Sentada no sofá, eu esperava pacientemente Julian chegar, enquanto escrevia um pouco do meu próximo livro. Perguntava-me se ele realmente traria as flores. Não sei, vocês acham que ele lembraria disso no primeiro dia? Espero que sim, mas vou relevar se isso não acontecer. Nos outros dias, com certeza, vou cobrar.
Não faltava muito para ele chegar, pelo menos se ele fosse pontual. Mas antes de concluir meu raciocínio; escutei a campainha tocando. Levanto-me, arrumo o vestido que estava um pouco amassado e vou até a porta atendê-lo. Para minha surpresa, ele carregava um grande buquê cheio das mais variadas flores. Fiquei encantada com a beleza delas. Ele me olha com um sorriso forçado, mas minha visão é capturada por seu olhar enigmático. Seus olhos são profundos e revelam mais do que ele tenta demonstrar, algo que poucos conseguiram ver. Sinto que ele talvez não seja tão durão quanto quer parecer. — Trouxe para você, conforme o combinado — disse ele, ressaltando o acordo. — Muito obrigada, são lindas — respondi, pegando o buquê. — Vamos entrar, eu já terminei de preparar o almoço. — Que tipo de comida você fez para mim? É algo comestível pelo menos, né? — disse ele enquanto entrava, observando os mínimos detalhes de minha casa. Sinceramente, ele parecia meio desconfortável. Provavelmente, porque a casa dele deve ser bem maior que a minha. Eu não me importo muito com luxo; ela está do tamanho ideal para mim. Seu olhar pousa no meu notebook em cima do sofá, e percebo que tinha esquecido o que estava fazendo, indo rapidamente guardá-lo. — O que você estava fazendo? Por que a pressa em guardá-lo? — disse ele, me deixando um pouco nervosa. — Não é nada demais, apenas estava trabalhando no meu próximo livro — falei enquanto levo o notebook para meu quarto. — Vou colocar as flores em um vaso — digo depois de voltar. — Não tenha pressa — disse ele, sentando-se no sofá, mas parecia que queria dizer o contrário. Após achar um vaso que eu achasse bom o suficiente para colocar aquelas flores, voltei até a sala e fomos para a mesa começar a refeição. Servi-lhe a comida gentilmente, e ele parecia um pouco surpreso. Inicialmente, não parecia ser de uma forma boa. Seus olhares sempre tinham um tom rigoroso em tudo que observava, como se estivesse avaliando cada milímetro da minha casa e da minha comida. Mas, por fim, me surpreendeu elogiando o tempero que eu tinha usado. — Eu aprendi a cozinhar com a minha mãe. Eu sei que é tudo muito simples, mas obrigada pelo elogio — disse, examinando suas expressões. — O importante é que está gostoso. Sinceramente, eu não estava botando muita fé que seria bom — ele dizia entre uma garfada e outra. — Eu entendo. Você deve estar acostumado a ser servido por grandes chefs. Não tem como eu competir com eles — digo com um sorriso, tentando não transparecer que o comentário dele tinha me afetado. — Você acha que sou apenas um playboy que vive cercado por luxo? — suas sobrancelhas arqueadas enquanto ele falava me causaram um misto de sentimentos. — Na verdade, sim, mas não é como se isso fosse ruim, né? Se você gosta desse tipo de vida e pode mantê-la, não tem por que se envergonhar dela — respondi sem olhar para ele. Confesso que, às vezes, parece um pouco assustadora a forma como ele me olha. — Mas eu não diria que sou esse tipo de pessoa... — ele falou, com um sorriso indecifrável. — Não é da minha conta. Eu não estou aqui para lhe julgar. Desde que isso não atrapalhe nossa convivência, você pode ser playboy à vontade — digo, piscando para ele, tentando aliviar o clima de tensão. — Você tem razão. É melhor não pensarmos muito sobre como o outro age ou deixa de agir. Não gerar expectativas sobre o outro