Eu soltei um suspiro longo, sentindo o peso daquela conversa se espalhar por cada músculo do meu corpo. Scarlett continuava ali, me observando, esperando por algo que eu não sabia se poderia dar. Perdão? Aceitação? Raiva?
Tudo que eu sentia era um vazio cansado. — Você devia ter me contado — murmurei, quebrando o silêncio. Ela abaixou a cabeça, mordendo o lábio. — Eu sei. — Então por que não contou? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. Ela respirou fundo antes de me encarar. — Porque eu sabia que ia te machucar. Soltei um riso seco. — E esconder a verdade não machuca menos? — Eu pensei que, se eu fingisse que não aconteceu… — Ela fechou os olhos por um instante. — Talvez eu pudesse voltar a ser a Scarlett que você merecia. Aquilo me pegou de surpresa. — Scarlett… — Passei uma mão pelo rosto, tentando organizar os pensamentos. — Você sempre foi suficienteO frio da noite pareceu mais intenso quando me vi sozinho no jardim. Mas, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti livre. Fiquei parado no jardim por mais alguns minutos, tentando processar tudo o que acabara de acontecer. O fim do meu noivado com Scarlett não foi uma explosão de raiva ou palavras ditas no calor do momento. Foi um desmoronamento lento, inevitável. Um adeus silencioso entre duas pessoas que, no fundo, já sabiam que não podiam mais continuar juntas. Eu a observei atravessar o caminho de pedras até a entrada da mansão, seus passos firmes, mas sem pressa. Ela não olhou para trás, e eu não a chamei. Algumas despedidas não precisam de mais do que um olhar. Assim que Scarlett entrou na casa, um carro preto estacionado perto da entrada ligou os faróis. Em segundos, ela desapareceu dentro dele. O motor roncou suavemente, e então, sem hesitação, o veículo seguiu pela longa estrada que levava à saída da propriedade. Fiquei
O peso da pergunta de Lila pairou entre nós, e pela primeira vez, eu realmente considerei o que queria dali para frente.Olhei para ela—para os olhos castanhos que me desafiavam a ser honesto, que pareciam enxergar através de cada camada que eu tentava esconder. A lua refletia neles, e por um momento, me perguntei se era possível que ela visse as respostas que nem eu mesmo conseguia encontrar.O cabelo ruivo caía em ondas suaves sobre os ombros, capturando a luz prateada da noite como se cada fio carregasse um brilho próprio. Eu queria tocá-lo, deslizar os dedos ali e descobrir se era tão macio quanto parecia. Suas sardas espalhavam-se delicadamente pela pele pálida, pequenas constelações desenhadas sobre ela, e eu queria me perder nelas, contar cada uma como se fossem segredos impressos só para mim.Meu peito apertou.Ela era linda. Mas não era só isso. Não era apenas atração, não era apenas desejo. Era algo mais profundo, algo que eu não conseguia nomear, mas que c
Lila ainda segurava minha mão contra seu rosto, seus olhos cheios de algo que eu não conseguia decifrar completamente. Mas então, ela respirou fundo e afastou-se levemente, seus dedos deslizando pelos meus antes de soltar minha mão.— No grimório… — ela começou, hesitante. — Eu vi algumas passagens sobre a conexão entre destinados. Sobre o idioma lupino. Eu queria aprender mais sobre isso.Minha boca se curvou num meio sorriso cansado, e eu balancei a cabeça, soltando um suspiro.— Lila, foi coisa demais para um dia só.Ela franziu o cenho.— Mas…— Sem "mas". — Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha para ela. — Você já descobriu sobre o nosso vínculo, sobre como isso muda tudo, e agora quer se enfiar em estudos sobre um idioma que você nem sabia que existia até algumas semanas atrás?Ela abriu a boca para retrucar, mas parou, mordendo o lábio.— Bom… quando você coloca desse jeito…Soltei um riso baixo.— Eu coloco desse jeito porque voc
— Ethan…— Não precisa dizer nada. Eu sei que tudo isso é novo para você.Lila mordiscou o lábio inferior, claramente lutando contra algo dentro dela.— Eu só… eu nunca tive alguém que falasse assim comigo. Que me enxergasse desse jeito.Meu peito apertou. Eu queria dizer que era porque nunca teve alguém que realmente a visse. Que entendesse quem ela era de verdade.Mas sabia que palavras não bastariam.Sem pensar muito, levantei a mão e toquei seu rosto com a ponta dos dedos.Lila não recuou.Pelo contrário, seu corpo pareceu relaxar sob meu toque, como se uma parte dela estivesse esperando por isso. Seus olhos buscaram os meus, e quando sorriu, foi um daqueles sorrisos raros — genuíno, suave, cheio de algo que eu ainda não conseguia nomear.— Acho que estou começando a acreditar em você, Ethan.Meu polegar deslizou lentamente por sua bochecha.— Então eu devo estar fazendo algo certo.Ela soltou um riso baixo e desviou o olhar por um
