Olivia
Ao me sentar, logo o primeiro peão entrou na arena. Pobre coitado. Não durou nem cinco segundos. Depois veio o segundo. Caiu faltando milésimos para o fim do tempo. Então veio o terceiro. Ele arrasou. Jason teria que fazer muito melhor do que isso.
— Esse lugar está vago? — perguntou um homem.
— Sim — respondi, olhando-o em seguida. E, para minha surpresa, era o cara da noite anterior, no bar. Aquele, o senhor não-estou-a-fim.
— Boa noite, cantora — cumprimentou-me com um sorrisinho debochado e sentou-se ao meu lado.
— Oi. — Limitei-me a dizer, olhando novamente para frente.
Um pequeno nervosismo surgiu em mim.
De todos os lugares vagos, ele tinha mesmo que se sentar aqui?
Espiei-o pelos cantos dos olhos, observando-o. A luz ali era melhor do que a do bar. As pequenas costeletas abaixo do grande chapéu mostravam a cor do seu cabelo. É escuro. Ele, assim como muitos cowboys por ali, tem a pele bronzeada pela lida. Acho isso tentador. O rosto tem o maxilar marcado, o corpo é grande e tem ombros bem largos. Seu cheiro amadeirado transmite vigor e sensualidade. Eu gosto muito disso.
O sexto homem foi anunciado. Concentrei-me à frente a tempo de vê-lo entrar na arena. O bonitão seria o próximo. Quando o locutor chamou por Jason Bennett, a plateia vibrou torcendo por ele. O brete foi aberto, e um imenso touro branco saiu de lá, pulando alto e bufando furioso. Tanto eu quanto o senhor não-estou-a-fim nos levantamos em um pulo para ver melhor o que acontecia lá embaixo.
As pessoas começaram a contar os segundos. Quanto mais perto do fim, mais alto berravam. Jason seguiu os oito segundos intactos sobre o touro, com uma mão erguida para cima, enquanto a outra segurava firmemente a corda. Quando soou o sinal, ele pulou do bicho e correu para o alambrado, algumas fileiras abaixo de mim, e subiu na grade enquanto o touro era contido e levado embora.
Os olhos dele percorreram a plateia onde eu estava, até que olhou para cima e me viu. Ele sorriu e tocou a ponto do chapéu, reverenciando-me com um aceno de cabeça. Sorri e acenei para ele. Senti-me estranhamente observada, olhei para o lado e o senhor não-estou-a-fim me encarava com um olhar duro e azul. O cenho estava franzido e lábios comprimidos em uma linha reta. Ele se virou e se foi depressa.
Sentei-me novamente e terminei de assistir ao rodeio. Outros sete homens entraram. Alguns saíram cabisbaixos de lá, outros machucados, e poucos foram para o placar. Quando enfim acabou, premiaram Jason e outros caras com troféus. Ele acenou para plateia e deixou a arena.
Levantei-me e saí logo dali antes que tudo virasse um grande congestionamento de pessoas. Segui para a parte posterior da arena e lá estava ele, junto a outros três peões, recebendo as suas fivelas e os cheques com as premiações. Ele apertou a mão de um homem e virou-se para mim, vindo ao meu encontro.
— Talvez goste mais dessa — disse ele, mostrando a nova fivela.
— É linda. — Mas não tem um grande volume abaixo, apenas pensei, é claro.
— Vou guardar isso no carro e vamos para o show. Você me deve uma dança. — Jason saiu caminhando e eu o segui. — Você já cantou hoje?
— Como sabe que sou cantora?
Ele riu e olhou para o meu vestido.
— Nem as garotas da cidade grande se vestem assim quando aparecem por aqui. Isso é figurino de show.
Ri.
— Eu já cantei, sim. Fui a primeira da noite.
— E quando você vai embora?
— Quando acabar a temporada.
— Por quê? Você também compete?
— Não. Vou ficar porque tenho mais seis shows até o final do trimestre.
Ele me olhou de cenho franzido.
— Jura? Geralmente os cantores ficam por uma ou duas semanas. Você deve ser boa. — Abriu a porta traseira da enorme Ranger preta. — Vai ter que cantar para mim.
