— Ethan…
— Não precisa dizer nada. Eu sei que tudo isso é novo para você.Lila mordiscou o lábio inferior, claramente lutando contra algo dentro dela.— Eu só… eu nunca tive alguém que falasse assim comigo. Que me enxergasse desse jeito.Meu peito apertou. Eu queria dizer que era porque nunca teve alguém que realmente a visse. Que entendesse quem ela era de verdade.Mas sabia que palavras não bastariam.Sem pensar muito, levantei a mão e toquei seu rosto com a ponta dos dedos.Lila não recuou.Pelo contrário, seu corpo pareceu relaxar sob meu toque, como se uma parte dela estivesse esperando por isso. Seus olhos buscaram os meus, e quando sorriu, foi um daqueles sorrisos raros — genuíno, suave, cheio de algo que eu ainda não conseguia nomear.— Acho que estou começando a acreditar em você, Ethan.Meu polegar deslizou lentamente por sua bochecha.— Então eu devo estar fazendo algo certo.Ela soltou um riso baixo e desviou o olhar por umA luz fraca da manhã mal começava a se infiltrar pelas frestas da cortina quando abri os olhos, ainda mergulhada na névoa do sono. Meu corpo estava pesado, quente sob as cobertas, e por um momento considerei fechar os olhos de novo, me permitindo mais alguns minutos de descanso. Mas algo estava fora do lugar.Havia um silêncio estranho na mansão—não o silêncio tranquilo da madrugada, mas um tipo de quietude carregada, como se o ar ainda estivesse preso nos resquícios de algo que havia acontecido enquanto eu dormia.Então, a lembrança veio.Acordei mais cedo, em algum ponto da noite, com um som distante de vozes abafadas. O vidro frio da janela contra minha palma, a névoa da respiração formando um véu sobre o vidro. E então, vi: Scarlett.Ela descia os degraus da entrada, o cabelo loiro preso de forma impecável, o rosto virado para frente, determinada a não olhar para trás. Guardas cercavam a saída, rígidos e silenciosos, e um carro de luxo de portas abertas aguardava
Eu estava atônita, e nem sabia se deveria rir ou ficar preocupada. Mas uma coisa era certa: a manhã definitivamente estava começando de uma forma que eu jamais imaginaria.Os cozinheiros estavam desesperados.Dava para ver nos olhos deles — um pedido silencioso de socorro, como se esperassem que eu, de alguma forma, conseguisse controlar o furacão teimoso que era minha avó. Um dos auxiliares segurava um pote de açúcar com as mãos trêmulas, como se estivesse manuseando dinamite prestes a explodir. Outro tentava limpar discretamente a farinha que cobria quase todo o balcão de mármore, enquanto o chef, aquele mesmo que ousou questionar a metodologia de "medir com o coração", lançava olhares suplicantes na minha direção.Eu suspirei.— Vó... — comecei, me aproximando cautelosamente.Ela continuava mexendo uma tigela com uma intensidade impressionante, como se estivesse preparando a receita mais importante do século. Seu cabelo grisalho estava um pouco bagunçado, e su
Eu teria rido… se não estivesse ocupada demais tentando não ser atingida por uma nuvem de farinha.O bolo já estava no forno, mas minha avó não parecia satisfeita.— Agora, precisamos de um bom suco de laranja! — anunciou com entusiasmo, batendo as mãos.Eu soltei um suspiro discreto, sentindo o cansaço tomar conta de mim. Fazer o bolo já tinha sido uma missão caótica, e agora, espremedores de frutas surgiam na bancada como se estivéssemos prestes a iniciar outro ritual culinário.— Vovó… — tentei intervir, mas ela me ignorou completamente.Ethan, que até então estava ajudando a organizar os utensílios, inclinou-se para mim, sussurrando com um sorriso malicioso.— E eu achava que você era teimosa.Lancei-lhe um olhar de advertência.— Você não faz ideia.Ele riu baixinho e se afastou antes que eu pudesse dar um empurrão nele.Minha avó pegou uma laranja e tentou espremer com as próprias mãos, mas seus dedos frágeis não tinham força suficiente
