Jaden
O sol nascia no horizonte atrás das rochas de Montana. Todos os dias, antes da lida, era ali que eu me encontrava; sentado sobre o cavalo, que pastava o capim úmido pelo orvalho. A cada segundo a mais de admiração, respirando ar puro, tinha mais certeza de que o campo era o meu lugar. Eternamente o meu lar, mesmo que, quando adolescente, eu esperasse fazer algo diferente na vida adulta.
As terras pertenciam à minha família há pouco mais de um século e, embora as coisas não estivessem ficando financeiramente mais fáceis com o passar dos anos, jamais permitiria perdermos o paraíso. Dedicava todo o tempo da minha vida em mantê-lo de pé para que os meus irmãos tenham para onde voltar e o meu pai tenha do que se orgulhar. Por isso, casar-me foi tirado dos meus planos. Não poderia perder mais do que algumas horas no ano me dedicando a alguém. O que tive com cada mulher que se deitou na minha cama sempre será o suficiente para mim, além de que o que fazemos não cabe amor. Não cabe paixão.
— Bom dia, senhor Bennett.
— Bom dia — respondi, observando os últimos segundos de um sol tímido que passaria o dia castigando os homens sobre os seus cavalos.
— A cerca no pasto oeste arrebentou. Tem búfalos por toda área.
Um rosnado de pura insatisfação escapou de mim.
— Malditos búfalos!
Toquei as esporas na barriga de Atlas e cavalguei rumo as cercas rompidas. Ao me aproximar, desci e caminhei até os arames soltos no chão. Apanhei um deles e observei sua ponta. Não estava apenas estourado. Os arames haviam sido cortados.
— Não foram os búfalos que fizeram isso, não desta vez. Os arames foram cortados. — Olhei para Tip, gerente da fazenda.
— O que o senhor quer que eu faça?
— Tire esses animais daqui, conserte a cerca e não traga o gado para cá. Os búfalos podem estar doentes e cheios de carrapato. Vou até a reserva.
— Não quer que eu vá com o senhor?
— Não!
Montei novamente no meu cavalo e passei pelo vão da cerca, cavalgando depressa rumo à reserva indígena. Não era tão longe, ficava a um quilômetro. A recepção, como de costume, não era a melhor. Sempre havia alguém apontando uma arma para mim.
— Não é bem-vindo aqui! — disse um jovem, levantando-se depressa da cadeira onde estava sentado sob o sol, apontando-me uma velha espingarda. Ele não deve ter mais do que dezoito anos.
— O seu búfalo também não é bem-vindo nas minhas terras. Onde está Harry?
— Ele não está aqui!
— Está tudo bem, Corry. Abaixe a arma.
— Bom dia, Harry — cumprimentei o velho que saia de um dos trailers.
— Muito cedo para estar aqui, Bennett. O que os meus búfalos fizeram dessa vez?
— Eles estão poluindo o meu pasto com doenças. — Desci do cavalo.
— Não estão doentes.
— Você não os vacina, então, eu discordo. Mas, desta vez, não foram eles que arrebentaram as cercas. Acho que temos um problema maior. Alguém as cortou. Talvez para que eles pudessem entrar. — Olhei para o moleque que ainda me encarava irritado.
— Sabe de alguma coisa, Corry? — Harry perguntou.
O garoto negou com a cabeça, sem desgrudar os olhos de mim.
— Tem certeza, Corry? — Estreitei o olhar para ele.
— Quer que eu te mostre a minha certeza? — Engatilhou a espingarda.
Uma risada debochada escapou da minha boca.
— Guarde isso, garoto. Ainda vai se machucar com ela ou ser ferido por causa dela. E Harry… — olhei para ele — esse é o meu último aviso. Mande o seu pessoal ficar longe das minhas terras e mantenha o seu animal no seu pasto. Da próxima, sacrifico cada um deles, eu mesmo. — Dei-os as costas, indo em direção ao Atlas.
— Não são suas terras! — disse Corry, ainda mais enraivecido.
