A sensação não passava enquanto aquela ambulância balançava incansavelmente em direção ao hospital. Havia sentido algo momentos antes de Andrea entrar no mar e aquilo ainda continuava em mim. Era muito estranho antever um fato que ocorreu a seguir.
Junto dela, naquele carro, parecia que tudo já havia acontecido. Nos mínimos detalhes a vi deitada na maca, com a máscara de oxigênio e presa por cintos pretos.
Ao lado, a socorrista, uma mulher negra, lá pelos 30 anos, monitorava a jovem ruiva. Agachado atrás dela num pequeno espaço, segurava a mão de Andrea, que ocasionalmente, mirava-me com olhar assustado.
Um deja vu me ocorreu pela primeira vez na vida. A partir daquele momento, essa sensação de ver algo que já teria ocorrido, me acompanhou por muito tempo. Não sabia, mas outro evento, acredito eu, no mesmo momento, me
Nunca desejei aquele momento com Andrea, onde o desespero dela a levou quase à morte e com uma despedida tão triste. Saber que levei alguém quase ao fim da vida me deixou aflito por anos. Hoje não mais, mas durante muito tempo, chorei escondido de Diana.Quando você vive com alguém, acredita mesmo que pode esconder tudo? Pois é, nem tudo está oculto e ela, do seu jeito, sabia disso. Antes inflamada pela raiva que nem deveria passar, Diana convertera-se numa cuidadora de mim. Ela sentia que se não tivesse o devido tato, eu poderia até alcançar a depressão.Naquele fim de semana triste, o segundo de maio de 1994, eu e Diana nos apresentamos aos meus pais. Era a primeira vez que estávamos reunidos em minha casa e Manoel queria dizer algo. Sentados no sofá, vimos ele entrar e sentar ainda com moderação nos movimentos.Eliza juntou-se ao marido e a expectati
O dia estava maravilhoso na manhã daquele sábado, fim de novembro de 1993, em Guarujá, litoral de São Paulo. As águas do canal que separa a ilha de Santo Amaro do continente (Santos) estavam bem calmas. Sentado numa das cadeiras de madeira, que envolviam nossas pequenas mesas, eu mantinha minha mente presa à página 118 do livro “O que ela viu em mim?” do escritor Ricardo Moriah. Sob aquela grande cobertura do quiosque da cantina, onde mesas pequenas estavam dispostas num grande círculo, eu me mantinha fixo ao som de Snow Piece, de Vangelis. Os pequenos fones de ouvido de meu Walkman me impediam de voltar à realidade sonora do local, onde pássaros, barcos e os infelizes mosquitos davam o ar da graça. Tudo parecia bem naquela manhã tranquila, que não deixava de ser igualmente monótona. Os clientes ainda não haviam chegado e eu podia relaxar… De repente, percebo uma figura passando ao meu lado rapidamente, indo em
Com o pedido pronto, levei uma bela porção de fritas e o sal para as irmãs, sentadas no quiosque. Confesso que eu estava nervoso, afinal, Diana havia me desequilibrado emocionalmente, mas isto era apenas o início...Sério, coloquei a bandeja sobre a mesa e, na outra mão, depositei uma embalagem com catchup e o sal. Diana, mirou em mim, ainda sustentando aquele sorriso arrebatador e confidenciou:— Adoro batata com catchup...Como as outras duas estavam olhando para o prato, não notaram o olhar da bela irmã morena para mim, apenas a mais nova respondeu-lhe sem olhá-la diretamente.— Ah! Eu também amo isso!Diana então falou:— Ingrid, você ama tudo o que é comestível...A pequena riu e fez a mais velha comentar:— “Wen”, não sei como não engorda, comendo tanto.<