Alec, ainda visivelmente confuso, abriu a boca para protestar, mas minha avó, doce e frágil por fora, simplesmente o empurrou com firmeza para dentro da cozinha.— Vamos, vamos! Nada de ficar parado feito uma estátua! — ela exclamou, como se ele fosse um neto teimoso que precisava ser guiado.O olhar de Alec oscilou entre mim e Ethan, buscando alguma forma de escapar, mas Ethan, ao invés de ajudá-lo, apenas cruzou os braços e observou a cena com um sorriso divertido.— Eu não acredito nisso… — Alec murmurou, sem conseguir se desvencilhar da determinação de Abigail.— Acredite, meu caro irmão, — Ethan disse, pegando um copo de suco e se encostando preguiçosamente no balcão — você acaba de ser recrutado.Minha avó bateu a colher de pau contra o balcão para chamar a atenção de Alec.— Ora, rapaz, você parece forte! Pegue as torradas, veja se não estão queimando!Alec piscou algumas vezes, como se ainda processasse o fato de estar sendo comandado por uma senh
Minha avó, que até então estava ocupada com a massa do bolo, ergueu a cabeça e olhou para Alec com aquela expressão travessa que só ela conseguia fazer.— Então você é o irmão mais novo do Ethan, não é?Alec arqueou uma sobrancelha, claramente sem saber para onde aquela conversa estava indo.— Bom… na verdade sou o segundo mais novo. Então sou mais velho que ele.— Hm. — Abigail o avaliou como se estivesse analisando uma fruta no mercado. — Bonito, mas tem cara de quem se preocupa demais.Alec piscou, pego de surpresa.— O quê?Minha avó apenas sorriu, voltando sua atenção para a massa.— Deixe de ser tão sério, menino. Vai acabar com rugas antes da hora.Ethan soltou uma risada baixa enquanto Alec fechava a cara, mas antes que ele pudesse retrucar, minha avó bateu as mãos na bancada, animada.— Muito bem, já chega de enrolação! Precisamos de mais suco de laranja para acompanhar nosso café. Aquele que fizeram não foi suficiente!Ela se vir
Eu suspirei.Eu fechei os olhos por um segundo, tentando reunir toda a paciência que ainda restava dentro de mim. Quando os abri novamente, Ethan e Alec continuavam congelados no lugar, as mãos parcialmente erguidas, segurando as últimas laranjas como se ainda considerassem atirá-las.Os cozinheiros, por outro lado, pareciam estátuas de cera — imóveis, incrédulos, provavelmente reconsiderando suas escolhas de vida.Minha avó, indiferente ao caos ao redor, caminhava pela cozinha distraída, mexendo em potes e pratos como se estivesse tentando lembrar de algo importante.— Meu Deus, eu já vi muita coisa nessa vida, mas isso… — Um dos chefs murmurou, passando a mão pelo rosto.Soltei um suspiro profundo, sentindo a exaustão precoce do dia pesar sobre mim.— Ok, chega. Vocês dois, larguem as laranjas e parem com essa infantilidade imediatamente.Ethan e Alec se entreolharam, ainda parecendo duas crianças travessas que foram pegas no flagra.— Mas, Lila… —
O escritório de Ethan era um contraste gritante com o caos animado da cozinha. Aqui, tudo era organizado, impecável, dominado pelo aroma amadeirado do móvel escuro e pelo leve cheiro de couro da poltrona em que ele estava sentado. Ou melhor, em que nós estávamos.Meu corpo estava no colo dele.Não foi algo planejado. Foi natural, como se já tivéssemos feito isso inúmeras vezes. Como se pertencesse a esse lugar, a esse momento.Mas eu não pertencia.Meu coração disparava com a intimidade repentina, martelando tão forte que eu tinha certeza de que Ethan e Alec podiam ouvir. Eu tentava parecer calma, fingir que a posição não me afetava, que o braço de Ethan ao redor da minha cintura não estava queimando minha pele através do tecido da blusa. Mas cada célula do meu corpo estava consciente dele. Da forma como sua respiração era lenta e controlada. Do calor sólido e constante que ele emanava.E ele não parecia minimamente afetado.Alec, por sua vez, ergueu uma sobr
O silêncio que ele deixou para trás foi quase sufocante. Eu tentei recuperar o controle da minha respiração, tentei ignorar o fato de que meu corpo ainda estava tenso contra Ethan, mas ele não facilitava em nada. Ele parecia confortável demais comigo ali, como se eu pertencesse àquele espaço, como se não houvesse nada de errado em me segurar daquele jeito. Mas havia. Havia algo profundamente errado no jeito que meu coração disparava toda vez que ele se movia. Meu coração ainda estava disparado, cada batida ecoando dentro de mim como um tambor frenético. Eu podia sentir o calor irradiando do corpo de Ethan contra o meu, cada parte dele encaixada em mim de um jeito que parecia natural demais. E então ele se moveu. Um movimento pequeno, quase imperceptível, mas que fez meu corpo inteiro travar. Ele inclinou a cabeça e respirou fundo, o nariz roçando a curva do meu pescoço. Minha pele arrepiou no m