Capítulo 03

Olivia

Ao me sentar, logo o primeiro peão entrou na arena. Pobre coitado. Não durou nem cinco segundos. Depois veio o segundo. Caiu faltando milésimos para o fim do tempo. Então veio o terceiro. Ele arrasou. Jason teria que fazer muito melhor do que isso.

— Esse lugar está vago? — perguntou um homem.

— Sim — respondi, olhando-o em seguida. E, para minha surpresa, era o cara da noite anterior, no bar. Aquele, o senhor não-estou-a-fim.

— Boa noite, cantora — cumprimentou-me com um sorrisinho debochado e sentou-se ao meu lado.

— Oi. — Limitei-me a dizer, olhando novamente para frente.

Um pequeno nervosismo surgiu em mim.

De todos os lugares vagos, ele tinha mesmo que se sentar aqui?

Espiei-o pelos cantos dos olhos, observando-o. A luz ali era melhor do que a do bar. As pequenas costeletas abaixo do grande chapéu mostravam a cor do seu cabelo. É escuro. Ele, assim como muitos cowboys por ali, tem a pele bronzeada pela lida. Acho isso tentador. O rosto tem o maxilar marcado, o corpo é grande e tem ombros bem largos. Seu cheiro amadeirado transmite vigor e sensualidade. Eu gosto muito disso.

O sexto homem foi anunciado. Concentrei-me à frente a tempo de vê-lo entrar na arena. O bonitão seria o próximo. Quando o locutor chamou por Jason Bennett, a plateia vibrou torcendo por ele. O brete foi aberto, e um imenso touro branco saiu de lá, pulando alto e bufando furioso. Tanto eu quanto o senhor não-estou-a-fim nos levantamos em um pulo para ver melhor o que acontecia lá embaixo.

As pessoas começaram a contar os segundos. Quanto mais perto do fim, mais alto berravam. Jason seguiu os oito segundos intactos sobre o touro, com uma mão erguida para cima, enquanto a outra segurava firmemente a corda. Quando soou o sinal, ele pulou do bicho e correu para o alambrado, algumas fileiras abaixo de mim, e subiu na grade enquanto o touro era contido e levado embora.

Os olhos dele percorreram a plateia onde eu estava, até que olhou para cima e me viu. Ele sorriu e tocou a ponto do chapéu, reverenciando-me com um aceno de cabeça. Sorri e acenei para ele. Senti-me estranhamente observada, olhei para o lado e o senhor não-estou-a-fim me encarava com um olhar duro e azul. O cenho estava franzido e lábios comprimidos em uma linha reta. Ele se virou e se foi depressa.

Sentei-me novamente e terminei de assistir ao rodeio. Outros sete homens entraram. Alguns saíram cabisbaixos de lá, outros machucados, e poucos foram para o placar. Quando enfim acabou, premiaram Jason e outros caras com troféus. Ele acenou para plateia e deixou a arena.

Levantei-me e saí logo dali antes que tudo virasse um grande congestionamento de pessoas. Segui para a parte posterior da arena e lá estava ele, junto a outros três peões, recebendo as suas fivelas e os cheques com as premiações. Ele apertou a mão de um homem e virou-se para mim, vindo ao meu encontro.

— Talvez goste mais dessa — disse ele, mostrando a nova fivela.

— É linda. — Mas não tem um grande volume abaixo, apenas pensei, é claro.

— Vou guardar isso no carro e vamos para o show. Você me deve uma dança. — Jason saiu caminhando e eu o segui. — Você já cantou hoje?

— Como sabe que sou cantora?

Ele riu e olhou para o meu vestido.

— Nem as garotas da cidade grande se vestem assim quando aparecem por aqui. Isso é figurino de show.

Ri.

— Eu já cantei, sim. Fui a primeira da noite.

— E quando você vai embora?

— Quando acabar a temporada.

— Por quê? Você também compete?