Ao ver a lancha sumir após as árvores, subitamente eu me senti triste. Mesmo sabendo que ela voltaria no final do dia, a garota dos olhos azuis era uma companhia que eu passara a adorar, não, necessitar. Seu sorriso era encantador, assim como o jeito de olhar. Como eu já falei, nunca procurei me envolver com as garotas ricas que apareciam na marina, mas agora eu estava me deixando levar por essa onda. Imerso em meus pensamentos, fui chamada por Eliza, minha mãe. De pele clara e cabelo bem longo, a esposa de Manoel era sim, realmente linda. Ok, eu sou suspeito em falar, mas com seus olhos verdes e feições de origem italiana, lá do interior do Paraná, Eliza encantava meu pai. Magra e alta, ela tinha um rosto fino e olhar expressivo. Com 41 anos, minha mãe nunca tivera outro filho porque teve problemas no útero, algum tempo após meu nascimento. Isso sempre a entristeceu, pois, desejava ter outros, inclusive uma menina. Pela beleza que ela continha, dentr
O fim da tarde se aproximava velozmente e meu olhar se perdia no horizonte. As águas calmas do canal logo se agitaram com a passagem de vários barcos. Lanchas, iates e veleiros desfilavam vagarosamente naquela fronteira líquida da Ilha de Santo Amaro, buscando o refúgio das marinas da região.Já acostumado com isso, nunca liguei efetivamente para tal desfile, embora admirasse a beleza de alguns dos barcos. Contudo, naquela tarde, eu buscava um em especial, uma lancha Intermarine Oceanic de 32 pés...Claro, meu interesse não era o barco, mas quem estava nele. Então, quando faltavam poucos minutos para as 18 horas, a Desert Rose apontou na curva do canal, exuberante. Sim, embora realmente fosse bonito, o barco tinha uma importância maior para mim.Mal sabia eu que aquela Oceanic seria ainda mais especial... Para minha sorte, meu pai sempre mantinha a cantina aberta até &a
O relógio tocou às 5:30h, mas, confesso que não havia dormido direito. Se eu adormeci por duas horas, foi muito naquela noite de grande ansiedade. Levantei rapidamente e pensei em vestir uma calça, mas eu estaria na praia. Como ela estaria vestida?A questão invadiu-me, mas decidi mesmo ir arrumado, visto que não seria uma diversão propriamente dita, mas um momento importante. Assim, enfiei-me em uma calça jeans, a mais nova que eu tinha.Coloquei um tênis e uma camisa verde, devidamente posta para fora da calça, tendo ela estampa aveludada com a águia bicéfala dos Paleólogos. [Nota do autor: Heráldica da última dinastia do Império Romano do Oriente]O perfume Quasar contemplou o conjunto, que ainda contava com meu corte de cabelo curto e rosto bem liso, sem barba. Consegui a proeza de me aprontar em 30 minutos, embora tudo já estivesse arrumado,
Aquela manhã de domingo foi inesquecível, embora não mais que uma tarde de sol, silenciosa e agradável sobre o mar... Eu e Diana estávamos vivendo o nosso momento, um instante no tempo em que nos uníamos cada vez mais. De frente ao mar, começamos nossa “Carreira das Índias” do amor.Ligados pelo mar, ainda não sabíamos que seria sobre ele, a definição de nosso destino. Com o som das ondas a quebrar mais abaixo, naquele rochedo, admirávamos o horizonte, desejosos de que nossos dias juntos fossem eternos. Mas, como todas as coisas boas da vida, o tempo correu contra nós.Olhando no relógio, Diana se assustou com a hora já avançada. Se eu quisesse que o tempo passasse logo, era apenas estar junto dela para isso acontecer...— Amor, eu preciso voltar.— Mas, já? Parece que chegamos agora.— Infelizm
Seus cabelos negros ainda me envolviam, assim como parte de seu corpo nu, quando despertei após um cochilo breve a bordo da Desert Rose. Ainda transpirando muito, por conta do calor e de nosso amor, mirei em seu rosto avermelhado.Diana adormecera também e tinha uma respiração suave, como se estivesse em um belo sonho. Contudo, eu tinha que acordá-la para a realidade e nossa situação estava longe de ser um sonho, embora tê-la em minha vida fosse mais que isso.Despertei-a, mas ela não queria levantar. Com muito custo, após quase ter sido rendido por um abraço, a convenci ser o momento de irmos. Mas, se eu soubesse o que viria a seguir, eu teria ficado naquela cama...Mirando-me com seu maravilhoso olhar azul, Diana se declarou após “virar mulher”.— Gui, eu te amo.— Eu também, muito.— Queria ficar contigo aqui e