é o melhor que podemos fazer — disse ele calmo, mas parecendo querer olhar através de mim. A conversa se tornou um pouco mais agradável, e começamos a falar um pouco sobre a vida. Ele parecia um pouco mais relaxado. Os raios de luz do sol passavam pelas janelas, destacando seus traços, dando cor e profundidade, o que fazia seus sorrisos se tornarem ainda mais belos. — Então vamos para a sobremesa? Eu fiz um pudim. Espero que goste — digo quando terminamos de almoçar. — Claro, adoraria! — responde ele. Acho que o pudim deve ter adoçado ele, pois seu sorriso parecia bem mais sincero. Eu estava gostando de admirar suas expressões, por mais contraditórias que fossem em determinados momentos. Quando terminamos de comer, fomos até a sala, e ele me entregou o contrato para eu assinar. Eu reviso os documentos, e tudo está certo, como eu tinha pedido. Era realmente incrível. — Se você já viu tudo, é só assinar — disse ele, me entregando uma caneta. — Está tudo certo, sim. Obrigado por colocar tudo que eu pedi — digo, assinando o contrato. — Agora que somos oficialmente noivos, vamos fazer as coisas conforme as regras — disse ele, pegando uma caixinha no bolso. Dentro dela, havia uma delicada aliança com uma pedra cravejada de diamantes. A suavidade e a beleza dela eram notáveis. Estendi a mão para ele colocá-la. — Espera, temos que fazer conforme as regras. Não quero ficar devendo nada — afirmou ele, fechando a caixa. — Conforme as regras? Como assim? — questionei, mas ele levantou o dedo indicador me interrompendo. Ajoelhando-se na minha frente, ele me deixou impressionada e curiosa. Eu realmente não esperava que ele fosse capaz de pensar em tal gesto. — Vivian Rocha, você aceita ser minha esposa e compartilhar todos os dias que estaremos juntos, desde os momentos mais felizes até os mais tristes? — disse ele, abrindo a caixinha com um olhar amoroso. Eu tentei descobrir se esse olhar era verdadeiro ou não, mas não consegui. De qualquer forma, não importa. — Eu aceito — respondi emocionada. Realmente aquilo tinha me deixado atordoada. Não esperava sentir uma emoção tão forte em algo que nem era verdadeiro. Ele então colocou a aliança em mim. Levantando-se lentamente, me puxou pela cintura e me beijou suavemente, um beijo carregado de hesitação e nervosismo, mas ao mesmo tempo doce. — Então é isso. Eu vou marcar um encontro com Edgar para ele te conhecer. Depois eu te aviso — disse ele após o beijo, me trazendo de volta à realidade. Seus traços, antes amorosos, voltaram à fria e inexpressiva feição que ele demonstrava antes. Suas mudanças de humor eram intrigantes, me causando um misto de confusões. Era difícil descobrir o que ele realmente estava sentindo, envolto nessas sombras que não permitiam aparecer seus verdadeiros sentimentos. Nos despedimos, e ele voltou para seu trabalho. Ele parecia ser um homem muito ocupado. Pergunto-me se ele arruma tempo para se divertir durante o dia ou apenas tenta conquistar mulheres à noite. Acabei rindo dos meus próprios pensamentos, embora uma pitada de ciúmes tivesse brotado ao pensar nele beijando outras mulheres.Até que ir almoçar com aquela doidinha não foi de todo mal. Quando ela me recebeu, usava um delicado vestido azul que destacava suas curvas, o que me deixou um pouco nervoso, mas tentei não demonstrar. Sua casa, apesar de pequena, era realmente encantadora.Eu conseguiria viver ali tranquilamente. As paredes eram pintadas de um leve tom de rosa, havia poucos móveis na sala, um armário com alguns livros, uma mesinha e um sofá. Sobre o sofá, repousava seu notebook ainda aberto. Não sei por qual motivo, mas ela correu para guardá-lo. Talvez fosse uma daquelas escritoras que não gostam de mostrar seus textos até estarem prontos, mas não é como se eu quisesse ler.Sentado no sofá, fiquei a observar as janelas perfeitamente posicionadas, uma na sala de entrada e a outra na sala de jantar. Não havia uma parede dividindo os ambientes, então dava para ver tudo perfeitamente. Era bem confortável ficar sentado ali. Pensei que poderia fingir estar com trabalho acumulado quando viesse visitá-la, a
