Com o pedido pronto, levei uma bela porção de fritas e o sal para as irmãs, sentadas no quiosque. Confesso que eu estava nervoso, afinal, Diana havia me desequilibrado emocionalmente, mas isto era apenas o início...
Sério, coloquei a bandeja sobre a mesa e, na outra mão, depositei uma embalagem com catchup e o sal. Diana, mirou em mim, ainda sustentando aquele sorriso arrebatador e confidenciou:
— Adoro batata com catchup...
Como as outras duas estavam olhando para o prato, não notaram o olhar da bela irmã morena para mim, apenas a mais nova respondeu-lhe sem olhá-la diretamente.
— Ah! Eu também amo isso!
Diana então falou:
— Ingrid, você ama tudo o que é comestível...
A pequena riu e fez a mais velha comentar:
— “Wen”, não sei como não engorda, comendo tanto.
Diana riu e olhou para mim, que estranhamente ainda estava parado diante das três. Então, em minha realidade voltei-me ao serviço. Ainda nervoso, falei:
— Bem, se precisarem de mais algo, é só chamar. Estarei ali no cantinho...
Indiquei a entrada do quiosque. Diana sorriu e agradeceu, voltando-se para as irmãs. Fui então até a passagem e reparei que Wolf voltara ao barco, que estava sendo rebocado para a água.
Eu não lembro quantas vezes ele usou a lancha com a amante, mas ali seria o primeiro passeio em família, pelo menos na Triton. Era um belo barco realmente e a imaginei sobre ele, de biquíni e com os cabelos negros dançando ao vento do mar...
Preso à visão dela, imaginada sobre a Desert Rose, fui pego de surpresa pela mesma.
— Moço... Onde é o toalete? – perguntou Diana.
— Hã? Ah! Desculpe. É... É na primeira porta ao lado da cantina – indiquei com a mão.
— Você estava desligado, hein?
— Não... Estava apenas observando o barco de vocês, o Desert Rose.
Curiosa, a morena olhou para a lancha e voltou-me com seus lindos olhos verdes.
— Meu pai comprou há três anos, mas eu andei nela poucas vezes. Estava em outra marina aqui no Guarujá e ele trouxe pra cá por ser mais barato...
Agradeci por isso, certamente. Ao mesmo tempo, pensei em como Keila aproveitava mais aquele barco que a pessoa que tinha real direito. Fixo nesse pensamento, a garota me tirou da reflexão.
— E você? É daqui do Guarujá mesmo?
Minha tensão subiu ao ser indagado por Diana e, quando ia responder, ela refez a questão.
— Eu peço desculpa, mas qual seu nome?
— Guilherme.
— Prazer, Diana.
Tomei coragem...
— Belo nome...
— Eu sei, minha mãe que me deu – respondeu, abrindo um sorriso.
Ignorando tudo e todos em volta, rapidamente meu pensamento foi até outra Diana, um personagem conhecido. Nisso, resolvi arriscar.
— Seu nome faz lembrar alguém. Uma princesa...
Sorrindo, mas não surpresa, a garota concluiu errado.
— Princesa Diana...
Eu ri, o que a surpreendeu. Com interrogação no olhar, mas ainda exibindo seus belos dentes brancos, ela indagou:
— Por que você ri? Não é ela?
— Não...
— Então quem é?
Decidi jogar com Diana, afinal, ela iniciara uma conversa que não havia sido planejada, presumi.
— É uma princesa de uma ilha chamada Paraíso.
Ainda sem entender, a jovem cerrou o olhar e conjecturou algo, então, perguntou:
— Ilha Paraíso, é uma ficção, não é?
Agora eu é que estava surpreso, afinal, a dica era clara e só havia uma Diana ligada à tal ilha. Daí, eu fiz um ar de interrogação e lhe questionei:
— Nunca ouviu falar da ilha Paraíso?
Tentando buscar algo na mente, a bela morena teimava consigo em lembrar, mas desistiu.
— Não lembro...
Então, fiz um sorriso acolhedor e revelei.
— Diana Prince, mais conhecida como “Mulher Maravilha”.
A surpresa estampada no rosto da jovem me encantou. Como ela podia ser tão linda? Como ela podia rivalizar com a própria Linda...
— Por que você não disse antes? – indagou, sorrindo alegremente.
— Desculpe, pensei que você ia adivinhar...
— Ai Gui, só você mesmo...
