Na segunda-feira, dia 9 de maio de 1994, liguei para Diana. Decidi resolver minha vida e era esse o motivo de ter voltado. Logo após levantar e tomar café com Felipe, sentei no sofá da sala, disquei o número da casa dela em São Paulo e aguardei.
Lourdes, a empregada dos Niechtenbahl, atendeu e chamou Diana, que estranhamente ainda estava em casa naquela manhã. O motivo era que, naquela ocasião, fazia o primeiro semestre de Medicina, como planejara antes de me conhecer. Pouco entusiasmada, começou a conversa.
— Diga Guilherme.
— Diana, ontem não foi um dia fácil para mim.
— É mesmo? E para mim? Não sabe como fiquei?
— Como você ficou?
Após uma pausa, a morena respondeu.
— Fiquei muito triste em ver você ontem após meses sem dar notícias.
— Perdão. Fui um tolo.
<Após muitos minutos ali, Diana, curiosa e com ar de felicidade estampada em seu rosto rosado, quis conhecer a casa. Martha, acompanhando a irmã em sentimento, também insistiu no pedido e, após apresentações devido a minha tia, mostrei minha velha casa.Tia Débora, uma bela negra com seus 30 e poucos anos — ela nunca dizia a idade exata, nesse caso — prendia sempre seu cabelo em um coque no alto da cabeça. Tendo um corpo curvilíneo, muita inteligência e língua afiada, encantou um japonês, quer dizer, um nissei.Casada com Paulo Ikari, que na época tinha cerca de 40 anos, morava em Extrema, no sul de Minas Gerais.Apesar da preocupação com o irmão, Débora deu total atenção àquela jovem.— Nossa! Ainda não consigo tirar os olhos de você! Gente! Esse olho é natural mes
No umbral do portão, observei o Gol de Martha virar a esquina levando consigo não só meu anjo, mas também minha amada e a tia Débora. Ao lembrar-se dela, imediatamente pensei nele, o meu pai. Em tempos onde internet ainda era um sonho distante, apenas o telefone era o canal mais imediato de comunicação.Sem celular, só podia aguardar Eliza chegar. Nesse tempo, andei pela casa e me recordei de alguns bons momentos de minha vida até ali. Não sabia ainda, mas era uma despedida antecipada. Sentei na cama e juro que ainda podia sentir o calor dela sobre o lençol.A saudade de Diana já se fazia ali, mas também a vontade de consertar tudo. Olhei pela janela e observei o Paturi 16. Imaginei velejar com a morena sob um céu de brigadeiro e com o vento nos empurrando para longe. Todavia, as águas que cruzaríamos seriam mais difíceis e desafiadoras.Adormec
Manoel ficou mais dois dias no hospital e já era sábado de manhã quando recebeu alta. O visitei durante o período e conversamos mais, especialmente em relação a trabalho. Era uma questão importante que ele me relembrou.Ao chegarmos a casa, onde fiquei desde a visita do perdão, não tardou a campainha tocar. Imaginei ser algum dos amigos de Manoel, mas ao abrir o portão, ela se fez presente com sorriso formado, revelando dentes branquíssimos.Seus olhos verdes clarinhos e as sardas num mar rosado harmonizavam com os lábios avermelhados, delicadamente esculpidos. O cabelo alaranjado lhe caía sobre os ombros em um penteado novo e atraente. Nem é preciso descrever o resto, pois, estava sensualmente belíssima.Não parecia que Andrea havia abortado há pouco mais de dois meses. Estava em plena forma e parecia bem. Quer dizer, apenas aparentava…<
A sensação não passava enquanto aquela ambulância balançava incansavelmente em direção ao hospital. Havia sentido algo momentos antes de Andrea entrar no mar e aquilo ainda continuava em mim. Era muito estranho antever um fato que ocorreu a seguir.Junto dela, naquele carro, parecia que tudo já havia acontecido. Nos mínimos detalhes a vi deitada na maca, com a máscara de oxigênio e presa por cintos pretos.Ao lado, a socorrista, uma mulher negra, lá pelos 30 anos, monitorava a jovem ruiva. Agachado atrás dela num pequeno espaço, segurava a mão de Andrea, que ocasionalmente, mirava-me com olhar assustado.Um deja vu me ocorreu pela primeira vez na vida. A partir daquele momento, essa sensação de ver algo que já teria ocorrido, me acompanhou por muito tempo. Não sabia, mas outro evento, acredito eu, no mesmo momento, me
