Capítulo 02

Olivia

O ônibus da escola parou em frente à porteira do rancho. Desci, me despedindo do motorista, e percorri sob o sol quente a estrada até em casa. Ao me aproximar, observei como estava tudo estranhamente quieto. O meu pai não estava mexendo no trator, e a minha mãe não estendia roupas no varal ou fazia reparos nas camisas furadas, sentada em uma cadeira no alpendre.

A porta dos fundos estava entreaberta. Subi os degraus e a empurrei, dando-me passagem. Meus olhos se arregalaram quando vi a dois passos um machado sujo de sangue, jogado no chão. Meu coração palpitou forte no peito com o pavor que me preencheu subitamente.

— Mamãe — chamei-a, mas nenhum ruído foi ouvido.

Tirei a mochila das costas e deixei-a no chão, junto a pia. Entrei na casa a passos oscilantes. Na quina da parede que separava a cozinha da sala, havia rastros de sangue sobre a tinta amarela. Uma mão se firmou ali antes de ser arrastada. Com olhos marejados e mãos trêmulas, continuei a caminhar. Uma linha de sangue percorria o chão do corredor até o último quarto. Era naquele cômodo que os meus pais dormiam.

A porta estava fechada. Segurando firmemente a maçaneta, pensei duas vezes se devia abri-la. Lágrimas desceram pela face, e um nó se formou na garganta. Tomada por toda a minha coragem, abri-a. Por alguns segundos, não soube decifrar o que era aquilo sobre cama. Mas, quando encarei os seus pés, as únicas partes que não estavam completamente vermelhas, entendi que aquele era o corpo da minha mãe. As unhas estavam pintadas de rosa e nos dedões havia margaridas desenhadas.

Eu não consegui gritar. Da minha boca não saía sequer uma sílaba, ou ruído. Não tinha forças. Virando-me lentamente, andei de volta para a cozinha. No chão, apanhei o machado e saí da casa. Desnorteada, apavorada e um tanto confusa, corri em direção ao estábulo. Precisava me esconder. Quem quer que tivesse feito aquilo, ainda poderia estar por perto.

Ao passar pelas portas, escutei barulhos vindo de uma das duas baias. Apertando as mãos no cabo do machado, me aproximei. No tanque de água, o meu pai lavava os seus braços ensanguentados. Meu pavor triplicou, e lágrimas desceram abundantemente. Quando notou a minha presença, ele ergueu a cabeça e me olhou, sorrindo. Havia sangue respingado no seu rosto e pescoço.

— Ela não vai mais me perturbar — disse ele, sem pesar.

— Você a matou? — sussurrei quase sem ar, sentindo o corpo todo estremecer.

— Precisava dar um jeito nela. — Sorriu.

Seus olhos desceram lentamente até as minhas mãos, observando o que eu segurava. O sorriso se desfez, e fúria preencheu a sua face.

— Me dê isso! — ordenou alto, aproximando-se rapidamente.

A sua roupa estava completamente manchada com o sangue e a honra da mulher para quem um dia ele jurou amor e cuidado eterno.

— Não! — Dei um passo para trás, tentando escapar dele. Tive medo de que me matasse também.

— Me dê isso agora! — gritou, avançando para cima de mim.

Eu não sei. Não sei se foi instinto, reflexo, ou se o mal também existia em mim, como existia nele. Em um instante, ele não mais gritava. Não andava. Apenas se engasgava com o próprio sangue, olhando para baixo, enquanto as mãos tentavam retirar o machado fincado por mim em seu peito.

***

Doze anos depois…

— Está na hora — disse Tate ao passar por mim, indo em direção ao palco.

Apanhei a minha jaqueta vermelha e vesti-a. Mas antes de deixar o pequeno camarim, olhei-me uma última vez no espelho. Ajeitei os cabelos, coloquei o chapéu e limpei o cantinho do lábio inferior onde havia um borrado de batom vermelho. Respirando fundo, dei um passo para trás e alinhei o vestido cravejado de cristais. Sorri para mim mesma e caminhei em direção à saída, apanhando meu violão que estava próximo à porta.

Ao chegar no palco, colocaram no meu ouvido o retorno do som e prenderam a caixa da bateria na parte de trás do vestido. Um dos auxiliares se aproximou e conectou um cabo no meu violão. A banda começou a introdução da canção Life Is A Highway. Lá fora, a plateia começou a gritar e bater palmas. Eu gostava disso. Gostava dessa empolgação, dos ânimos a flor da pele, de levar euforia com a música.

Sentindo um leve arrepio subir os braços, entrei no palco recebendo assobios e mais gritos. Toda aquela energia fez com que um pouco de emoção marejasse meus olhos. Aproximei-me do microfone no pedestal e comecei a cantar, enquanto os meus dedos tocavam as cordas do violão no ritmo da música.

O show chegou ao fim depois de duas horas, com apenas um intervalo de dez minutos. Tate assumiu o vocal nesse tempo, com as mais românticas. Quando descemos do palco, todos estavam animados e satisfeito com o que fizemos ali nessa noite.

— Vem, Oli. Vamos ver o rodeio. — Clay pegou-me pela mão e puxou-me para ir com eles.

No caminho até a arena, pessoas nos pararam e, pela primeira vez, pediram para tirar fotos conosco. Clay tinha um sorriso imensamente largo e feliz com a atenção que recebia das mulheres. Deixe-os com elas e segui caminho, sozinha. Estava na parte de trás da arena, procurando pela entrada. Talvez eu estivesse um pouco perdida. Ao lado, alguns peões que se preparavam para montar. Eles formavam um grupinho ao canto e fazia uma oração. Parei, observando-os.

— Boa noite, senhorita. — Uma voz grave ecoou atrás de mim, fazendo-me virar já com um sorriso no rosto, ao mesmo tempo que clamei mentalmente para que o homem fosse tão bonito quanto a sua voz.

E ele é.

— Boa noite.

Os seus olhos percorreram-me de cima a baixo.

— Amei a sua roupa — disse com um sorriso marcando o canto da boca.

— Adorei a fivela — falei olhando para a enorme fivela dourada acima do seu volume entre as pernas, divinamente marcado pelo jeans justo.

Uma risadinha escapou dele, que deu um passo adiante, estendendo-me a sua mão.

— Jason Bennett ao seu dispor. — Retirou o chapéu, revelando os seus cabelos escuros, lisos e de corte ligeiramente longo, um pouco acima dos ombros.

— Olivia Davis. — Coloquei a minha mão sobre a sua, sentindo a pele áspera e o calor que emanava dela.

Ele a segurou com firmeza e levou-a até seus lábios, beijando demoradamente o dorso.

— Muito prazer, Olivia. Está acompanhada essa noite?

— Direto ao ponto — disse, sorrindo.

— Rodeio para mim, só na arena. — Lançou-me uma piscadela.

— Desacompanhada e solteira.

— Por enquanto. — Soltou a minha mão e colocou o chapéu de volta na cabeça.

— Jason — chamaram-no.

— Tenho que ir, preciso ficar oito segundos em cima de um touro. Adoraria vê-la na plateia. Serei o sétimo a entrar.

— Estarei lá.

— Esteja livre para uma dança depois disso, Olivia.

Com um belo sorriso, ele piscou novamente para mim e se foi. O homem é lindo! Alto, pele levemente bronzeada e tinha belíssimos olhos azuis. Feliz em conhecer alguém bonito e cavalheiro, apressei os passos em direção à arquibancada. Tentei encontrar o melhor lugar.

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