O “Gui” não passou despercebido por mim. Aquela linda – sim, mais que a própria Linda Carter – garota adicionara meu apelido ao seu vocabulário, que eu saberia ser extenso...
— Bem, deixe-me ir ao toalete.
— Claro.
A moça seguiu em direção ao banheiro e eu ainda não estava acreditando. Olhei em volta e vi as outras duas, andando em minha direção e contive o sorriso, afinal, elas poderiam perceber. Ao me cumprimentar, a loira alta perguntou.
— Por favor, você viu minha irmã?
— Sim, Diana foi ao toalete.
Por que eu tive que mencionar o nome dela? Nossa! Como eu dei mole naquele momento... Intrigada, a loira mirou-me e falou.
— Bem, então eu vou aguardar a “Diana” sair, porque também preciso ir até lá...
Fiquei apreensivo, afinal, a loira indicou sua surpresa ao mencionar a irmã. Nisso, a jovem Ingrid revelou o nome de quem me indagou.
— Martha, eu vou pra lancha, tá?
— Pode ir maninha, logo estarei lá.
— Então tá...
A pequena partiu sem nem olhar para mim, o que não me surpreendeu. Naquele local, eu era “invisível” para muitas filhinhas de papai... Contudo, eu estava bem visível para a loira alta, que ainda me encarava. Então, ela olhou para trás e rapidamente me questionou:
— Meu pai vem sempre aqui?
Gelei! Sabia que a pergunta era complicada de responder e, pela expressão séria da moça, continha algo mais... Nesse momento, fiquei apreensivo, afinal, se eu confirmasse, podia haver implicações. Então, neguei.
— Não muito, eu não venho com frequência para a marina.
Menti, mas precisava. Eu não queria me envolver no caso de Wolf, dado que isso poderia arrastar minha família junto. Então, julguei que o mais prudente seria ficar longe disso. Entretanto, meus esforços seriam frustrados adiante...
— Entendi. É que faz uns dois meses que ele mudou a lancha para cá e só agora nos trouxe.
Martha estava literalmente “dando a linha na pipa” e eu sabia disso. Tinha certeza de que se entrasse na conversa dela, seria “cortado e aparado”. Então, fiz o que tinha de ser feito.
— Pois é... Bom, desculpe, eu preciso arrumar as mesas.
Mirando-me com seu olhar verde decepcionado, a loira disse:
— Tudo bem, eu que peço desculpas por incomodar.
Frisei o olhar e devolvi.
— Não, claro que não. Tudo bem...
Martha sorriu, mas retirou a expressão do rosto ao ver Diana se aproximar.
— Tá me esperando? – disse a morena.
— Sim! Preciso do toalete também, moça... – respondeu.
A garota mais alta foi em direção ao banheiro e eu, já me encaminhando até a mesa em que estavam, fui chamado por Diana.
— Ei Gui!
— Oi? Diga.
— Minha irmã estava te chateando?
Formei um sorriso, achando engraçada a pergunta dela e respondi.
— Não...
— Então tá.
Diana olhou desconfiada em direção ao banheiro e novamente voltou a sorrir diante de mim.
— Então, quer dizer que você se lembrou da Mulher Maravilha?
— Sim...
— Será que sou parecida com ela? – indagou, buscando algo em minha resposta.
Sim, Diana! Você é muito mais linda, que a Linda Carter! Bem, era isso o que pensei na hora, mas tinha de me conter.
— Eu suponho que sim, muito...
A garota cerrou os lábios e seus olhos agradeceram o elogio. Ao mesmo tempo, seu laço mágico estava explorando a verdade em minha mente.
— Muito, quanto?
Sim, o laço de Diana tinha poder e me enlaçou ali. Eu não tinha como mentir, como enganá-la. Então, a verdade se fez em minha resposta.
— Você é muito mais linda que a Linda... Quer dizer, a Linda Carter! Isso!
Nossa! Eu acabei de confessar meu próprio pensamento para Diana e só me dei conta diante de seu sorriso largo. Paralisado, vi seu semblante mudar e ela parecia ter dado conta de algo que conjecturava.
No meu caso, pensei ter dito uma besteira ou mesmo ter sido imprudente ao avançar o sinal, quando estávamos apenas conversando. Se envolver com clientes da marina não era uma regra, mas seguir esse caminho não era prudente.
Então, já apreensivo, me preparei para pedir-lhe desculpas por ser tão intrusivo. Contudo, Diana me surpreendeu.
