Capítulo 2 - Mais linda que a Linda...

Com o pedido pronto, levei uma bela porção de fritas e o sal para as irmãs, sentadas no quiosque. Confesso que eu estava nervoso, afinal, Diana havia me desequilibrado emocionalmente, mas isto era apenas o início...

Sério, coloquei a bandeja sobre a mesa e, na outra mão, depositei uma embalagem com catchup e o sal. Diana, mirou em mim, ainda sustentando aquele sorriso arrebatador e confidenciou:

— Adoro batata com catchup...

Como as outras duas estavam olhando para o prato, não notaram o olhar da bela irmã morena para mim, apenas a mais nova respondeu-lhe sem olhá-la diretamente.

— Ah! Eu também amo isso!

Diana então falou:

— Ingrid, você ama tudo o que é comestível...

A pequena riu e fez a mais velha comentar:

— “Wen”, não sei como não engorda, comendo tanto.

Diana riu e olhou para mim, que estranhamente ainda estava parado diante das três. Então, em minha realidade voltei-me ao serviço. Ainda nervoso, falei:

— Bem, se precisarem de mais algo, é só chamar. Estarei ali no cantinho...

Indiquei a entrada do quiosque. Diana sorriu e agradeceu, voltando-se para as irmãs. Fui então até a passagem e reparei que Wolf voltara ao barco, que estava sendo rebocado para a água.

Eu não lembro quantas vezes ele usou a lancha com a amante, mas ali seria o primeiro passeio em família, pelo menos na Triton. Era um belo barco realmente e a imaginei sobre ele, de biquíni e com os cabelos negros dançando ao vento do mar...

Preso à visão dela, imaginada sobre a Desert Rose, fui pego de surpresa pela mesma.

— Moço... Onde é o toalete? – perguntou Diana.

— Hã? Ah! Desculpe. É... É na primeira porta ao lado da cantina – indiquei com a mão.

— Você estava desligado, hein?

— Não... Estava apenas observando o barco de vocês, o Desert Rose.

Curiosa, a morena olhou para a lancha e voltou-me com seus lindos olhos verdes.

— Meu pai comprou há três anos, mas eu andei nela poucas vezes. Estava em outra marina aqui no Guarujá e ele trouxe pra cá por ser mais barato...

Agradeci por isso, certamente. Ao mesmo tempo, pensei em como Keila aproveitava mais aquele barco que a pessoa que tinha real direito. Fixo nesse pensamento, a garota me tirou da reflexão.

— E você? É daqui do Guarujá mesmo?

Minha tensão subiu ao ser indagado por Diana e, quando ia responder, ela refez a questão.

— Eu peço desculpa, mas qual seu nome?

— Guilherme.

— Prazer, Diana.

Tomei coragem...

— Belo nome...

— Eu sei, minha mãe que me deu – respondeu, abrindo um sorriso.

Ignorando tudo e todos em volta, rapidamente meu pensamento foi até outra Diana, um personagem conhecido. Nisso, resolvi arriscar.

— Seu nome faz lembrar alguém. Uma princesa...

Sorrindo, mas não surpresa, a garota concluiu errado.

— Princesa Diana...

Eu ri, o que a surpreendeu. Com interrogação no olhar, mas ainda exibindo seus belos dentes brancos, ela indagou:

— Por que você ri? Não é ela?

— Não...

— Então quem é?

Decidi jogar com Diana, afinal, ela iniciara uma conversa que não havia sido planejada, presumi.

— É uma princesa de uma ilha chamada Paraíso.

Ainda sem entender, a jovem cerrou o olhar e conjecturou algo, então, perguntou:

— Ilha Paraíso, é uma ficção, não é?

Agora eu é que estava surpreso, afinal, a dica era clara e só havia uma Diana ligada à tal ilha. Daí, eu fiz um ar de interrogação e lhe questionei:

— Nunca ouviu falar da ilha Paraíso?

Tentando buscar algo na mente, a bela morena teimava consigo em lembrar, mas desistiu.

— Não lembro...

Então, fiz um sorriso acolhedor e revelei.

— Diana Prince, mais conhecida como “Mulher Maravilha”.

A surpresa estampada no rosto da jovem me encantou. Como ela podia ser tão linda? Como ela podia rivalizar com a própria Linda...

— Por que você não disse antes? – indagou, sorrindo alegremente.

— Desculpe, pensei que você ia adivinhar...

— Ai Gui, só você mesmo...

O “Gui” não passou despercebido por mim. Aquela linda – sim, mais que a própria Linda Carter – garota adicionara meu apelido ao seu vocabulário, que eu saberia ser extenso...

— Bem, deixe-me ir ao toalete.

— Claro.

A moça seguiu em direção ao banheiro e eu ainda não estava acreditando. Olhei em volta e vi as outras duas, andando em minha direção e contive o sorriso, afinal, elas poderiam perceber. Ao me cumprimentar, a loira alta perguntou.

— Por favor, você viu minha irmã?

— Sim, Diana foi ao toalete.

Por que eu tive que mencionar o nome dela? Nossa! Como eu dei mole naquele momento... Intrigada, a loira mirou-me e falou.

— Bem, então eu vou aguardar a “Diana” sair, porque também preciso ir até lá...