— Vou cantar na sexta. Por que não vem me assistir?
Ele fechou a porta e olhou-me.
— Está bem. — Sorriu e ajeitou o chapéu.
— Jason! — Uma voz irritada o chamou.
Jason fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo.
— Desculpe por isso — pediu para mim, afastando-se em alguns passos.
Eu o olhei confusa e depois para a pessoa que se aproximava, saindo do escuro. É o senhor não-estou-a-Fim. De Novo. Ele está me perseguindo? Ou o acaso quer muito que a gente se encontrando outra vez em menos de uma hora, em uma festa com mais de seis mil pessoas?
— Se for me socar, faça isso logo, Jaden.
O homem se aproximou dele com punhos cerrados e rapidamente arremessou uma mão para cima, socando-o. O soco foi forte e certeiro, fazendo com que Jason caísse no chão, sujando-se de poeira. Dei um passo largo para trás, afastando-me deles, e os encarei assustada.
— Me lembro de você bater com mais força — Jason o provocou.
— Me lembro de mandar você ficar fora da arena! — gritou Jaden.
Jason se ergueu do chão e bateu as mãos na roupa, tentando se limpar. Levou o dorso esquerdo até o lábio, que sangrava minimamente, e o limpou.
— Já acabou, irmão? — perguntou, sorrindo.
— Acha engraçado me provocar e agir com tremenda irresponsabilidade? O que o nosso pai vai dizer quando souber?
— Só você se importa com o que ele diz ou quer das pessoas. E pare de querer cuidar da minha vida, achando que pode me controlar! Dá um tempo, Jaden. Arranje uma namorada. Talvez a sua vida fique mais interessante e assim esquecerá um pouco da minha.
Jason olhou para mim e forçou um sorriso sem graça.
— Desculpe — pediu, vindo até mim.
— Talvez seja melhor eu deixar vocês a sós. — Olhei para Jaden.
Ele me encarava com um olhar irritado e estreito. O corpo estava rígido, os ombros inflados e as mãos guardadas dentro dos bolsos da calça.
— Não. Já acabamos aqui. Vem, vamos dançar.
Jason apanhou-me pela mão, e saímos dali. Mesmo que eu não tenha olhado para trás, sabia que o seu irmão nos observava partir. Podia sentir o seu olhar sobre a minha pele.
— Posso perguntar por que ele socou você?
— Nem ele ou qualquer outra pessoa da minha família aprova o que fiz essa noite.
— O rodeio? Por quê? Você foi o melhor.
— Há três anos, eu caí, fraturei a coluna, tive uma concussão grave e lacerei o fígado. Foram muitas cirurgias, três meses em coma e um ano de reabilitação. Talvez se eu não tivesse à minha disposição bons médicos e excelentes tratamentos, teria ficado paraplégico.
Parei de caminhar e o encarei chocada.
— E depois de tudo isso você teve coragem de entrar naquela arena hoje?
Ele riu, assentindo.
— Nasci para fazer isso, Olivia. É o que eu amo fazer. Não me imagino trabalhando para o meu pai o resto da vida, ouvindo ordens do meu irmão. Quero ganhar o mundo montando em touros e cavalos. Você se imagina sem a música?
— Não.
— É isso que o rodeio é para mim.
— Mas a música não coloca a minha vida em risco.
Ele ergueu os lábios em um pequeno sorriso e estreitou os olhos.
— Acabamos de nos conhecer e gostei muito de você, não quero desgostar tão rápido — falou humorado.
Sorri.
— Tudo bem. Não falaremos mais disso.
Continuamos a caminhar.
