Jaden
Quando o sol terminou de se erguer atrás das montanhas, eu já estava cavalgando de volta para o rancho. Vi homens retornando para o pasto oeste.
— Algum problema? — perguntei, alto.
— Sim — respondeu um deles, vindo até mim.
— A cerca foi torada outra vez.
— Deixa eu adivinhar. Outro buraco?
Ele assentiu.
— O terceiro em uma semana. — Respirei fundo, frustrado. — Que diabos essa pessoa quer? — perguntei, irritado.
— Acreditamos que esteja procurando por alguma coisa.
— Não tem nada para ela aqui, seja quem for. Consertem a cerca. Coloque alguém de vigia essa noite.
— Sim, senhor.
Continuei o meu caminho, rumo à sede. Ao chegar à casa, Jason estava sentado na varanda com uma caneca nas mãos. Subi os degraus em direção à porta, já esperando ser interceptado por ele.
— Que merda era aquela ontem à noite? — O seu tom denunciou um pouco da sua irritação.
— Estava de olho em você.
— Por três horas? — Levantou-se, vindo até mim.
— O nosso pai agora é o governador, não posso mais deixar que o meu irmãozinho saia fazendo merda por aí.
— Tipo o quê? Dançar com uma garota? Não é como se isso fosse ilegal ou ela pudesse me influenciar ao mal caminho.
Não disse nada ou assenti, apenas continuei a encará-lo. Deixei que pensasse ou falasse o que quisesse.
— Você é patético, sabia? Pare de me perseguir!
Passou por mim, entrando na casa. Fui logo atrás dele, fechando a porta. Na sala de jantar, me sentei sozinho para o desjejum. Antes, tinha a companhia do meu pai, mas agora é apenas eu. Servi-me de linguiça, bacon e ovos mexidos. Tomei uma enorme caneca de café sem açúcar e me levantei para voltar ao trabalho.
No campo, Jason já fazia o seu serviço, separando o gado para vacinação. O dia se foi mais depressa do que começou. Quando a noite chegou, depois de um demorado banho, me deitei na cama da cabana onde moro. No celular, olhava as centenas de bobagens que as pessoas postavam o tempo todo. Eram fotos de comida, da roupa que vestiam, das botas que calçavam, da árvore na esquina, do traseiro de um cavalo, do cachorro, de dedos entrelaçados…
— Por que as pessoas são tão sem graça? — perguntei para mim mesmo.
De repente, na tela, apareceu uma foto da Olivia. Eu quase passei rápido demais por ela, mas a inconfundível jaqueta vermelha me fez voltar para ver aquilo melhor. Ela estava sobre o palco, cantando. Na legenda, alguém estranho dizia que o show da noite anterior havia sido incrível. Na foto, tinha uma marcação. Era o perfil dela, da cantora. Entrei e logo vi algo postado há trinta minutos. Era uma foto das suas belas pernas. Olivia calçava botas brancas com bordado rosa e apoiava os tornozelos sobre uma cadeira de madeira. Na legenda: noite de diversão! Ela havia marcado a sua localização. Estava em uma casa de show no centro de Helena. Instantaneamente, dentro de mim formigou o desejo de ir até lá. Quero vê-la outra vez e provocá-la até o ponto de, em algum momento, implorar para que eu entrasse naquele maldito trailer.
Bloqueando a tela do celular, relaxei a cabeça no travesseiro e fechei os olhos, pensando se devia fazer isso. Porque, no fundo, estava sentindo uma leve pitada de desespero da minha parte. Há tempos não comia ninguém, e talvez fosse por isso. Olivia me excitava. Sem pensar mais, em um pulo, saí da cama rumo ao armário. Vesti-me às pressas e deixei a casa, colocando o chapéu. Entrei no carro e, com a música bem alta, acelerei para a cidade. Longos quarenta e cinco minutos até o destino. Isso teria que valer a pena.
Ao sair da caminhonete, cumprimentei alguns peões na calçada e entrei na casa de show. Na pista de dança, logo avistei Olivia. Ela dançava com um cara que nunca vi mais feio na minha vida. Sorria para ele e parecia feliz. Desci a escada, passei pelas pessoas indo até o bar. Escorei-me ali e pedi uma dose de uísque com gelo. Talvez eu tenha ficado uns vinte minutos somente a observando e me perguntando se ela nunca se cansaria de dançar. Então, como se universo pudesse me ouvir, ela veio na direção de onde eu estava, mas não me viu. Olivia parou alguns metros à frente e pediu água.
— Mais um — pedi outra dose, colocando o copo sobre a bancada.