— Não. Vou ficar porque tenho mais seis shows até o final do trimestre.

Ele me olhou de cenho franzido.

— Jura? Geralmente os cantores ficam por uma ou duas semanas. Você deve ser boa. — Abriu a porta traseira da enorme Ranger preta. — Vai ter que cantar para mim.

— Vou cantar na sexta. Por que não vem me assistir?

Ele fechou a porta e olhou-me.

— Está bem. — Sorriu e ajeitou o chapéu.

— Jason! — Uma voz irritada o chamou.

Jason fechou os olhos por alguns segundos e respirou fundo.

— Desculpe por isso — pediu para mim, afastando-se em alguns passos.

Eu o olhei confusa e depois para a pessoa que se aproximava, saindo do escuro. É o senhor não-estou-a-Fim. De Novo. Ele está me perseguindo? Ou o acaso quer muito que a gente se encontrando outra vez em menos de uma hora, em uma festa com mais de seis mil pessoas?

— Se for me socar, faça isso logo, Jaden.

O homem se aproximou dele com punhos cerrados e rapidamente arremessou uma mão para cima, socando-o. O soco foi forte e certeiro, fazendo com que Jason caísse no chão, sujando-se de poeira. Dei um passo largo para trás, afastando-me deles, e os encarei assustada.

— Me lembro de você bater com mais força — Jason o provocou.

— Me lembro de mandar você ficar fora da arena! — gritou Jaden.

Jason se ergueu do chão e bateu as mãos na roupa, tentando se limpar. Levou o dorso esquerdo até o lábio, que sangrava minimamente, e o limpou.

— Já acabou, irmão? — perguntou, sorrindo.

— Acha engraçado me provocar e agir com tremenda irresponsabilidade? O que o nosso pai vai dizer quando souber?

— Só você se importa com o que ele diz ou quer das pessoas. E pare de querer cuidar da minha vida, achando que pode me controlar! Dá um tempo, Jaden. Arranje uma namorada. Talvez a sua vida fique mais interessante e assim esquecerá um pouco da minha.

Jason olhou para mim e forçou um sorriso sem graça.

— Desculpe — pediu, vindo até mim.

— Talvez seja melhor eu deixar vocês a sós. — Olhei para Jaden.

Ele me encarava com um olhar irritado e estreito. O corpo estava rígido, os ombros inflados e as mãos guardadas dentro dos bolsos da calça.

— Não. Já acabamos aqui. Vem, vamos dançar.

Jason apanhou-me pela mão, e saímos dali. Mesmo que eu não tenha olhado para trás, sabia que o seu irmão nos observava partir. Podia sentir o seu olhar sobre a minha pele.

— Posso perguntar por que ele socou você?

— Nem ele ou qualquer outra pessoa da minha família aprova o que fiz essa noite.

— O rodeio? Por quê? Você foi o melhor.

— Há três anos, eu caí, fraturei a coluna, tive uma concussão grave e lacerei o fígado. Foram muitas cirurgias, três meses em coma e um ano de reabilitação. Talvez se eu não tivesse à minha disposição bons médicos e excelentes tratamentos, teria ficado paraplégico.

Parei de caminhar e o encarei chocada.

— E depois de tudo isso você teve coragem de entrar naquela arena hoje?

Ele riu, assentindo.

— Nasci para fazer isso, Olivia. É o que eu amo fazer. Não me imagino trabalhando para o meu pai o resto da vida, ouvindo ordens do meu irmão. Quero ganhar o mundo montando em touros e cavalos. Você se imagina sem a música?

— Não.

— É isso que o rodeio é para mim.

— Mas a música não coloca a minha vida em risco.

Ele ergueu os lábios em um pequeno sorriso e estreitou os olhos.

— Acabamos de nos conhecer e gostei muito de você, não quero desgostar tão rápido — falou humorado.

Sorri.

— Tudo bem. Não falaremos mais disso.

Continuamos a caminhar.

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