Fiquei apreensivo, afinal, a loira indicou sua surpresa ao mencionar a irmã. Nisso, a jovem Ingrid revelou o nome de quem me indagou.

— Martha, eu vou pra lancha, tá?

— Pode ir maninha, logo estarei lá.

— Então tá...

A pequena partiu sem nem olhar para mim, o que não me surpreendeu. Naquele local, eu era “invisível” para muitas filhinhas de papai... Contudo, eu estava bem visível para a loira alta, que ainda me encarava. Então, ela olhou para trás e rapidamente me questionou:

— Meu pai vem sempre aqui?

Gelei! Sabia que a pergunta era complicada de responder e, pela expressão séria da moça, continha algo mais... Nesse momento, fiquei apreensivo, afinal, se eu confirmasse, podia haver implicações. Então, neguei.

— Não muito, eu não venho com frequência para a marina.

Menti, mas precisava. Eu não queria me envolver no caso de Wolf, dado que isso poderia arrastar minha família junto. Então, julguei que o mais prudente seria ficar longe disso. Entretanto, meus esforços seriam frustrados adiante...

— Entendi. É que faz uns dois meses que ele mudou a lancha para cá e só agora nos trouxe.

Martha estava literalmente “dando a linha na pipa” e eu sabia disso. Tinha certeza de que se entrasse na conversa dela, seria “cortado e aparado”. Então, fiz o que tinha de ser feito.

— Pois é... Bom, desculpe, eu preciso arrumar as mesas.

Mirando-me com seu olhar verde decepcionado, a loira disse:

— Tudo bem, eu que peço desculpas por incomodar.

Frisei o olhar e devolvi.

— Não, claro que não. Tudo bem...

Martha sorriu, mas retirou a expressão do rosto ao ver Diana se aproximar.

— Tá me esperando? – disse a morena.

— Sim! Preciso do toalete também, moça... – respondeu.

A garota mais alta foi em direção ao banheiro e eu, já me encaminhando até a mesa em que estavam, fui chamado por Diana.

— Ei Gui!

— Oi? Diga.

— Minha irmã estava te chateando?

Formei um sorriso, achando engraçada a pergunta dela e respondi.

— Não...

— Então tá.

Diana olhou desconfiada em direção ao banheiro e novamente voltou a sorrir diante de mim.

— Então, quer dizer que você se lembrou da Mulher Maravilha?

— Sim...

— Será que sou parecida com ela? – indagou, buscando algo em minha resposta.

Sim, Diana! Você é muito mais linda, que a Linda Carter! Bem, era isso o que pensei na hora, mas tinha de me conter.

— Eu suponho que sim, muito...

A garota cerrou os lábios e seus olhos agradeceram o elogio. Ao mesmo tempo, seu laço mágico estava explorando a verdade em minha mente.

— Muito, quanto?

Sim, o laço de Diana tinha poder e me enlaçou ali. Eu não tinha como mentir, como enganá-la. Então, a verdade se fez em minha resposta.

— Você é muito mais linda que a Linda... Quer dizer, a Linda Carter! Isso!

Nossa! Eu acabei de confessar meu próprio pensamento para Diana e só me dei conta diante de seu sorriso largo. Paralisado, vi seu semblante mudar e ela parecia ter dado conta de algo que conjecturava.

No meu caso, pensei ter dito uma besteira ou mesmo ter sido imprudente ao avançar o sinal, quando estávamos apenas conversando. Se envolver com clientes da marina não era uma regra, mas seguir esse caminho não era prudente.

Então, já apreensivo, me preparei para pedir-lhe desculpas por ser tão intrusivo. Contudo, Diana me surpreendeu.

— Nem no colégio me fizeram uma comparação tão linda quanto a sua. Olhe, embora não pareça, estou alegre por ouvir isso e... Não, melhor, estou feliz por ter essa conversa com você.

— Obrigado, eu pensei que falei demais...

Nunca diga isso cara! Mas, infelizmente eu disse.

— Nunca diga isso! Você...

Diana foi interrompida por Martha, que acabara de voltar do banheiro.

— Vamos? – disse a loira.

Olhando para a irmã, a morena voltou-me com ar acolhedor e disse.

— Depois conversamos... Tchau!

— Tchau!

Olhei em direção à loira, que acenou para mim, o que fez a “Linda” voltar-se rapidamente com indagação no semblante, retornado então para a irmã. Lembro-me de tê-la ouvi perguntar à Martha.

— Ué? Vamos são amigos?

Intrigada, a irmã respondeu:

— Não, mas você parece...

Não pude ver a expressão de Diana, pois, estava de costas, mas balançou a cabeça em negação e indicou com a mão a direção do caminho até o píer. Enquanto disfarçava limpando a mesa, pude vê-las caminhando até a Desert Rose.

Quando Martha se preparava para embarcar, Diana virou-se e me lançou um último olhar antes de subir no barco. Ela rapidamente moveu-se em direção à proa, se apoiando no corrimão baixo.

Então, sentou-se sobre a cobertura frontal e fixou seus olhos azuis neste que conta sua história. Lentamente a Desert Rose acelerou, enquanto meu coração se apertou...

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