Sentimentos confusos

Eu saí da casa daquela doidinha com os pensamentos muito confusos. Talvez eu tenha deixado uma má impressão sobre o tipo de pessoa que sou, mas não me importo; se ela desistir dessa história de romance, será melhor para mim.

De qualquer forma, nada melhor que uma boa noite de sono para esfriar a cabeça e ajustar os pensamentos. Se eu conseguisse controlar a situação e cumprir meu objetivo, não me importava com qual sacrifício teria que fazer.

Mas a noite se arrastava e o sono não vinha. Olhando para o teto, os pensamentos giravam em uma tormenta de ilusões, com sentimentos que eu não estava disposto a encarar. Eu me fazia perguntas, mas as respostas não satisfaziam minhas expectativas. Então o cansaço me venceu, e pude finalmente descansar.

Ou pelo menos foi o que pensei. Pouco tempo depois, o alarme tocou, dando início a um novo dia de trabalho. Se alguém visse meu estado, pensaria que eu tinha passado a madrugada toda em alguma festa por aí. Mas tentei ignorar e, ainda relutante, fui tomar um banho gelado para acordar.

***

Chegando no escritório, concentrei-me no meu trabalho. Acho que realmente estava pensando demais. Com certeza seria fácil passar por tudo aquilo. A bebida deve ter feito eu confundir meus sentimentos, mas agora eu estava lúcido e pensava de forma racional.

A doidinha me mandou uma mensagem avisando que ia preparar um almoço para nós. Fiquei curioso para saber se ela era boa na cozinha. Nunca fui de ter frescura, o que não significa que eu não saiba apreciar uma boa comida.

Assim que respondi a mensagem, minha bela e espalhafatosa irmã, Ingrid, entrou na minha sala. Era apenas cinco anos mais nova que eu, mas parecia que, na verdade, eu era seu pai. Ela só me procurava quando estava precisando de algo.

Passava a maior parte do seu tempo em viagens ou compras, sem se importar com nada. Vivia exibindo seu corpo modelado e seus longos cabelos cacheados, que eram mantidos com o suor do meu trabalho. Eu me pergunto como ela iria sobreviver sem mim para bancar seus luxos.

— Deixa eu adivinhar, o limite do cartão de crédito estourou, estou certo? — questionei assim que ela entrou.

— Eu não teria esse problema se você me desse um cartão sem limites — ela reclamou.

— Se eu te desse um cartão desses, você iria me falir em uma semana. Pensa que não te conheço? — indaguei.

— Você é muito malvado comigo, meu irmão. A nova temporada de moda começou e eu preciso comprar as novas peças. Não posso ficar desatualizada — ela disse com um olhar penoso.

— Relaxa, eu vou te dar outro cartão. Não faça essa cara — digo, e ela corre para beijar meu rosto.

No final das contas, eu nunca conseguia resistir às manhas dela e acabava a mimando ainda mais. Por mais boba que ela seja, ainda é minha maninha, e ver seu sorriso sempre vai fazer meu dia melhor.

— E essa aliança? — questionou ela, abrindo a caixinha que estava na minha mesa.

— É da minha noiva. Vou entregar a ela hoje, mas já estamos noivos há um tempo — disse, tentando disfarçar. Não era para ela ter visto isso, mas de qualquer forma não teria como esconder.

— Desde quando você tem noiva? E por que eu ainda não a conheço? — ela indagou curiosa.

— Não te falei porque sei muito bem que você vai carregar ela para o shopping mais próximo assim que a ver — respondo, arqueando as sobrancelhas.

— Mas é claro! Que mulher não gosta de fazer umas comprinhas? — disse ela, sorrindo.

— Ela não é como você. Aliás, não é como a maioria das mulheres — digo com um sorriso irônico, mas pareceu outra coisa para ela.

— Olha, meu maninho está apaixonado. Quero conhecê-la, por favor, faça isso por mim — ela pediu, fazendo manha.

— Ai, ai, tudo bem, eu vou ver quando ela tem tempo e te mando uma mensagem — disse contrariado.

— Você é o melhor, maninho! Vou indo fazer minhas comprinhas, até mais — ela disse, se despedindo com um beijo.

— Vê se se cuida — eu falo com um tom sério, e ela apenas pisca o olho em resposta e sai, me deixando na frente de uma pilha de documentos. Alguém tem que trabalhar, afinal de contas.

Não muito depois, Benny chegou com o contrato que eu tinha pedido para ele redigir. Verifiquei e aparentemente estava tudo certo. Enquanto lia, lembrei que precisava passar em uma floricultura antes de ir para a casa dela. Caramba! Isso vai ser cansativo, eu pensei.

— Esse é o contrato mais maluco que eu já vi. Como assim ela não quer dinheiro? — questionou Benny, com um olhar de curiosidade.

— Nem me pergunte. Bem que eu queria que ela aceitasse dinheiro. Acredita que eu ofereci quinze milhões e ela não aceitou? — disse com raiva.

— Jura? Essa mulher é interessante. Quero conhecê-la — brincou Benny.

— Até você? Eu mereço, viu! Minha irmã também está querendo conhecê-la — reclamo nervoso.

— Sua irmã esteve aqui? Se soubesse, teria vindo mais cedo — ele disse com um sorriso maroto.

— Tira o olho da irmã dos outros — reclamo.

— Você é muito ciumento, mas não é como se fosse segredo. Sabe que sempre tive uma quedinha pela Ingrid. Apenas aceite que você vai ser meu cunhado no futuro — ele fala querendo me tirar do sério.

— Vai querer pagar os cartões de crédito dela também? — digo com um sorriso irônico.

— Para ela eu daria qualquer coisa, só ela pedir — ele diz todo meloso, e isso me irrita.

— Melhor você ir. Tenho que sair para almoçar com aquela doida — falo, tentando mudar de assunto.

— E esse olhar? Não vai dizer que está se apaixonando? — ele questiona surpreso.

— Não fale bobagens. Eu nunca irei me apaixonar novamente nessa vida — digo em protesto.

— Nunca diga nunca, meu amigo! Mas já vou indo. Boa sorte em não se apaixonar — ele fala e sai quase correndo, sem me dar tempo de responder.

Aquilo me irrita profundamente. Até parece que eu iria gostar de uma doidinha daquelas. Amor é a última coisa que tenho em meus planos e jamais cairei nessa armadilha.

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