Ela pegou a garrafinha d’água, abriu-a e bebeu quase tudo em grandes goles. Uma pequena gota escorreu do canto da sua boca, descendo o queixo até a sua clavícula. Deus! Eu tive vontade de ir até lá e lamber aquilo. O seu corpo estava levemente suado, a pele brilhava e alguns fios de cabelo grudavam no seu pescoço e ombro.
O garçom reabasteceu o meu copo, e eu o apanhei, me levantando, pronto para ir direção em dela.
— Perdida por aqui? — perguntei, parando logo atrás, bem próximo do seu corpo.
Os ombros dela inflaram, e a sua postura enrijeceu. Vagarosamente, ela se virou para mim, escorando as costas na bancada em busca de obter um pouco mais de espaço entre nós.
— Pareço perdida para você? — Foi um pouco rude.
JadenUm sorriso foi inevitável. Sempre é. O seu jeito um tanto ignorante me atiçava ao mesmo tempo que me irritava, mas precisava admitir, combinava muito bem com ela.— Na verdade, me parece perdida — disse sério.Olivia cruzou os braços à frente e arqueou a sobrancelha esquerda para mim.— Acho melhor deixar eu te guiar pela pista. Estar junto de um local é mais seguro.— Hoje você parece bem a fim. — Lançou-me um sorriso debochado.— Talvez eu esteja.Ela se afastou do balcão e deu um passo na minha direção, ficando a centímetros de distância. O seu perfume doce recendeu no meu nariz. Os olhos subiram do meu peito indo de encontro aos meus. Ela era baixinha, talvez um metro e sessenta, uma boa diferença para um homem com quase dois metros de altura. Mas isso apenas a deixava ainda mais sensual para mim.— Está a fim? — perguntou com a voz baixa, tocando os meus ombros com as pontas dos dedos, subindo até o pescoço.Prendi a minha respiração, concentrando-me em evitar que o meu memb
OliviaQuando o calor do seu corpo se foi, continuei grudada na lataria. Sentia as pernas fracas e as minhas estranhas vibrarem quentes. Por Deus! O que foi aquilo? O que é esse homem?Em um impulso, abri rapidamente a porta do carro e entrei. Não liguei o motor imediatamente. Não sabia se conseguiria dirigir naquele minuto. Se não fosse a sua arrogância, talvez eu tivesse tirado a roupa para ele ali mesmo. Ou será que a vontade súbita de me despir era devido à sua arrogância? Isso é problemático? Não tenho certeza, mas acho que sim.A caminhonete dele passou pela minha, indo embora. Coloquei a chave na ignição e liguei o motor, seguindo de volta para o estacionamento de trailers. Ao entrar naquilo que eu tinha há alguns anos como a minha casa, sentei-me na cama e retirei as botas. O meu corpo se pendeu para trás, acomodando-se no amontoado de travesseiros e almofadas. A minha mão direita tocou a minha barriga onde a sua havia estado alguns minutos atrás. Era como se a minha pele ainda
OliviaSubimos no palco e logo começamos a cantar. Não demorou nem duas músicas para que, em meio a plateia, eu enxergasse Jason. Parecia animado e segurava um copo de cerveja. Quando acabamos, ele me esperava aos fundos do palco. Na mão, tinha uma única rosa de cor vermelha. Preso ao seu fino caule, um delicado laço de cetim branco.— Obrigada. — Sorri e coloquei-me na posta dos pés para beijar o seu rosto. Mesmo que as botas tivessem saltos médios, ele era grande como o seu irmão.— Não tem de que — disse, retirando o chapéu.As suas bochechas ficaram levemente coradas, achei isso adorável.— Que dar uma volta? — chamei-o.— Pensei em te comprar uma maçã do amor e depois irmos na roda gigante.Sorri novamente. Jason se parecia com um dos muitos personagens dos livros de romance que lia na adolescência. É gentil, galanteador e um tanto romântico. E eu gosto muito disso.— Aceito — disse, sentindo-me um pouco nervosa com a proposta da roda gigante.O seu rosto se preencheu com um enorm
Olivia— Dez minutos lá em cima — disse Jason, balançando os ingressos à minha frente. — Está tudo bem? — Franziu o cenho.— Sim. — Tentei forçar um sorriso.Não queria que o nosso clima adorável fosse embora por minha culpa. Ou melhor… por culpa do seu belíssimo irmão.A nossa vez logo chegou e nós entramos. Quando a trava foi abaixada sobre nós e começamos lentamente a subir, concentrei a minha visão na maçã do amor que segurava firmemente com as duas mãos, a fim de não olhar para baixo. Eu não me dou bem com grandes alturas, mas Jason não precisa saber. Ele está sendo um amor e não quero estragar o seu plano romântico. E além disso, é só uns trinta metros de altura, eu posso lidar com isso.— E então… O que está achando de Helena?— Gosto daqui. — Olhei para ele. — A cidade tem um tamanho ideal e as pessoas são educadas.— Moraria aqui?— Talvez um dia, quando eu me cansar dos palcos.— Para onde vai depois daqui?— Os meninos e eu queremos ir para Nashville.— Tennessee?! — pergunt