JadenOs dois dançaram juntos. Riram juntos. Jason brincou de tiro ao alvo só para pegar para ela um bendito coala de pelúcia, e Olivia sorriu satisfeita com aquela coisa feia. Ao longe, os acompanhei por toda a feira. Ela é bonita, dos pés à cabeça. Tem grossas panturrilhas que preenchem bem o cano da sua bota cromada.Os dois se divertiram por três longas horas. Ele notou que eu os acompanhava e encarou-me feio por duas vezes. Talvez, se tivesse coragem, depois viesse tirar satisfação, querer saber o que eu estava fazendo e o porquê disso. Diria a ele qualquer coisa, menos que estava muito interessado em trepar usando de muita força com aquela garota, que ele nem sequer teve coragem de tocar na cintura.Não sei bem o que Olivia tem ou o que despertou em mim naquela noite no bar. Só sei que desde então me pego pensando em como seria espalmar a sua bunda a cada olhar rude e resposta maldada. Ela havia atiçado o bicho dentro de mim. Aquele que faz uso da força e do laço para chegar ao
JadenQuando o sol terminou de se erguer atrás das montanhas, eu já estava cavalgando de volta para o rancho. Vi homens retornando para o pasto oeste.— Algum problema? — perguntei, alto.— Sim — respondeu um deles, vindo até mim.— A cerca foi torada outra vez.— Deixa eu adivinhar. Outro buraco?Ele assentiu.— O terceiro em uma semana. — Respirei fundo, frustrado. — Que diabos essa pessoa quer? — perguntei, irritado.— Acreditamos que esteja procurando por alguma coisa.— Não tem nada para ela aqui, seja quem for. Consertem a cerca. Coloque alguém de vigia essa noite.— Sim, senhor.Continuei o meu caminho, rumo à sede. Ao chegar à casa, Jason estava sentado na varanda com uma caneca nas mãos. Subi os degraus em direção à porta, já esperando ser interceptado por ele.— Que merda era aquela ontem à noite? — O seu tom denunciou um pouco da sua irritação.— Estava de olho em você.— Por três horas? — Levantou-se, vindo até mim.— O nosso pai agora é o governador, não posso mais deixar
JadenUm sorriso foi inevitável. Sempre é. O seu jeito um tanto ignorante me atiçava ao mesmo tempo que me irritava, mas precisava admitir, combinava muito bem com ela.— Na verdade, me parece perdida — disse sério.Olivia cruzou os braços à frente e arqueou a sobrancelha esquerda para mim.— Acho melhor deixar eu te guiar pela pista. Estar junto de um local é mais seguro.— Hoje você parece bem a fim. — Lançou-me um sorriso debochado.— Talvez eu esteja.Ela se afastou do balcão e deu um passo na minha direção, ficando a centímetros de distância. O seu perfume doce recendeu no meu nariz. Os olhos subiram do meu peito indo de encontro aos meus. Ela era baixinha, talvez um metro e sessenta, uma boa diferença para um homem com quase dois metros de altura. Mas isso apenas a deixava ainda mais sensual para mim.— Está a fim? — perguntou com a voz baixa, tocando os meus ombros com as pontas dos dedos, subindo até o pescoço.Prendi a minha respiração, concentrando-me em evitar que o meu memb
OliviaQuando o calor do seu corpo se foi, continuei grudada na lataria. Sentia as pernas fracas e as minhas estranhas vibrarem quentes. Por Deus! O que foi aquilo? O que é esse homem?Em um impulso, abri rapidamente a porta do carro e entrei. Não liguei o motor imediatamente. Não sabia se conseguiria dirigir naquele minuto. Se não fosse a sua arrogância, talvez eu tivesse tirado a roupa para ele ali mesmo. Ou será que a vontade súbita de me despir era devido à sua arrogância? Isso é problemático? Não tenho certeza, mas acho que sim.A caminhonete dele passou pela minha, indo embora. Coloquei a chave na ignição e liguei o motor, seguindo de volta para o estacionamento de trailers. Ao entrar naquilo que eu tinha há alguns anos como a minha casa, sentei-me na cama e retirei as botas. O meu corpo se pendeu para trás, acomodando-se no amontoado de travesseiros e almofadas. A minha mão direita tocou a minha barriga onde a sua havia estado alguns minutos atrás. Era como se a minha pele ainda