Julian me mandou uma mensagem marcando um encontro com Edgar. Fui tomada por uma ansiedade misturada com nervosismo, mas não sabia se o pior era o encontro ou ele ter falado que eu ia fazer compras com a irmã dele. Não achei que fosse conhecer sua família assim tão cedo.Vocês acham que ela iria gostar de mim? Eu não sei, mas estava com um péssimo pressentimento sobre a noite. Me arrumei e fiquei aguardando o motorista que ele havia falado que ia me levar até o shopping. Ele chegou pontualmente, parecia ter uns 40 anos, com um sorriso amigável, abriu a porta para mim e partimos.O shopping era bem grande. O motorista me instruiu onde era a loja em que eu iria comprar minha roupa, e eu fui até lá. Era uma loja muito elegante. Uma das vendedoras veio me atender, muito educada, e me mostrava as roupas com muita paciência. A irmã de Julian ainda não tinha chegado, então apenas fiquei observando as roupas que ela ia me mostrando.Vi um vestido muito bonito, vermelho e com um decote discret
"Sou uma pessoa de sorte", foi o que pensei depois de apresentar Vivian a Edgar. Ele não desconfiou de nada.— Fico feliz que você tenha encontrado alguém para amar. Sei que você entenderá o que falo para você depois — ele disse com um sorriso brilhante.— Com certeza, senhor Edgar — respondi.Após nos receber, ele chamou um dos empregados, que nos conduziu até nossa mesa. O ambiente era elegante, como esperado de todos os jantares que Edgar organizava. E pense em um homem que gostava de festas: era ele. Um pouco depois, sua esposa, Elizabete, também apareceu para nos cumprimentar. Eles formavam um belo casal, isso eu tinha que admitir.— Espero que nosso amor seja tão forte e duradouro quanto o de vocês — disse, demonstrando admiração.— Tenho certeza que será. Posso ver nos seus olhos que os dois se amam de verdade — ela disse empolgada.— Isso é verdade. Eu o amei desde a primeira vez que o vi e sinto que esse amor vai durar para sempre — Vivian afirmou olhando para mim.Naquele mo
Muitas vezes, a felicidade daqueles que estão ao nosso redor acaba se tornando mais prazerosa que a nossa própria felicidade. Ver o sorriso de Julian, vendo que seus planos estavam dando certo, me deixou extremamente animada; seus olhos tinham um brilho especial.Sob a luz das estrelasO brilho de seu olharSob o manto do céuMeu coração a palpitarAcho que esse jantar me trouxe grandes inspirações. Por mais que o conhecesse há apenas poucos dias, eu já estava começando a sentir uma pequena conexão entre nós. Um laço fraco, construído através de uma mentira, mas que me fazia sentir um pouco mais viva.Mas esse sentimento não iria durar muito. No dia seguinte, eu teria que ir para a minha primeira sessão de quimioterapia e isso com certeza iria me destruir. Sinceramente, eu já estava cansada de tudo isso, mas deixemos para lá, não quero transformar isso em uma lembrança ruim.Voltando à noite, o que mais me chama a atenção em Julian é que, apesar de por fora ele demonstrar frieza e fal