A luz fraca da manhã mal começava a se infiltrar pelas frestas da cortina quando abri os olhos, ainda mergulhada na névoa do sono. Meu corpo estava pesado, quente sob as cobertas, e por um momento considerei fechar os olhos de novo, me permitindo mais alguns minutos de descanso. Mas algo estava fora do lugar.Havia um silêncio estranho na mansão—não o silêncio tranquilo da madrugada, mas um tipo de quietude carregada, como se o ar ainda estivesse preso nos resquícios de algo que havia acontecido enquanto eu dormia.Então, a lembrança veio.Acordei mais cedo, em algum ponto da noite, com um som distante de vozes abafadas. O vidro frio da janela contra minha palma, a névoa da respiração formando um véu sobre o vidro. E então, vi: Scarlett.Ela descia os degraus da entrada, o cabelo loiro preso de forma impecável, o rosto virado para frente, determinada a não olhar para trás. Guardas cercavam a saída, rígidos e silenciosos, e um carro de luxo de portas abertas aguardava
Eu estava atônita, e nem sabia se deveria rir ou ficar preocupada. Mas uma coisa era certa: a manhã definitivamente estava começando de uma forma que eu jamais imaginaria.Os cozinheiros estavam desesperados.Dava para ver nos olhos deles — um pedido silencioso de socorro, como se esperassem que eu, de alguma forma, conseguisse controlar o furacão teimoso que era minha avó. Um dos auxiliares segurava um pote de açúcar com as mãos trêmulas, como se estivesse manuseando dinamite prestes a explodir. Outro tentava limpar discretamente a farinha que cobria quase todo o balcão de mármore, enquanto o chef, aquele mesmo que ousou questionar a metodologia de "medir com o coração", lançava olhares suplicantes na minha direção.Eu suspirei.— Vó... — comecei, me aproximando cautelosamente.Ela continuava mexendo uma tigela com uma intensidade impressionante, como se estivesse preparando a receita mais importante do século. Seu cabelo grisalho estava um pouco bagunçado, e su
Eu teria rido… se não estivesse ocupada demais tentando não ser atingida por uma nuvem de farinha.O bolo já estava no forno, mas minha avó não parecia satisfeita.— Agora, precisamos de um bom suco de laranja! — anunciou com entusiasmo, batendo as mãos.Eu soltei um suspiro discreto, sentindo o cansaço tomar conta de mim. Fazer o bolo já tinha sido uma missão caótica, e agora, espremedores de frutas surgiam na bancada como se estivéssemos prestes a iniciar outro ritual culinário.— Vovó… — tentei intervir, mas ela me ignorou completamente.Ethan, que até então estava ajudando a organizar os utensílios, inclinou-se para mim, sussurrando com um sorriso malicioso.— E eu achava que você era teimosa.Lancei-lhe um olhar de advertência.— Você não faz ideia.Ele riu baixinho e se afastou antes que eu pudesse dar um empurrão nele.Minha avó pegou uma laranja e tentou espremer com as próprias mãos, mas seus dedos frágeis não tinham força suficiente
Alec, ainda visivelmente confuso, abriu a boca para protestar, mas minha avó, doce e frágil por fora, simplesmente o empurrou com firmeza para dentro da cozinha.— Vamos, vamos! Nada de ficar parado feito uma estátua! — ela exclamou, como se ele fosse um neto teimoso que precisava ser guiado.O olhar de Alec oscilou entre mim e Ethan, buscando alguma forma de escapar, mas Ethan, ao invés de ajudá-lo, apenas cruzou os braços e observou a cena com um sorriso divertido.— Eu não acredito nisso… — Alec murmurou, sem conseguir se desvencilhar da determinação de Abigail.— Acredite, meu caro irmão, — Ethan disse, pegando um copo de suco e se encostando preguiçosamente no balcão — você acaba de ser recrutado.Minha avó bateu a colher de pau contra o balcão para chamar a atenção de Alec.— Ora, rapaz, você parece forte! Pegue as torradas, veja se não estão queimando!Alec piscou algumas vezes, como se ainda processasse o fato de estar sendo comandado por uma senh