Depois de pensar por muito tempo, não consegui chegar a nenhuma resposta sobre o que deveria fazer. Estava no meu escritório, revisando alguns documentos, quando meus pensamentos foram interrompidos por alguém batendo à porta. Era meu amigo Benício, ou Benny, como costumo chamá-lo.
— E aí? Como tem passado esses dias, meu amigo? — ele perguntou ao entrar. — Com muito trabalho e um problemão para resolver — respondi, esfregando as sobrancelhas. — Sério? O que seria? Se estiver ao meu alcance, posso te ajudar — ele disse com o mesmo sorriso travesso de sempre. — Senta aí, para você eu posso contar, porque confio — disse, indicando a cadeira. — Pode falar, sou todo ouvidos — ele brincou. — Eu já te contei sobre aquele negócio com o Edgar Santos, né? O empresário que estava procurando alguém para administrar sua rede de hotéis? — questionei. — Claro, você estava louco para conseguir isso. Sinceramente, nunca vi alguém mais fanático por trabalho que você. — ele disse rindo. — Isso não vem ao caso. O problema é que ele é muito conservador e estava implicando com minha vida de solteiro, dizendo que eu ia manchar o nome da empresa dele, enfim, essa baboseira de velho. No meio da conversa, acabei falando que estava noivo, e ele disse que ia fechar negócio comigo só quando eu estivesse casado e com a imagem limpa. — expliquei calmamente. — Eita, amigo! Por que você foi falar isso? Como vai arrumar uma noiva assim tão rápido? — ele perguntou, ficando mais sério. — Não sei, por isso estou te contando. Quero que você me ajude a pensar em algo. — pedi. — Você poderia ir naqueles encontros às cegas. Sempre tem uma desesperada que se apaixona no primeiro encontro — ele sugeriu, rindo da minha situação. — Estou falando sério. Se não for ajudar, não dá ideia besta — reclamei, e minha expressão já mostrava meu descontentamento. — Mas eu tô falando sério. Um tio meu foi a um desses encontros e casou uma semana depois — ele respondeu. — Digamos que eu vá a um desses encontros e encontre alguém disposta a se casar comigo. Como vou garantir que ela não tente me enganar ou dar um golpe? — questionei, preocupado. — Você poderia fazer um contrato, colocando condições e prazo de validade, essas coisas. Se quiser, eu faço isso para você — ele sugeriu com confiança. Sendo um ótimo advogado, eu podia confiar em suas sugestões, então resolvi aceitar a ideia. — Então vamos fazer isso. Você consegue marcar um desses encontros para mim? — perguntei. — Claro, ainda hoje você terá seu primeiro encontro. Pode deixar tudo comigo — ele respondeu. — Ótimo, sabia que podia contar com você — agradeci sinceramente. Depois de uma decepção com meu melhor amigo, era difícil confiar em outras pessoas, mas Benny era alguém em quem eu podia pôr a mão no fogo. Já tinha testado a amizade dele algumas vezes devido ao trauma anterior, mas ele sempre se provou digno. Ele então saiu para resolver o problema, e eu fiquei aguardando o fatídico encontro, torcendo para que algo produtivo resultasse. Não queria me envolver emocionalmente, então planejava oferecer uma quantia de dinheiro e pedir para ela apenas atuar. Se eu não me envolvesse intimamente, seria bem mais fácil contornar qualquer dificuldade. O expediente de trabalho estava quase no fim quando Benny me enviou uma mensagem com todas as informações do encontro: uma loira com um olhar sensual e o corpo de uma modelo. Fui para casa me preparar, tomei um banho relaxante e vesti uma roupa mais casual. Ao chegar pontualmente no restaurante, sentei-me e esperei a mulher. Ela entrou usando uma roupa provocante e caminhando como se estivesse numa passarela, o que me fez ver de imediato que aquilo não daria certo. Edgar jamais acreditaria que ela era a mulher discreta que eu havia mencionado. Tentei ignorar os sinais, já que estávamos ali, mas todas as minhas suspeitas se confirmaram. Durante toda a conversa, ela demonstrou gostar de ostentar luxo. Inventei uma desculpa qualquer e saí de lá, decidido a ir para casa. Mas ao passar em frente a uma boate, resolvi parar para esfriar a cabeça. O ambiente era animado, com pessoas de todas as idades. Sentei-me no balcão do bar e fiquei observando a pista de dança. Meu olhar foi atraído por uma mulher ruiva que dançava alegremente. Seu cabelo era curto e, embora não tivesse nada de especial, seu sorriso era cativante. Diverti-me com seu jeito único e contagiante de dançar. Ela parou e veio em direção ao balcão onde eu estava sentado. Pediu uma bebida sem álcool, o que achei estranho. Quem vai a uma boate para beber algo sem álcool? Tentei ignorar e disfarçar meus pensamentos. Era incompreensível como ela mexia com meus sentimentos. Precisava ser racional naquele momento. Ela parecia ser alguém que Edgar