Após algumas horas que pareciam intermináveis, finalmente terminamos todos os procedimentos do dia. Eu estava me sentindo acabada, cansada, enjoada; só queria chegar em casa e deitar. No caminho de volta, não falamos muito. Bruno entendia perfeitamente o quanto eu ficava exausta depois da sessão de quimioterapia e não insistiu em conversar. Quando chegamos, ele me ajudou a entrar em casa, pois eu estava um pouco tonta, mas sem querer acabei vomitando em toda a sua roupa. — De... Desculpa — disse, afastando-me dele. Já tinha acontecido outras vezes, mas é sempre constrangedor. — Hey, você sabe que não precisa se preocupar — disse ele, ajudando-me a sentar no sofá — Vou te dar o seu remédio para enjoo, aí tomo um banho. Rapidamente ele foi até a cozinha, trazendo meu remédio, um copo de água e um lenço para eu me limpar. Eu tinha sorte de ter um irmão tão bom e compreensivo. Desde que me lembro, ele sempre foi assim, ajudando-me com toda a paciência do mundo, e eu era grata por i
Ao terminar meu trabalho, passei em uma floricultura para comprar flores para minha doidinha... Quero dizer, a doidinha...Quando cheguei à casa dela, percebi que estava um pouco abatida, mas aparentemente era só um resfriado. Talvez eu esteja apenas receoso por conta do meu passado, mas comecei a desconfiar que ela estava escondendo algo.Meu coração congelou quando vi um homem saindo do seu quarto, só de toalha, perguntando onde estava sua camisa. Ele era bonito, tinha os cabelos castanhos e os olhos verdes, e o fato de ele ter o corpo mais definido que o meu me deixou um pouco inseguro e acabei confundindo tudo.Grande foi meu embaraço ao descobrir que ele era nada menos que Bruno, seu irmão. Tentei disfarçar o que tinha sentido e parece ter dado certo, mas quem não iria achar estranho ver um homem saindo quase pelado do quarto de sua noiva?Acho que não é tão estranho, por mais que nosso relacionamento seja apenas uma mentira. Seria extremamente ruim para a minha imagem se eu desc
Durante os próximos dias, Julian foi todos à minha casa para saber como eu estava. Para falar a verdade, eu nem estava tão mal, não diante de tantos cuidados. No primeiro dia, ele realmente fez algumas compras, um tanto exageradas. Quase não coube tudo na minha geladeira, e eu fiquei me perguntando se aquilo tudo não ia estragar, mas ele me assegurou que não.Nos outros dias, ele sempre preparava algum prato diferente. Até vi ele com um livro de receitas, acredito que tenha aprendido algo novo. Sempre que vinha, ele ressaltava que estava fazendo isso apenas para garantir que eu ficasse saudável e não atrapalhasse seus planos. Mesmo assim, eu me sentia feliz por estar sendo mimada por ele.A cada momento que conversávamos, eu conhecia um pouco mais dele. Sua companhia era como um bálsamo para mim. Ficava admirada como ele começava a conversar receoso, mas acabava sempre disposto a dividir suas histórias comigo. Eram momentos breves, mas de intensa felicidade, pelo menos para mim.Dand
Graças aos meus cuidados, Vivian se recuperou rapidamente do resfriado. Eu já estava acostumada a cuidar da minha irmã, pois nossa mãe não era muito presente em nossa educação. Passávamos mais tempo com as babás do que com ela, que estava sempre ocupada com compras e viagens de luxo, financiadas pelo dinheiro do meu pai, que trabalhava arduamente para manter nosso padrão de vida.Havia vezes em que não a víamos por meses. Mesmo quando estava em casa, não fazia questão de demonstrar carinho ou de nos ter por perto. Acho que isso influenciou um pouco nossa personalidade.Ingrid, na infância, não tinha uma saúde muito forte e frequentemente ficava resfriada. Diferente de mim, ela não aceitava ser cuidada pelas babás, sempre fazendo charme e pedindo para eu cuidar dela. Cresceu apegada a mim, mas, sentindo a falta da mãe, acabou copiando sua personalidade.Tudo ficou ainda mais difícil quando nosso pai faleceu por causa do excesso de trabalho. Ele também não era muito presente, mas nas po