— São, sim, Corry. São minhas há mais de um século. — Montei novamente. — Avise aos seus amigos que se os meus homens os pegarem arrebentando qualquer cerca, vão cavar a própria cova.
— Não precisamos disso, Jaden.
— Precisamos, sim, Harry. Controle o seu povo e eu controlo os meus! Já estamos nesse impasse há muito tempo, estou ficando cansado.
Sem dizer mais uma palavra nem ouvir nada deles, cavalguei de volta para casa. Os búfalos já estavam todos na estrada, e alguns dos meus peões começavam a arrumar a cerca. Logo, homens da reserva chegaram, conduzindo os animais de volta para o pasto deles, de onde não deveriam ter saído.
— Deram uma olhada nos búfalos? — perguntei aos peões.
— Sim, senhor. Parecem saudáveis — respondeu um deles.
— Vamos pular essa área na rotação do pasto. Não quero arriscar.
— Sim, senhor.
— Temos mais um problema, senhor Bennett — disse Tip.
Olhei-o por cima do ombro.
— Oito da manhã e eu já lidei com intrusos, prejuízo e um garoto suspeito na reserva. Qual é o problema agora?
— Vem ver.
Ele desceu do seu cavalo, e eu fiz o mesmo, seguindo-o. Caminhamos um pouco mais adiante, mantendo-nos ainda próximo da cerca.
— Não sei que diabos é isso. — Parou e encarou o chão.
Meus olhos desceram até o capim baixo conforme eu me aproximava.
— Um buraco? — perguntei um tanto confuso, franzindo o cenho.
Era um grande buraco de forma retangular. Parecia até que alguém já estava cavando a própria cova. Não era muito comprido, talvez tivesse um metro de profundidade, ou um pouco mais.
— A terra mexida continua úmida. Cavaram essa noite.
— Por quê? Qual a intenção?
— Não sei, senhor.
— Tem mais buracos?
Negou com a cabeça.
— Só esse — disse por fim.
— Quem torou a cerca deve ter feito isso. Só não entendo o motivo.
— Também estou confuso. Talvez alguém tenha enterrado algo aqui e veio pegar de volta.
— Não posso duvidar disso. Deixe um peão aqui essa noite. Vou para cidade, tenho que encontrar com o meu pai. Não me espere para tomar decisões e mantenha ordem entre esses homens. Volto no fim do dia.
— Mande um abraço ao governador por mim.
Dei-lhe um curto aceno de cabeça em concordância e retornei para casa, com Atlas. Ao chegar na sede, outros peões preparavam cavalos para venda na temporada de pecuária. Serão três meses intensos de muito trabalho e faturamento, assim eu espero. Entrei na caminhonete e dirigi por quarenta minutos até o centro de Helena.
Depois de uma longa reunião com o meu pai e um encontro irritante com a minha irmã no meio do caminho, segui aos afazeres. Loja de ferragens, banco, supermercado, veterinária… Ao riscar a última linha da lista, que já considerava interminável, olhei as horas e o relógio marcava seis da tarde. Estava cansado, mas não o bastante para ignorar o fato de estar estacionado diante do melhor bar entre os seis maiores da cidade.