— Nem no colégio me fizeram uma comparação tão linda quanto a sua. Olhe, embora não pareça, estou alegre por ouvir isso e... Não, melhor, estou feliz por ter essa conversa com você.
— Obrigado, eu pensei que falei demais...
Nunca diga isso cara! Mas, infelizmente eu disse.
— Nunca diga isso! Você...
Diana foi interrompida por Martha, que acabara de voltar do banheiro.
— Vamos? – disse a loira.
Olhando para a irmã, a morena voltou-me com ar acolhedor e disse.
— Depois conversamos... Tchau!
— Tchau!
Olhei em direção à loira, que acenou para mim, o que fez a “Linda” voltar-se rapidamente com indagação no semblante, retornado então para a irmã. Lembro-me de tê-la ouvi perguntar à Martha.
— Ué? Vamos são amigos?
Intrigada, a irmã respondeu:
— Não, mas você parece...
Não pude ver a expressão de Diana, pois, estava de costas, mas balançou a cabeça em negação e indicou com a mão a direção do caminho até o píer. Enquanto disfarçava limpando a mesa, pude vê-las caminhando até a Desert Rose.
Quando Martha se preparava para embarcar, Diana virou-se e me lançou um último olhar antes de subir no barco. Ela rapidamente moveu-se em direção à proa, se apoiando no corrimão baixo.
Então, sentou-se sobre a cobertura frontal e fixou seus olhos azuis neste que conta sua história. Lentamente a Desert Rose acelerou, enquanto meu coração se apertou...
Ao ver a lancha sumir após as árvores, subitamente eu me senti triste. Mesmo sabendo que ela voltaria no final do dia, a garota dos olhos azuis era uma companhia que eu passara a adorar, não, necessitar. Seu sorriso era encantador, assim como o jeito de olhar. Como eu já falei, nunca procurei me envolver com as garotas ricas que apareciam na marina, mas agora eu estava me deixando levar por essa onda. Imerso em meus pensamentos, fui chamada por Eliza, minha mãe. De pele clara e cabelo bem longo, a esposa de Manoel era sim, realmente linda. Ok, eu sou suspeito em falar, mas com seus olhos verdes e feições de origem italiana, lá do interior do Paraná, Eliza encantava meu pai. Magra e alta, ela tinha um rosto fino e olhar expressivo. Com 41 anos, minha mãe nunca tivera outro filho porque teve problemas no útero, algum tempo após meu nascimento. Isso sempre a entristeceu, pois, desejava ter outros, inclusive uma menina. Pela beleza que ela continha, dentr
O fim da tarde se aproximava velozmente e meu olhar se perdia no horizonte. As águas calmas do canal logo se agitaram com a passagem de vários barcos. Lanchas, iates e veleiros desfilavam vagarosamente naquela fronteira líquida da Ilha de Santo Amaro, buscando o refúgio das marinas da região.Já acostumado com isso, nunca liguei efetivamente para tal desfile, embora admirasse a beleza de alguns dos barcos. Contudo, naquela tarde, eu buscava um em especial, uma lancha Intermarine Oceanic de 32 pés...Claro, meu interesse não era o barco, mas quem estava nele. Então, quando faltavam poucos minutos para as 18 horas, a Desert Rose apontou na curva do canal, exuberante. Sim, embora realmente fosse bonito, o barco tinha uma importância maior para mim.Mal sabia eu que aquela Oceanic seria ainda mais especial... Para minha sorte, meu pai sempre mantinha a cantina aberta até &a
O relógio tocou às 5:30h, mas, confesso que não havia dormido direito. Se eu adormeci por duas horas, foi muito naquela noite de grande ansiedade. Levantei rapidamente e pensei em vestir uma calça, mas eu estaria na praia. Como ela estaria vestida?A questão invadiu-me, mas decidi mesmo ir arrumado, visto que não seria uma diversão propriamente dita, mas um momento importante. Assim, enfiei-me em uma calça jeans, a mais nova que eu tinha.Coloquei um tênis e uma camisa verde, devidamente posta para fora da calça, tendo ela estampa aveludada com a águia bicéfala dos Paleólogos. [Nota do autor: Heráldica da última dinastia do Império Romano do Oriente]O perfume Quasar contemplou o conjunto, que ainda contava com meu corte de cabelo curto e rosto bem liso, sem barba. Consegui a proeza de me aprontar em 30 minutos, embora tudo já estivesse arrumado,