OliviaSubimos no palco e logo começamos a cantar. Não demorou nem duas músicas para que, em meio a plateia, eu enxergasse Jason. Parecia animado e segurava um copo de cerveja. Quando acabamos, ele me esperava aos fundos do palco. Na mão, tinha uma única rosa de cor vermelha. Preso ao seu fino caule, um delicado laço de cetim branco.— Obrigada. — Sorri e coloquei-me na posta dos pés para beijar o seu rosto. Mesmo que as botas tivessem saltos médios, ele era grande como o seu irmão.— Não tem de que — disse, retirando o chapéu.As suas bochechas ficaram levemente coradas, achei isso adorável.— Que dar uma volta? — chamei-o.— Pensei em te comprar uma maçã do amor e depois irmos na roda gigante.Sorri novamente. Jason se parecia com um dos muitos personagens dos livros de romance que lia na adolescência. É gentil, galanteador e um tanto romântico. E eu gosto muito disso.— Aceito — disse, sentindo-me um pouco nervosa com a proposta da roda gigante.O seu rosto se preencheu com um enorm
Olivia— Dez minutos lá em cima — disse Jason, balançando os ingressos à minha frente. — Está tudo bem? — Franziu o cenho.— Sim. — Tentei forçar um sorriso.Não queria que o nosso clima adorável fosse embora por minha culpa. Ou melhor… por culpa do seu belíssimo irmão.A nossa vez logo chegou e nós entramos. Quando a trava foi abaixada sobre nós e começamos lentamente a subir, concentrei a minha visão na maçã do amor que segurava firmemente com as duas mãos, a fim de não olhar para baixo. Eu não me dou bem com grandes alturas, mas Jason não precisa saber. Ele está sendo um amor e não quero estragar o seu plano romântico. E além disso, é só uns trinta metros de altura, eu posso lidar com isso.— E então… O que está achando de Helena?— Gosto daqui. — Olhei para ele. — A cidade tem um tamanho ideal e as pessoas são educadas.— Moraria aqui?— Talvez um dia, quando eu me cansar dos palcos.— Para onde vai depois daqui?— Os meninos e eu queremos ir para Nashville.— Tennessee?! — pergunt
OliviaJason me ajudou a sair da roda gigante. A minha mão grudava cheia de açúcar e manchada de vermelho. Fomos até uma barraca de bebidas e ele comprou uma garrafa d’água. Abriu-a e despejou-a nas minhas mãos, para que eu pudesse lavá-las. Depois me deu guardanapos e seguimos andando pela feira.— Aí, Jason! — Alguém gritou por ele.Paramos e olhamos para trás.— Olá, moça bonita. — Um homem cumprimentou-me, tocando cordialmente a ponta do seu chapéu. — Sou o Will. — Estendeu-me a mão.— Olivia. — Apertei a sua palma.— Larga a mão dela — falou Jason, em um tom humorado, dando um tapinha no braço do homem.— Estamos indo para o rancho. Vamos dar continuidade na festa por lá — falou muito animado.— Não faria isso se fosse vocês. Lembrem-se que amanhã acordamos às quatro. E se Jaden descobre, ele não ficará nada feliz.— Ele está bem ocupado com os negócios por aqui.Jason me olhou apreensivo.— Vamos lá, cara. Estamos levando algumas garotas e cerveja. Pode levar a Olivia. — Piscou p
JadenEstacionei o carro em frente à cabana e desci. Do alto do morro, pude ver a claridade que vinha de labaredas entre o redondel e a instalação dos peões. Aqueles infelizes trouxeram a festa para o rancho e isso não é nada bom. Noites assim sempre costumam acabar com brigas entre eles por causa de alguma mulher que nem sequer vale o par de botas que calça.Respirando fundo, segui até lá. Chegaria logo com um balde d’água sobre a fogueira e colocaria aqueles que não são daqui para fora e os meus homens para lembrar das responsabilidades que logo os chamariam antes do amanhecer. Mas, ao me aproximar, escutei o som doce de uma voz feminina cantarolar calmamente. Os meus passos desaceleraram, parando na penumbra entre os carros. Observei quem estava naquela roda. Tamanha foi a minha surpresa ao ver Olivia ali. Perguntei para mim mesmo o que ela fazia no rancho. Mas logo vi Jason sentado ao seu lado com um sorriso bobo e obtive a resposta instantaneamente.Foi impossível não me lembrar