contato desajeitado, Olivia havia conseguido chamar a minha atenção, mesmo sem desejar, e eu me senti disposto a tentar alguma coisa. Chamei o garçom e pedi que levasse para ela uma taça de gim com tônica e cerejas no fundo. As mulheres com quem saí sempre bebiam isso; talvez seja o que garotas como ela também goste.
Com a taça na mão, ele saiu de trás do balcão e caminhou até ela, entregando o drinque. Olivia franziu o cenho com um pouco de estranhamento e olhou para mim. Sorri e levantei o meu copo em forma de cumprimento. Eu não sabia o porquê de me encontrar tão disposto. Talvez eu apenas quisesse chamar a sua atenção, assim como ela chamou a minha. Ou, quem sabe, eu tivesse bebido demais. O que de jeito nenhum é o meu costume. A essa hora eu devia estar em casa, dormindo!
Olivia respirou fundo e, de cabeça erguida e olhar duro, caminhou na minha direção. Parando diante de mim, colocou a taça sobre a bancada e deu-me um pequeno sorriso com olhar levemente estreito. Seus lábios eram carnudos, e o batom vermelho que os cobria, combinava bem com o verde dos seus olhos.
— Não estou a fim! — Ela tomou o copo da minha mão e virou, em um só gole, o restante da minha última dose.
Batendo o copo sobre a madeira do balcão, ela se afastou, indo embora após apanhar a jaqueta e a bolsa jogada aos pés do palco. Olivia não se deu o trabalho de olhar mais uma vez para mim, e um inevitável sorriso se abriu no meu rosto. Arisca, belo corpo, olhar e comportamento um tanto desafiador. E não posso esquecer que ela gosta de uísque. O combo perfeito para mim.
As palmas das minhas mãos chegaram a formigar. Adoraria poder colocá-la agora mesmo debruçada sobre o meu colo, erguer aquele vestido e espalmar a sua bunda, deixando a pele alva marcada com os meus dedos. Isso seria divinamente delicioso.
OliviaO ônibus da escola parou em frente à porteira do rancho. Desci, me despedindo do motorista, e percorri sob o sol quente a estrada até em casa. Ao me aproximar, observei como estava tudo estranhamente quieto. O meu pai não estava mexendo no trator, e a minha mãe não estendia roupas no varal ou fazia reparos nas camisas furadas, sentada em uma cadeira no alpendre.A porta dos fundos estava entreaberta. Subi os degraus e a empurrei, dando-me passagem. Meus olhos se arregalaram quando vi a dois passos um machado sujo de sangue, jogado no chão. Meu coração palpitou forte no peito com o pavor que me preencheu subitamente.— Mamãe — chamei-a, mas nenhum ruído foi ouvido.Tirei a mochila das costas e deixei-a no chão, junto a pia. Entrei na casa a passos oscilantes. Na quina da parede que separava a cozinha da sala, havia rastros de sangue sobre a tinta amarela. Uma mão se firmou ali antes de ser arrastada. Com olhos marejados e mãos trêmulas, continuei a caminhar. Uma linha de sangue
OliviaAo me sentar, logo o primeiro peão entrou na arena. Pobre coitado. Não durou nem cinco segundos. Depois veio o segundo. Caiu faltando milésimos para o fim do tempo. Então veio o terceiro. Ele arrasou. Jason teria que fazer muito melhor do que isso.— Esse lugar está vago? — perguntou um homem.— Sim — respondi, olhando-o em seguida. E, para minha surpresa, era o cara da noite anterior, no bar. Aquele, o senhor não-estou-a-fim.— Boa noite, cantora — cumprimentou-me com um sorrisinho debochado e sentou-se ao meu lado.— Oi. — Limitei-me a dizer, olhando novamente para frente.Um pequeno nervosismo surgiu em mim.De todos os lugares vagos, ele tinha mesmo que se sentar aqui?Espiei-o pelos cantos dos olhos, observando-o. A luz ali era melhor do que a do bar. As pequenas costeletas abaixo do grande chapéu mostravam a cor do seu cabelo. É escuro. Ele, assim como muitos cowboys por ali, tem a pele bronzeada pela lida. Acho isso tentador. O rosto tem o maxilar marcado, o corpo é gran
JadenOs dois dançaram juntos. Riram juntos. Jason brincou de tiro ao alvo só para pegar para ela um bendito coala de pelúcia, e Olivia sorriu satisfeita com aquela coisa feia. Ao longe, os acompanhei por toda a feira. Ela é bonita, dos pés à cabeça. Tem grossas panturrilhas que preenchem bem o cano da sua bota cromada.Os dois se divertiram por três longas horas. Ele notou que eu os acompanhava e encarou-me feio por duas vezes. Talvez, se tivesse coragem, depois viesse tirar satisfação, querer saber o que eu estava fazendo e o porquê disso. Diria a ele qualquer coisa, menos que estava muito interessado em trepar usando de muita força com aquela garota, que ele nem sequer teve coragem de tocar na cintura.Não sei bem o que Olivia tem ou o que despertou em mim naquela noite no bar. Só sei que desde então me pego pensando em como seria espalmar a sua bunda a cada olhar rude e resposta maldada. Ela havia atiçado o bicho dentro de mim. Aquele que faz uso da força e do laço para chegar ao