Aquela manhã de domingo foi inesquecível, embora não mais que uma tarde de sol, silenciosa e agradável sobre o mar... Eu e Diana estávamos vivendo o nosso momento, um instante no tempo em que nos uníamos cada vez mais. De frente ao mar, começamos nossa “Carreira das Índias” do amor.Ligados pelo mar, ainda não sabíamos que seria sobre ele, a definição de nosso destino. Com o som das ondas a quebrar mais abaixo, naquele rochedo, admirávamos o horizonte, desejosos de que nossos dias juntos fossem eternos. Mas, como todas as coisas boas da vida, o tempo correu contra nós.Olhando no relógio, Diana se assustou com a hora já avançada. Se eu quisesse que o tempo passasse logo, era apenas estar junto dela para isso acontecer...— Amor, eu preciso voltar.— Mas, já? Parece que chegamos agora.— Infelizm
Seus cabelos negros ainda me envolviam, assim como parte de seu corpo nu, quando despertei após um cochilo breve a bordo da Desert Rose. Ainda transpirando muito, por conta do calor e de nosso amor, mirei em seu rosto avermelhado.Diana adormecera também e tinha uma respiração suave, como se estivesse em um belo sonho. Contudo, eu tinha que acordá-la para a realidade e nossa situação estava longe de ser um sonho, embora tê-la em minha vida fosse mais que isso.Despertei-a, mas ela não queria levantar. Com muito custo, após quase ter sido rendido por um abraço, a convenci ser o momento de irmos. Mas, se eu soubesse o que viria a seguir, eu teria ficado naquela cama...Mirando-me com seu maravilhoso olhar azul, Diana se declarou após “virar mulher”.— Gui, eu te amo.— Eu também, muito.— Queria ficar contigo aqui e
A longa semana se iniciou e a saudade veio com os dias que se seguiram. Como eu não ia à marina durante a semana, ficava em casa estudando ou matando o tempo. Aliás, foi logo na segunda-feira à tarde que uma das fichas caiu...— Cadê o meu livro? — disse a mim mesmo.Logo que iniciei a busca, a lembrança da Desert Rose apareceu magicamente em minha mente. Claro! Eu havia esquecido no sofá da cabine... Com um turbilhão de emoções atravessando meu cérebro, o bendito livro ficou no barco e eu nem percebi.O temor de ser pego com a filha dos Niechtenbahl´s era maior que qualquer detalhe, como esse. Assim, lamentei muito, pois, não podia pedir à minha mãe para entrar num barco particular. Meu pai então, nem se fala...Naquele dia, após a meia-noite, Diana me ligou e revelei-a o detalhe do livro. Ela se mostrou apreensiva, po
As horas demoraram a passar, enquanto Wolf e Keila curtiam a vista do estuário da Ilha de Santo Amaro. Nesse tempo, tive que passar por eles três vezes para servir os demais clientes. Tentei ignorar ao máximo, mas ele havia pedido mais cervejas, que deixei que o ajudante da cantina, Pedro, o servisse.Algum tempo depois, ele levantou e foi ao balcão, acompanhado da amante, mas, nesse momento, me retirei para a despensa da cantina. Encarar Wolf depois de tudo não era nada agradável. Minutos depois, o vi sair com ela em seu carro. Somente ali eu arfei aliviado, mas eu precisava fazer algo.Eu tinha de avisar Diana sobre a descoberta de nossa primeira vez e só poderia fazer com calma após as doze badaladas. Ainda que Wolf tivesse ido, a angústia por conta dela era enorme. Minha mãe, observando meu estado, questionou:— Gui, por que você está assim, inquieto?— N&ati
O choque de Martha ao ouvir da irmã que estava grávida foi surpreendente. Eu pensei que ela iria surtar, mas acabou emocionando-se e abraçou Diana. Viki ficou contente pela jovem, mas conteve-se em demonstrar mais sentimentos.A loira de olhos verdes então veio a mim, com lágrimas ainda no rosto e me abraçou. Contudo, a seguir, mirou-me séria e disse:— Guilherme. Você é o pai e a responsabilidade por tudo também será sua. Se não a magoá-la, eu ficarei do seu lado. Mas, se pisar na bola com ela, eu estarei com meu pai...Era a segunda vez que eu ouvia algo assim em poucos dias. Da primeira, minha mãe também falou que me apoiaria, mas somente se eu fosse correto. Ali, Martha havia se tornado uma aliada importante diante do que viria.— Martha, obrigado. Amo Diana e nunca irei abandoná-la.— Falar é fácil Gui,