acreditaria que eu estava apaixonado. Agora só precisava descobrir se eu estava certo. Percebi que ela olhou para mim e desviou o olhar, parecendo um pouco envergonhada. Perguntei-me o que ela estava pensando e decidi ir em sua direção, sentando ao seu lado. — Olá, meu nome é Julian. Eu estava observando você dançar. Você se incomoda se eu sentar aqui com você? — perguntei com um sorriso, percebendo que ela corou levemente. — Eu sei quem você é. Sua fama é bem única — ela respondeu. Já imaginava como seria a conversa. Pensei que ela se jogaria em cima de mim como todas as outras. Isso era cansativo. — Meu nome é Vivian e não, não me incomodo que você sente, até porque, não comprei esse lugar. Mas não espere que eu vá ser mais uma das que você vai colocar na sua coleção — ela disse com irritação. Confesso que essa atitude me surpreendeu. Fiquei ainda mais curioso sobre que tipo de mulher ela era. Coloquei meu melhor sorriso e ignorei a expressão dela. — Você não deveria acreditar em tudo que vê por aí. Eu não sou esse homem que a mídia prega — sussurrei em seu ouvido. — Você tem razão, me desculpe. Eles sempre exageram, não é? — ela falou, parecendo se sentir culpada. Tentei disfarçar, mas estava adorando suas expressões. Ela com certeza não seria uma boa atriz, pois era fácil ver o que ela estava pensando. Naquele momento, pensei se valia a pena fazer a proposta para ela. Estava claramente sentindo algo, então o melhor era encerrar a conversa ali, antes que eu me envolvesse demais.Quando eu estava prestes a inventar uma desculpa para ir embora, a amiga dela chegou e nos puxou para a pista de dança. Vi as duas sussurrando algo, mas não consegui entender por causa da música alta.— Você deveria se soltar mais e aproveitar a música — ela disse, se aproximando.— Eu não sou muito bom nisso — respondi, sorrindo.— Não tem problema, eu também não sou — ela respondeu.Dançamos no ritmo da música, às vezes bem próximos. Aproveitei o momento para descobrir mais sobre ela. Repensei minhas atitudes; se uma mulher conseguia mexer assim com meus sentimentos, eu precisava aprender a lidar com isso para me proteger no futuro. Talvez, se ela concordasse, eu poderia usar essa experiência para me tornar imune a futuras tentativas de sedução.— Eu queria te fazer uma proposta. Será que podemos ir a um lugar mais reservado? — perguntei, sussurrando para ela.— Que tipo de proposta você quer fazer? — ela questionou, curiosa.— É algo que pode beneficiar nós dois, mas não posso cont
Acho que esta foi uma das noites mais loucas que já tive em minha vida. Julian parecia um pouco estranho quando começamos a conversar, sempre cauteloso, como se estivesse investigando meu passado com suas perguntas. De certa forma, ele não parecia a pessoa que a mídia pregava.Eu estava até simpatizando com ele, mas me preocupou a forma como ele fez uma proposta tão complicada para alguém que ele mal conhecia. Não me parecia seguro. Não sei se ele não tinha pensado muito sobre isso ou se estava apenas desesperado, mas com certeza seria um desastre se ele fizesse essa proposta para a pessoa errada e ela resolvesse se aproveitar dele.Não que eu esteja duvidando de sua inteligência. Na verdade, eu nem deveria estar preocupada com ele, mas resolvi ajudá-lo. Se alguém precisava fazer aquilo, melhor que fosse eu, assim ele não teria que se machucar depois. Digamos que será minha última boa ação antes de eu ir embora.Percebo que ele ficou visivelmente receoso com minhas exigências, como se
Eu saí da casa daquela doidinha com os pensamentos muito confusos. Talvez eu tenha deixado uma má impressão sobre o tipo de pessoa que sou, mas não me importo; se ela desistir dessa história de romance, será melhor para mim.De qualquer forma, nada melhor que uma boa noite de sono para esfriar a cabeça e ajustar os pensamentos. Se eu conseguisse controlar a situação e cumprir meu objetivo, não me importava com qual sacrifício teria que fazer.Mas a noite se arrastava e o sono não vinha. Olhando para o teto, os pensamentos giravam em uma tormenta de ilusões, com sentimentos que eu não estava disposto a encarar. Eu me fazia perguntas, mas as respostas não satisfaziam minhas expectativas. Então o cansaço me venceu, e pude finalmente descansar.Ou pelo menos foi o que pensei. Pouco tempo depois, o alarme tocou, dando início a um novo dia de trabalho. Se alguém visse meu estado, pensaria que eu tinha passado a madrugada toda em alguma festa por aí. Mas tentei ignorar e, ainda relutante, fu