JadenQuando o sol terminou de se erguer atrás das montanhas, eu já estava cavalgando de volta para o rancho. Vi homens retornando para o pasto oeste.— Algum problema? — perguntei, alto.— Sim — respondeu um deles, vindo até mim.— A cerca foi torada outra vez.— Deixa eu adivinhar. Outro buraco?Ele assentiu.— O terceiro em uma semana. — Respirei fundo, frustrado. — Que diabos essa pessoa quer? — perguntei, irritado.— Acreditamos que esteja procurando por alguma coisa.— Não tem nada para ela aqui, seja quem for. Consertem a cerca. Coloque alguém de vigia essa noite.— Sim, senhor.Continuei o meu caminho, rumo à sede. Ao chegar à casa, Jason estava sentado na varanda com uma caneca nas mãos. Subi os degraus em direção à porta, já esperando ser interceptado por ele.— Que merda era aquela ontem à noite? — O seu tom denunciou um pouco da sua irritação.— Estava de olho em você.— Por três horas? — Levantou-se, vindo até mim.— O nosso pai agora é o governador, não posso mais deixar
JadenUm sorriso foi inevitável. Sempre é. O seu jeito um tanto ignorante me atiçava ao mesmo tempo que me irritava, mas precisava admitir, combinava muito bem com ela.— Na verdade, me parece perdida — disse sério.Olivia cruzou os braços à frente e arqueou a sobrancelha esquerda para mim.— Acho melhor deixar eu te guiar pela pista. Estar junto de um local é mais seguro.— Hoje você parece bem a fim. — Lançou-me um sorriso debochado.— Talvez eu esteja.Ela se afastou do balcão e deu um passo na minha direção, ficando a centímetros de distância. O seu perfume doce recendeu no meu nariz. Os olhos subiram do meu peito indo de encontro aos meus. Ela era baixinha, talvez um metro e sessenta, uma boa diferença para um homem com quase dois metros de altura. Mas isso apenas a deixava ainda mais sensual para mim.— Está a fim? — perguntou com a voz baixa, tocando os meus ombros com as pontas dos dedos, subindo até o pescoço.Prendi a minha respiração, concentrando-me em evitar que o meu memb
OliviaQuando o calor do seu corpo se foi, continuei grudada na lataria. Sentia as pernas fracas e as minhas estranhas vibrarem quentes. Por Deus! O que foi aquilo? O que é esse homem?Em um impulso, abri rapidamente a porta do carro e entrei. Não liguei o motor imediatamente. Não sabia se conseguiria dirigir naquele minuto. Se não fosse a sua arrogância, talvez eu tivesse tirado a roupa para ele ali mesmo. Ou será que a vontade súbita de me despir era devido à sua arrogância? Isso é problemático? Não tenho certeza, mas acho que sim.A caminhonete dele passou pela minha, indo embora. Coloquei a chave na ignição e liguei o motor, seguindo de volta para o estacionamento de trailers. Ao entrar naquilo que eu tinha há alguns anos como a minha casa, sentei-me na cama e retirei as botas. O meu corpo se pendeu para trás, acomodando-se no amontoado de travesseiros e almofadas. A minha mão direita tocou a minha barriga onde a sua havia estado alguns minutos atrás. Era como se a minha pele ainda
OliviaSubimos no palco e logo começamos a cantar. Não demorou nem duas músicas para que, em meio a plateia, eu enxergasse Jason. Parecia animado e segurava um copo de cerveja. Quando acabamos, ele me esperava aos fundos do palco. Na mão, tinha uma única rosa de cor vermelha. Preso ao seu fino caule, um delicado laço de cetim branco.— Obrigada. — Sorri e coloquei-me na posta dos pés para beijar o seu rosto. Mesmo que as botas tivessem saltos médios, ele era grande como o seu irmão.— Não tem de que — disse, retirando o chapéu.As suas bochechas ficaram levemente coradas, achei isso adorável.— Que dar uma volta? — chamei-o.— Pensei em te comprar uma maçã do amor e depois irmos na roda gigante.Sorri novamente. Jason se parecia com um dos muitos personagens dos livros de romance que lia na adolescência. É gentil, galanteador e um tanto romântico. E eu gosto muito disso.— Aceito — disse, sentindo-me um pouco nervosa com a proposta da roda gigante.O seu rosto se preencheu com um enorm
Olivia— Dez minutos lá em cima — disse Jason, balançando os ingressos à minha frente. — Está tudo bem? — Franziu o cenho.— Sim. — Tentei forçar um sorriso.Não queria que o nosso clima adorável fosse embora por minha culpa. Ou melhor… por culpa do seu belíssimo irmão.A nossa vez logo chegou e nós entramos. Quando a trava foi abaixada sobre nós e começamos lentamente a subir, concentrei a minha visão na maçã do amor que segurava firmemente com as duas mãos, a fim de não olhar para baixo. Eu não me dou bem com grandes alturas, mas Jason não precisa saber. Ele está sendo um amor e não quero estragar o seu plano romântico. E além disso, é só uns trinta metros de altura, eu posso lidar com isso.— E então… O que está achando de Helena?— Gosto daqui. — Olhei para ele. — A cidade tem um tamanho ideal e as pessoas são educadas.— Moraria aqui?— Talvez um dia, quando eu me cansar dos palcos.— Para onde vai depois daqui?— Os meninos e eu queremos ir para Nashville.— Tennessee?! — pergunt