JadenColocando o chapéu na cabeça, desci do carro e atravessei a rua. Ao passar pela porta, o sino acima dela anunciou a minha chegada. O lugar ainda estava um tanto vazio e silencioso, mas algumas pessoas se preparavam para tocar em breve no pequeno palco.— Bennett! Chegou em boa hora. Uísque duplo? — perguntou Mike.Ele era o dono do lugar e um velho amigo. Boa índole, grande fé e um fofoqueiro.— Isso aí. Sentei-me na banqueta diante dele.— Saudade de quando o seu pai aparecia por aqui.— Sabe como é a agenda de um governador. — Forcei um sorriso.— Eu sei. — Riu. — Mas isso não me impede de sentir saudade do velho Bennett.Ele colocou o copo sobre a bancada, à minha frente. Apanhei-o e levei-o até o nariz, sentindo o adocicado e defumado aroma do líquido de cor âmbar. Dei um gole, deixando a porção se demorar um pouco na boca antes de engoli-la, sentindo-a aquecer suavemente a garganta ao descer.— Com licença. — Uma voz suave reverberou atrás de mim.Não fazia nem cinco minuto
OliviaO ônibus da escola parou em frente à porteira do rancho. Desci, me despedindo do motorista, e percorri sob o sol quente a estrada até em casa. Ao me aproximar, observei como estava tudo estranhamente quieto. O meu pai não estava mexendo no trator, e a minha mãe não estendia roupas no varal ou fazia reparos nas camisas furadas, sentada em uma cadeira no alpendre.A porta dos fundos estava entreaberta. Subi os degraus e a empurrei, dando-me passagem. Meus olhos se arregalaram quando vi a dois passos um machado sujo de sangue, jogado no chão. Meu coração palpitou forte no peito com o pavor que me preencheu subitamente.— Mamãe — chamei-a, mas nenhum ruído foi ouvido.Tirei a mochila das costas e deixei-a no chão, junto a pia. Entrei na casa a passos oscilantes. Na quina da parede que separava a cozinha da sala, havia rastros de sangue sobre a tinta amarela. Uma mão se firmou ali antes de ser arrastada. Com olhos marejados e mãos trêmulas, continuei a caminhar. Uma linha de sangue
OliviaAo me sentar, logo o primeiro peão entrou na arena. Pobre coitado. Não durou nem cinco segundos. Depois veio o segundo. Caiu faltando milésimos para o fim do tempo. Então veio o terceiro. Ele arrasou. Jason teria que fazer muito melhor do que isso.— Esse lugar está vago? — perguntou um homem.— Sim — respondi, olhando-o em seguida. E, para minha surpresa, era o cara da noite anterior, no bar. Aquele, o senhor não-estou-a-fim.— Boa noite, cantora — cumprimentou-me com um sorrisinho debochado e sentou-se ao meu lado.— Oi. — Limitei-me a dizer, olhando novamente para frente.Um pequeno nervosismo surgiu em mim.De todos os lugares vagos, ele tinha mesmo que se sentar aqui?Espiei-o pelos cantos dos olhos, observando-o. A luz ali era melhor do que a do bar. As pequenas costeletas abaixo do grande chapéu mostravam a cor do seu cabelo. É escuro. Ele, assim como muitos cowboys por ali, tem a pele bronzeada pela lida. Acho isso tentador. O rosto tem o maxilar marcado, o corpo é gran
JadenOs dois dançaram juntos. Riram juntos. Jason brincou de tiro ao alvo só para pegar para ela um bendito coala de pelúcia, e Olivia sorriu satisfeita com aquela coisa feia. Ao longe, os acompanhei por toda a feira. Ela é bonita, dos pés à cabeça. Tem grossas panturrilhas que preenchem bem o cano da sua bota cromada.Os dois se divertiram por três longas horas. Ele notou que eu os acompanhava e encarou-me feio por duas vezes. Talvez, se tivesse coragem, depois viesse tirar satisfação, querer saber o que eu estava fazendo e o porquê disso. Diria a ele qualquer coisa, menos que estava muito interessado em trepar usando de muita força com aquela garota, que ele nem sequer teve coragem de tocar na cintura.Não sei bem o que Olivia tem ou o que despertou em mim naquela noite no bar. Só sei que desde então me pego pensando em como seria espalmar a sua bunda a cada olhar rude e resposta maldada. Ela havia atiçado o bicho dentro de mim. Aquele que faz uso da força e do laço para chegar ao