OliviaJason me ajudou a sair da roda gigante. A minha mão grudava cheia de açúcar e manchada de vermelho. Fomos até uma barraca de bebidas e ele comprou uma garrafa d’água. Abriu-a e despejou-a nas minhas mãos, para que eu pudesse lavá-las. Depois me deu guardanapos e seguimos andando pela feira.— Aí, Jason! — Alguém gritou por ele.Paramos e olhamos para trás.— Olá, moça bonita. — Um homem cumprimentou-me, tocando cordialmente a ponta do seu chapéu. — Sou o Will. — Estendeu-me a mão.— Olivia. — Apertei a sua palma.— Larga a mão dela — falou Jason, em um tom humorado, dando um tapinha no braço do homem.— Estamos indo para o rancho. Vamos dar continuidade na festa por lá — falou muito animado.— Não faria isso se fosse vocês. Lembrem-se que amanhã acordamos às quatro. E se Jaden descobre, ele não ficará nada feliz.— Ele está bem ocupado com os negócios por aqui.Jason me olhou apreensivo.— Vamos lá, cara. Estamos levando algumas garotas e cerveja. Pode levar a Olivia. — Piscou p
JadenEstacionei o carro em frente à cabana e desci. Do alto do morro, pude ver a claridade que vinha de labaredas entre o redondel e a instalação dos peões. Aqueles infelizes trouxeram a festa para o rancho e isso não é nada bom. Noites assim sempre costumam acabar com brigas entre eles por causa de alguma mulher que nem sequer vale o par de botas que calça.Respirando fundo, segui até lá. Chegaria logo com um balde d’água sobre a fogueira e colocaria aqueles que não são daqui para fora e os meus homens para lembrar das responsabilidades que logo os chamariam antes do amanhecer. Mas, ao me aproximar, escutei o som doce de uma voz feminina cantarolar calmamente. Os meus passos desaceleraram, parando na penumbra entre os carros. Observei quem estava naquela roda. Tamanha foi a minha surpresa ao ver Olivia ali. Perguntei para mim mesmo o que ela fazia no rancho. Mas logo vi Jason sentado ao seu lado com um sorriso bobo e obtive a resposta instantaneamente.Foi impossível não me lembrar
OliviaParei a caminhonete próximo do trailer e desci, entrando em casa. Retirei o chapéu, o casaco e as botas na entrada. Estava frio ali dentro. A chegada do outono anunciava que o inverno não perdoaria. Liguei o aquecedor e sentei-me na cama. Os meus dedos frios foram até o pescoço, tocando a pele ainda arrepiada. Quando o hálito quente do Jaden me tocou logo baixo da orelha, os meus olhos se fecharam ao sentir o pequeno calor. Eu tinha de resistir a ele, precisava, mas não sabia até quando seria forte para isso.Troquei a roupa por um pijama e escovei os dentes. Debaixo dos cobertores, esperei pelo sono que demorou a chegar. Até que eu adormecesse, na cabeça passou como um filme as memórias de todas as vezes que as suas mãos me tocaram.Quando amanheceu, não havia dormido mais do que quatro horas. Sentia-me cansada e com um pouco de dor de cabeça. Uma batida forte contra a porta fez com que eu saísse da cama e vestisse o roupão. Ao abri-la, John – o meu contratante – estava ali, d
OliviaQuando a tarde chegou, nos arrumamos para o show. Escolhi um vestido preto de mangas longas, tecido opaco e justo ao corpo. Tinha longas franjas que pendiam do topo do ombro, descendo na linha da costura até o punho. Na cabeça, um chapéu de pralana na cor cinza-escuro com adereços de cor prata presos na fita preta ao redor do vinco. Sentada na cadeira em frente à mesa, calcei botas de cano longo até os joelhos. Eram de couro, mesma cor que o vestido e tinha um belíssimo bordado feito à mão com linha prateada. De frente para o espelho pregado na porta do banheiro, passei o batom vermelho e ajeitei as ondas do cabelo. Com as mãos, acomodei melhor os seios no decote raso.Tate abriu a porta e entrou. Rapidamente, o seu perfume viajou até as minhas narinas. Ele estava bonito com o seu cabelo perfeitamente alinhado. Juntos, deixamos o trailer e entramos na caminhonete. Ele seguiu dirigindo até a arena coberta onde aconteceria o leilão de cavalos. Logo que chegamos, nos apressamos em