Nunca desejei aquele momento com Andrea, onde o desespero dela a levou quase à morte e com uma despedida tão triste. Saber que levei alguém quase ao fim da vida me deixou aflito por anos. Hoje não mais, mas durante muito tempo, chorei escondido de Diana.Quando você vive com alguém, acredita mesmo que pode esconder tudo? Pois é, nem tudo está oculto e ela, do seu jeito, sabia disso. Antes inflamada pela raiva que nem deveria passar, Diana convertera-se numa cuidadora de mim. Ela sentia que se não tivesse o devido tato, eu poderia até alcançar a depressão.Naquele fim de semana triste, o segundo de maio de 1994, eu e Diana nos apresentamos aos meus pais. Era a primeira vez que estávamos reunidos em minha casa e Manoel queria dizer algo. Sentados no sofá, vimos ele entrar e sentar ainda com moderação nos movimentos.Eliza juntou-se ao marido e a expectati
O dia estava maravilhoso na manhã daquele sábado, fim de novembro de 1993, em Guarujá, litoral de São Paulo. As águas do canal que separa a ilha de Santo Amaro do continente (Santos) estavam bem calmas. Sentado numa das cadeiras de madeira, que envolviam nossas pequenas mesas, eu mantinha minha mente presa à página 118 do livro “O que ela viu em mim?” do escritor Ricardo Moriah. Sob aquela grande cobertura do quiosque da cantina, onde mesas pequenas estavam dispostas num grande círculo, eu me mantinha fixo ao som de Snow Piece, de Vangelis. Os pequenos fones de ouvido de meu Walkman me impediam de voltar à realidade sonora do local, onde pássaros, barcos e os infelizes mosquitos davam o ar da graça. Tudo parecia bem naquela manhã tranquila, que não deixava de ser igualmente monótona. Os clientes ainda não haviam chegado e eu podia relaxar… De repente, percebo uma figura passando ao meu lado rapidamente, indo em
Com o pedido pronto, levei uma bela porção de fritas e o sal para as irmãs, sentadas no quiosque. Confesso que eu estava nervoso, afinal, Diana havia me desequilibrado emocionalmente, mas isto era apenas o início...Sério, coloquei a bandeja sobre a mesa e, na outra mão, depositei uma embalagem com catchup e o sal. Diana, mirou em mim, ainda sustentando aquele sorriso arrebatador e confidenciou:— Adoro batata com catchup...Como as outras duas estavam olhando para o prato, não notaram o olhar da bela irmã morena para mim, apenas a mais nova respondeu-lhe sem olhá-la diretamente.— Ah! Eu também amo isso!Diana então falou:— Ingrid, você ama tudo o que é comestível...A pequena riu e fez a mais velha comentar:— “Wen”, não sei como não engorda, comendo tanto.<
Ao ver a lancha sumir após as árvores, subitamente eu me senti triste. Mesmo sabendo que ela voltaria no final do dia, a garota dos olhos azuis era uma companhia que eu passara a adorar, não, necessitar. Seu sorriso era encantador, assim como o jeito de olhar. Como eu já falei, nunca procurei me envolver com as garotas ricas que apareciam na marina, mas agora eu estava me deixando levar por essa onda. Imerso em meus pensamentos, fui chamada por Eliza, minha mãe. De pele clara e cabelo bem longo, a esposa de Manoel era sim, realmente linda. Ok, eu sou suspeito em falar, mas com seus olhos verdes e feições de origem italiana, lá do interior do Paraná, Eliza encantava meu pai. Magra e alta, ela tinha um rosto fino e olhar expressivo. Com 41 anos, minha mãe nunca tivera outro filho porque teve problemas no útero, algum tempo após meu nascimento. Isso sempre a entristeceu, pois, desejava ter outros, inclusive uma menina. Pela beleza que ela continha, dentr