JadenQuando o sol terminou de se erguer atrás das montanhas, eu já estava cavalgando de volta para o rancho. Vi homens retornando para o pasto oeste.— Algum problema? — perguntei, alto.— Sim — respondeu um deles, vindo até mim.— A cerca foi torada outra vez.— Deixa eu adivinhar. Outro buraco?Ele assentiu.— O terceiro em uma semana. — Respirei fundo, frustrado. — Que diabos essa pessoa quer? — perguntei, irritado.— Acreditamos que esteja procurando por alguma coisa.— Não tem nada para ela aqui, seja quem for. Consertem a cerca. Coloque alguém de vigia essa noite.— Sim, senhor.Continuei o meu caminho, rumo à sede. Ao chegar à casa, Jason estava sentado na varanda com uma caneca nas mãos. Subi os degraus em direção à porta, já esperando ser interceptado por ele.— Que merda era aquela ontem à noite? — O seu tom denunciou um pouco da sua irritação.— Estava de olho em você.— Por três horas? — Levantou-se, vindo até mim.— O nosso pai agora é o governador, não posso mais deixar
JadenUm sorriso foi inevitável. Sempre é. O seu jeito um tanto ignorante me atiçava ao mesmo tempo que me irritava, mas precisava admitir, combinava muito bem com ela.— Na verdade, me parece perdida — disse sério.Olivia cruzou os braços à frente e arqueou a sobrancelha esquerda para mim.— Acho melhor deixar eu te guiar pela pista. Estar junto de um local é mais seguro.— Hoje você parece bem a fim. — Lançou-me um sorriso debochado.— Talvez eu esteja.Ela se afastou do balcão e deu um passo na minha direção, ficando a centímetros de distância. O seu perfume doce recendeu no meu nariz. Os olhos subiram do meu peito indo de encontro aos meus. Ela era baixinha, talvez um metro e sessenta, uma boa diferença para um homem com quase dois metros de altura. Mas isso apenas a deixava ainda mais sensual para mim.— Está a fim? — perguntou com a voz baixa, tocando os meus ombros com as pontas dos dedos, subindo até o pescoço.Prendi a minha respiração, concentrando-me em evitar que o meu memb
OliviaQuando o calor do seu corpo se foi, continuei grudada na lataria. Sentia as pernas fracas e as minhas estranhas vibrarem quentes. Por Deus! O que foi aquilo? O que é esse homem?Em um impulso, abri rapidamente a porta do carro e entrei. Não liguei o motor imediatamente. Não sabia se conseguiria dirigir naquele minuto. Se não fosse a sua arrogância, talvez eu tivesse tirado a roupa para ele ali mesmo. Ou será que a vontade súbita de me despir era devido à sua arrogância? Isso é problemático? Não tenho certeza, mas acho que sim.A caminhonete dele passou pela minha, indo embora. Coloquei a chave na ignição e liguei o motor, seguindo de volta para o estacionamento de trailers. Ao entrar naquilo que eu tinha há alguns anos como a minha casa, sentei-me na cama e retirei as botas. O meu corpo se pendeu para trás, acomodando-se no amontoado de travesseiros e almofadas. A minha mão direita tocou a minha barriga onde a sua havia estado alguns minutos atrás. Era como se a minha pele ainda
OliviaSubimos no palco e logo começamos a cantar. Não demorou nem duas músicas para que, em meio a plateia, eu enxergasse Jason. Parecia animado e segurava um copo de cerveja. Quando acabamos, ele me esperava aos fundos do palco. Na mão, tinha uma única rosa de cor vermelha. Preso ao seu fino caule, um delicado laço de cetim branco.— Obrigada. — Sorri e coloquei-me na posta dos pés para beijar o seu rosto. Mesmo que as botas tivessem saltos médios, ele era grande como o seu irmão.— Não tem de que — disse, retirando o chapéu.As suas bochechas ficaram levemente coradas, achei isso adorável.— Que dar uma volta? — chamei-o.— Pensei em te comprar uma maçã do amor e depois irmos na roda gigante.Sorri novamente. Jason se parecia com um dos muitos personagens dos livros de romance que lia na adolescência. É gentil, galanteador e um tanto romântico. E eu gosto muito disso.— Aceito — disse, sentindo-me um pouco nervosa com a proposta da roda gigante.O seu rosto se preencheu com um enorm