Sentada no sofá, eu esperava pacientemente Julian chegar, enquanto escrevia um pouco do meu próximo livro. Perguntava-me se ele realmente traria as flores. Não sei, vocês acham que ele lembraria disso no primeiro dia? Espero que sim, mas vou relevar se isso não acontecer. Nos outros dias, com certeza, vou cobrar.Não faltava muito para ele chegar, pelo menos se ele fosse pontual. Mas antes de concluir meu raciocínio; escutei a campainha tocando. Levanto-me, arrumo o vestido que estava um pouco amassado e vou até a porta atendê-lo.Para minha surpresa, ele carregava um grande buquê cheio das mais variadas flores. Fiquei encantada com a beleza delas. Ele me olha com um sorriso forçado, mas minha visão é capturada por seu olhar enigmático. Seus olhos são profundos e revelam mais do que ele tenta demonstrar, algo que poucos conseguiram ver. Sinto que ele talvez não seja tão durão quanto quer parecer.— Trouxe para você, conforme o combinado — disse ele, ressaltando o acordo.— Muito obrig
Até que ir almoçar com aquela doidinha não foi de todo mal. Quando ela me recebeu, usava um delicado vestido azul que destacava suas curvas, o que me deixou um pouco nervoso, mas tentei não demonstrar. Sua casa, apesar de pequena, era realmente encantadora.Eu conseguiria viver ali tranquilamente. As paredes eram pintadas de um leve tom de rosa, havia poucos móveis na sala, um armário com alguns livros, uma mesinha e um sofá. Sobre o sofá, repousava seu notebook ainda aberto. Não sei por qual motivo, mas ela correu para guardá-lo. Talvez fosse uma daquelas escritoras que não gostam de mostrar seus textos até estarem prontos, mas não é como se eu quisesse ler.Sentado no sofá, fiquei a observar as janelas perfeitamente posicionadas, uma na sala de entrada e a outra na sala de jantar. Não havia uma parede dividindo os ambientes, então dava para ver tudo perfeitamente. Era bem confortável ficar sentado ali. Pensei que poderia fingir estar com trabalho acumulado quando viesse visitá-la, a
Julian me mandou uma mensagem marcando um encontro com Edgar. Fui tomada por uma ansiedade misturada com nervosismo, mas não sabia se o pior era o encontro ou ele ter falado que eu ia fazer compras com a irmã dele. Não achei que fosse conhecer sua família assim tão cedo.Vocês acham que ela iria gostar de mim? Eu não sei, mas estava com um péssimo pressentimento sobre a noite. Me arrumei e fiquei aguardando o motorista que ele havia falado que ia me levar até o shopping. Ele chegou pontualmente, parecia ter uns 40 anos, com um sorriso amigável, abriu a porta para mim e partimos.O shopping era bem grande. O motorista me instruiu onde era a loja em que eu iria comprar minha roupa, e eu fui até lá. Era uma loja muito elegante. Uma das vendedoras veio me atender, muito educada, e me mostrava as roupas com muita paciência. A irmã de Julian ainda não tinha chegado, então apenas fiquei observando as roupas que ela ia me mostrando.Vi um vestido muito bonito, vermelho e com um decote discret
"Sou uma pessoa de sorte", foi o que pensei depois de apresentar Vivian a Edgar. Ele não desconfiou de nada.— Fico feliz que você tenha encontrado alguém para amar. Sei que você entenderá o que falo para você depois — ele disse com um sorriso brilhante.— Com certeza, senhor Edgar — respondi.Após nos receber, ele chamou um dos empregados, que nos conduziu até nossa mesa. O ambiente era elegante, como esperado de todos os jantares que Edgar organizava. E pense em um homem que gostava de festas: era ele. Um pouco depois, sua esposa, Elizabete, também apareceu para nos cumprimentar. Eles formavam um belo casal, isso eu tinha que admitir.— Espero que nosso amor seja tão forte e duradouro quanto o de vocês — disse, demonstrando admiração.— Tenho certeza que será. Posso ver nos seus olhos que os dois se amam de verdade — ela disse empolgada.— Isso é verdade. Eu o amei desde a primeira vez que o vi e sinto que esse amor vai durar para sempre — Vivian afirmou olhando para mim.Naquele mo
Muitas vezes, a felicidade daqueles que estão ao nosso redor acaba se tornando mais prazerosa que a nossa própria felicidade. Ver o sorriso de Julian, vendo que seus planos estavam dando certo, me deixou extremamente animada; seus olhos tinham um brilho especial.Sob a luz das estrelasO brilho de seu olharSob o manto do céuMeu coração a palpitarAcho que esse jantar me trouxe grandes inspirações. Por mais que o conhecesse há apenas poucos dias, eu já estava começando a sentir uma pequena conexão entre nós. Um laço fraco, construído através de uma mentira, mas que me fazia sentir um pouco mais viva.Mas esse sentimento não iria durar muito. No dia seguinte, eu teria que ir para a minha primeira sessão de quimioterapia e isso com certeza iria me destruir. Sinceramente, eu já estava cansada de tudo isso, mas deixemos para lá, não quero transformar isso em uma lembrança ruim.Voltando à noite, o que mais me chama a atenção em Julian é que, apesar de por fora ele demonstrar frieza e fal